quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Saviani analisa a educação como vetor formadora da consciência social

Saviani analisa a educação como vetor formadora da consciência social





O capitalismo instaurou uma era de opacidade nas relações sociais, que torna inevitáveis os embates de lutas de classe. Este foi o rumo do raciocínio construído pelo conferencista Dermeval Saviani, ao encerrar o Seminário de Estudos Avançados do PCdoB, no dia 1º de fevereiro, em São Paulo.





Dermeval Saviani analisa a educação como formadora da consciência social.

Conduzida para refletir sobre as eleições de 2014 e a consciência social brasileira, a conferência do pedagogo recorreu à filosofia e ao marxismo para o desvendamento ideológico dos sistemas econômicos, demonstrando a importância da educação crítica para formação da consciência social e a ação política.

Saviani explicou que refletiu muito antes de decidir pela abordagem escolhida para não “chover no molhado” ao discutir consciência social e ação política e ideológica. Ele abriu a conferência afirmando que é o ser social que determina a consciência, portanto, é necessário compreender a estrutura da sociedade para dimensionar as condições da consciência que o indivíduo tem de seu lugar no mundo.

O trabalhador não reconhece o produto do seu trabalho

Deste modo, numa afirmação própria do marxismo, Saviani afirma que a estrutura jurídica e política de uma sociedade é determinada pelas suas condições econômicas. A partir deste pressuposto, ele volta à desconstrução da estrutura do modo feudal de produção para compreender a condição capitalista da humanidade, surgida em contradição ao sistema que o antecedeu.

Do modo de produção feudal, formado por servos/artesãos e senhores, se elevou a estrutura jurídica e política (nobreza e clero) daquele regime econômico. O aumento da capacidade de produção de servos e artesãos gerou um excedente, para além das necessidades de subsistência, que passou a ser trocado nas cidades (burgos). Com o contraste do papel da burguesia sobre as relações estáticas do feudalismo, as relações entre servos/senhores e artesãos/mestres tornaram-se entraves para o avanço econômico, já que as mudanças do campo para a cidade, da troca para o comércio, da agricultura para a indústria, se tornavam cada vez mais prementes.

É deste modo que as convulsões burguesas “libertam” os servos e artesãos dos instrumentos de trabalho que pertenciam aos senhores feudais, e passam a vender sua força de trabalho aos burgueses. Foi uma transformação lenta que atravessou os séculos XV e XVII, com o surgimento do iluminismo e o livre exame do protestantismo. “Em 1848, o Manifesto Comunista celebra os avanços de cinco séculos de capitalismo”, salienta Saviani.

Embora tenha libertado a mão de obra da servidão ao senhor feudal, Saviani ressalta que a burguesia manteve privados os meios de produção, impedindo uma liberdade plena que o comunismo prometia com o fim da propriedade sobre os meios de produção. “Foi o início de uma nova era de revolução social, com a finalidade de libertar as forças produtivas dos meios privados concentrados nas mãos dos capitalistas”, diz o filósofo.

No capitalismo, embora o excedente seja sua razão de ser, ele é sempre um entrave econômico. Para resolver o impasse do excesso produtivo, o regime estimula a destruição da produção, seja por meio de catástrofes ambientais ou guerras. Saviani ironiza ao questionar se as manifestações políticas acompanhadas de vandalismo, que a tática black bloc justifica como anticapitalistas, na verdade não concorreriam para o avanço capitalista. “Todas as grandes guerras geraram surtos de grande desenvolvimento capitalista”, descreve ele.

A própria noção da “obsolescência programada” surge desta necessidade do capitalismo; ou seja, o produto industrial já é programado para se tornar obsoleto e ser substituído por um mais moderno, num prazo curto de tempo. “Você vai à assistência técnica, e o especialista diz que é mais barato comprar uma impressora nova do que consertar a velha”, diz ele, o mesmo servindo para inúmeros outros produtos eletrônicos de uso cotidiano.

Saviani cita o exemplo das lâmpadas, que nasceram com tecnologia para serem eternas. Isto pode ser perfeitamente comprovado com uma lâmpada dos bombeiros de Livermore, na Califórnia (EUA), que já funciona desde 1901. Segundo seu relato, em 1924, foi formado o cartel de lâmpadas para controlar a vida útil deste produto e, então, Thomas Edison cria a lâmpada com tempo determinado, fixado em mil horas de duração.

Este descarte contínuo da produção gera graves problemas ambientais e mantém as forças produtivas ocupadas com um excedente que só interessa ao capitalista. “Numa economia socializada, as forças produtivas estariam liberadas para satisfação de novas necessidades”, sugere Saviani. É o caso das pesquisas de cura de doenças, cujo resultado é sempre um remédio paliativo para prolongar a vida do paciente convivendo com a doença, em vez de curá-la.

A partir desta percepção utópica da economia, Saviani explica porque o capitalismo é a pré-história da humanidade. Neste regime em que o trabalhador está dissociado do produto de seu trabalho, ele faz a história sem saber que a faz. Num regime em que vigore o trabalho livre dos meios de produção privados, o proletariado faz a história sabendo que a faz. Neste raciocínio encontramos a chave, proposta pelo filósofo, para a reflexão sobre a consciência social.

A questão da relação do capitalismo com a natureza também foi tratada, revelando o modo como ela é vista neste sistema como um produto a serviço do homem. A subsistência nunca foi vista como um problema para natureza. Em 1876, Engels, parceiro de Marx nos textos revolucionários, já dizia que os animais transformam a natureza por viver nela, enquanto o homem a domina e a faz servi-lo, o que a leva a reagir conforme o abuso humano. “Os europeus não viam que eliminar florestas para agricultura criava os desertos atuais que avançam sobre os países que colonizaram”, cita Saviani.

Transparência e Opacidade

Todas essas contradições capitalistas propiciam o desenvolvimento da luta de classes. Segundo Saviani, a burguesia vê uma crise econômica, como a que vivemos atualmente, como um desarranjo e disfunção, que demanda reformas. “A classe dominada de trabalhadores vê a crise como uma oportunidade para mudança na correlação de forças”, prescreve ele.

Parafraseando Lucien Goldman, o filósofo descreve os níveis de consciência como real (aquela do burguês), a possível (aquela do trabalhador alienado) e a máxima possível, que só pode ser adquirida pelo proletariado, que projeta um horizonte para a superação da ordem burguesa. “Os interesses da burguesia a impelem a manter a ordem capitalista, enquanto os interesses do proletariado os compelem à superação do sistema”, afirmou.

Engels já observava que a história desmentiu os revolucionários, ao revelar que o desenvolvimento capitalista estava muito aquém da necessidade para a supressão da produção capitalista. “O alemão observou que o amadurecimento das condições objetivas para a revolução na Europa (um canto do mundo), se confrontava com a ascensão recente da burguesia no resto do planeta”, diz Saviani, ao sugerir que as condições para a revolução ainda estão por ser criadas.

Voltando as bases do Capital, Saviani recupera a lógica de que o proletário não é livre, pois é proprietário exclusivo de sua força de trabalho, enquanto o burguês é livre por ter a propriedade exclusiva dos meios de produção e da força de trabalho dos proletários. Por contrato, o capitalista é dono de tudo que o trabalhador é capaz de produzir em troca de um salário para consumir aquilo que ele mesmo produziu.

Do mesmo modo, Saviani recupera a lógica que define a perda da relação entre o trabalhador e seu produto. No capitalismo, é a troca que determina o consumo, ao contrário do feudalismo, em que a troca do excedente vinha depois do consumo para subsistência. No capitalismo, a troca precede o consumo. “Eu não recebo meu produto produzido; eu recebo um salário equivalente ao valor da minha força de trabalho e tenho que comprar o que produzi”, diz o filósofo, lembrando como nos primórdios do capitalismo, com trocas mais primárias, o homem já começa a se alienar da lógica que governa as relações econômicas.

É assim que a produção adquire um caráter fetichista: as mercadorias passam a ter vida própria e tornam-se misteriosas. Perdemos a percepção de que elas são produto das mãos humanas. O capitalismo inaugura a “opacidade” nas relações sociais. “No feudalismo, as relações são transparentes: o escravo é propriedade do senhor e o servo está submetido ao senhor. No capitalismo, a aparência de liberdade instala a escravização do trabalhador”, explica.

Surge a diferença entre aparência e essência, em que o capitalista é livre em aparência e essência, enquanto o proletário é livre apenas na aparência. O proletário que não trabalha, morre, ou vive na criminalidade. “É esta opacidade que deu origem aos embates da luta de classes”, afirma Saviani.

Educação, avanços e retrocessos liberais

O liberalismo burguês favoreceu a correlação de forças do proletariado. A conquista do sufrágio universal, leva os proletários a usar a luta parlamentar como ferramenta de conquistas, por terem construído uma forte representação nas eleições. Mas a burguesia também se adapta aos embates, transformando o liberalismo. Em 1848, a indústria bélica e a estrutura urbana se alteram para inviabilizar a luta de barricadas, comum na Paris de vielas propícias à emboscadas populares. As grandes avenidas surgidas das reformas burguesas de Paris, tornaram-se perfeitas para tanques e canhões de longo alcance que eliminaram a hipótese das barricadas proletárias.

Marx acreditava que as crises sucessivas acabariam criando as condições objetivas para superação do capitalismo. Keynes, então, inventa os mecanismos liberais para, se não evitar crises, encontrar condições para superá-las, por meio de intervenção de estado. Foi o que tornou a Europa um exemplo de estado de bem estar social, para enfrentar o comunismo que avançava a partir da União Soviética.

Hayek foi o economista radicalmente contra a intervenção do estado na economia. Agraciado em 1974 com o Nobel, seu modelo foi implementado no momento em que a crise será gerenciada sem intervenção do estado. Saviani retoma os elementos da crise que deixou impactos profundos na atualidade, em particular na gestão da atual crise financeira internacional, em que a intervenção do estado garante a salvação dos bancos para evitar o colapso financeiro.

Como educador célebre que é, fundador da Pedagogia Histórico-Crítica, Saviani não poderia deixar de prescrever a educação escolar, como fazia Gramsci, como o meio mais adequado para a apropriação dos trabalhadores das conquistas do conhecimento e o desenvolvimento da consciência crítica.

A mais-valia é resultado da produção do proletariado e configura um trabalho não pago. Por isso, as ações de massa devem ser orientadas o máximo possível para a consciência de pertencimento à classe. “Nas eleições, mesmo os partidos progressistas dizem que os empresários são o setor produtivo, geram empregos e renda”, ironiza ele, revelando o modo como a ideologia se naturaliza entre os trabalhadores.

“O capitalismo, apesar de todas as suas misérias, engendra as condições para a transformação do sistema”, diz Saviani. Analisando com perspicácia o funcionamento do sistema, como fez Marx, a luta proletária deveria buscar a abolição do sistema de trabalho assalariado, e não lutar por “salário justo, por jornada justa”. “Os movimentos sociais são conservadores, pois buscam assegurar espaço (direitos) nessa sociedade capitalista, e não a ruptura com ela”.

Voltando a sua área de atuação, Saviani mostra que o Movimento Todos Pela Educação, por exemplo, que até setores de esquerda embarcam em sua propaganda, é um movimento social dos empresários. São fundações, empresas e bancos que interferem claramente nas políticas educacionais.

Por outro lado, ele avalia que o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), “constitui um germe da sociedade socialista, animando para novas conquistas”, ao arregimentar grande número de famílias para ocupações. Segundo ele, o MST era um movimento conservador de perdedores de sua terra que voltavam para recuperá-la. “Hoje é o movimento social que mais avançou e mantém a perspectiva socialista”, opina o filósofo, ao citar a criação da escola de formação Florestan Fernandes, como um exemplo da consolidação dessa perspectiva socialista.

Após os comentários da plateia, Saviani deu continuidade à conferência avançando no tema. Ele aproveita a questão sobre o pós-modernismo, para defini-lo como um “grande aparato ideológico”, na defesa de interesses que levam à distorção sobre a noção de verdade/realidade.

Resgatando o realismo ingênuo do filósofo Santo Agostinho, em que o critério de verdade era a evidência objetiva que se impõe ao sujeito, ele avança para o idealismo kantiano, em que o racionalismo define verdade como conhecimento a partir das ideias inatas. Em seguida vem o empirismo de Hume, em que o conhecimento é a experiência vivida, e finalmente a autocrítica de Kant ao descobrir a impossibilidade da metafísica com sua crítica da razão pura. Não há instância de decisibilidade na razão pura: Deus existe? O homem é livre? A alma é imortal? Eram estas as grandes questões da filosofia. É quando se define que as únicas ciências são a Matemática, que cria conceitos e a Física, que os descreve.

A filosofia moderna elabora então a síntese em que o real e o ideal são dois elementos que se articulam. Hegel estabelece a contradição como categoria lógica, que era expulsa até então. Marx, então, inaugura a filosofia contemporânea com o realismo crítico. “Porque a realidade existe independente do pensamento, o que é uma crítica da realidade como fruto do pensamento”, demonstra Saviani.

Na pós-modernidade, estaríamos vivendo numa sociedade que levanta problemas que não é capaz de resolver. “Vem a concepção de irracionalismo, que já havia sido levantada no século XIX”, diz Saviani. O filósofo então, passa a demonstrar que em períodos progressistas, tende a predominar a indução, enquanto em períodos de fecho de uma forma social tende a prevalecer o dedutivismo. A indução não traz a verdade, mas gera conhecimento, enquanto a dedução garante a verdade, mas não faz avançar o conhecimento, porque, segundo Kant, são juízos analíticos e não sintéticos.

Ele cita uma dedução lógica básica, de que todo homem é racional, portanto, Pedro sendo homem, é racional. A dedução é justificadora da premissa, não acrescenta nada à premissa. Saviani mostra como a burguesia, sendo o novo na sociedade, derrotou o velho e o novíssimo (descrito aqui como sendo a Comuna de Paris). Isso, porque a burguesia permite avanços, mas provoca retrocessos: como quando tira a educação das mãos de jesuítas para evitar um conservadorismo de cunho religioso na formação da sociedade, mas depois devolve, para conter o avanço das lutas proletárias, numa aliança entre igreja e burguesia.

Com isso, entre 1780 e 1840, ocorre a consolidação da burguesia industrial. A partir daí, ela não tem mais argumentos para justificar seus avanços e passa a se apoiar em argumentos irracionais. “Descobrir o novo é superar a ordem, então o objetivo da educação passa a ser justificar a ordem”.

Saviani afirma que a educação é própria do homem, e nasce com seu surgimento. Ele também diz que o homem é um ser histórico, portanto não incorpora avanços na genética. “As crianças selvagens comprovam isso, ao se tornarem completamente animalescas ao perderem o contato com a educação humana”.

Especialista na história da educação, Saviani aproveita a noção de que a educação coincidia com o processo de trabalho, até um certo ponto, prescindindo da alfabetização, por exemplo. A educação só se generaliza, efetivamente, como necessidade no capitalismo, já que a escrita incorporada precisa da alfabetização.

“O capitalismo generaliza a educação, mas tem uma relação complicada com a escola. O saber também é um meio produtivo, portanto o trabalhador deixa de ser proprietário apenas da sua força de trabalho, para ser dono de um meio produtivo.”

É por esse motivo, por exemplo, que Adam Smith defende a educação em “doses homeopáticas”, ao admitir apenas o conhecimento necessário para a produção capitalista. Educar é mais que instruir. Instruir é apenas apreender conceitos. “Só instruir é mutilar o educando”, cita Saviani. Mas isto precisa ser compreendido dialeticamente, pois educar precisa envolver instrução. “A educação de qualidade é uma luta contra toda essa facilitação que predomina, inclusive na Europa, após o Protocolo de Bolonha, que visa reduzir a educação ao padrão americano. Vivemos esse momento de descenso”, lamentou.

Saviani encerra sua conferência exemplificando essa dialética entre instrução e educação, com o simples aprendizado do latim, que se revelava uma forma de se apropriar de um conhecimento sobre “como nasce, floresce e fenece uma civilização”.

Por Cezar Xavier, no portal Grabois.org

Quando a escola deixar de ser uma fábrica de alunos

Quando a escola deixar de ser uma fábrica de alunos

 

A escola de massas, onde um professor ensina ao mesmo tempo e no mesmo lugar dezenas de alunos, nasceu com a revolução industrial mas chegou ao século XXI. Em dois séculos, mudaram os estudantes, mudou a sociedade e mudou o mercado de trabalho. Quando mudará a escola?
A escola de massas, onde um professor ensina ao mesmo tempo e no mesmo lugar dezenas de alunos, nasceu com a revolução industrial mas chegou ao século XXI. Em dois séculos, mudaram os estudantes, mudou a sociedade e mudou o mercado de trabalho. Quando mudará a escola?
A escola do ano 2000 imaginada pelos ilustradores franceses Jean Marc CotÍ e Villemard em 1899
Crianças sentadas em fila, olhando para a frente. Mãos cruzadas em cima da mesa, numa postura inerte. A secretária do professor fica no extremo esquerdo da sala de aula. Não está a ensinar. Os alunos têm uns capacetes de metal, ligados por uns cabos eléctricos a uma máquina onde o professor coloca uns livros. A função desse aparelho, compreende-se pela imagem, é a de extrair a informação dos manuais e introduzi-la directamente nos cérebros dos jovens, através da transmissão da energia eléctrica. Foi assim que os ilustradores franceses Jean Marc Cotê e Villemard imaginaram e retrataram a escola do ano 2000, num postal que era parte de uma série produzida para a Exposição Universal de Paris, em 1900.
A gravura é de 1899 e foi utilizada por João Barroso, especialista em políticas de educação e formação da Universidade de Lisboa, num trabalho que terá sido apresentado em São Paulo, ontem, intitulado A Escola e o Futuro: As Mudanças Começam na Sala de Aula.
A escola do ano 2000 é imaginada, no final do século XIX, como um prolongamento da escola então existente. Cotê e Villemard não vislumbraram uma sala de aula com um funcionamento completamente diferente por causa da electricidade. Em vez disso, desenharam a aula de 1899 - um local onde os jovens recebem, de forma passiva, o conhecimento que lhes é transmitido pelo professor - e acrescentaram-lhe uma nova tecnologia, que lhes permitiria, simplesmente, ter a mesma informação, embora com a recepção facilitada.
Vítor Teodoro, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, tem outra pintura - de uma sala de aula ainda mais antiga - na cabeça. O professor está num púlpito. Lá no alto, consegue ver todos os alunos, que se dispõem à sua frente, sentados por filas. Mas nem todos olham para ele. Uns conversam com os colegas do lado. Uns têm o olhar perdido noutra direcção. Um deles dorme apoiado no braço. Vítor Teodoro está a pensar na iluminura pintada por Laurentius de Voltolina no século XIV, que retrata Henrique da Alemanha a dar uma aula na Universidade de Bolonha, mas que, de acordo com o professor, podia retratar uma sala de aula dos dias de hoje.
A educação que hoje conhecemos tem duas bases, explica o professor da FCT-UNL: a da religião e a do apprenticeship - a aprendizagem por integração numa comunidade, que vem da tradição dos ofícios e dos mestres. Para Vítor Teodoro, durante o século XX, predominou o modelo religioso. A escola adoptou das igrejas o estrado e o púlpito e o professor, à semelhança do padre, começou a transmitir, expositivamente, a informação aos alunos, que a recebem de uma forma passiva. Ensina-se o grupo e não o indivíduo, o que, muitas vezes, leva a que alguns jovens não compreendam o que está a ser ensinado e percam o interesse: "Há 50 anos, as pessoas repetiam as orações em latim e não percebiam o que estavam a dizer. Hoje, acontece o mesmo com os alunos."
Há muito tempo que a escola se concentra em ensinar aos alunos as competências básicas da matemática, da escrita e da leitura. Agora, estas aprendizagens básicas já não são suficientes. No livro The global achievement gap, Tony Wagner, investigador de Inovação na Educação no Centro de Tecnologia e Empreendedorismo da Universidade de Harvard, descreve o que está a ser ensinado aos jovens nas escolas, por oposição ao que eles deveriam estar a aprender para triunfarem nas suas carreiras, numa economia global.
Tudo se passa nos mesmos lugares, ao mesmo tempo e da mesma maneira. Uma escola é uma colecção de salas de aula e o ensino é uma repetição de actividades pré-formatadas, iguais todos os anos
João Barroso, da Universidade de Lisboa
Wagner defende que a escola deve desenvolver sete "competências de sobrevivência" necessárias para que as crianças possam enfrentar os desafios futuros: pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e empreendedorismo, boa comunicação oral e escrita, capacidade de aceder à informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação.
Uma colecção de salas

Teresa Franco tem 15 anos e a partir de Setembro vai frequentar o 10.º ano no Liceu Rainha Dona Amélia, em Lisboa. Decidir-se por uma área de estudos foi complicado, diz: "Não tenho a certeza de nada porque não tenho experiência." Teresa fez um intenso trabalho de pesquisa e criou uma lista com os cursos que a interessavam: Psicologia, Serviço Social, Dança, Escultura, Pintura, Design de Ambientes, Design de Comunicação, Design de Moda, Fotografia, Ciências da Educação, Jornalismo... Áreas variadas e muitas delas relacionadas com a criatividade. Fez testes psicotécnicos e falou com profissionais de várias áreas para perceber com qual delas mais se identificava. Acabou por escolher o curso de Artes. Talvez um dia venha a ser designer.
Quem sabe se por causa das dificuldades que teve em decidir-se por um curso, Teresa defende que a escola deveria promover a interacção com pessoas com experiência nas diferentes áreas profissionais. Defende que aquilo que faz mesmo falta na escola é uma componente mais prática. Sugere, por exemplo, que o horário da tarde fosse ocupado com workshops de fotografia, desporto, artes... Quanto ao ensino das disciplinas, deveriam ser incentivados outros métodos para além do "decorar, decorar, decorar". É por essa razão que muitos dos seus colegas "odeiam História": "Deviam encontrar uma forma que nos cativasse. Em vez de nos obrigarem a decorar, podiam contar-nos mesmo uma história - levar-nos a falar com historiadores ou pessoas que tivessem vivido um determinado acontecimento."
Até aos seis anos, frequentou uma escola inglesa, a English Preparatory School. Como explica a sua mãe, Cristina Rebocho, o ambiente era descontraído e a auto-estima das crianças estimulada: "Ensinavam muito através da brincadeira." Os momentos de avaliação aconteciam de forma discreta. As crianças pensavam que estavam a fazer uma ficha de exercícios normal, quando, na verdade era um teste, e assim não ficavam tão nervosos. No ensino da língua - neste caso, do inglês - os erros ortográficos das primeiras composições não eram corrigidos. "Para que eles pudessem desenvolver a imaginação e a criatividade", explica Cristina Rebocho.
Teresa pensa que os anos que passou nesta escola lhe deram "estruturas sólidas". Também por causa dessa experiência, está convencida de que o ensino deveria ter uma base artística. Alguns colegas dizem-lhe que tinham jeito para as artes quando eram pequenos, mas como não tinham tempo foram-no perdendo. Para Teresa, é uma pena porque, diz, as artes "são muito úteis para que nos consigamos expressar e estar mais à vontade na relação com os outros. E são libertadoras".
A pedagogia tradicional da escola uniformizada está na base da criação da escola de massas a partir do século XIX e não sofreu alterações radicais desde então. Assenta na homogeneização dos alunos e na subordinação aos princípios da tragédia grega: unidade de espaço, de tempo e de acção - "Tudo se passa nos mesmos lugares, ao mesmo tempo e da mesma maneira. Uma escola é uma colecção de salas de aula e o ensino é uma repetição de actividades pré-formatadas, iguais todos os anos", de acordo com João Barroso.
Os vídeos Khan
A revista Economist, num artigo da sua edição de 29 de Junho, Education technology, mostrava-se optimista relativamente à possibilidade de a Internet ser, por fim, capaz de fazer aquilo que a escola massificada nunca conseguiu - adequar-se às necessidades individuais de cada aluno. A revista britânica considera que os recursos online - desde os programas que monitorizam o desempenho dos alunos aos vídeos com exercícios - podem estar a transformar profundamente a educação.
Um dos exemplos referidos pela revista foi o da Khan Academy - um site que disponibiliza gratuitamente vídeos com explicações, criado pelo norte-americano Salman Khan. Os vídeos possibilitam a metodologia da "aula invertida" - em vez de assistirem à exposição do professor na sala e realizarem os exercícios em casa, os alunos assistem aos vídeos em casa e realizam os exercícios na sala de aula. Um exemplo, segundo a Economist, de como algumas inovações podem transformar a educação convencional.
Em Abril deste ano, a Fundação Portugal Telecom importou a ideia. Para Teresa Salema, responsável pela Academia Khan em Portugal, o futuro da educação pode passar por aqui.
A iniciativa surgiu devido à percepção de que "os alunos não estão bem preparados para enfrentar a sociedade da informação" e da necessidade de introduzir novos estilos de aprendizagem: "A sala de aula não muda há 300 anos, mas as crianças são diferentes", afirma à Revista 2.
Até ao início do próximo ano lectivo, a PT espera ter disponíveis 400 vídeos de Matemática. Depois, e até 2014, deverão ser adaptados vídeos de Física, Química e Biologia. As explicações foram traduzidas do inglês e a adaptação aos conteúdos dos programas nacionais foram feitos com a ajuda da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM). As prioridades situaram-se nas áreas mais científicas, onde os resultados escolares a nível nacional são mais negativos.
Como explica Teresa Salema, os vídeos da Academia Khan permitem que o professor se concentre "na orientação, na relação com os alunos e na tutoria individual, que constituem os papéis mais nobres da profissão". E acrescenta que a responsabilidade está, cada vez mais, do lado dos alunos, que têm de querer aprender: "O professor deve incentivar o aluno, mas este não pode ser passivo."
Vítor Teodoro, que já recorreu aos vídeos da Academia Khan e a outros semelhantes nas suas aulas, ressalva que, se a utilização destes instrumentos não for feita de forma adequada, podem ser "mais do mesmo", uma vez que foram "pensados para o modelo "missa"". "Quando projecto um vídeo, posso dizer: "Vejam e aprendam." Ou posso parar a apresentação e dizer: "O que é que isto quer dizer?" "Vamos transferir este esquema para o papel"." De acordo com João Barroso, transformações como a da "aula invertida" são "pequenas alterações cosméticas, que não tocam no essencial, que é a pedagogia".
Três futuros possíveis
Para João Barroso, os problemas e os desafios que se colocam à escola fazem parte de uma evolução histórica e há três futuros possíveis para o processo de escolarização: a hiperescolarização, a desescolarização e a refundação, todos eles potenciados pela utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
A tendência da hiperescolarização está relacionada com o reforço da escola homogénea. Neste caso, as novas tecnologias servem apenas, nas palavras de João Barroso, para fazer o upgrade daquilo que já está a ser realizado. "A sala de aula continua organizada da mesma maneira. O que eu vou melhorando são escolhas que já fazia. Isso não é mau. É o que os professores têm feito com o retroprojector, com o vídeo... Pequenas transformações nas práticas docentes que têm permitido que se passasse da disposição frontal para a disposição de grupo e que os alunos façam trabalhos de grupo."
Deviam encontrar uma forma que nos cativasse. Em vez de nos obrigarem a decorar, podiam contar-nos mesmo uma história - levar-nos a falar com historiadores ou pessoas que tivessem vivido um determinado acontecimento
Teresa Franco, 15 anos, estudante
A defesa da desescolarização está associada à publicação, em 1971, dos livros The School is Dead, de Everett Reimer, e Deschooling Society, de Ivan Illich, onde se criticava a escola como instituição. Reimer considerava que a "salvação" da educação passava pelo fim da escola, tornando-se necessário devolver o acto de educar aos pais, à comunidade e à livre iniciativa. Illich, por sua vez, defendia que a educação universal por meio da escolaridade não era possível. Actualmente, este movimento da desescolarização foi recuperado pelos defensores do homeschooling (ensino doméstico), em que as famílias optam por educar os seus filhos em casa. Normalmente, o homeschooling está associado a perspectivas mais conservadoras, em que se defende o regresso à vida comunitária das famílias. Como explica João Barroso à Revista 2, "as empresas de software educativo têm vindo a apostar nesse público, fornecendo pacotes de programas educativos organizados em função dos vários anos de escolaridade para que os adultos em casa possam colocar os jovens em frente ao computador e aprender com esses programas".
A escola não está morta
João Barroso garante que "a escola não está morta, não desapareceu e será recuperada". Para o investigador, o futuro desejável é o da refundação: "Há uma necessidade de refundação da escola para que ela possa entrar na era digital, mas essa refundação não se faz unicamente com a tecnologia, faz-se também com a alteração das práticas pedagógicas, com a alteração do currículo e alterando o trabalho dos professores."
Esta refundação (o termo corresponde, também, à designação do programa aprovado este ano pela Assembleia da República francesa para preparar a escola para a era digital - La refondation de l"École) assemelha-se a um modelo com um século: o movimento pedagógico conhecido por Educação Nova, que se desenvolveu nos primeiros anos do século XX e que teve o seu impulso com a publicação do livro Transformemos a Escola, de Adolfo Ferrière. Este movimento pretendia assegurar uma educação à medida de cada aluno e caracteriza-se pela defesa do "desenvolvimento das competências individuais, da aprendizagem interactiva, da escola criativa e activa, apostando na autonomia do aluno", diz.
"Hoje, também é necessário transformar a escola de acordo com os mesmos princípios e em benefício de uma educação à medida de cada aluno, garantindo a equidade, a igualdade de oportunidades e a inclusão social", escreve o investigador no texto A Escola e o Futuro. As novas ferramentas podem permitir realizar estes ideais: "Todas as inovações pedagógicas tentadas durante o século XX - como a da Escola da Ponte (uma escola portuguesa, no distrito do Porto, organizada segundo uma lógica de projecto e de equipa, onde não existem salas de aula, no sentido tradicional, mas sim espaços de trabalho), a pedagogia Freinet (proposta pedagógica para modernizar a escola, surgida em 1924, que dá primazia ao desenvolvimento do espírito crítico, utiliza a curiosidade das crianças como ponto de partida para a aprendizagem, feita em cooperação) - foram muito localizadas. As novas tecnologias possibilitam que as inovações pedagógicas se desenvolvam de maneira massificada."
Mas, como explica Vítor Teodoro, "nada se passa fora do enquadramento tecnológico, mas achar que se pode usar a tecnologia para provocar a mudança é ingénuo. O que temos de ter é uma lógica daquilo que queremos para a escola".

Se não é por mudar a tecnologia que muda a escola, também não é pelas mudanças que ocorrem a nível político que a escola se vai transformar, uma vez que, como afirma João Barroso, "as grandes reformas políticas são feitas de cima para baixo, acabando por ficar à porta da sala de aula". As mudanças que estão em curso vão ter de envolver, obrigatoriamente, cinco dimensões: a política, a tecnológica, a pedagógica, a curricular e a da formação de professores.
O especialista em políticas da educação e formação considera que faz sentido pensar o futuro da escola em função das mudanças que ocorrerem dentro da sala de aula. "O futuro da escola é a mudança da organização do ensino, da relação pedagógica entre professores e alunos, da organização do tempo, do espaço, do currículo. No fundo, a transformação da sala de aula, que é o núcleo duro da escola."
O modelo finlandês
Quando se fala em mudar a escola e a educação, muitos políticos, educadores e pedagogos referem, de uma maneira geral, o sistema educativo finlandês. Não é por acaso: a Finlândia ocupa o primeiro lugar ou os lugares cimeiros nas diferentes categorias testadas pelo Programme for International Student Assessment (PISA), que procura medir as capacidades de leitura e de literacia matemática e científica dos jovens com 15 anos nos 34 países da OCDE.
No documentário The Finland Phenomenon: Inside The World"s Most Surprising School System, de 2010, Tony Wagner quis perceber as razões do sucesso deste sistema de ensino. Através de visitas a salas de aula e entrevistas a professores e alunos, o investigador chegou a algumas conclusões. Numa das primeiras cenas do documentário, Wagner conta aquilo a que assistiu numa sala de aula da segunda classe: nas semanas anteriores, as crianças tinham aprendido a distinção entre energias renováveis e não renováveis e, no momento da visita do investigador, a professora pediu aos alunos que criassem um espectáculo de marionetas, imaginando que a electricidade falhara em suas casas e aquilo que deveriam fazer nessa situação. "Experiências da vida real, conceitos abstractos e artes - tudo integrado no mesmo currículo", comenta Wagner em voz-off.
Um dos professores explica ao investigador aquilo que considera importante na educação dos jovens: "Compreender as razões por detrás das coisas, ler, sonhar, falar, encontrar soluções por si próprio."
Há 50 anos, as pessoas repetiam as orações em latim e não percebiam o que estavam a dizer. Hoje, acontece o mesmo com os alunos
Vítor Teodoro, professor da FCT-UNL
Ao longo do filme, Tony Wagner chega a outras conclusões. As salas de aula, repara, são pequenas, as turmas têm cerca de 20 alunos e o ambiente é íntimo e relaxado, com as crianças a tratar os professores pelo primeiro nome. Há menos aulas expositivas durante o dia e mais tempo para actividades de projecto e para aprofundar as aprendizagens.
Cada escola goza de grande liberdade para desenhar os seus próprios currículos. No sistema educativo finlandês, os jovens têm muito poucos trabalhos de casa e são submetidos a poucos testes e exames.
Na Finlândia, a profissão docente é altamente prestigiada. Uma das razões para que isto aconteça deve-se à elevada exigência da formação dos professores. Só os melhores alunos conseguem entrar numa das oito universidades que preparam docentes. Estudam durante cinco anos, tempo que inclui o mestrado, e treinam observando os seus professores a ensinar.
Mas, para Wagner, o aspecto mais surpreendente de todos é o facto de o sistema se basear na confiança: "O Governo confia nos municípios para adaptarem o currículo nacional de acordo com as necessidades locais. Os municípios confiam nos professores e nas escolas para que estes façam aquilo que é correcto. Os professores confiam na capacidade de os alunos usarem o seu tempo de forma correcta e a Internet e outras tecnologias de forma responsável."
Acabar com as salas?
A sala de aula não muda há 300 anos, mas as crianças são diferentes
Teresa Salema, Academia Khan Portugal
Há outros exemplos de "escolas do futuro". Através delas, é possível perceber como é que as salas de aula estão a mudar. E as mudanças passam, muitas vezes, pelo próprio desaparecimento do espaço tradicional da sala de aula. Na Vittra Telefonplan, em Estocolmo, em vez de salas de aula, praticamente não existem divisões, à excepção de algumas salas fechadas, para que possam ser à prova de som, destinadas à prática da dança ou do canto ou para a visualização de filmes. Os estudantes sentam-se em sofás almofadados e de formas arredondadas, utilizam mesas que se assemelham às que existem nas cafetarias, onde os alunos podem comer ou trabalhar, ou fazer as duas coisas em simultâneo. A organização do espaço foi pensada para permitir a livre circulação dos estudantes. Os espaços diferenciados pretendem estimular as crianças a aprender à sua maneira.
Segundo uma reportagem na revista Exame (Brasil), na Escola Orestad, em Copenhaga, existem algumas salas de aula tradicionais, mas 50% das actividades são realizadas em espaços abertos, onde os alunos resolvem os exercícios em pequenos grupos.
Na Bélgica e nos Estados Unidos, surgiram laboratórios para testar mudanças profundas na forma de organizar o espaço e o trabalho. Em Bruxelas, a associação European Schoolnet, criada pelos ministros de Educação da União Europeia para encorajar as escolas a optimizar a utilização das novas tecnologias, criou o Future Classroom Lab, onde existe uma sala de aula aberta com cinco zonas adaptadas a diferentes actividades: recolha e tratamento da informação, comunicação, divulgação e debate e produção multimédia. O projecto TEAL (Technology Enable Active Learning), no MIT, em Boston, tem salas compostas com mesas redondas, todas equipadas com computadores. O professor fica no centro da sala. Os estudantes trabalham em grupo e ensinam-se uns aos outros.
João Barroso resume à Revista 2 o que acontece na maior parte destes espaços: "Os alunos não se dividem por disciplinas, mas por actividades - os que estão a trabalhar, os que estão a dialogar, os que estão a recolher informação, os que estão a fazer trabalho autónomo, os que estão a fazer trabalho de grupo, aqueles que estão a desenvolver conceitos, aqueles que praticam exercícios. Os espaços são sobretudo abertos e a sua estrutura central, para além da presença da tecnologia, são grandes mesas redondas para nove, dez alunos." Para além da tecnologia, aquilo que é mais valorizado é o convívio, o debate e a acção, explica.
Isto significa que "a dimensão da relação humana é extremamente valorizada na idealização da escola do futuro, do ponto de vista espacial, organizativo e temporal". João Barroso tem uma visão contrária àquela que acredita que as novas tecnologias podem levar ao isolamento dos adolescentes, quando estes passam horas em frente ao computador: "Estas tecnologias podem ser geridas de uma maneira individualista e de autofechamento, mas, por outro lado, convidam ao debate, à discussão, ao diálogo."
O papel do professor
E é também aqui que entram os professores e a escola, que, segundo este especialista, "tem um papel fundamental em educar os jovens no uso das tecnologias de informação". Não se trata de ensinar as crianças e os adolescentes "a utilizar o computador, os smartphones ou o iPad", diz. Se o papel do professor se resumir a ser um mediador entre o aluno e o computador, passamos a ter um professor que não é professor, mas um "operacional".
Segundo João Barroso, o professor tem de ser um mediador, sim, mas "entre o aluno e o conhecimento", assegurando "situações criativas para o uso das tecnologias". Desta forma, o docente mantém a imagem "do adulto junto do jovem, do professor reflexivo que pensa nas suas práticas e que procura actualizá-las, do porteiro do conhecimento e daquele que garante os valores da educação pública na escola".
Achamos que a educação é melhor se for uniformizada, o que é uma contradição com o mundo em que vivemos, em que só aqueles que se diferenciam é que arranjam emprego
António Dias de Figueiredo, Projecto Minerva
Para além disso, as novas tecnologias, em vez de diminuírem o estatuto do professor, podem aumentá-lo: "Hoje o professor perde muito tempo com tarefas menores do ponto de vista educativo, e a tecnologia pode permitir aliviar o professor dessas actividades rotineiras e pouco significativas do ponto de vista da profissão docente e deixá-lo livre para aquilo que é fundamental: a relação com a criança e com o jovem no acesso ao conhecimento", diz o investigador.
Para António Dias de Figueiredo, responsável pela fase-piloto do Projecto Minerva, que consistiu na introdução das TIC nas escolas do ensino básico e secundário, um projecto nacional de renovação pedagógica só é possível se dermos confiança aos docentes e criarmos modelos de organização em que seja possível dotar os professores de autonomia: "Se lhes for dada a hipótese de agirem como pessoas inteligentes e não como "funcionários"... Um professor apaixonado consegue fazer milagres."
Mas para que a escola mude, é necessário que algo mude também junto dos professores, defende Vítor Teodoro. A formação dos professores tem de sofrer alterações para se aproximar mais da formação dos médicos, por exemplo: "A aprendizagem das profissões que envolvem interacções com outras pessoas deve fazer-se mais pela integração num grupo, pelo acompanhamento, pelo exemplo e pela discussão e análise das situações." Ou seja, os futuros professores deveriam aprender através de casos concretos: assistindo a aulas reais, por exemplo, e não recebendo aulas sobre como se ensina.
Para Vítor Teodoro, o ensino devia ser, cada vez mais, uma actividade de grupo, com equipas que preparam os materiais e as aulas em conjunto. Segundo o professor, isto é válido tanto para a formação dos professores como para a prática profissional.
Precisamos de disciplinas?
Ao mesmo tempo que muda a pedagogia e a tecnologia, o currículo também tem de mudar. João Barroso defende que os currículos devem desenvolver competências transversais e que, ainda que continuemos a falar de disciplinas, o ensino não precisa de estar organizado assim: "As tecnologias podem potenciar actividades transdisciplinares e interdisciplinares, não segmentando os saberes, como hoje acontece na organização disciplinar." Os momentos de transmissão do conhecimento continuariam a existir, mas seriam mais reduzidos: "Há o tempo necessário para aquilo que são os conceitos-chave e depois todo o grande trabalho é na operacionalização desses conceitos - é aí que se resolvem as dúvidas e se inter-relacionam os conceitos."
Para Vítor Teodoro, o modelo da missa que tem dominado a educação deve ser combinado com o modelo do apprenticeship, introduzindo-se bons laboratórios, uma forte componente prática, uma forte componente artística, desenvolvendo o trabalho de projecto dos alunos e colocando a ênfase no trabalho com pequenos grupos.
Segundo o professor, "isto é o oposto do que está a acontecer em Portugal". Como explica à Revista 2, a escola está a ser transformada numa escola mínima. A função tradicional da educação de empowerment tende a ser cada vez menor e tudo aquilo que está relacionado com as expressões artísticas, como o desporto, a arte e a música, estão a desaparecer, afirma Vítor Teodoro.

A escola precisa de mudar, mas essa mudança vai ser na direcção errada, lamenta: "Vai mudar para um sentido mais pobre e utilitário - as crianças saem da escola com uma utilidade meramente económica."

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

LUTAR PELO PASSE LIVRE PARA TODOS É PRECISO!

 
 
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Você, você mesmo, marmanjão! Não tem vergonha de ficar com sua bunda no sofá, enquanto vê esse jovem garoto lutar pelo nosso direito de acesso á cidade? Você é do tipo que só sabe ficar resmungando por aí e não faz nada? Acorda "gigante", pois os pequenos e valentes já estão nas ruas lutando! Deixe de buscar subterfúgios do tipo "ah, votaram na Dilma então não protesto mais" ah, votaram no Alckmin então não protesto mais", deixa de ser um menino, ou melhor, um adulto mimado e mexa-se, transforme o mundo em um lugar melhor para todos, participe das mobilizações por tarifa zero e revogação do aumento das passagens, por transparência e punição de corruptos, pela falta de água, pelos cortes de verbas na educação...
Veja o cronograma de atividades das lutas pela revogação do aumento das passagens no transporte e por passe livre, participe: Sexta feira dia 06/02, ato na Capital-SP.Dia 07/02, ato em SBC às 16 horas na praça Brasil, na luta por moradia e contra o aumento da passagem. Dia 8/02, reunião no Parque Andreense.Dia 9/02 às 9 horas ida ao consórcio intermunicipal cobrar as audiências públicas nas cidades.Dia 9 às 18:30, reunião co comitê na subsede da apeoesp em Santo André e dia 11/02, ato em Rio Grande da Serra as 17 horas na estação de Trem.
https://www.facebook.com/groups/comiteabc