terça-feira, 31 de março de 2020

Síndrome de Procusto: a negação da ciência e a relativização de vidas humanas.




Importante artigo que traz elementos da Mitologia Grega para o contexto da atualidade, fundamentalmente, neste momento de crise, onde a banalização do mal e a negação do estatuto da ciência são subordinados aos interesses e caprichos de governantes com postura   neofascista.

 Neste momento em que o mundo acompanha estarrecido  o elevado número de infectados e mortos, alguns “governantes”  conduzem o povo ao matadouro.

Uma importante contribuição ao debate sociológico e  filosófico.

 “Procusto ou Procrustes é um personagem da mitologia grega, que simboliza a negação da ciência e a relativização de vidas humanas.

Procusto ou Procrustes é um personagem da mitologia grega, que simboliza a negação da ciência e a relativização de vidas humanas. Ele vivia na serra de Elêusis, que em sua casa tinha uma cama de ferro, com o seu exato tamanho, para onde convidava os viajantes a se deitarem.

Se os hóspedes fossem altos, ele os decepava para ajustá-los à cama e os de pequena estatura eram esticados até atingirem o tamanho suficiente. O nome Procusto significa “o esticador”, em referência a punição que aplicava às suas vítimas e dizia a elas: “Se você se destacar, cortarei seus pés. Se você demonstrar ser melhor que eu, cortarei sua cabeça.”

O seu reinado de terror terminou quando foi capturado pelo herói ateniense Teseu, que o prendeu em sua própria cama e cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe a mesma crueldade que infligia aos seus hóspedes. Esse mito deu origem a síndrome de Procusto, que não está em nenhum manual de diagnóstico clínico, contudo, é um comportamento reconhecido pela psicologia e psicanálise, que também inspirou tramas literárias e cinematográficas.

A síndrome de Procusto encontramos no ambiente de trabalho, empresarial, acadêmico, político, familiar, entre outros, que vai além do conceito de “oportunismo”, porque é uma conduta que destrói quem é mais preparado e inteligente, por mera arrogância e estupidez.

A metáfora de Procusto representa o puro egoísmo do ser humano em relação ao seu próximo, que são aqueles que não prosperam nem deixam os outros prosperarem. É claro que em nosso cotidiano ninguém aplica a mesma violência de Procusto, mas é uma agressividade que não hesita em destruir os que são capazes de derrubar os muros da incompetência e da vulgaridade.

Aliás, os indivíduos infectados pela síndrome de Procusto defendem posições extremadas, que ferem o bom senso, que obrigam os que estão sob o seu comando a se adequar aos seus delírios e a sua indiferença com o sofrimento e a morte do outro.



Assim, o espectro de Procusto exerce uma lógica anticiência, que é feita por mentes doentias que negam a liberdade e a ciência, sobretudo, nas redes sociais e na era da covid-19. Em termos idiomáticos é um “espírito de porco”, ou seja, são criaturas cruéis que geram – constrangimentos – para limitar a capacidade de professores, pesquisadores, cientistas, intelectuais, jornalistas, etc.

Além disso, os sujeitos que sofrem dessa síndrome apresentam um humor constantemente irritável, anormal e expansivo, aumento da grandiosidade e da autoestima. Porém, precisamos aprender a lidar com esses traços maníacos, que estão longe da simples competição.

Apesar de existirem Procrustes por aí a fora não significa que devemos nos render a eles, pois temos condições de dar mais um passo à frente e buscar ambientes em que possamos nos desenvolver, de acordo com o nosso potencial.

Enfim, liberte-se dos grilhões de Procrustes, ampliando o seu conhecimento, valorizando a natureza, os animais, as crianças, os idosos e acrescente atitudes positivas com si mesmo, com o seu trabalho, que são coisas que os Procrustes desprezam.”


Neste momento de intensa  pandemia, é fundamental a leitura, a reflexão e a ação contra os mandatários  que implementam  a necropolítica, subordinando  a vida do povo  aos interesses da agiotagem das bolsas de valores e do grande capital.

Lutar, resistir e viver é preciso!

Aldo Santos – Militante sindical  e do Psol.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Deputado Carlos Giannazi aciona o Ministério Público Estadual para que medidas sejam tomadas contra a tentativa de imposição de atividades e modalidades à distância na rede pública de ensino.



São Paulo, 27 de março de 2020.
Ofício CG A-027/2020.


Assunto: pedido de providências.



EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROMOTOR DE JUSTIÇA COORDENADOR DO GRUPO DE ATUAÇÃO ESPECIAL DE EDUCAÇÃO (GEDUC) DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO.


O DEPUTADO ESTADUAL CARLOS GIANNAZI (PSOL), por meio desta, vem à presença de Vossa Excelência expor e requerer o seguinte.

Como já é de conhecimento de Vossa Excelência, a rede estadual de ensino encontra-se em suspensão das atividades, cumprindo as medidas de isolamento social contra a propagação do coronavírus – Covid-19.

Ocorre que, em recente medida, a Secretaria de Estado da Educação decidiu impor aos professores da rede o oferecimento aos estudantes de atividades à distância. Com isso, os profissionais do magistério terão que usar seus próprios recursos para criar e disponibilizar as atividades.

Mais absurdo, é considerar que o outro lado da relação de ensino irá conseguir receber as atividades: numa rede de ensino que possui alto número de alunos de baixa renda, onde muitos têm na merenda escolar sua forma de sustento diário, quais alunos teriam condições para uma acessibilidade tecnológica, com computador ou conexão de rede com qualidade?

Verifica-se, portanto, que a SEE está se aproveitando da crise de saúde pública mundial para tentar emplacar seu projeto de ensino à distância – modalidade que recebe as mesmas críticas em tempos de normalidade social.

Além disso, o que, aparentemente, o Governo Estadual não entendeu é que a rede de ensino não está em recesso, mas sim em um momento de suspensão das aulas por uma necessidade social coletiva, determinada por órgão superior da rede.

E, neste particular, há legislação expressa regulamentando a ocorrência de suspensão das aulas. Eis a diretriz da Lei Complementar Estadual nº 444, de 27/12/1985, que “dispõe sobre o Estatuto do Magistério Paulista e dá providências correlatas”:

Artigo 91 - Consideram-se efetivamente exercidas as horas-aula e/ou horas-atividade que o docente deixar de prestar por motivo de férias escolares, suspensão de aulas por determinação superior, recesso escolar, e de outras ausências que a legislação considere como de efetivo exercício para todos os efeitos legais.
Parágrafo único - As horas-aula e horas-atividade que o docente deixar de prestar, em virtude de licença concedida para tratamento de saúde, considerar-se-ão exercidas para fins de pagamento e, para os efeitos de incorporação aos cálculos dos proventos.
(grifos nossos)

É evidente que os professores são os principais interessados em que os estudantes não sejam prejudicados em seus direitos a ter aulas na totalidade dos dias letivos previstos em lei; contudo, há ilegalidade em ações administrativas que revisam e reorganizam unilateralmente a qualidade pedagógica da rede, e o fazem apenas para agradar à opinião pública.

Os professores – que já sofrem com um ambiente escolar sobrecarregado e com a baixa valorização pelo Estado – também são vítimas da pandemia que atualmente afeta todo o mundo. E, sem ter o suporte legal que caberia ao Estado fornecer, pois a mesma LC 444/85, em seu artigo 61, inciso III, assegura ao professor ter fornecimento do material que necessita para desenvolver seu trabalho. 

O momento, para a rede de ensino, não é de férias (como ameaçou o Governador, ao dizer que os professores teriam suas férias e licenças-prêmio atribuídas compulsoriamente) e não é de recesso. É um momento excepcional, de pandemia mundial, o que motivou a suspensão das aulas.

Não é hora para o improviso de criação de aulas e atividades à distância, num arremedo do processo de ensino e aprendizagem, quando sequer o Estado dá os meios para tanto, nem para professores, nem para estudantes. 

Isto não trará nenhuma qualidade ao processo, por ser uma imposição autoritária e sem base pedagógica – pois os estudantes da educação básica precisam de interação, troca e socialização para seu aprendizado.

E, ao final da experiência, os maiores prejudicados serão os professores e os alunos – que ainda acabarão, como sempre, sendo responsabilizados pela baixa qualidade do ensino público, em lugar do Estado.

Pedido.

Diante de tais fatos, graves e iminentes, é que acionamos o Ministério Público Estadual, por meio deste Grupo de Atuação Especial de Educação, para que medidas sejam tomadas contra a tentativa de imposição de atividades e modalidades à distância na rede pública de ensino, durante o isolamento social imposto para controle do contágio do coronavírus – Covid-19.

No aguardo das providências solicitadas, e reiterando os votos de estima e consideração, subscrevemos atenciosamente.



CARLOS GIANNAZI
Deputado Estadual

Sobre a entrevista de Marcelo Freixo.

O Deputado  Federal do PSOL Marcelo Freixo deu uma importante  entrevista para o Sakamoto no UOL. Na entrevista ele defende juntar praticamente todos os partidos que prega a democracia como o único bem comum.

 Juntar todos liberais que ele chama de progressista e esquerda. Aquelas mesmas bases políticas que vem sustentando esse modelo econômico desde da era Sarney, passando pelos governos Collor/Itamar, FHC, Lula/Dilma/Temer e agora com o Bolsonaro, tendo uma diferença,  que o Bolsonaro perdeu muito espaço para um tipo de parlamentarismo via o chamado centrão, tendo o Rodrigo Maia como primeiro ministro. 

E o  PT, está articulando para voltar a ser novamente protagonista do executivo federal, voltando a ser o gerente do grande capital, já que em alguns estados continuam sendo esses agentes neoliberais.  

 Parece que essa empreitada petista está tendo ressonância dentro do PSOL, já que os campos que dirige  o partido tem feito esse movimento rumo ao PT, ficando claro que a candidatura do PSOL para presidente em 2018, foi uma candidatura muito próxima de Lula/PT.

Agora as eleições para as prefeituras deste ano tem deixado muito transparente a posição da direção majoritária do PSOL de aproximar dos partidos liberais, os mesmos que vem aplicando o receituário neoliberal, destruindo a soberania nacional, com reformas e privatização.

 Sabemos  que todos os partidos que estiveram na condição de gerente do capital nas últimas três décadas aplicaram políticas privatizantes, cada qual com sua  narrativa para convencer suas bases políticas e seu patrimônio eleitoral.

 Não tenho acordo com Marcelo freixo  em vários pontos da entrevista. 
Principalmente no ponto em que ele defende juntar as forças políticas que ele chama de progressista. Estas forças que ele chama de progressista são partidos neoliberais que defendem  atual política econômica que vem sendo aplicada, desde Sarney.

 A esquerda não pode cair nesta história de juntar boa parte dos partidos em nome do resgate de uma pseudo democracia, mas continua defendendo a permanência deste modelo, em troca de algumas migalhas consentida pelo capitalismo predatório, colaborador da expansão imperialista. 

O partido socialista e liberdade não pode cair nesta lógica de defender uma democracia burguesa.
E o PSOL tem que apresentar um programa, que defenda vários pontos fundamentais para ir na direção do socialismo,  para que  o Estado  possa ser fortalecido.

Os principais pontos do programa deve ser:

1 - suspensão do pagamento da dívida e auditoria;
2 - estatização e reestatizacao de todas as empresas estratégicas para a organização do sistema produtivo e da soberania do país;
3 - reforma urbana com forte investimento em moradia digna, principalmente em comunidade precárias;
4- reforma agrária com uma política técnica na produção de alimento;
5 - estatização de todo o sistema de saúde e educação;
6 - todos os recursos naturais sobre o controle estatal;
7 - estatização de todo o sistema de mobilidade urbana pública;
8 - ampliação dos bancos público rumo a Estatização.

 Se o PSOL for na direção de abraçar esses partidos em nome de uma pseudo democracia como um bem sagrado, afastará da sua proposta pelo qual foi criado, que era de superar os partidos  liberais chamados progressistas e também dos que  se auto-proclamam partidos de esquerda, defensores da soberania do país e dos trabalhadores,  não passando de liberais, aplicadores de reformas que retirou direitos,  continua retirando-os em estados que governam,  enfraquecendo o estado e fortalecendo o sistema financeiro que especula,  comprando títulos da dívida pública fabricada e corrupta.

Então a entrevista do Marcelo F
reixo teve forte caráter liberal e não condiz com a fundação do partido.

Altair - professor da rede pública estadual, militante do Psol e da apeoesp.

NOTA SOBRE A MORTE DO PROFESSOR JOSÉ FERREIRA DA CRUZ, PROFESSOR DA EE MARIA AUXILIADORA/SBC



Faleceu nesta quinta feira vítima de complicações provocadas pelo COVID -19 o Professor José Ferreira da Cruz, da rede pública estadual de São Paulo que ministrou aulas em escolas de Diadema e atualmente lecionava na Escola Maria Auxiliadora em SBC.
A Subsede da APEOESP de SBC através da sua Coordenação e Executiva vem externar nosso profundo pesar pela perda desse profissional que dedicou mais de trinta anos da sua vida ao magistério.
Neste momento, o mundo acompanha estarrecido “às centenas de mortes” diárias em vários países na Europa e nos estados Unidos, momento em que governantes brasileiros e desavisados tentam flexibilizar as medidas restritivas, “o que certamente levará” a uma catástrofe ainda maior em nosso país.
Quando os primeiros casos do COVID-19 começaram a surgir no Brasil na segunda semana de fevereiro, o Sindicato alertou o governo do Estado para preparar um processo de quarentena preservando a vida de Professores, familiares, alunos e suas famílias. Demonstrando seu total desprezo com a comunidade escolar o governo do Estado demorou a tomar as medidas políticas e mesmo assim de forma parcial, exigindo que os professores continuassem comparecendo às escolas e cobrando atividades à distância sem garantir os meios estruturais necessários.
Externamos à família do Professor José nossa solidariedade. Estamos todos em profundo estado de consternação e indignados.

Escolas fechadas são vidas preservadas!

SUBSEDE DA APEOESP DE SÃO BERNARDO DO CAMPO

terça-feira, 24 de março de 2020

João Ramalho e os Bandeirantes

Para o autor: “A escravidão é um fenômeno tão antigo quanto a própria história da humanidade. No mundo inteiro, desde a mais remota antiguidade, da Babilônia ao Império Romano, da China Imperial ao Egito dos Faraós, das conquistas do Islã na Idade Média aos povos pré-colombianos da América, milhões de seres humanos foram comprados e vendidos como escravos”.(pg 25)
Desde o primeiro leilão de escravos em 1444, no sul de Portugal, este foi o primeiro país europeu com significativa população escrava, de origem africana. Segundo o autor, “por volta de 1550, já contava com cerca de 32 mil escravos, entre mouros e negros, que representavam pouco mais de 3% do total de 1 milhão de habitantes”.(pg 56)
Em decorrência deste mercado promissor o historiador localiza no contexto histórico das grandes navegações a base econômica para as grandes “aventuras” mercantis.
Afirma o autor que: “Desse modo, a partir do leilão de 1444 em Lagos, o comércio de escravos ajudaria a financiar as chamadas viagens dos descobrimentos.
O sangue, o suor e o sacrifício dos cativos permitiriam que os portugueses, no meio do século seguinte, abrissem um novo caminho para as Índias, contornando por mar o continente africano, explorassem as costas da China e do Japão, estabelecessem entrepostos de comércio e especiarias nos atuais territórios da Indonésia e do Sri Lanka e, finalmente, chegassem ao Brasil, que logo se firmaria como a maior e mais lucrativa colônia do Império Português, e também a mais dependente de mão de obra Escrava”. (pg 61)
Em 22 de janeiro de 1510, tem início do tráfico negreiro para a América, que segundo relato “os navegadores espanhóis estavam autorizados a transportar cinquenta escravos para a ilha de Hispaniola”. (pg 106)
Mesmo com o monopólio das “operações bancárias e do financiamento dos negócios em Portugal”, Dom Manoel l em 1496 expulsou do reino todos os judeus e os que ficaram, foram abruptamente declarados como cristãos – novos.
O historiador diz que: “Em 1536, Portugal tinha uma frota de mais de trezentos navios oceânicos, incluindo caravelas e naus”. (pg108)
Como sabemos, a população indígena após a invasão de Colombo e Cabral, foi destroçada pela escravidão, doenças e guerras, pois segundo os mandantes destes crimes “Os nativos que sobreviveram resistiram ao árduo trabalho escravo imposto pelos europeus”. (pg 109)
Para alguns autores, estima-se que na época da invasão de Portugal, existiam de 3 a 5 milhões de nativos no Brasil, em centenas de tribos e falavam mais de 1000 línguas, uma das maiores diversidades linguísticas do planeta.
A dizimação foi tão grande que por volta de 1808, com a chegada da família real ao Brasil, a população três séculos depois continuava 3 milhões de habitantes e uma população indígena em torno de 700 mil, segundo o autor. “Em média, durante o período colonial, o Brasil exterminou 1 milhão de índios a cada cem anos”.(pg118)
Além de doenças e guerras promovidas pelos colonos, a escravidão indígena esteve presente fortemente neste momento histórico. O autor relata a atuação de figuras execráveis que ainda continuam sendo idolatrados como heróis, por muita gente que são igualmente defensores dos colonizados e da matança dos nativos, uma conduta abjeta sem precedente na história humana.
“Capturava-se índios de norte a sul do Brasil. A compra e a venda de cativos indígenas foram a primeira e grande atividade de Campos de Piratininga, região da futura cidade de São Paulo, fundada em 1554 pelos jesuítas do padre e hoje santo José de Anchieta. No século XVI, o vilarejo era, segundo historiador Luiz Felipe de Alencastro, uma “feira de trato”, onde João Ramalho e sua gente forneciam escravos ao Planalto Paulista para a baixada Santista - uma “escala para muitas nações dos índios”, na descrição do padre Luis de Grã”.(pg 123)
São muitos os facínoras transvestidos de corajosos denominados bandeirantes, e toda quadrilha de colonizadores, e, portanto, com ressalvas, o historiador afirma que “embora fossem, de fato, destemidos e corajosos que asseguraram as dimensões continentais que o Brasil tem hoje, os bandeirantes tinham como primeiro e principal objetivo a captura de índios – atividade que exerceram com escala e violência incomparáveis.
As bandeiras eram empreendimentos privados, que em nada dependiam do tesouro real e cujos gastos e lucros eram resultados unicamente da pilhagem, do roubo e da escravidão indígena “.(pgs 126/127)
Para estudioso, Luiz Felipe de Alencastro, calcula em cerca de 100 mil o total de cativos capturados nas entradas dos bandeirantes entre 1627 e 1640, segundo ele, “uma das operações escravagistas mais predatória da história moderna”.(pg128) O livro do Historiador Laurentino Gomes volume I é uma trilogia, onde o primeiro volume compreende o período histórico desde o primeiro leilão em 08 de agosto de 1444 até a morte de Zumbi dos Palmares em 20 de novembro de 1695.
Os outros dois volumes vão tratar do século XVIII, chegando até os dias atuais, com o legado da escravidão que ainda está vivo na nossa memória.
Nestes registros apenas procurei destacar alguns relatos que foram marcantes, sem prejuízo ou desestimulo a leitura do inteiro teor desta magnifica publicação.
O tema central deste primeiro volume foi a ESCRAVIDÃO, de uma maneira geral, mas destaquei a escravidão com os capturados em África e dos nativos brasileiros, muito bem fundamentado e descrito no livro.
Dentre todos os relatos do livro, eu não poderia deixar de transcrever: “O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África, afirmava no final do século XVII o padre jesuíta Antonio Vieira. Essa é uma frase profética que se torna cada vez mais verdadeira. Maior território escravocrata do hemisfério ocidental, o Brasil recebeu cerca de 5 milhões de cativos africanos, 40% do total de 12,5 milhões embarcados para a américa ao longo de três séculos e meio”.(contracapa)
Para o autor “Durante mais de três séculos e meio, o Atlântico foi um grande cemitério de escravos”, pois, em média, cerca de 14 cadáveres eram lançados ao mar todos os dias. “Segundo inúmeras testemunhas da época, mortes tão frequentes e em cifras tão grandes fizeram com que esses grandes peixes mudassem suas rotas migratórias, passando acompanhar os navios negreiros na travessia do oceano, à espera dos corpos que seriam lançados sobre as ondas e lhes serviriam de alimentos”. (pg49)
São inúmeras as citações e fatos históricos horripilantes que o livro descreve ao longo de suas 480 páginas.
O domínio na escravidão não se limitava ao domínio físico e patrimonial do escravagista, haja vista que “Segundo Alberto da Costa e Silva, não faltavam sequer comunidades nas quais o escravo, ao morrer continuava escravo. Ele citou como exemplo: Os Xerbros, no litoral de serra leoa, enterravam o cativo nu ou coberto por trapos, para demostrar que nada possuía e com as mãos e os pés atados por uma corda, cuja ponta comprida devia sair da cova e amarrar-se a um mourão fincado no solo. Antes de sepultá-lo, o dono lhe dava uma chibatada, para deixar claro que continuava a ter autoridade sobre o espirito do morto, que, no além, deveria ser escravo dos antepassados do seu senhor”. (pgs 157/158)
Teria muitas passagens para ser destacadas, mas não tive a pretensão de resumir ou fazer um rigoroso fichamento do livro e muito menos uma síntese. Pretendo continuar levantando outros elementos ideológicos, teológicos e filosóficos citados no presente livro, e “Concluo” com a seguinte narrativa: “O tema da escravidão é um tabu no continente africano por que é evidente que houve um conluio da elite africana com a europeia para que o processo durasse tanto tempo e alcançasse tanta gente, explicou ao site da BBC Brasil, que o entrevistou em 2016. Houve um momento em que os africanos perderam o controle. Como cicatrizar uma ferida tão violenta e profunda?
A resposta brota naturalmente das palavras de Araújo, ao recordar o dramático encontro com o rei ticar: Sempre tive a consciência de que um dos maiores crimes contra a população negra não foi nem a tortura, nem a violência: foi retirar a possibilidade de que conhecêssemos nossas origens. Se qualquer pessoa me perguntar de onde sou, agora já sei responder. Só quem é negro pode entender a dimensão que isso possui. Só conhecendo nossas origens poderemos entender quem somos de verdade. Enquanto não superarmos a escravidão, não teremos paz - nem os escravizados, nem os escravizadores”.(pgs 174/175)
Para entender a origem dessa tragédia que foi e continua sendo a escravidão, é preciso aprofundar inúmeras leituras, releituras e tomar partido ao lado dos pobres e oprimidos, deste longo e histórico sistema dominante, pois no livro, embora o autor não aponte esta leitura factual, demostra que para a classe dominante não tem limite a busca e negociatas e aprisionamentos, tendo como princípio basilar a insaciável dimensão do acúmulo de capital.
Sofredores de todo mundo Uni-vos!
Os dominantes são desumanos, frios, calculistas, cruéis e Assassinos.
Aldo Santos – Militante Sindical, ativista da Práxis- filosófica e da Enfrente!

segunda-feira, 23 de março de 2020

A importância da Ciência e o Desprezo da filosofia



              A Matemática é fundamental para entendermos os fenômenos do mundo e do próprio ser humano, ninguém duvida disso. Porém muitos duvidam da importância que tem a Filosofia, questionam (Questionar não é filosofar?) seu valor e falam com desdém:  “Para que Filosofia?”  E expulsam a disciplina das escolas, das empresas, do cotidiano...
              Então, quando a sociedade deixa de indagar sobre o significado, sentido e finalidade das coisas e da existência, a nossa vida fica sem rumo, principalmente quando enfrentamos uma catástrofe, moléstia ou qualquer coisa que nos tire da zona do conforto ou das farsas e ilusões (como o coronavírus). Aí surgem as salvadoras dos indivíduos: a Psicologia, a psicanálise, a psiquiatria e, claro, a medicina; não falemos aqui do papel das religiões e seitas que oferecem a salvação do corpo e da alma, inclusive a salvação eterna! Tudo bem, cada um se agarra na tábua que tem. Há “tábuas” que nos mantém na superfície do rio e outras que nos fazem afundar mais rapidamente; mesmo assim, muitos morrem felizes, acreditando.
               Mas uma coisa ninguém pode negar: todos buscamos um sentido e uma razão para o que fazemos, sentimos, pensamos e acreditamos; procuramos uma razão e um sentido para o nosso existir; e este sentido não é uma mera equação individual. Ela é coletiva e transcende nosso ambiente familiar, tribal, regional e mesmo nacional. O sentido é sempre global, sua equação está na esfera do humano e da humanidade. E esta equação a Matemática e nenhuma das Ciências pode responder sozinha e nem mesmo todas em seu conjunto, porque o sentido não é a meras somas das partes; ele depende de uma formulação e de uma fundamentação transcendental (no sentido epistemológico), para além da concretude dos fenômenos e dos indivíduos e de suas interpretações particulares. 
              Aqui surge a função da Filosofia e do filosofar cuja reflexão não  se resume e não termina na simples ou complexa explicação do mundo, dos fenômenos,  das coisas e da vida (biológica,  social, política,  econômica...); filosofar é a busca perene do significado último da existência que é sempre eu-com-os outros-no-mundo (cf. lebenswelt, conceito hursseliano de “mundo da vida”); e ser com-os-outros-no-mundo supõe dialeticamente o não-mundo, o não-ser, supõe, para os seres humanos, a morte, não como fim biológico,  mas como fim da existência do ser . Só o ser humano sabe disso, o que torna o filosofar não um diletantismo, um luxo, mas uma necessidade humana. Quem nega o filosofar está negando uma das necessidades básicas o SER humano.
              Como Albert Camus, ficamos revoltados (“L’homme révolté” - 1951) com esse mundo do mercado e dos negócios que faz da vida (saúde/doença, educação,  segurança, religião, tudo, uma simples mercadoria regida pelas leis do "deus-mercado"...e constantemente tentam fazer da Filosofia um mero instrumento desta ou daquela moral, um instrumento da lógica instrumental, um verniz requintado de teorias psicológicas, e o que é pior: simplesmente desconhecem a importância essencial da Filosofia na constituição da Ética, da Educação,  da Política,  da Estética, da Ecologia...Não é à toa que as grandes "autoridades" do mundo se sintam encurraladas diante de um simples, todavia perigoso coronavírus, enquanto a população sente  medo e se vê desamparada.
              Amanhã será outro dia e "eles" continuarão a desprezar a Filosofia e o valor da Vida para além dos lucros, luxos e vaidades! Poucos ouviram o discurso que Sócrates fez aos seus discípulos logo após sua condenação à morte, pelos poderosos de seu tempo, em Atenas há 2.400 anos.
              Filosofar e re-agir é necessário!

São Paulo, 23/03/2020.
Prof. Chico Gretter, mestre em Filosofia e História da Educação, Diretor da APROFFESP. 

Diante da pandemia do coronavírus, desejo vida longa a todos/as!



Chico Greter, Beatriz, Gustavo e Davi.
            Bom dia a todos/as. Não gosto de ser chato, mas já sendo, ao ver um vídeo que me enviaram (um rapaz repreendendo uma senhora e um senhor idoso que saíram para fazer compras, desrespeitando a quarentena do coronavírus...), devo dizer que muitos filhos/as (não é a maioria, certamente...) que agora estão preocupados com seus pais e avós passam semanas, meses e até anos sem se lembrar dos mais velhos...deixam-nos sozinhos, na solidão da velhice e até no abandono. Agora todo mundo se preocupa com os idosos, os velhinhos/as.

            Agradecemos quem está preocupado conosco, que somos do "grupo de risco", e espero que depois de passada a tempestade, muitos filhos e filhas ingratos mudem sua atitude com seus pais e mães e aproveitem os tempos sem pandemia para, de vez em quando, abraçar seus queridos mais velhos. Pior do que morrer de coronavírus com certeza é morrer na solidão do abandono e falta de compreensão. Como sempre dizia aos meus alunos, nos meus trinta anos como professor de História e Filosofia nas redes pública e particular, quando alguém me chamava de "Chico Velho": primeiramente eu agradeço pela alcunha, pois me lembra o pai que não conheci pessoalmente e cujo nome era Chico também; faleceu antes do meu nascimento. Segundo, faço votos que vocês alcancem a idade que alcancei com a "graça de Deus" e a ajuda que tive de tantos/as para sobreviver a tantos infortúnios e viver anos, pois completo agora no dia 12 de abril, 64 anos de idade.

            Falo isso porque vi e tenho visto muitos jovens que não chegam aos trinta anos de idade...meus filhos já chegaram e vocês sobrinhos também já chegaram e passaram dos trinta; que bom! Somos privilegiados e, logo que puder, vamos celebrar essa felicidade. Mas, voltando a ser chato, não se esqueçam de lembrar, como escreveu Roberto Carlos na canção dele e do Erasmo - "A distância": "...Se alguma vez você pensar em mim, não se esqueça de lembrar que eu nunca te esqueci"! Não esqueçam seus pais e mães nos cantos tristes da solidão que muitos velhos e velhas estão sofrendo mesmo agora ou principalmente neste momento. Tenha paciência com seus velhos/as! Todos um dia seremos ultrapassados, mas há uma coisa que jamais suprime: a dignidade das pessoas! E que todos vocês, jovens, cheguem aonde chegamos: no grupo de risco!

            Todavia, todos nós corremos vários riscos todos os dias, pois estamos sujeitos a vírus e bactérias de toda espécie, sendo os piores, a hipocrisia, o desrespeito e a ingratidão! Para estes não há e nunca haverá vacinas, como ainda não há para a cura da AIDS e que, depois de 40 anos, continua matando milhares pelo mundo, principalmente jovens. A morte não é uma lenda, há morte é real, com vírus ou sem vírus. Para ela não há quarentena, mas podemos aprender a conviver com ela durante anos, muitos anos até a aceitação de que somos amigos, somos parceiros na jornada da vida que continua.

            Por isso, como escreveu e cantou o grande poeta Gonzaguinha, filho do Gonzagão, outro mestre da canção popular brasileira: "Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...é a vida, é bonita e é bonita"! ("O que é, o que é?"). Bom dia a todos/as, um tele-abraço bem forte, com saudades, do seu tio Chico Gretter, filho do velho Chico que uma fatalidade levou para sempre quando tinha apenas 29 anos de idade. Era muito jovem!

São Paulo, 22 de março de 2020 

Prof. Chico Gretter - mestre em Filosofia e História da Educação, diretor da APROFFESP - 

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