terça-feira, 15 de setembro de 2020

FANON E A LUTA REVOLUCIONÁRIA

 


 

  FRANTZ OMAR FANON - Nasceu em 20 de julho de 1925 em Martinica (Fort-de-France), filho de uma família da classe média, formou-se em medicina (psiquiatria), teve destacada atividade no campo da filosofia política e da militância revolucionária, além de escrever importantes obras de repercussão internacional. Foi acometido de Leucemia, vindo a morrer precocemente aos 36 anos de idade, sepultado na Argélia em 06 de Dezembro de 1961.

As obras de  Obras de Fanon    são leituras obrigatórias nos dias atuais.

-Pele negra, máscaras brancas. Rio de Janeiro (1952)   

-Os condenados da terra. Rio de Janeiro:  1961

-Em defesa da Revolução Africana (1964)

Além de centenas de textos, vídeos e documentários. Recentemente no Brasil foi lançado, em 2018, importante livro: Frantz Fanon Um Revolucionário Particularmente Negro, de autoria do escritor e militante Deivison Mendes Faustino, além de outras contribuições em revistas e dissertações nas academias.

 “Envolvido na luta pela independência da Argélia, Fanon se engajou nos processos mais amplos sobre o pan-africanismo, ou seja, em movimentos de libertação na África. O pensamento fanoniano era vinculado à práxis (teoria e prática juntas), já que, enquanto ele era um ativo militante do movimento da negritude, também registrava esses processos políticos em seus textos.

 

Há mais de cinco décadas do falecimento de Fanon, Nkosi destaca também a forte influência que o martinicano exerceu em autores brasileiros renomados. "A discussão do Paulo Freire sobre opressor e oprimido - e toda a idéia da libertação - é inspirada em Fanon, como o próprio Paulo Freire reconhecia. Se pensarmos um autor como Glauber Rocha, por exemplo, que discute como o cinema pode contribuir para a emancipação, ele traz o Fanon na hora de pensar uma estética da violência, uma estética engajada".

https://www.brasildefato.com.br/2018/05/15/obra-de-frantz-fanon-traca-paralelo-entre-colonialismo-e-intervencao-militar-no-rio

Fanon  foi também  influente pensador do século XX sobre os temas da descolonização e da psicopatologia da colonização. É um dos fundadores do pensamento terceiro-mundista.

 Em dezembro de 1960, depois de circular por várias partes do continente africano fomentando a necessidade de expandir a guerra de libertação à  outros países, no auge de sua atuação política, Fanon inicia a escrita de um livro que problematizaria a relação da revolução Argelina com outros povos do Continente. No entanto, para a sua surpresa é diagnosticado com leucemia, e percebe, mediante aos estágios que a medicina se encontrava nesta época, que lhe restara pouco tempo de vida.

 

Enquanto escrevia o livro OS CONDENADOS DA TERRA, e revisava os trechos, chegou a voar para Itália, a fim de encontrar Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, para encomendar a Sartre o Prefácio do seu livro.

Para a compreensão  mais  detalhada da vida e  obra,  se faz necessário o contato com os apontamentos publicados no artigo de Immanuel Wallerstein, publicado originalmente em inglês na revista New Left Review, de Maio de 2009. A tradução é de Douglas Rodrigues Barros, publicada por Lavra Palavra, 22-07-2019.

 Freud havia argumentado sobre a necessidade de avançar, saindo de uma explicação filogenética para uma explicação ontogenética, mas Fanon diz que, na verdade, o que se requer para a questão do negro é uma explicação sociogenética. Reconhecendo, entretanto, as limitações deste tipo de explicação, recorda ao leitor: “Eu pertenço irredutivelmente a minha época”.

              A desgraça do homem de cor é ter sido escravizado. A desgraça e a inumanidade do branco foi ter assassinado o Homem em algum lugar e atualmente organizar racionalmente esta desumanização - Frantz Fanon

Eu, homem de cor, só quero uma coisa: que nunca o instrumento domine o homem. Que cesse para sempre a submissão do homem pelo homem. Quer dizer, do Eu pelo Outro. O negro não-é. Não mais que o branco – Fanon

Na França, onde vivia naquele momento, na década dos anos cinquenta estava dominada pela guerra e independência argelina, que se iniciou em 1954 e terminou em 1962, um ano depois da morte de Fanon. Em 1953, ele foi nomeado diretor de psiquiatria no hospital de Blida, na Argélia. Na sequência, ficou escandalizado pelas histórias de torturas que relatavam seus pacientes argelinos – já era simpatizante da luta argelina, mas com esses fatos viu-se obrigado a se demitir do cargo e embarcou para Túnis, para trabalhar em tempo integral para o Governo Provisório da Revolução Argelina.

 Fanon era qualquer coisa, no entanto, menos um pós-moderno! Uma das melhores caracterizações de seu pensamento talvez fosse a afirmação de que ele era um marxista-freudiano e em parte um freudiano-marxista; alguém completamente comprometido com os movimentos revolucionários de libertação.

 

A última frase de Pele negra, máscaras brancas é: "Oh, meu corpo faz de mim um homem que sempre interroga!”. Nesse espirito de questionamento ofereço doravante minhas reflexões sobre a necessidade do pensamento de Fanon para o século XXI.

Ao reler seus livros me surpreendem muitas coisas: a primeira, é o grau de suas estonteantes declarações – declarações sobre as quais Fanon parece estar muito seguro – especialmente, eu diria, quando critica os outros; a segunda, é que estas declarações são seguidas, às vezes, muitas páginas depois, pela explicitação de suas dúvidas sobre como proceder melhor; sobre como se pode alcançar o que se deve alcançar.

Três dilemas dos quais minhas opiniões giram em torno:

 

1. O uso da violência;

 

2. A afirmação da identidade e

 

3. A luta de classes.

 

1.1 A ideia de que a transformação social fundamental nunca ocorresse sem violência não era uma ideia nova, faz parte de todas as tradições emancipatórias radicais do século XIX que acreditavam que os privilegiados nunca cederiam o verdadeiro poder voluntariamente e de boa vontade: o poder sempre se toma! Esta crença constitui em grande parte o que definiria a suposta diferença entre uma via “revolucionária” e uma via “reformista” até a mudança social.

 “A luta armada mobiliza o povo, quer dizer, o coloca em uma só direção num sentido único.”

 

 

 

2. A afirmação da identidade

 

Sua conclusão é exatamente o contrário das políticas de identidade: “se o homem é o que faz, então diremos que hoje a tarefa mais urgente do intelectual africano é a construção de sua nação.

 

3. A luta de classes

E isso nos leva ao terceiro tema; a luta de classes. Em nenhuma parte dos escritos de Fanon se discute a luta de classes, como tal, de maneira central. E, entretanto, sim é central em sua visão de mundo e em sua análise. Porque, naturalmente, Fanon foi educado em uma cultura marxista, na Martinica, na França e na Argélia. A linguagem que conhecia, e de todos aqueles com quem trabalhava, estava impregnada das premissas do vocabulário marxista.

 

Todavia, Fanon e aqueles com os quais trabalhou haviam se rebelado, e se rebelado com vigor, contra o marxismo ossificado dos movimentos comunistas de sua época. O livro de Aimé Césaire, Discurso sobre o colonialismo, segue sendo a expressão clássica do porquê os intelectuais do mundo colonial (e não somente eles, naturalmente) abdicaram de seu compromisso com os partidos comunistas e afirmaram uma versão revisada da luta de classes.

 

O tema chave nos debates sobre a luta de classes é a questão: “quais são as classes que estão lutando?” durante muito tempo esse debate estava dominado pelas categorias do marxismo dos partidos: o Partido Socialdemocrata Alemão e o Partido Comunista da União Soviética. O argumento básico era que, em um mundo capitalista moderno, as classes que mantinham uma luta fundamental e que dominavam o cenário eram a burguesia industrial urbana e o proletariado industrial urbano. Todos os demais grupos eram remanescentes de estruturas mortas ou moribundas que estavam destinadas ao desaparecimento. À medida que todo o mundo se globalizasse, elas se definiriam a si mesmas como burguesas ou proletárias.

 Ao fazer recorte de  algumas contribuições  sobre a vida e obra de Fanon, procurei sintetizar para uma reunião virtual com o objetivo de  extrair questões fundamentais na obra de Fanon e de parte de escritos sobre o mesmo. Na verdade, o fundamental é partir da leitura dos livros do mesmo, pois é de grande profundidade e extensão intelectual e  de tomada de partido na história, ao lado dos colonizados e vítimas do sistema opressor  ainda presente nos dias atuais. A universalidade de seu pensamento  aponta para  grande parte da militância, particularmente dos movimentos negro, está relacionada ao fato de que, para além da teoria e da necessária atividade acadêmica, é fundamental  viabilizar na prática  ações revolucionárias como o mesmo fez junto ao seu povo. No livro (Os condenados da terra, da editora UFJF-3ª reimpressão), o autor vai tratar de inúmeras temáticas que vale a pena ler na sua inteireza.

  “A colonização ou a descolonização são simplesmente uma relação de forças. O explorado percebe  que a sua libertação pressupõe todos os meios e primeiro a força.

Quando, em 1956, depois da capitulação de Guy Mollet, diante dos colonos da Argélia, a Frente  de Libertação Nacional, num panfleto célebre, constatou que o colonialismo só desiste com a faca na garganta, nenhum argelino achou esses termos violentos demais. O panfleto só fazia expressar o que todos os argelinos sentiam no mais profundo de si mesmos: o colonialismo não é uma máquina de pensar,  não é um corpo dotado de razão. Ele é a violência em estado natural, e só pode  se inclinar diante de uma violência maior”.(paginas 78/79)

Além das inúmeras citações sobre a resistência do colonizado, ele vai afirmar que: ” A mobilização das massas, quando se realiza por ocasião da guerra de libertação, introduz em cada consciência a noção de causa de causa comum, de destino nacional, de história coletiva.

Assim, a segunda fase, a da construção da nação, é facilitada pela existência dessa argamassa, trabalhada com sangue e cólera. Compreende-se melhor então a originalidade do vocabulário usado nos países subdesenvolvidos. Durante o período colonial, convidava-se o povo a lutar contra a opressão. Depois da libertação nacional, convidam-no a lutar contra a miséria, o analfabetismo, o subdesenvolvimento.

A luta, afirma-se continua. O povo verifica que a vida é um combate interminável”.(pg 111)

Na página 229 do referido livro, ele vai dizer que: “O combate coletivo supõe uma mesma responsabilidade coletiva na base e uma responsabilidade colegiada na cúpula. Sim, é preciso comprometer todos no combate, para a salvação comum”.

Mais a frente ele vai dizer que “politizar as massas é tornar a nação global presente para cada cidadão. É fazer da experiência da nação a experiência  de cada cidadão”.

O livro é riquíssimo em detalhes e  em conceitos ainda pouco dominado  pelas novas gerações de lutadores. Vai falar das patologias decorrentes das sequelas dos  opressores levando-os a loucuras, além de sua significativa contribuição sobre o conceito de loucura e novas formas de tratar as pessoas diante dos quadros psiquiátricos encontrados”.

No capítulo “SOBREA IMPULSIVIDADE CRIMINAL DO NORTE-AFRICANO NA GUERRA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL”,  ele vai iniciar o mesmo com a seguinte afirmativa: “Não é preciso apenas combater pela liberdade do povo. Também é preciso, ao longo de toda duração do combate, ensinar novamente a esse povo, e  primeiro a si mesmo, a dimensão do homem. É preciso remontar os caminhos da história, da história do homem condenado pelos homens, e provocar, tornar possível o encontro do seu povo e dos outros homens. Na  verdade, o  militante que está empenhado num combate armado, numa luta nacional, tem a intenção de medir, dia a dia, as degradações infligidas ao homem pela opressão colonial. Algumas vezes, o militante tem a impressão exaustiva de que ele deve reconduzir todo  o seu povo, tirá-lo do poço, da caverna. O militante percebe que deve não apenas perseguir suas  forças inimigas. Mas também os núcleos de desespero cristalizados no corpo do colonizado. O período de opressão é doloroso, mas o combate, ao reabilitar o homem oprimido, desenvolve um processo de reintegração que é extremamente fecundo e decisivo”.(Pg 339)

Portanto, com as palavras finais de Fanon, na página 229, “ Estamos todos  sujando as mãos nos pântanos do solo e no vazio pavoroso dos nossos cérebros.TODO ESPECTADOR É UM COVARDE  OU UM TRAIDOR”; tomar partido é preciso!

 

Aldo Santos- Militante sindical, Popular e do Psol

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

CHAPA COLETIVA DO PSOL, PREFEITURA/SBC

 



O Partido Socialismo e Liberdade – PSOL de São Bernardo do Campo, homologou em convenção municipal virtual, com a participação de quase cem pessoas - entre filiados e convidados, a chapa majoritária e proporcional para as eleições no próximo dia 15 de novembro. A chapa majoritária será composta por cinco membros e, para efeito de formalização junto à justiça eleitoral, será encabeçada pela Dra Lourdes Souza e a Professora Sônia Almeida (Soninha)  e contará ainda com Aldo Santos, Prof Paulo Neves e Dianilton Gomes (Nilton DG). Para o legislativo municipal, foram homologadas, por enquanto, 11 pré-candidatos/as.

Conheça os integrantes da chapa coletiva:

Dra Lourdes: nasceu em Floresta, Pernambuco. É advogada há 30 anos, formada pela Faculdade de Direito de São Bernardo e é também professora da rede estadual e militante da APEOESP SBC.Filha de ex-metalúrgico e dona de casa,  já morou  em São Caetano, Santo André e reside em São Bernardo há mais de 40 anos.

Contato: (11) 99537-0995


Sônia Maria de Almeida (Profª Soninha): nasceu na cidade de Governador Valadares, Minas Gerais. Filha de Antônio Beatriz, trabalhador da construção civil e de Iraci Gonçalves, dona de casa, é moradora de São Bernardo há 48 anos e reside na região do Alvarenga. Mulher negra e periférica, orgulhosa das conquistas obtidas, é oriunda da escola pública e é a primeira da família a ter uma profissão expressa em diploma e também a primeira a ter um diploma universitário.

É graduada em letras, possui curso de extensão cultural em africanidades e complementação pedagógica em gestão escolar. Professora da rede estadual de São Paulo, onde atuou de 1988 à 2017. Militante da APEOESP SBC e membro da diretoria da APROFFESP (Associação de Professores/as de Filosofia  e Filósofos/as do Estado de São Paulo)

Contato: (11) 97258-3159


Aldo Santos: nasceu em Brejo Santo – Ceará. Filho de Josias Raimundo dos Santos e Maria Bevenuta de Jesus, é formado em filosofia, estudos sociais, bacharel em teologia e mestre em história e cultura.Escritor, militante da APEOESP SBC,  ativista histórico das entidades de Filosofia (Aproffesp/Aproffib) e leciona filosofia no Cursinho Popular Passo a Frente. Foi  vereador por 16 anos e autor de vários projetos importantes, como o passe livre estudantil, instituição do dia da consciência negra e do feriado no dia 20 de novembro, dentre dezenas de outros. Além da participação do movimento estudantil, da educação, movimento negro e outros movimentos, teve destacada atuação na luta por moradia, apoiando os Sem Teto, os Sem Terra e várias ocupações na cidade, como  Vila  Lulaldo, Vila Natanael, Vila Zilda e outras ações. Foi condenado injustamente pela justiça burguesa, por apoiar a ocupação de 2003 do Acampamento Santo Dias, em SBC. Foi candidato a prefeito e a vice governador, em 2010, pelo Psol-SP.Atualmente coordena a Subsede da APEOESP SBC e é presidente do Psol na cidade.

  Contato: (11)98250-538


 Prof Paulo Neves: Formado em Ciências Sociais e em Geografia, trabalha na rede estadual de ensino há mais de 20 anos, dando aulas de Sociologia e Geografia. Lecionou nas escolas: Palmira, Pedra de Carvalho, João Batista, Maria Auxiliadora, Kennedy, Maria Iracema, Célio L. Negrini, Carlos Pezzolo e atualmente é professor da EE Nail, na Vila Esperança. Natural da Paraíba, casado  e pai de três filhos, chegou em SBC na metade da década de 1980. É apaixonado pela cidade, da qual obteve o título de cidadão são-bernardense outorgado pela Câmara Municipal em dezembro de 2004, por propositura do então vereador ALDO SANTOS. Morou no Jd. Independência, na Vila Comunitária e atualmente mora no Novo Horizonte, Região do Bairro Ferrazópolis. É diretor da APEOESP - Sindicato Estadual dos Professores da rede pública estadual e membro da Executiva Regional da Subsede de SBC.

Contato: (11) 95612-6525


Dianilton Gomes (Nilton DG):  Nasceu na cidade de Mundo Novo, Bahia. Aos 5 anos de idade chegou em São Bernardo do Campo, logo começou a estudar,  passando por diversas escolas (Maria Rosa Barbosa, Santa Olímpia, Maria Luíza Ferrari e Maria Auxiliadora). Por enfrentar a dura realidade do aluguel, morou em vários bairros, como  Parque Havaí, Baeta Neves, Vila Marlene, Independência e atualmente reside no Taboão. Aos 15 anos, por motivos de força maior, teve que retornar à Bahia, onde enfrentou o duro e pesado trabalho da roça, além da triste realidade do trabalho escravo da carvoaria. Mesmo assim, continuou estudando e aos 18 anos retornou para São Bernardo, onde começou a trabalhar como marreteiro nos trens de São Paulo e lavador de carros, ainda foi frentista no bairro Santo Ignácio. Atualmente, trabalha no ramo da construção civil, fez técnico em edificações na Uninove, soldador e desenho mecânico no Senai e trabalha como construtor. Fez parte da coordenação da Ocupação Povo Sem Medo  de SBC em 2017 e é militante do MEL (Movimento Estudantil Livre).

Contato: (11) 98707-4280


Com a chapa coletiva para o executivo municipal, o PSOL de São Bernardo do Campo está fazendo história, no sentido de questionar o individualismo, o personalismo e a concentração do poder em uma única pessoa - pilares de dogmas do liberalismo, além de indicar duas mulheres negras para formalizar o registro junto à justiça eleitoral,  uma resposta ao machismo, ao racismo e a todo tipo de preconceito que envolvem o tradicionalismo dos poderes institucionais em todas as suas esferas.

Participe desse sonho e das mudanças necessárias no campo da política, rumo a uma sociedade socialista.