segunda-feira, 6 de julho de 2020

Uma rosa na pandemia


Poetas, músicos, romancistas e embrutecidos refletem diante do fascínio  da natureza e da beleza simbólica  de uma flor.
"... Queixo-me às rosas
Que bobagem as rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti..." Cantado por Cartola

Ou na rosa de Hiroshima
“...Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada...”
Gerson Conradi / Vinicius De Moraes

As rosas na pandemia
registram num dado dia
Milhares de feridas sangrando
Que não vão cicatrizar
Sob nenhum argumento
Como que caminhando
 Sozinho, plurais ou em bando.
Atravessaram o cemitério oceânico
O mesmo que sepultou
A noite ou durante o dia
Milhares de vidas arrancadas
Em nome do comércio
E a  morte na economia.
Uma ferida do mal
Da escravidão estrutural
Que a memória ainda acusa
Os Senhores na atual.
Pois a Casa Grande assassina
Começa a ser demolida
Pelo canto e ardor da senzala
Que nunca será vencida,
São milhares de vidas
Precocemente abatidas.
Pelos senhores de outrora
Juntando-se ao clamor dos presentes
Uma legião de ausentes
A tormentar os facínoras da história.
Cada temor na solidão
Cada medo ou choro engolido ou contido
Serão cobrados dos “vivos”.
Assassinos incontidos
Pela história sem fim.
Não e nunca serão esquecidos
O número são vidas ceifadas
Que na reta ou encruzilhada da vida
Passaram vidas aladas.
Uma flor na pandemia
Aos idosos  e a pobreza  na periferia
Ontem no navio negreiro
Hoje nos ônibus, trens e metrôs,
Nas cadeias são enterrados
Nos corredores dos hospitais,  silenciados.
Morrem sem respirar, sem remédios  e entubados
O educador, poeta, militante organiza a  falAção,
Denuncia a morte à bala que acham que calam,
Os anônimos da nação.
Uma flor na pandemia
Aos milhares que, infelizmente, ainda morrerão.
Jogados na cova fria
Sem despedida do pequeno
irmão,
Na grande cova sem fim.
No acalanto e no pranto
No céu dos crentes e ateus
Receba dos filhos seus
Esta simples rosa de mim!

Aldo Santos - Militante sindical e do Psol.

4 comentários:

  1. As flores se abrem, enbelezam e caem, repetindo o efêmero show da vida...e da morte". Abraço!

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  2. É por isso que muitos que podem se recolheram aos sítios, aos interiores, é provável que a dor das percas e a indignação da impotência de observamos esse cenário, de assistir a cada ataque do presidente e não poder fazer nada amenize um pouco essa dor com o cheiro das flores que este ano devido ao inverno até no nordeste é possível encontrar tal cenário.
    Muito bom sua contextualização.

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  3. Esse segundo comentário foi feito por Matildes Jesus

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