domingo, 28 de abril de 2019

Educação inclusiva já!

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Nota de repúdio a declarações do Ministro da Educação e do Presidente da República sobre as Faculdades de Filosofia e Sociologia



            Associação dos Professores/as de Filosofia e Filósofos/as do Brasil - APROFFIB e Associação de Professores/as de Filosofia e Filósofos/as do Estado de São Paulo -  APROFFESP  tomam  partido: não ao exílio da Filosofia!
            Manifestamos nosso veemente repúdio contra as declarações do presidente Jair Bolsonaro, seu ministro da educação Abraham Weintraub e demais prosélitos governamentais.
            Todavia, "ninguém joga pedra em árvore que não dá frutos”; isso significa que a Filosofia e a Sociologia estão mais fortalecidas e influentes na sociedade do que eles possam imaginar.
            Os ataques são constantes aos educadores brasileiros, contra a obra e a pessoa do grande educador Paulo Freire; e como se não bastasse Bolsonaro declara nas redes sociais: “O Ministro da Educação Abraham Weintraub estuda descentralizar investimento em Faculdades de Filosofia e Sociologia. Alunos já matriculados não serão afetados. O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina”.
            A extrema direita diante da incapacidade de apresentar propostas exequíveis para tirar o país do fosso em que se encontra, procura atacar as disciplinas que ameaçam todo e qualquer tipo de narrativas questionadoras deste estado criminoso de abandono que a população pobre se encontra.
            Os filósofos e filósofas que sempre foram vítimas de tribunais  assassinos como ocorreu com Sócrates de Atenas, foram vítimas de falácias, da falsa crença ou das manobras religiosas como ocorreu com Hipátia de Alexandria, mas, com o corte epistemológico de Marx, atribuindo aos filósofos e filósofas o papel de transformar o mundo em que vivemos, a burguesia sente-se ameaçada diante da ausência de projeto e narrativa  que aponte o verdadeiro caminho da vida e da felicidade humana, e de forma hipócrita aponta o espectro do comunismo rondando por toda parte.
            Nos períodos de exceção eles tentam exilar a Filosofia, calar e criminalizar os movimentos e lutadores sociais, mas não conseguirão para sempre deter a chegada da primavera.
            Toda vez que perseguem a Filosofia, a síntese deste processo é o fortalecimento e o avivamento desta disciplina que apesar destes algozes, ela não trilhará o caminho do exílio, do silêncio e da distopia. Todavia, não podemos ficar nem aceitar passivamente as afirmativas destes governantes incompetentes.
            A Nossa voz deve ecoar por todo canto do planeta contra estes governantes, sempre de forma unida, organizada, pois precisamos derrotar este mundo velho, carcomido e obsoleto  para que o novo possa prevalecer.
            Vamos construir um Encontro Nacional de estudantes, professores/as de Filosofia e Filósofos/as do Brasil para discutir formas e conteúdos de uma nova antítese ao pensamento reacionário, excludente e preconceituoso.
            “A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece.”  (Antônio Gramsci)

DIRETORIAS E COORDENAÇÕES REGIONAIS DA APROFFIB E DA APROFFESP
São Paulo, 27 de Abril de 2019.




 

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Cursinho Passo à Frente organiza grupo de Teatro na Apeoesp.

A ideia da aula de teatro na APEOESP nasceu de alunos que sentiram vontade de realizar uma atividade extra além cursinho Passo à frente. A convite do Aldo fui a sede para conversar com o grupo, e verificar qual o interesse de cada um. Meu primeiro contato foi falar sobre teatro e verificar se eles se interessavam pela linguagem. A princípio todos gostaram e quiseram dar continuidade às aulas.

Foi aí que nasceu a nossa 1ª fase do teatro na APEOESP, com duração de 5 meses, onde tivemos no total 17 encontros semanais. A 1ª fase busquei expor teorias, práticas e modos de pensar arte, não somente teatro, mas também música, poesia, pintura, filmes. Teatro é arte da ação, mas é necessário ter bagagem de conhecimentos para iniciar essa linguagem, foi aí que nos debruçamos. Nos nossos encontros tivemos uma rotatividade de pessoas que participaram, o núcleo que se formou foram 7 integrantes. Nossos encontros da 1ª fase foram até o fim do ano.

A 2ª fase também nasceu do convite do Aldo para dar continuidade aos estudos, pois os alunos possuem o interesse em prosseguir com o experimento. A partir desse dado me reuni com o grupo e decidimos retomar o trabalho, mas com a perspectiva de criar uma peça e se apresentar em lugares alternativos – como escolas e comunidades - já que a cidade dispõe de poucos teatros e pela dificuldade de ocupar esses lugares.

Essa nova fase será diferente, uma novidade é que iremos realizar encontros na praça, ocupando o espaço público para potencializar o nosso material. Nossa pesquisa terá como norte o conto A terceira margem do rio, do escritor Guimarães Rosa. A partir dessa narrativa vamos tecer nosso trabalho, consequentemente compartilha-lo ao público esse potente conto, que fala sobre afeto, algo de muita valia nesse tempo estranho em que estamos caminhando.

Heitor Valim -Educador e articulador do grupo de teatro.

Guerras Híbridas, das revoluções coloridas aos golpes.


 Aldo  Mundo

O livro Guerras Híbridas, das revoluções coloridas aos  golpes, do autor ANDREW KORYBKO, foi publicado pela expressão popular, em 2018 e trás significativa contribuição para a compreensão das novas estratégias de guerras que vem sendo implementadas em várias partes do mundo, fundamentalmente pelos Estados Unidos.

“A partir do final de 2010, uma onda de protestos emergiu no mundo Árabe, partindo da Tunísia e espalhando-se para a Argélia, Jordânia, Egito e Iêmen, o que ficou conhecido como primaveras Árabes”. Todos presenciaram entusiasmados estes movimentos, uma vez que  além do mundo Árabe, também chegou a América latina, inclusive no Brasil.

Por várias vezes nos deparávamos com destemidas pessoas e grupos de pessoas saudando a inexistência dos partidos políticos, de centrais sindicais e condenando o uso da cor vermelha nas vestimentas.

Este novo conceito de Guerra Híbrida foi elaborado pelo jornalista, analista político Andrew Korybko, onde definia que “ A guerra Híbrida é a combinação entre revoluções coloridas e guerras não convencionais. Neste novo modelo de guerra, as revoluções coloridas-largamente planejadas anteriormente e utilizando ferramentas de propagandas  e estudos psicológicos combinados  com o uso de redes sociais - consistem em desestabilizar governos  por meio de manifestações  de massas em nome de reivindicações abstratas como democracia, liberdade etc, e elas são fagulhas que incendeiam uma situação de conflito interno. A revolução colorida é um golpe brando”. (página 8)

Embora perpetrado pelos EUA, este método vai ser observado oficialmente pela Rússia conforme conferência de Moscou sobre segurança internacional de maio de 2014 que introduzem o conceito de abordagem adaptativa para  as operações  militares. “Com isso, ele quer dizer que meios não militares (identificados como revoluções coloridas) são reforçados pelo uso encoberto de forças e de interferência militar aberta”.(página 13)
“O livro visa expor e analisar o novo modelo em desenvolvimento dos EUA para a troca de regime e o método de guerra descrito pela primeira vez na Conferência de Moscou sobre segurança Internacional de 2014, bem como demonstrar que a combinação de revoluções coloridas e guerra não convencional representa uma nova teoria de desestabilização de Estados, que está pronta para a implantação estratégica em todo mundo”. (página 15)

Tipificada como guerras de quarta geração, Willian Lind, em artigo já em 1989 vai dentre outras coisa afirmar:” As operações psicológicas podem se tornar a arma operacional e estratégica dominante assumindo a forma de intervenção midiática/informativa [...] o principal alvo a atacar será o apoiada população do inimigo ao próprio governo e à guerra. As notícias  televisionadas se tornarão uma arma operacional mais poderosa do que as divisões armadas”.(página 26)

Com mecanismos sofisticados de dominação, os autores desta teoria recorrem aos vários campos do conhecimento como a guerra neocortical (Richard Szafranski) que consiste em  “usar técnicas de disseminação da informação para moldar indiretamente o ‘Cérebro coletivo’ da liderança do inimigo (isto é, o alvo) a fim de influenciá-lo a não lutar (isto é, mudar seu comportamento de conflito),(página 49)
Avança nos estudos em relação  a centralidade das guerras através das redes sociais e vão utilizar o conceito de mente de colmeia onde ficou demonstrado que  “as mentes de colmeia podem ser fabricadas por organizações de inteligência estrangeiras através de plataformas de mídia social e princípios da guerra em rede”. (página 58)

No anexo do livro os conceitos estão sistematizados ao ponto de afirmarem que “ todas as revoluções coloridas seguem à risca o mesmo modelo, e entender a natureza dessa tática de desestabilização na prática permitirá elaborar contramedidas adequadas para se defender contra ela”. (página 113)
Continua em relação ao modelo da guerra afirmando que “As revoluções coloridas são fabricadas pela complexa interação de vários fatores, que, contudo, podem ser subdivididos em várias categorias de infraestrutura primária: a Ideologia, o financiamento, o social, o treinamento, a  Informação  e a mídia”.(página 113)

Para o autor, a ideologia é a força propulsora que sedimentam as demais variáveis, e afirma que “a ideologia é, portanto, o ponto de partida de todas as revoluções coloridas”.(página 115)
O financeiro é a espinha dorsal, embora o financeiro é diretamente respaldado pela ideologia em curso. O social é o organizativo e a forma de engajamento, através do núcleo (vanguarda), Tenentes (assistentes) e  os civis (simpatizantes).

O treinamento é fundamental, podendo ser presencial ou virtual e é determinante na eficácia do projeto. A informação também tem papel de relevo, pois as mesmas acontecem pelas mídias sociais e propagandas de uma maneira geral, sempre conectados a ideologia  e aos objetivos estabelecidos. A mídia tem papel fundamental e ela pode  ser (blog, sites de noticia alternativos) ou TV, jornais, ou seja os meios de comunicação em geral.

Para contagiar grandes aglomerações e apoiadores a causa, “O apelo à geração jovem é de extrema importância para as revoluções coloridas, uma vez a presença de muitos jovens dá ao movimento um aspecto jovem e enérgico contra um sistema estagnado e decadente (a maior parte dos governantes já  tem certa idade)”.(páginas 1228/129)

O livro finaliza expondo o objetivo central desta nova investida dos EUA. “Os EUA estão decididos a desmantelar a influência da Rússia onde quer que seja, o que é ainda mais  verdade no caso dos Balcãs, Oriente médio, Cáucaso e  Ásia central. Cada um desses cenários contem certas oportunidades e vulnerabilidades para a estratégia mor da Rússia e, portanto, países-chaves dento deles agora estão  na linha de tiro da nova guerra fria dos EUA”.(página 160)

Quando os golpes acontecem e quando as grandes manifestações como a de 2013 surpreendeu a todos e todas, muitas vezes ficamos indagando a serviço de quem estão àqueles objetivos e movimentações.
Anos depois podemos observar as novas estratégias e formatos de ler, detectar e dominar o mundo, com a sutileza dos opressores de sempre, que usam de todo tipo de artifício que as tecnologias modernas dispõem para disputar corações e mentes conforme descrição das propaladas guerras coloridas, que acompanhamos de perto sua eficácia como a  destituição de governos através de golpes e de entrismos das mais variadas formas de dominação.

Um bom estudo nos dia atuais, para explicar as grandes movimentações que culminaram com a primavera Árabe e as grandes manifestações que ocorreram inclusive no Brasil, de forma orquestrada e que teve o desdobramento conhecido de todos, com o golpe político em 2016, prisão e inviabilização da eleição do presidente Lula, e, em decorrência disso, a eleição de um governo que representa em grande parte o conteúdo e submissão  desta nova estratégia de dominação do imperialismo Americano.

Aldo Santos-Ex-vereador, Presidente da aproffib, diretor da aproffesp, militante sindical de do Psol.

Preparando a greve Geral!

Preparando a greve Geral!




Estamos entrando num momento singular e muito difícil para a vida da classe trabalhadora.
Reforma da previdência, congelamento defasado de salários, falta de isonomia salarial dos que estão na ativa com os aposentados/as, além de outras mazelas do governo do PSDB no Estado e a bandalheira direitosa por todo Brasil.
Infelizmente não tem outro caminho que possa responder a este conjunto de ataques. Somente unidos e organizados é que podemos enfrentar este governo de extrema direita que avança a passos largos no desmonte do já precarizado Estado brasileiro e das parcas conquistas da classe trabalhado ao longo de décadas.
A assembleia estadual dos professores/as é mais um destes momentos significativos da nossa classe.Precisamos demostrar unidade, força e volume nestas manifestações.
Outro momento histórico será nossa participação nas atividades classistas do 1° de Maio no Anhangabaú, centro de SP.
Em termos de calendário, a preparação da greve geral para o dia 15 de maio será um marco fundamental na luta de resistência contra a reforma da previdência que avança nas comissões e na prática fisiológica da base parlamentar.
Somente uma potente greve geral poderá por fim a este projeto que vai destruir a vida da população pobre,bem como  oxigenar os bancos com a previdência privada, aumentando ainda mais os privilégios dos ricos e das castas de sustentação  das instituições auxiliares do governo.

Lutar, Resistir e vencer é preciso!

Aldo Santos para ABCdaLUTA

segunda-feira, 15 de abril de 2019

100 dias de desgoverno de Jair Bolsonaro



Aldo Santos  falando na Assembleia dos Militantes da ocupação Povo Sem Medo
 do MTST, no terreno conquistado em SBcampo.
A coincidência das datas revelam  realidades antagônicas.

Um ano da prisão do presidente Lula, vítima do conluio das classes dominantes que historicamente sabotam, dão golpes e até assassinam aqueles/as que ousam governar numa perspectiva distributiva de rendas, riquezas e terras, legitimamente produzidos pelos que  protagonizam e produzem tudo isso, e, infelizmente, tudo fica com os governos e patrões.

Uma confluência de forças malignas golpeiam as eleições, impedindo na canetada a eleição  e continuidade de Lula à  frente dos rumos políticos  do nosso país.

Mesmo apoiando o candidato do Psol,  não podemos nos omitir e deixar de caracterizar e condenar  este crime político que cometeram   com o presidente Lula.

 Neste ritmo e modalidade de protestos pelo Lula Livre, ele deve ficar por muito tempo na prisão, e, pode até mesmo ser vítima de outras ações  truculentas por parte dos opressores e das forças a serviço do capital. É preciso repensar outras formas de manifestações, pois, a depender do atual governo, o Lula vai definhar na prisão e pode vir  morrer na cadeia.

Por outro lado, os 100 dias de governo de Bolsonaro  é um verdadeiro fiasco governamental, onde  vem  piorando o que já tínhamos conquistado  as duras penas, ao longo dos anos, e seus ministros, via de regra, são absurdamente incompetentes e falastrões.

 O Presidente vem despencando nas pesquisas de opinião pública, como um dos piores presidentes da história do País, e sempre perde a oportunidade de ficar de boca fechada, pois quando abre, só verbaliza impropriedades que envergonham até seus fieis escudeiros e é motivo de deboche pela imprensa nacional e internacional e as pessoas de bom senso.

Contudo, os inimigos do povo estão unidos em suas instituições e o capital financeiro está muito bem obrigado,  com os lucros dos Bancos e ainda estão na torcida pela aprovação da reforma da previdência para abocanhar mais uma parte do dinheiro da população com a  previdência  privada prevista no criminoso projeto de Guedes.

O quadro político no Brasil não está fácil e está difícil de prever do ponto de vista dialético uma síntese deste processo.

O início do século XX foi sacudido com novas idéias e teses socialistas e comunistas e terminou  o século  com a consolidação do imperialismo, fim da história e muitos celebrando equivocadamente o fim do socialismo.

O inicio do século XXI, mesmo num contexto de avanços das forças produtivas, do reordenamento do mundo do trabalho e da manutenção das teorias reacionárias com o aprofundamento do neoliberalismo e pró-fascismo, o comunismo ronda para além da Europa e  consegue ser o contraponto efetivo a acumulação do capital e a gana dos opressores.

A perspectiva e meta é que a nossa classe no século XXI responda à altura, enfrentando estes facínoras, destruindo estes sistemas de morte e que  a construção de um mundo novo se transforme numa efetiva realidade, livrando o planeta da barbárie capitalista.

 É preciso uma plena desordem para que  uma nova ordem  se estabeleça, com, pelo e para o povo, unido e organizado em busca de nossos horizontes existenciais.

É melhor que soltem o Lula antes que o pior aconteça!

Lutar, resistir e vencer é preciso!

Aldo Santo - Ex-vereador/sbc, Presidente da aproffib, membro da diretoria da aproffesp, militante sindical e do Psol.

domingo, 14 de abril de 2019

Saiba que eu te admiro muito...



Aldo, com todas as nossas divergências de algumas ideias, saiba que eu te admiro muito, muito mesmo; você é o "Coronel Josias" que entrou na minha vida política e pedagógica...e com você criamos uma grande coisa que não depende mais de nós...pelo menos fizemos alguma coisa na história, além de muitas outras e muitas outras dimensões..."Bicho", é muito bom ter estado com você hoje e debatendo as velhas e novas ideias....
Abraço, meu irmão cearense!!!
Os Imprescindíveis - (Bertolt brecht)

Hay hombres que luchan un día
Y son buenos.
Hay otros que luchan un año
Y son mejores.
Hay quienes luchan muchos años
Y son muy buenos.
Pero hay los que luchan toda la vida:
Esos son los imprescindibles.

*********
Há pessoas que lutam por um dia
E são boas;
Há outras que lutam um ano
E são melhores;
Há as que lutam por muitos anos
E são muito boas!
Porém, há as que lutam a vida toda:
Estas são as imprescindíveis!!!

Chico Gretter. O filósofo da ousadia

quarta-feira, 10 de abril de 2019

História da Luta contra a repressão e censura no Brasil


 Aldo  Direitos humanos  
Aula Pública com

Antônio Reis -
Professor Coordenador do Bacharelado e Licenciatura em História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação Santo André. Realizou pós-doutorado pela Escola de Comunicações e Artes da USP, integrando o Observatório de Comunicação, Censura e Liberdade de Expressão

Aldo Santos -
Integrante do Comitê de Luta pela Educação Sem Censura, coordenador da Subsede de SBC da APEOESP - Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo e membro da APROFFIB - Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Brasil

Derly José de Carvalho -
Integrante do Centro de Memória e Atualidades. Lutou na resistência à ditadura - foi preso, torturado e depois banido do Brasil. Viveu no Chile, China e França. Tem dois irmãos desaparecidos políticos, um terceiro executado pelos militares.

Sexta (12/04) às 19h30 no Auditório da Fafil
Haverá certificado aos participantes.

terça-feira, 9 de abril de 2019

TEATRO NA APEOESP: VENHA CONHECER ESTE PROJETO.


  Movimento Estudantil Conteúdo escolar  09/04/2019 

No dia 10 de julho de 2018 teve início da primeira conversa sobre a organização de um grupo de teatro na subsede da apeoesp/sbc. Esta iniciativa surgiu a partir de diálogos realizados nas aulas do cursinho Passo à Frente, com o objetivo de dinamizar e desinibir a galera.
         A primeira etapa durou cerca de 6 meses  com encontro semanal, com introdução e contato com os mestres do teatro, da poesia, das pinturas e do cinema.
A segunda fase teve início em 10 de fevereiro de 2019 com objetivo de apresentar coletivamente uma peça concreta a população interessada. O texto escolhido foi “A terceira margem do rio-Guimarães Rosa”.
Para o Diretor e pedagogo, Heitor Valim, “a ideia movente é o encontro humano”.
Os membros do grupo de teatro pretendem até o final deste ano se apresentar nas comunidades carentes, escolas e entidades de classe.
Com esta iniciativa, a apeoesp assume  mais uma vez seu compromisso com a escola pública, a educação e a cultura, numa perspectiva coletiva, crítica e transformadora.
SBCampo, 09/04/2019.
Aldo Santos-ABCdaLUTA

quinta-feira, 4 de abril de 2019

RACISMO NO BRASIL: UM PASSADO QUE NÃO PASSA



 

RACISME AU BRÉSIL: um passé qui ne passe pas

Um passé présent

Alguns dias atrás, estávamos eu e uma amiga no metrô em São Paulo, conversando sobre as últimas publicações racistas que haviam alardeado as redes sociais. Postagens como a do youtuber Cocielo, que comparava o jogador de futebol da seleção francesa Kylian Mbappé a um “assaltante de arrastão” e o post do humorista Jacaré Banguela que equiparava o ator Jaden, filho de Will Smith, a um flanelinha. Discorríamos então com assombro, sobre os comentários dos internautas, os quais sob a égide do aparente anonimato da internet defendiam os digital influencers. Esses internautas inclusive alegavam que havia certo exagero em atribuir racismo àquelas publicações, pois, segundo eles, nenhuma das publicações mencionava a cor da pele ou xingava o jogador ou o ator de macaco ou qualquer  ofensa explícita. Ignoravam eles, portanto, o racismo sutil característico na sociedade brasileira.   
- É um passado que não passa.   minha amiga disse.
- É um passado que ainda se derrama sobre o presente e continua fazendo vítimas.  – eu respondi.
Que passado-presente é esse que nós duas nos referíamos?  Por quanto tempo esse pregresso ainda avançará sobre o hoje e o porvir?
É um passado não tão passado assim que gerou, nutriu e naturalizou uma ideologia que hierarquiza a própria condição humana. Uma ideologia sustentada numa concepção seletiva de cidadania e que evoca de pronto a ideia de que o negro no Brasil tem o seu lugar demarcado na sociedade e que ali está por sua culpa ou vontade e não por conta de uma configuração social bem rígida que o colocou num cenário de exclusão. Essa marginalização racial submetida à naturalização e à normalidade se torna risível ou objeto de gracejos justamente para aqueles que gozam de algum privilégio, isto é, os brancos, majoritariamente.
Nos dias seguintes a essa conversa, eu continuei acompanhando os noticiários e outras denúncias e relatos de racismo apareceram, entre os quais, a filha de dois anos do ator global André Luiz Miranda, a filha de Ivo Meirelles, que teria sofrido racismo em uma loja da C&A, a secretária da editora Patuá, que durante a Flip sofreu racismo por parte do editor e ex-curador do Prêmio Jabuti, José Luiz Goldfarb e os milhares de comentários racistas no filme publicitário de dia dos pais divulgado pelo O Boticário no YouTube.
Confrontar piadas e comentários racistas gera polêmica porque entramos num embate com uma ideologia naturalizada e enraizada na sociedade e inquestionavelmente em nós, pois naturalmente, sem muito esforço e reflexão, associamos o negro ao pobre e incapaz, ao bandido, ao garoto que te aborda no semáforo para pedir dinheiro, ao menino sujo e malvestido que guarda ou limpa o seu carro, como fez o comediante Jacaré Banguela, ou aos garotos pretos e pobres que fazem arrastão nas praias e avenidas, como fez o youtuber Cocielo.  Essas imagens, ou melhor, essas visões enrijecidas de mundo, são delineadas por uma ideologia racial não apenas no campo consciente, mas também na demarcação de lugares imobilizados socialmente. O que tanto os dois digital influencers, quanto os outros envolvidos em denúncias ou em comentários racistas fizeram foi reproduzir preconceitos historicamente construídos e enraizados como naturais. E a medida que os negros e negras aumentam suas presenças em espaços antes ocupados prioritariamente por brancos, essa presença gera um certo mal estar naqueles que pensam que o negro e o branco, cada um tem o seu lugar fixo e imóvel, de maneira que o racismo, antes mitigado e contido, retorna de maneira mais exacerbada. É o passado que não passa.
A título de inspeção convém aqui evocarmos esse passado:
Perquirindo suas origens, o Brasil, como um corpo social e político, foi concebido na acumulação de bens e riquezas através da exploração do trabalho de negros e indígenas. Nessa concepção, o esqueleto que sustentou esse corpo precípuo por quase quatro séculos foi o escravismo colonial. Neste registro, o racismo está na gênese do Estado brasileiro.
No final do século XIX, ocorre a abolição dos escravos, entrementes sem qualquer projeto de inclusão dos africanos e dos seus descendentes nesse corpo social. É importante frisarmos que passamos de colônia para um país “independente”  de maneira mansa e plácida, sem quaisquer saltos ou rupturas nesse corpo político, uma vez que preservamos os mesmos instrumentos de dominação do período colonial: os então senhores de escravos tornaram-se herdeiros diretos das terras, fundando oligarquias e monopólios de terras, mantendo as estruturas aristocráticas intactas. É crucial lembrarmos que a própria abolição foi organizada pela dominante, os fazendeiros e pequenos burgueses que  fizeram de tudo para asfixiar e emudecer qualquer movimento abolicionista gerado pelos escravos ou escravos libertos. Foi essa mesma elite, entusiasmada com as leituras sobre as teorias científicas de eugenia subsidiárias à ideia de pureza racial, que disseminou a ideia de branqueamento, adaptada para a população brasileira. Dessa maneira, foi colocada em prática a ideia de “melhorar” a população desse país por meio da mestiçagem.  Todavia é inegável, como muito bem sabemos, que o programa político de miscigenação não engendrou uma nação pluriétnica ou uma democracia racial. Pelo contrário, ocasionou a fragmentação da identidade negra brasileira, fragmentação esta que por muito tempo enclausurou o valor e a autoestima de milhões de afrodescendentes desse país.  Cumpre, portanto, enfatizarmos que essas ideias de clarear a população brasileira baseada em “edifícios intelectuais”, cujos resquícios ainda hoje proliferam em muitas consciências, também se manifestaram no incentivo político à vinda dos europeus para a ocupação de postos de trabalho que excluíram os negros do mercado formal de trabalho, gerando um contingente de gente miserável obrigada a se submeter às piores condições de trabalho, restando ao negro um cotidiano massacrante e as agruras sociais. Não podemos olvidar que sob a égide da abolição, a população negra foi deixada de escanteio, a sua própria sorte. Certamente, a libertação evadiu os negros de sua condição de coisa-objeto, suprindo-lhes um desejo prolixo de cidadania, no entanto, essa cidadania nunca foi plena e universal, como é a do homem branco, mas restrita e parcial.  Os escravos libertos e seus descendentes tornaram-se semi-cidadãos ou cidadãos hierarquicamente inferiorizados, pois seus direitos básicos não são incólumes.
Atentemos: hoje, os afro-brasileiros são mais da metade da população brasileira, mas se olharmos a paisagem social veremos que eles são sub-representados ou praticamente invisíveis nas estruturas de poder e nos meios de comunicação. Os negros foram libertados em 1888, mas o racismo ainda distribui de forma desigual a renda e o poder, subjugando a população negra e parda à exploração. Cumpre enfatizar ainda que nessa sociedade ideologicamente racista, a subalternidade dos negros é considerada “normal” e “aceitável”, pois está dentro da “regra do jogo de opressão” que verbaliza que todos nós somos iguais e temos as mesmas condições, ponderações estas que divergem das assimetrias econômicas, sociais e políticas da sociedade brasileira.
É essa composição social, criada e naturalizada no período colonial que atravessou cinco séculos e que vigora até hoje. É esse arranjo que configura as nossas relações sociais e que recria e enrijece desigualdades e privilégios.
Compreender por que piadas aparentemente inocentes contra negros assumem conotações racistas, implica, primordialmente, reconhecer o hiato existente entre a cidadania do branco e a frágil cidadania do negro. Compreender porque ofensas raciais ainda perseveram 130 depois da abolição implica perceber como essa clivagem entre brancos e negros perpassa toda a História do nosso país, embora a mídia e a elite tentem contrair essa memória.
Esse passado de exclusão política, econômica e social não passa, isto é, não se tornou de fato passado, mas se faz sentir presente em nós, pretos, pobres e favelados, todas às vezes que os nossos direitos são negados, todas às vezes em pessoas riem dessa situação, todas às vezes em que pessoas fazem comentários assentindo a essa exclusão.

*Luanda Julião é professora de filosofia e história da rede pública estadual. Diretora da Aproffesp, Doutoranda em filosofia e escritora.