domingo, 24 de novembro de 2019

ESCLARECENDO SOBRE A CONDENAÇÃO DO PROFESSOR ALDO SANTOS



“Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos, jovens amigos, não é verdade?”― Rosa Luxemburgo

Em 2003, havia um clima de esperança no ar, uma vez que fora eleito o presidente lula a presidência da república, apesar de Geraldo Alckmin, governar o Estado de São Paulo e o Willian Dib era  o Prefeito da Cidade de São Bernardo do Campo.
Segundo os autos do processo, na madrugada do dia 20 de julho de 2003, a área foi invadida por cerca de 400 pessoas, reunidas pelo movimento dos trabalhadores Sem teto- MTST. A gleba ocupada media aproximadamente 275.000 metros quadrados, e segundo documentos a mesma pertencia a Volkswagen do Brasil Ltda. Está área foi denominada de acampamento Santo Dias, uma  homenagem ao um líder sindical dos metalúrgicos, membro da pastoral operária da capital que foi morto pela Polícia Militar Santo Dias da Silva era operário metalúrgico e membro da Pastoral Operária de São Paulo. Foi morto pela Polícia Militar quando comandava um piquete de greve, no dia 30 de outubro de 1979.
Os promotores de justiça (ROSÂNGELA STAURENGHI, FERNANDO ALVAREZ BELAZ E A ESTAGIÁRIA DO MINISTÉRIO, VANESSA VELLOSO SILVA SAAD) afirmam que a invasão foi de responsabilidade do MTST, “Mas o vereador Aldo  dos Santos teve papel de destaque nos fatos supra mencionados. Cerca de 30 dias antes do inicio da invasão, no dia 18 de junho de 2003, durante a 20ª Sessão ordinária da Câmara municipal de vereadores  de São Bernardo do Campo, onde se discutia a atuação dos municípios com os moradores de rua, o réu estimulou expressamente a invasão de áreas livres do município como solução para o problema habitacional. Essas foram suas palavras: “Por último, quero dizer para vocês que moram nas ruas. Não adianta somente reclamar. Ora, vocês conhecem muitas áreas em São Bernardo. Não conhecem? Vocês têm que mapear essas áreas e ocupa-las também para terem casa. Temos que organizar tudo isso. Temos tantas áreas boas em São Bernardo. Vamos organizar. Faz um grupo de sem-teto que não tem para onde ir e vamos levantar uma dessas áreas legais que tem por aí e entrar. Ou vocês vão esperar que alguém leve vocês para lá, achando que vocês merecem?
Então gente,  se organizem também, criem um grupo de sem teto, assim como os Sem-terra estão fazendo no interior, levando os trabalhadores, se organizem, porque tem muita área boa em São Bernardo se vocês forem para  lá, porque vai ser melhor servir a vocês do que servir par a exploração imobiliária.”(pag 12/13).
Com o acontecimento da ocupação que fiquei sabendo no dia seguinte pela manha, e, por expressar minha irrestrita solidariedade  aos movimentos sociais, após percorrer todos os labirintos perversos das instâncias do judiciário,  nos termos  dos acórdãos, a sentença foi: a minha  condenado à suspensão dos direitos políticos por cinco anos, ao pagamento de multa civil na quantia de dez vezes o valor da remuneração por ele percebida como agente político na época dos fatos e à proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
Em 2010, quedo fui candidato a vice - governador pelo Psol, este problema veio a tona e aguardo com lembrança a defesa do candidato a presidência d república pelo Psol, o grande Plínio de Arruda Sampaio, que, enquanto todos me condenavam ele me defendia dizendo que eu não era ficha suja, era ficha ouro, pois apoiar os pobres era dever de todos e todas.
Em 2018, em plena campanha a deputado federal fui surpreendido com a aplicação da pena da condenação supracitada.
No dia do pagamento do corrente mês fui mais uma vez surpreendido com  o bloqueio do pagamento por medida judicial, e ao tomar contato do inteiro teor, na página 72 da referida ação penal está  expressamente escrito que  “defiro o bloqueio de valores  do(s)   executado(s) Aldo Josias dos Santos, no valor de R$ 658.360,86”.
Diante do exposto os advogados estão fazendo as devidas manifestações jurídicas para o devido desbloqueio, e do ponto de vista politico, lideranças reunidas apontaram para a realização de ato de desagravo contra mais esta efetiva ação de criminalização dos movimentos e lutadores sociais do povo.
Centenas de manifestações tem circulado pelas redes sociais em solidariedade  ao professor Aldo Santos, que tem reiterado a mais profunda convicção na luta, na utopia de um dia construirmos uma nova sociedade, livre da opressão do capital.
“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” ― Rosa Luxemburgo

Lutar, resistir e vencer é preciso!

Aldo Santos - ex-vereador, Membro da diretoria da aproffesp, Presidente da aproffib, militante da apeoesp e do Psol.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

VILA LULALDO, 30 ANOS DEPOIS.



Em recente visita às lideranças da Vila, fomos informados dos preparativos para a comemoração dos 30 anos de existência da ocupação da Vila Lulaldo, em São Bernardo do Campo. Foi uma ocupação exitosa que conta atualmente com cerca de 500 famílias, que, corajosamente  fizeram esta ocupação no dia  03 de Dezembro de 1989, fugindo dos desmoronamento que estava acontecendo com moradores da Vila Jurubeba.
Para quem ainda não conhece a história da Vila LULALDO, indicamos a leitura do livro: VILA LULALDO: da lei do barbante à regularização fundiária, uma publicação da dialógica editora, escrito por Aldo Santos  e Ana Valim. Na página 21 do referido livro consta o seguinte: “O pleito para a escolha do  nome da Vila aconteceu  no dia 11 de março de 1990. Os moradores indicaram oito nomes. No total, foram registrados 105 votos, destes, 1 branco e  2 nulos. Vila Lulaldo recebeu 35 votos, seguido de vila nova(27); vila jussara II (16); jardim riacho grande (8); vila zumbi (7); vila operária (6); vila palmares(2) e vila acampamento (1). A proposta de denominação vencedora foi apresentada em assembleia pela Dona Emília, sendo a junção  do nome do então presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, e do então vereador, também do PT, Aldo santos.”
Foi uma grande batalha contra as sucessivas ações de reintegração de posse, com a realização de atos, passeatas, manifestações e enfrentamentos, contando ainda  com os acertos políticos na condução da luta sob a  liderança dos nossos dirigentes. Esta ocupação foi um marco na luta pela moradia popular na cidade e região.
Certamente será uma importante atividade, relembrando a luta, a história e memória dos moradores que valentemente lutaram para que aquele sonho se transformasse em realidade. Hoje temos uma Vila onde todo mundo conhece todo mundo, o convívio é respeitoso e harmonioso, e certamente, esta ocupação serve de inspiração efetiva para novas gerações que enfrentam o dilema de não terem onde morar.
Queremos ainda registrar e parabenizar a nova DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA VILA LULALDO, que tem a seguinte composição:
Presidente: José Arimatéia Teixeira
Vice-Presidente: Ivo Alves Macedo
1º Secretário: Wendel Patrick da Silva  Teixeira
2º Secretário: Cleyde Aparecida de Cassia
1º Tesoureiro: Marcos Antonio Pereira da Silva
2º Tesoureiro: Odete de Lourdes Pereira
Diretor Social: Luis Lopes da Silva
1º Conselheiro Fiscal efetivo: Valdemir Costa Pinho
2º Conselheiro fiscal Efetivo: Messias Manoel da Silva
3ºConselheiro fiscal efetivo: Edvando Sampaio Santos
1º Conselheiro fiscal suplente: Valdemar de Souza Pinho
2º Conselheiro fiscal suplente: Francisca  Aparecida Pereira Rolim
3º Conselheiro fiscal suplente: Almir Santana de Souza
Pretendemos participar desta importante atividade e convidamos  todos e todas que na ocasião não mediram esforço para enfrentar os poderosos e especuladores, ajudando  definir os caminhos da luta e da  resistência. Foi uma guerra campal, mas com o apoio de inúmeras lideranças os moradores vêm resistindo, reafirmando inclusive que a luta sempre vale a pena.

Aldo Santos- Ex-vereador, Professor de Filosofia, sindicalista e  militante do Psol

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A esquerda desaglutinada




Conheci o companheiro Aldo por intermédio do facebook, logo após a morte do meu companheiro Rui Kureda em janeiro de 2018. Na oportunidade convidei boa parte dos amigos do Rui a serem meus amigos no aplicativo facebook, a fim de construir suas memórias póstumas. Percebi que a maioria de meus novos amigos virtuais traziam histórias de lutas respeitadas, no entanto a história de Aldo além do nosso respeito merece reflexão acerca da condição do companheiro, pois mostra a ineficiente força da esquerda em lutar pelos direitos de todos tal como assim a mesma propõe.
O que me chamou a atenção na história de Aldo é que paralelamente enquanto o mesmo me explicava os detalhes de sua história, eu acompanhava suas postagens no facebook e era notório o carisma do companheiro e a presença continua em diferentes espaços de luta. Sempre atuante, descobri mais tarde que houvera sido vereador em São Bernardo do Campo por 16 anos. Isso deixou claro a liderança do camarada perante meu entendimento. E ficou impossível não traçar um paralelo em sua existência com a do meu antigo companheiro, verdadeiros líderes.
Em setembro deste ano conversei ao telefone com Aldo durante alguns minutos e infelizmente fiquei sabendo que o mesmo não mais poderá disputar nem participar como candidato na vida política, por conta de sua condenação pela perda dos direitos políticos por 5 anos.
 O que é uma pena ou um simples reflexo da esquerda desarmada brasileira. Fica difícil acreditar no que está acontecendo, morte de Marielle, prisão de Lula, assassinatos de pobres e negros, Moro como ministro da justiça, mesmo depois das menções do Intercept, retirada de direitos da classe trabalhadora, queimadas em território amazônico e óleo pelas praias do litoral nordestino, ou seja, um verdadeiro afronte ao bem estar social, moral, democrático e político nacional, e a esquerda desaglutinada. Os últimos acontecimentos  colocando  os milicianos e a referência a Bolsonaro no cenário do crime, poderá detonar novas, decisivas  e definitivas manifestações.
E sinceramente sinto que foram jogados aos leões nossos companheiros, morte, desassistência e despreparo configuram as ações da esquerda nacional. Era e é um terreno inóspito o brasileiro para os afazeres revolucionários sem um compromisso com a base e com seus líderes.
 A morte do meu companheiro e a insensibilidade de muitos, falam muito a respeito disso, pois desde que o mesmo partiu venho tentando tecer conversações com o partido sem sucesso. Creio que o tal descaso se dá ao “enviar a luta” nossos combatentes sem lhes assegurar salvaguarda, pois muitos pagam o preço com a própria vida. E, no caso do camarada Aldo isso não foi diferente, não foi morto, mas muita coisa morre com o impedimento institucional de um líder revolucionário em lutar pelos seus, mesmo estes apoiando outras candidaturas.
Relendo as conversas, minha e de Aldo notei que o mesmo ainda me solicitou apoio referente a sua candidatura e mais tarde enviou-me a realização de um ato de desagravo em sua defesa. Eu imediatamente solicitei explicação ao camarada e o mesmo citou algo referente ao acampamento Santo Dias, e sobre já haver perdido seus direitos políticos e que foi condenado com uma multa em torno 650 mil reais, além de perder o salário de maio último como docente. Claro que tudo isso foi se dando enquanto trocávamos mensagens e o mesmo ia me mantendo atualizada por intermédio do seu canal de notícia ABCdaLUTA.
Contudo, minha ignorância não sabia que o terreno ao qual Aldo mencionava ter apoiado a ocupação em 18 de julho de 2003, em pleno governo Lula, juntamente com o MTST, era da Wolksvagem. E, daí passei a pensar como os partidos apoiam uma luta, mas não suas consequências num terreno inóspito e deixa ao relento os representantes destas lutas. Assim o foi com meu companheiro, assim está sendo com o companheiro Aldo, e assim o é frente ao caso Marielle diante das insensatas negativas das investigações acerca da morte da parlamentar.
Assim como Aldo perdeu seus direitos políticos e segue processado, Boulos mal pontuou nas eleições e  Haddad perdeu para Bolsonaro. Talvez se Lula intercedesse favorável ao movimento do MTST e negociasse com o capital estrangeiro a permanência daquelas 7 mil famílias no território, com certeza a história da esquerda nacional seria outra. Sem sombras de dúvidas, todos os envolvidos teriam algo para contar favoravelmente sobre uma luta brasileira travada no governo PT contra o capitalismo.
No entanto o que aconteceu foi o contrário. A inoperância da esquerda brasileira sob os mandos do PT trouxe a insegurança, a desmoralização e a criminalização de seus movimentos. Isso conota a face capitalista e o desgoverno das ações da parcela da esquerda que não fizeram a lição de casa e não acionaram transformações no seio da sociedade saudavelmente, pois o fortalecimento da direita e do centro mostra o quanto é inoperante a esquerda nacional ao que se refere travar batalhas e vence-las.
A luta do companheiro Aldo em 2003 poderia ter mudado o rumo dos pensamentos dos brasileiros acerca do MTST, dos movimentos sociais e da esquerda revolucionária nacional além de ditar ao capital o caráter social de nosso país. No entanto, nada disso foi feito. Muito pelo contrário, a base ficou órfã, líderes lutando sozinhos, militantes sendo marginalizados e o desmantelo foi instaurado, sendo alvo fácil para as fake News dos bolsonaristas e da maledicência daqueles que não pouparam esforços para desmoralizar a esquerda e seus militantes.
Tenho quase certeza que o saldo caso fosse positivo nessa ocupação do acampamento Santo Dias, a luta e seu reconhecimento traçaria um panorama diferente ao que concerne o conceito de militância no cenário nacional. E, com isso, quem sabe teríamos juntos aos professores e as paralisações destes, um movimento de âmbito nacional que paralisasse o Brasil e mudasse os rumos da política nacional brasileira frente aos desmandos do governo na retirada dos direitos dos trabalhadores e demais situações que necessitam de mobilização nacional a fim de construirmos um país mais justo para todos os brasileiros.
Daniela Negrão.