segunda-feira, 13 de abril de 2020

PROFISSÃO: PROFESSOR





Depois de muitas reflexões, ponderação, conversa com colegas da faculdade, amigos professores, fiz a escolha: ser professor.
Como qualquer profissão, essa também tem vantagens e desvantagens

Tem algumas vantagens, como:
- se o professor é concursado, goza de uma estabilidade no emprego, embora isso é colocado em pauta por autoridades que querem mudanças na educação;
- o professor trabalha com pessoas, o que exige muita dedicação, compreensão, jogo de cintura; investir em sua formação constantemente para lidar com as transformações que ocorrem na sociedade e poder, assim, dar o melhor de si em prol da construção de um mundo melhor;
- em torno de sua disciplina, trabalha conteúdos específicos, mas deve estar aberto para dialogar com outras áreas do conhecimento, e fazer conexões tendo domínio de conceitos importantes como Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade e Multidisciplinaridade em seu trabalho;
- então, a partir dessa amplitude em sua atuação, outro aspecto que julgo relevante nessa profissão é a possibilidade de desenvolver temas que dizem respeito aos valores morais e éticos da vida em sociedade. Isso para provocar reflexões que envolvam as relações interpessoais, políticas, ambientais, o mundo do trabalho e até nossa relação com os “animais não humanos”, para usar uma expressão utilizada pelo filósofo australiano, Peter Singer, cujo foco é voltado para as discussões sobre a Bioética; e
- por fim, destaco em o “valor de educar” (Fernando Savater,  filósofo espanhol) em que o professor contribui para uma vida melhor de seu país. Embora a “educação não tenha o papel de sozinha mudar o mundo, tão pouco o mundo sem ela muda”, para cunhar uma ideia do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire. Esse processo educacional é tão significativo que o “ser humano é aquilo que a educação faz dele”. (Immanuel Kant, filósofo alemão).

2. Sendo assim, a profissão professor é maravilhosa e por isso mesmo muito valorizada pela sociedade? Ledo engano. Infelizmente, essa escolha profissional é marcada por muitos revezes, entre outros, podemos relacionar:
- É verdade que ela é exaltada em prosas e versos nas peças publicitárias de nos-
  Governantes, veiculadas pela grande mídia, em que eles se arrogam os arautos
  e defensores ferrenhos de uma educação pública de qualidade para o país, mas
  no chão duro da escola as coisas são muito difíceis;
- os professores amargam baixos salários, condições de trabalhos ruins, e, muitas
  vezes, são desrespeitados no exercício de sua profissão, pelos governantes, por
  alunos, pela mídia, desvalorizados até por famílias, embora a maioria delas  
  respeitam e apoiam os professores perante os problemas que enfrentam na
  escola;
- uma demonstração de desinteresse, falta de comprometimento com os estu-
  dos por uma parcela significativa dos estudantes;
             - o índice de violência nas escolas é assustador, que a torna não um lugar de a -
   prendizado significativo,  mas um espaço de medo;
             - uma carga horário estafante e, quando não, lecionando em duas ou três escolas          
   para completar sua carga horária;
 - enfrenta muitos problemas estruturais que, em boa medida, dificulta o seu
   trabalho, salvo exceção de escolas que estão melhor estruturadas. A esses
   problemas, pode-se relacionar muitos outros referentes a quantidade e a quali-
   dade da Educação Pública nesse “Brasil varonil e céu cor de anil”.


3. Diante dessa desvalorização escancarada para quem quer ver, percebemos:
               - o fechamento de salas de aula é cada vez mais acentuado;
               - a eliminação do Período Noturno segue a todo vapor;
               - a diminuição da modalidade de Ensino para Jovens e Adultos (EJA);
               - uma crescente evasão escolar. Este fenômeno, Inclusive, atinge as escolas
                 particulares, cujo índice chega a 27%;
               - cresce a onda privatizante em relação à Educacão Pública, voltada para o lucro,
                 em que a educação é encarada como mercadoria igual as outras na pratelei-
                 ra do mercado;
               - a diminuição de concursos públicos na área da educação;
               - um viés tecnicista, pois visa a formação de uma obra-de-obra barata para o
                 mercado capitalista de produção;
               - assistimos um grande movimento, que não é de agora, em torno da Educa –
                 ção à distância (EAD), para além da Pandemia do Covid-19; e
               - há uma desvalorização das Ciências Sociais e Humanas, exatamente porque
                 se descarta uma “Educação para o pensar, reflexiva, crítica e transformado-
                 ra.

4.  Diante desse cenário, perguntamos: qual é o futuro do professor:
               Reconhecemos a importância que o professor ainda tem para a sociedade.
               Que este modelo de escola que está aí, precisa urgentemente de transforma-
               ções para enfrentar os desafios do século XX. Que o professor parece muito
               se qualificar para manusear de forma competente as novas tecnologias, como
               uma ferramenta aliada à educação.
               De outro lado, o que vejo em meu cotidiano escolar é uma leva de professores
               que estão prestes a se aposentarem, não verem o momento de ir embora, pois
               a escola é um fardo pesado e as forças do ser humano chega ao seu limite.

           Continua chegando novos professores, é verdade, mas nem tantos assim. Mui-
           tos, ao entrarem para a educação pública se assustam com a realidade que se
           deparam, mas mesmo assim, seguem adiante. Outros, caem em descrédito e
           logo batem em retirada, decepcionados.
          Esse quadro é tão preocupante, que quando perguntamos aos estudantes sobre
          escolher a profissão para ser professor, constatamos que a maioria esmagadora,
          respondem com um sonoro “não”. Mas, por que será, hein?

          O que esperar do “AMANHÃ NA EDUCAÇÃO E DO PROFESSOR?”.
         “Se viver é perigoso, mas caminhar é preciso”, só resta o total desânimo ou, apesar
         dos pesares, ESPERANÇAR, às vezes, contra o próprio desengano que bate a porta
         de forma insistente.

         Mas, se não for isso, o que restará ao professor nessa longa e sinuosa estrada da
         Educação e seu papel social perante a humanidade?
         Alguém arrisca um palpite que possa nos dar um outro norte, se é que há.

           
Ivo Lima dos Santos
Professor de Filosofia e Escritor
São Paulo, abril de 2020

Um comentário:

  1. Pelos filósofos citados e tantos outros como Rousseau, Platão, Piaget, Bacon, é ponto passivo que a sociedade promove a educação para que o indivíduo melhore a edificação social. E isso se replica na ordem política elevando os Estados a grandes nações.
    No Brasil, os professores têm trabalhado muito, mas a mão grande estatal mais atrapalha do que ajuda. Seríamos uma nação desconectada da ordem mundial? Seria a corrupção interna a causa maior do problema?
    Segundo nosso grande antropólogo, educador Darcy Ribeiro, a aparente falha na educação brasileira é, na verdade, um "projeto". E temos visto a cada dia mais claramente a implantação desse projeto colonizador extrativista.
    De fato, a educação é a meta, mas a libertação o caminho.
    Precisamos concluir a independência do Brasil - A História não acabou.

    resposta Relembrando

    ResponderExcluir