Depois de muitas reflexões, ponderação, conversa com colegas
da faculdade, amigos professores, fiz a escolha: ser professor.
Como qualquer profissão, essa também
tem vantagens
e desvantagens.
Tem algumas vantagens, como:
- se o professor é concursado, goza
de uma estabilidade no emprego, embora isso é colocado em pauta por autoridades
que querem mudanças na educação;
- o professor trabalha com pessoas, o
que exige muita dedicação, compreensão, jogo de cintura; investir em sua
formação constantemente para lidar com as transformações que ocorrem na
sociedade e poder, assim, dar o melhor de si em prol da construção de um mundo
melhor;
- em torno de sua disciplina,
trabalha conteúdos específicos, mas deve estar aberto para dialogar com outras
áreas do conhecimento, e fazer conexões tendo domínio de conceitos importantes
como Interdisciplinaridade,
Transdisciplinaridade
e Multidisciplinaridade em seu trabalho;
- então, a partir dessa amplitude em
sua atuação, outro aspecto que julgo relevante nessa profissão é a
possibilidade de desenvolver temas que dizem respeito aos valores morais e éticos
da vida em sociedade. Isso para provocar reflexões que envolvam as relações
interpessoais, políticas, ambientais, o mundo
do trabalho e até nossa relação com os “animais não humanos”, para
usar uma expressão utilizada pelo filósofo australiano, Peter Singer, cujo foco é voltado para as discussões sobre a Bioética; e
- por fim, destaco em o “valor
de educar” (Fernando Savater, filósofo espanhol) em que o professor
contribui para uma vida melhor de seu país. Embora a “educação não tenha o papel de
sozinha mudar o mundo, tão pouco o mundo sem ela muda”, para cunhar uma
ideia do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire. Esse processo educacional é tão significativo que o “ser
humano é aquilo que a educação faz dele”. (Immanuel Kant, filósofo
alemão).
2. Sendo assim, a profissão professor é
maravilhosa e por isso mesmo muito valorizada pela sociedade? Ledo engano.
Infelizmente, essa escolha profissional é marcada por muitos revezes, entre
outros, podemos relacionar:
- É verdade que ela é exaltada em
prosas e versos nas peças publicitárias de nos-
Governantes, veiculadas pela grande mídia, em que eles se arrogam os
arautos
e defensores ferrenhos de uma educação pública de qualidade para o país,
mas
no chão duro da escola as coisas são muito difíceis;
- os professores amargam baixos
salários, condições de trabalhos ruins, e, muitas
vezes, são desrespeitados no exercício de sua profissão, pelos
governantes, por
alunos, pela mídia, desvalorizados até por famílias, embora a maioria
delas
respeitam e apoiam os professores perante os problemas que enfrentam na
escola;
- uma demonstração de desinteresse, falta de comprometimento
com os estu-
dos por uma parcela
significativa dos estudantes;
- o índice de violência nas
escolas é assustador, que a torna não um lugar de a -
prendizado significativo, mas um espaço de medo;
- uma carga horário estafante e,
quando não, lecionando em duas ou três escolas
para completar sua carga horária;
- enfrenta muitos
problemas estruturais que, em boa medida, dificulta o seu
trabalho, salvo
exceção de escolas que estão melhor estruturadas. A esses
problemas, pode-se
relacionar muitos outros referentes a quantidade
e a quali-
dade da Educação Pública nesse “Brasil
varonil e céu cor de anil”.
3. Diante
dessa desvalorização escancarada para quem quer ver, percebemos:
- o fechamento de salas de aula é
cada vez mais acentuado;
- a eliminação do Período
Noturno segue a todo vapor;
- a diminuição da modalidade de Ensino
para Jovens e Adultos (EJA);
- uma crescente evasão escolar. Este
fenômeno, Inclusive, atinge as escolas
particulares, cujo índice
chega a 27%;
- cresce a onda privatizante em
relação à Educacão Pública, voltada
para o lucro,
em que a educação é encarada
como mercadoria igual as outras na pratelei-
ra do mercado;
- a diminuição de concursos
públicos na área da educação;
- um viés tecnicista, pois visa
a formação de uma obra-de-obra barata para o
mercado capitalista de
produção;
- assistimos um grande
movimento, que não é de agora, em torno da Educa –
ção à distância (EAD), para além da Pandemia
do Covid-19; e
- há uma desvalorização das Ciências
Sociais e Humanas, exatamente porque
se descarta uma “Educação
para o pensar”, reflexiva,
crítica e transformado-
ra.
4. Diante desse cenário, perguntamos: qual é o
futuro do professor:
Reconhecemos a importância que o
professor ainda tem para a sociedade.
Que este modelo de escola que
está aí, precisa urgentemente de transforma-
ções para enfrentar os desafios do século XX.
Que o professor parece muito
se qualificar para manusear de forma
competente as novas tecnologias, como
uma ferramenta aliada à
educação.
De outro lado, o que vejo em meu
cotidiano escolar é uma leva de professores
que estão prestes a se
aposentarem, não verem o momento de ir embora, pois
a escola é um fardo pesado e as
forças do ser humano chega ao seu limite.
Continua chegando novos professores,
é verdade, mas nem tantos assim. Mui-
tos, ao entrarem para a educação
pública se assustam com a realidade que se
deparam, mas mesmo assim, seguem
adiante. Outros, caem em descrédito e
logo batem em retirada, decepcionados.
Esse quadro é tão preocupante, que
quando perguntamos aos estudantes sobre
escolher a profissão para ser professor,
constatamos que a maioria esmagadora,
respondem com um sonoro “não”.
Mas, por que será, hein?
O que esperar do “AMANHÃ
NA EDUCAÇÃO E DO PROFESSOR?”.
“Se viver é perigoso, mas caminhar é
preciso”, só
resta o total desânimo ou, apesar
dos pesares, ESPERANÇAR, às vezes,
contra o próprio desengano que bate a porta
de forma insistente.
Mas, se não for isso, o que restará ao professor nessa
longa e sinuosa estrada da
Educação e seu papel social perante a
humanidade?
Alguém arrisca um palpite que possa
nos dar um outro norte, se é que há.
Ivo Lima dos Santos
Professor de Filosofia e Escritor
São Paulo, abril de 2020
Pelos filósofos citados e tantos outros como Rousseau, Platão, Piaget, Bacon, é ponto passivo que a sociedade promove a educação para que o indivíduo melhore a edificação social. E isso se replica na ordem política elevando os Estados a grandes nações.
ResponderExcluirNo Brasil, os professores têm trabalhado muito, mas a mão grande estatal mais atrapalha do que ajuda. Seríamos uma nação desconectada da ordem mundial? Seria a corrupção interna a causa maior do problema?
Segundo nosso grande antropólogo, educador Darcy Ribeiro, a aparente falha na educação brasileira é, na verdade, um "projeto". E temos visto a cada dia mais claramente a implantação desse projeto colonizador extrativista.
De fato, a educação é a meta, mas a libertação o caminho.
Precisamos concluir a independência do Brasil - A História não acabou.
resposta Relembrando