sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A esquerda desaglutinada




Conheci o companheiro Aldo por intermédio do facebook, logo após a morte do meu companheiro Rui Kureda em janeiro de 2018. Na oportunidade convidei boa parte dos amigos do Rui a serem meus amigos no aplicativo facebook, a fim de construir suas memórias póstumas. Percebi que a maioria de meus novos amigos virtuais traziam histórias de lutas respeitadas, no entanto a história de Aldo além do nosso respeito merece reflexão acerca da condição do companheiro, pois mostra a ineficiente força da esquerda em lutar pelos direitos de todos tal como assim a mesma propõe.
O que me chamou a atenção na história de Aldo é que paralelamente enquanto o mesmo me explicava os detalhes de sua história, eu acompanhava suas postagens no facebook e era notório o carisma do companheiro e a presença continua em diferentes espaços de luta. Sempre atuante, descobri mais tarde que houvera sido vereador em São Bernardo do Campo por 16 anos. Isso deixou claro a liderança do camarada perante meu entendimento. E ficou impossível não traçar um paralelo em sua existência com a do meu antigo companheiro, verdadeiros líderes.
Em setembro deste ano conversei ao telefone com Aldo durante alguns minutos e infelizmente fiquei sabendo que o mesmo não mais poderá disputar nem participar como candidato na vida política, por conta de sua condenação pela perda dos direitos políticos por 5 anos.
 O que é uma pena ou um simples reflexo da esquerda desarmada brasileira. Fica difícil acreditar no que está acontecendo, morte de Marielle, prisão de Lula, assassinatos de pobres e negros, Moro como ministro da justiça, mesmo depois das menções do Intercept, retirada de direitos da classe trabalhadora, queimadas em território amazônico e óleo pelas praias do litoral nordestino, ou seja, um verdadeiro afronte ao bem estar social, moral, democrático e político nacional, e a esquerda desaglutinada. Os últimos acontecimentos  colocando  os milicianos e a referência a Bolsonaro no cenário do crime, poderá detonar novas, decisivas  e definitivas manifestações.
E sinceramente sinto que foram jogados aos leões nossos companheiros, morte, desassistência e despreparo configuram as ações da esquerda nacional. Era e é um terreno inóspito o brasileiro para os afazeres revolucionários sem um compromisso com a base e com seus líderes.
 A morte do meu companheiro e a insensibilidade de muitos, falam muito a respeito disso, pois desde que o mesmo partiu venho tentando tecer conversações com o partido sem sucesso. Creio que o tal descaso se dá ao “enviar a luta” nossos combatentes sem lhes assegurar salvaguarda, pois muitos pagam o preço com a própria vida. E, no caso do camarada Aldo isso não foi diferente, não foi morto, mas muita coisa morre com o impedimento institucional de um líder revolucionário em lutar pelos seus, mesmo estes apoiando outras candidaturas.
Relendo as conversas, minha e de Aldo notei que o mesmo ainda me solicitou apoio referente a sua candidatura e mais tarde enviou-me a realização de um ato de desagravo em sua defesa. Eu imediatamente solicitei explicação ao camarada e o mesmo citou algo referente ao acampamento Santo Dias, e sobre já haver perdido seus direitos políticos e que foi condenado com uma multa em torno 650 mil reais, além de perder o salário de maio último como docente. Claro que tudo isso foi se dando enquanto trocávamos mensagens e o mesmo ia me mantendo atualizada por intermédio do seu canal de notícia ABCdaLUTA.
Contudo, minha ignorância não sabia que o terreno ao qual Aldo mencionava ter apoiado a ocupação em 18 de julho de 2003, em pleno governo Lula, juntamente com o MTST, era da Wolksvagem. E, daí passei a pensar como os partidos apoiam uma luta, mas não suas consequências num terreno inóspito e deixa ao relento os representantes destas lutas. Assim o foi com meu companheiro, assim está sendo com o companheiro Aldo, e assim o é frente ao caso Marielle diante das insensatas negativas das investigações acerca da morte da parlamentar.
Assim como Aldo perdeu seus direitos políticos e segue processado, Boulos mal pontuou nas eleições e  Haddad perdeu para Bolsonaro. Talvez se Lula intercedesse favorável ao movimento do MTST e negociasse com o capital estrangeiro a permanência daquelas 7 mil famílias no território, com certeza a história da esquerda nacional seria outra. Sem sombras de dúvidas, todos os envolvidos teriam algo para contar favoravelmente sobre uma luta brasileira travada no governo PT contra o capitalismo.
No entanto o que aconteceu foi o contrário. A inoperância da esquerda brasileira sob os mandos do PT trouxe a insegurança, a desmoralização e a criminalização de seus movimentos. Isso conota a face capitalista e o desgoverno das ações da parcela da esquerda que não fizeram a lição de casa e não acionaram transformações no seio da sociedade saudavelmente, pois o fortalecimento da direita e do centro mostra o quanto é inoperante a esquerda nacional ao que se refere travar batalhas e vence-las.
A luta do companheiro Aldo em 2003 poderia ter mudado o rumo dos pensamentos dos brasileiros acerca do MTST, dos movimentos sociais e da esquerda revolucionária nacional além de ditar ao capital o caráter social de nosso país. No entanto, nada disso foi feito. Muito pelo contrário, a base ficou órfã, líderes lutando sozinhos, militantes sendo marginalizados e o desmantelo foi instaurado, sendo alvo fácil para as fake News dos bolsonaristas e da maledicência daqueles que não pouparam esforços para desmoralizar a esquerda e seus militantes.
Tenho quase certeza que o saldo caso fosse positivo nessa ocupação do acampamento Santo Dias, a luta e seu reconhecimento traçaria um panorama diferente ao que concerne o conceito de militância no cenário nacional. E, com isso, quem sabe teríamos juntos aos professores e as paralisações destes, um movimento de âmbito nacional que paralisasse o Brasil e mudasse os rumos da política nacional brasileira frente aos desmandos do governo na retirada dos direitos dos trabalhadores e demais situações que necessitam de mobilização nacional a fim de construirmos um país mais justo para todos os brasileiros.
Daniela Negrão.

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