quinta-feira, 28 de maio de 2020

"A flor que menos cheira"



De repente tudo se agita
O ninho interno palpita
Nos corações das ruas gritam
Uma voz calada na garganta
É o povo que está nas ruas
Coberto com as tripas nuas
Eis a voz que dá consciência
Neste hospício de demência
Sai da cova, anda, levanta-canta.
Não é cultura doutor
Não é bagunça Presidente
É a fome que causa a dor
É a dor que amola os dentes.
De tanto morder no concreto
Já me olham como espectro
Coitado, vítima, marginal
Mas assunta seu doutor
Pra me livrar desta dor
Vou organizar meu arsenal
Vou juntar com outros irmãos
Se tiver, vou das às mãos
E juntos vamos marchar.
Vou procurar o cabeça
Para que o povo não esmoreça
Vamos juntos conversar.
Perguntar onde está a justiça
Pois chega de encher lingüiça
“Assassinos da nação”.
Quero comida pro povo
Não reforme o velho-novo
Se não vou mudar meu tom.
Eu sou fraco e desarmado
Você é forte, covarde e vinculado
Mas o povo de cabeça erguida
Luta e morre pela vida
Pois chega de escravidão
Este chicote assassino
Que mata do velho ao menino,
Um dia tomamos de sua mão.
Aí Sr doutor
Você que nunca teve Amor
Verá como dói bater.
Pois o pobre só serve de escora
Suja carne você viola-explora, o
Caquético e insignificante.
Pois de tanto amordaçado
Grita o pobre violado
De braços dados avante.
Pra não dizer que não falei de flores
Só falei de quem tem dores
Que é uma pétala decepada.
Mas a flor que menos cheira
Tornar-se-á guerrilheira,
Neste tronco apodrecido.
Vem vamos lutar
Que esperar não dá resultado
Quem espera está concordando
Com quem está nos matando.

Texto elaborado para aula
de comunicação Pastoral. Faculdade de Teologia Assunção. 1983.
Comentário da professora Bete “Aldo, mais um poeta e como”.

Mais mortes!



O ar, o cheiro e o visual  está forte.
Por todo canto e lugar
tem-se a sensação do próximo recorte.
O calar triste, frio e vazio
estatístico funeral de mais morte.
Morrer, nada tem de novo
É o ritual do existir
No  finito do infinito
Do bando a caminho do fim.
Mas ser atacado sem ver
desrespeitando o viver
do tudo ao nada saber
Que lamentando ou não 
é a  dialética  do ser.
Sem naturalizar a matança
Em massa ou individual
A morte será vencida
No  plano material.
A vida que tudo agrega
Os átomos que se desintegram
No reino humano-animal.
Anuncia-se todos os dias
Mais centenas pra vala comum
Milhares de sonhos interrompidos
O Soluço contido de dor
Mortos  e vivos corroídos
Na celebração  do desamor.
Não foi esse o combinado
Antes do tempo acertado
essas mortes, esse horror.
Da tragédia cotidiana
Que  arranca de forma insana
Velhos, manos e manas.
Já escutamos o estampido
Do fascista empedernido
Comematando em dor
Até o sólido no ar desmancha
Em nada parece   humano.
É escuridão, mas eu canto
mesmo pra uma estrela escondida
Que o sol há de brilhar
E novas vidas alimentar
Neste plano ou em outras vidas.
Reaja sem esperar.

Aldo Santos - Militante sindical e do Psol

A VIDA É ASSIM!

Assim é a Vida

Nasce o botão (criança)

Cresce florida (fica jovem)

Amadurece (cultivando a beleza)


Envelhece murchando (perde-se aquele brilho da vida)

Começa o desmanche e as transformações (cai as pétalas e sementes)

Desaparece este ciclo do existir (as sobras adubam a terra para o emergir do novo devir).

O tempo e a vida não param!

Aldo Santos - Militante sindical e do Psol

sexta-feira, 22 de maio de 2020

BOAVENTURA DESTACA A CRUEL PEDAGOGIA DO VÍRUS






Vale a pena a leitura, analise e reflexão do livro “A cruel pedagogia do Vírus”, de Boaventura de Souza Santos, uma publicação de EDIÇÕES ALMEDINAS, A.S, que de forma sintética e profunda acrescenta importantes dados e significativa elaboração neste momento de pandemia e quarentena.
               O livro foi publicado em plena pandemia – abril/2020 - onde o autor discorre em cinco capítulos as seguintes temáticas:

             
No Capítulo 1: Vírus: tudo o que é sólido se desfaz no ar;
No Capítulo 2: A trágica transparência do vírus;
No Capítulo 3: A sul da quarentena;
No Capítulo 4: A intensa pedagogia do vírus: as primeiras lições;
E no Capítulo 5: O futuro pode começar hoje.
             
               Boaventura fala da imposição do neoliberalismo a partir da década de 80, caracterizando a crise capitalista, mas destaca o aprofundamento da crise da pandemia no contexto das grandes crises. Ele afirma que diante das contradições existentes no âmbito do crescimento e desenvolvimento econômico da sociedade contemporânea, a pandemia estabelece a necessidade de outras alternativas, uma vez que “A ideia conservadora de que não há alternativa ao modo de vida imposto pelo hipercapitalismo em que vivemos cai por terra.”

              Para Boaventura, a pandemia que atinge a população mundial, levando ao trágico estranhamento que se caracteriza pelo inevitável isolamento, expressa efetivas contradições em nossa sociedade. Faz referência aos aspectos relativos ao meio ambiente, a devastadora crise econômica e, apesar de reconhecer méritos e a liderança da China, admite que o mesmo não é um pais democrático.
              O autor fala dos primitivos hábitos alimentares da China, da temeridade mundial da mesma se tornar a primeira economia mundial, mas registra que a origem do vírus não está ainda devidamente esclarecida se de fato foi na China ou não que tudo teve início.
                    “Do que sabemos com certeza é que, muito para lá do coronavírus, há uma guerra comercial entre a China e os EUA, uma guerra sem quartel que, como tudo leva a crer, terá de terminar com um vencedor e um vencido. Do ponto de vista dos EUA, é urgente neutralizar a liderança da China em quatro áreas: o fabrico de telemóveis, as telecomunicações de quinta geração (a inteligência artificial), os automóveis eléctricos e as energias renováveis.”
              Boaventura vai afirmar que a pandemia é uma alegoria, e a partir da análise filosófica vai estabelecer simbologias e vai recorrer às categorias de cunho teológico para esclarecer o momento que o mundo está atravessando.
 “O invisível todo-poderoso tanto pode ser o infinitamente grande (o deus das religiões do livro) como o infinitamente pequeno (o vírus). Em tempos recentes, emergiu um outro ser invisível todo-poderoso, nem grande nem pequeno porque disforme: os mercados. Tal como o vírus, é insidioso e imprevisível nas suas mutações, e, tal como Deus (Santíssima Trindade, encarnações), é uno e múltiplo. Exprime-se no plural, mas é singular. Ao contrário de Deus, os mercados são omnipresentes neste mundo e não no mundo do além, e, ao contrário do vírus, é uma bendição para os poderosos e uma maldição para todos os outros (a esmagadora maioria dos humanos e a totalidade da vida não humana). Apesar de omnipresentes, todos estes seres invisíveis têm espaços específicos de acolhimento: o vírus, nos corpos; deus, nos templos; os mercados, nas bolsas de valores.
Fora desses espaços, o ser humano é um ente sem-abrigo transcendental. Sujeitos a tantos seres imprevisíveis e todo-poderosos, o ser humano e toda a vida não-humana de que depende não podem deixar de ser iminentemente frágeis. Se todos estes seres invisíveis continuarem ativos, a vida humana será em breve (se o não é já) uma espécie em extinção. Está sujeita a uma ordem escatológica e aproxima-se do fim.”

              Neste capítulo, o autor faz inúmeras constatações de cunho teológico, sociológico e filosófico, concluindo com o emergir do novo intelectual da retaguarda, finalizando ainda que “De outro modo, os cidadãos estarão indefesos perante os únicos que sabem falar a sua linguagem e entender as suas inquietações. Em muitos países, esses são os pastores evangélicos conservadores ou os imãs do islamismo radical, apologistas da dominação capitalista, colonialista e patriarcal.”

              No capítulo terceiro, ele vai denominar de “A sul da quarentena”, uma categoria sociológica que tem usado em inúmeros debates no meio acadêmico e neste particular, ele sistematiza com a seguinte narrativa: “Na minha concepção, o Sul não designa um espaço geográfico. Designa um espaço-tempo político, social e cultural. É a metáfora do sofrimento humano injusto causado pela exploração capitalista, pela discriminação racial e pela discriminação sexual. Proponho-me analisar a quarentena a partir da perspectiva daqueles e daquelas que mais têm sofrido com estas formas de dominação e imaginar, também da sua perspectiva, as mudanças sociais que se impõem depois de terminar a quarentena. São muitos esses colectivos sociais.”

              Dentre esses coletivos, ela vai destacar vários, e confere às mulheres um sofrimento interminável, onde as mesmas muitas vezes são sacrificadas pelo papel social que desenvolvem, chega a mencionar que as mulheres são consideradas «as cuidadoras do mundo». Enumera várias profissões em que as mulheres representam a extensão maternal, como a enfermagem, educação, assistência social, além de se confrontarem com a permanente violência no âmbito dos lares, e com esta crise, o mesmo chega mencionar o aumento do número de divórcio na China e o aumento da violência nos espaços domésticos, citando   “O jornal francês Le Fígaro noticiava em 26 de Março, com base em informações do Ministério do Interior, que as violências conjugais tinham aumentado 36% em Paris na semana anterior.”
              Em relação aos trabalhadores da economia informal, precarizados e os considerados autônomos, ele faz uma triste constatação a partir da realidade da Índia, onde aproximadamente 70% vivem da economia informal e na América Latina, em torno de 50%, sobrevivem da informalidade, além de outros países citados pelo autor.

              Para Boaventura, o conflito humano está posto, uma vez que as medidas apresentadas pelos órgãos internacionais colocam o dilema do viver, e considerando que o poder público não dá o devido respaldo através de renda permanente via Estado, estes conflitos recaem historicamente sobre os ombros dos empobrecidos do capitalismo.

 Neste sentido, ele destaca o seguinte dilema humano: “O que significa a quarentena para trabalhadores que ganham dia-a-dia para viver dia-a-dia? Arriscarão desobedecer à quarentena para dar de comer à sua família? Como resolverão o conflito entre o dever de alimentar a família e o dever de proteger as suas vidas e a vida desta? Morrer de vírus ou morrer de fome, eis a opção.”

              Ainda nos grupos sociais mencionados, ela vai incluir os Trabalhadores da rua, precarizados também, pois sua subsistência está relacionada diretamente a partir da condição de vendedores ambulantes.
“O impedimento de trabalhar para os que vendem nos mercados informais das grandes urbes significa que potencialmente milhões de pessoas não terão dinheiro sequer para acorrer às unidades de saúde se caírem doentes ou para comprar desinfetante para as mãos e sabão.”

              Outros seguimentos que foram citados são “Os sem-abrigo ou populações de rua.” Um seguimento muito vulnerável e abandonado ao relento, nas piores condições de vida. Para o autor, os moradores nas periferias pobres das cidades, também são vítimas do abandono social e neste momento de pandemia, são igualmente vítimas da concentração de renda, em resumo, “habitam na cidade sem direito à cidade, já que, vivendo em espaços desurbanizados, não têm acesso às condições urbanas pressupostas pelo direito à cidade.”

              O autor menciona os internados em campos para refugiados, imigrantes indocumentados ou populações deslocadas internamente. Embora esta população já sofra restrição de locomoção, o risco do vírus atingir esta população é ainda mais trágico e algo precisa ser feito urgentemente. Inclui no rol de seguimentos vulneráveis, os deficientes, que “Têm sido vítimas de outra forma de dominação, além do capitalismo, do colonialismo e do patriarcado: o capacitismo.” , levando-os a uma determinada forma de reclusão permanente.

              Finalmente, neste capítulo o autor vai ainda incluir os idosos, que segundo o mesmo “a vulnerabilidade não é indiscriminada. Este grupo, particularmente numeroso no Norte global, é em geral, um dos grupos mais vulneráveis, mas a vulnerabilidade não é indiscriminada.”

              Faz menção aos presos e as pessoas com problemas mentais. Concluindo que:
“O elenco seleccionado mostra duas coisas. Por um lado, ao contrário do que é veiculado pelos media e pelas organizações internacionais, a quarentena não só torna mais visíveis, como reforça a injustiça, a discriminação, a exclusão social e o sofrimento imerecido que elas provocam. Acontece que tais assimetrias se tornam mais invisíveis em face do pânico que se apodera dos que não estão habituados a ele.”

              No quarto capítulo, “A intensa pedagogia do vírus: as primeiras lições”, o autor vai destacar a dimensão e das consequências da crise da pandemia, sem que se discuta em profundidade a causa da mesma.

              Faz referência ao caráter predatório do capitalismo em relação ao meio ambiente, “Como noticia o The Guardian de 5 de março, segundo a Organização Mundial de Saúde a poluição atmosférica, que é apenas uma das dimensões da crise ecológica, mata anualmente 7 milhões de pessoas. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, o gelo da Antártida está a derreter seis vezes mais rapidamente do que há quatro décadas, e o gelo da Groenlândia, quatro vezes mais rapidamente do que se previa. Segundo a ONU, temos dez anos para evitar a subida de 1,5 graus de temperatura global em relação à época pré-industrial, e em qualquer caso vamos sofrer.”

              O ataque a natureza é absurdo uma vez que o mercado consumista transforma tudo em mercadoria e trata a natureza como fonte inesgotável, todavia, “O planeta tem de se defender para garantir a sua vida. A vida humana é uma ínfima parte (0,01%) da vida planetária a defender.”

              Em relação a causa das mazelas sociais, dos conflitos e pandemias no sistema capitalista o mesmo vai afirmar que “Enquanto modelo social, o capitalismo não tem futuro.”
“Em particular, a sua versão actualmente vigente – o neoliberalismo combinado com o domínio do capital financeiro – está social e politicamente desacreditada em face da tragédia a que conduziu a sociedade global e cujas consequências são mais evidentes do que nunca neste momento de crise humanitária global.”

              De maneira sucinta, o mesmo vai concluir o capítulo com uma efetiva constatação que antecipadamente nos coloca em permanente estado de preocupação: “Estou certo de que nos próximos tempos esta pandemia nos dará mais lições e de que o fará sempre de forma cruel. Se seremos capazes de aprender é por agora uma questão em aberto.”

              Ao cabo desta pandemia, certamente outras virão e mais uma vez uma parte da sociedade ficará na lógica nagacionista ou dentro dos limites da postura curativa da medicina (neste caso sem medicamento efetivo ou vacinas), enquanto que o correto seria uma postura preventiva que deveria se antecipar à essas cíclicas pandemias, precisando para isso, efetivos investimentos ao atendimento público de saúde.

              No quinto capítulo denominado “o futuro pode começar hoje”, Boaventura vai sugerir que a pandemia e a quarentena precisam revelar outras alternativas, viabilizando novos modos de vida em função do bem comum. “Esta situação torna-se propícia a que se pense em alternativas ao modo de viver, de produzir, de consumir e de conviver nestes primeiros anos do século XXI.”

              Na busca da superação do drama provocado pela pandemia, muitos vão sonhar com novas possibilidades e alternativas, mas aos poucos “Regressarão sofregamente às ruas, ansiosos por voltar a circular livremente. Irão aos jardins, aos restaurantes, aos centros comerciais, visitarão parentes e amigos, regressarão às rotinas que, por mais pesadas e monótonas que tenham sido, parecerão agora leves e sedutoras.”

              As dificuldades para o retorno à normalidade não serão fáceis em todos os aspectos, do ponto de vista sentimental, econômico, na educação, na saúde, meio ambiente, etc. “Haverá vontade de pensar em alternativas quando a alternativa que se busca é a normalidade que se tinha antes da quarentena”? Pensar-se-á que esta normalidade foi a que conduziu à pandemia e conduzirá a outras no futuro?”.
              O autor reconhece que voltar à normalidade não será fácil e adverte sobre o que possivelmente vai acontecer: “Muito provavelmente, quando terminar a quarentena, os protestos e os saques voltarão, até porque a pobreza e a extrema pobreza vão aumentar. Tal como anteriormente, os governos vão recorrer à repressão até onde for possível, e em qualquer caso procurarão que os cidadãos baixem ainda mais as expectativas e se habituem ao novo normal.”

              Boaventura conclui o quinto capitulo apontando novos paradigmas caracterizando o papel dominante da sociedade capitalista e sugere uma nova retomada:
“A nova articulação pressupõe uma viragem epistemológica, cultural e ideológica que sustente as soluções políticas, económicas e sociais que garantam a continuidade da vida humana digna no planeta. Essa viragem tem múltiplas implicações. A primeira consiste em criar um novo senso comum, a ideia simples e evidente de que sobretudo nos últimos quarenta anos vivemos em quarentena, na quarentena política, cultural e ideológica de um capitalismo fechado sobre si próprio e a das discriminações raciais e sexuais sem as quais ele não pode subsistir. A quarentena provocada pela pandemia é afinal uma quarentena dentro de outra quarentena. Superaremos a quarentena do capitalismo quando formos capazes de imaginar o planeta como a nossa casa comum e a Natureza como a nossa mãe originária a quem devemos amor e respeito. Ela não nos pertence. Nós é que lhe pertencemos. Quando superarmos esta quarentena, estaremos mais livres das quarentenas provocadas por pandemias.”

              Neste livro nos deparamos com uma breve e profunda analise em torno desta intrigante pandemia, que de acordo com o próprio autor, “As epidemias de que o novo coronavírus é a mais recente manifestação só se transformam em problemas globais graves quando as populações dos países mais ricos do Norte global são atingidas. Foi isso que sucedeu com a epidemia da SIDA/AIDS. Em 2016, a malária matou 405 mil pessoas, a esmagadora maioria em África, e isso não foi notícia. Os exemplos podiam multiplicar-se. Por outro lado, os corpos racializados e sexualizados são sempre os mais vulneráveis perante um surto pandémico. Os seus corpos estão à partida mais vulnerabilizados pelas condições de vida que lhes são impostas socialmente pela discriminação racial ou sexual a que são sujeitos.” (https://drive.google.com/file/d/12tD1AYu1hg243WkSqxTqOftZfh8q_YKq/view?fbclid=IwAR23fSbJEo73xIUOib0ECMC8wJxzwAgMN5kPrQMrY1Wqp4MAaDcB86-ECTw)



O debate sobre o inteiro teor do livro é fundamental e com o avanço da pandemia, algumas das constatações do autor poderão ser afirmadas ou não, mas ousadamente teve o mérito de propiciar em tempo real as bases de uma necessária reflexão para orientar e despertar no campo das ciências humanas a necessidade de inferir em todos os momentos da sociedade.


Estamos em plena guerra biológica, que ataca e mata milhões, assim como numa guerra de disputas abertas ou silenciosas sobre a hegemonia política que vai dar a tônica nos próximos anos neste cenário de permanente guerra ideológica, com manifestação e enfrentamentos diretos ou através das “guerras hibridas” que tem sacudido igualmente o mundo no contexto  das sucessivas necropolíticas.

Boa leitura!

Aldo Santos – Ex-vereador em SBCampo, Membro das Diretorias da Aproffesp e Aproffib, militante do sindicato dos professores(apeoesp) e membro do Psol. 

terça-feira, 19 de maio de 2020

20 de maio não é 20 de novembro



Nós, do Movimento Negro Unificado São Paulo, repudiamos a movimentação realizada pela Prefeitura do Município de São Paulo e pelo Governo do Estado de São Paulo para antecipar o feriado do dia 20 de novembro, também conhecido como Dia Nacional da Consciência Negra. Encaramos essa movimentação como a representação de desrespeito a luta histórica do movimento negro para o combate ao racismo nesse país e, em especial, nesse estado e município.

O feriado municipal de 20 de novembro quando se celebra o Dia Nacional da Consciência Negra é uma conquista histórica do movimento negro. Foram anos de luta pelo resgate da história da população negra brasileira, das conquistas das políticas de ação afirmativa e dos espaços institucionais de gerenciamento destas políticas como as secretarias e coordenadorias de políticas de igualdade racial.
O 20 de novembro é data oficial do calendário municipal em 102 municípios do estado de São Paulo, quando Bruno Covas e João Dória se movimentam para antecipar o feriado dessa data acenam para aqueles que em todas essas cidades todos os anos se movimentam para acabar com o feriado da "Consciência Negra" e o nosso legado de lutas contra o autoritarismo e o racismo.

Temos compreensão de que é fundamental nesse momento apresentar todos os esforços para se aumentar os índices de isolamento social no município de São Paulo e do estado para combatermos a pandemia de Covid19. Porém os esforços realizados por Covas e Dória não tem sido o de garantir que a nossa população negra e periférica possa ficar em casa sem ter que morrer de fome.

Até o momento não saiu nenhuma vaga de hotel para receber as pessoas sem teto, mulheres em situação de violência na cidade e todos aqueles sem condições de isolamento social afora o tratamento dado a população da Cracolândia de ataques profundos aos direitos humanos. Sem contar a falta de consulta aos organismos de participação social da saúde, educação, assistência social que podiam estar  contribuindo de forma decisiva para a construção de políticas efetivas de isolamento social.
A justificativa que é apresentada para medida não tem respaldo na realidade de que essa manobra desrespeitosa e racista ajudaria aumentar o índice de isolamento social não se sustenta. Assim como não se sustentou ampliação do rodízio em nosso município para de diminuir a movimentação de pessoas em São Paulo. O que sustenta um aumento do isolamento social em nosso município e estado seria o alargamento de políticas de seguridade social que garantissem que o nosso povo pode ficar em casa com dignidade e isso se dá com complemento do auxílio emergencial federal com uma renda básica de cidadania própria do estado e do município.

Atacam nossos símbolos e memória da mesma forma como nos atacam ao não tirar do papel medidas importantes para a garantia das nossas vidas durante a pandemia. Quem tem morrido em São Paulo é sim o povo negro, pobre e periférico  e é o que continua a ser mais exposto por que as medidas apresentadas pelo Governo do estado e Prefeitura não se efetivam e aprofundam a perversidade racista que já existia em nossa sociedade.

Repudiamos a antecipação do feriado do Dia Nacional da Consciência Negra de 20 de novembro e exigimos que comece a se liberar as vagas de hotel para quem mais precisa, que se apresente uma política de renda básica de cidadania própria por parte do estado e município de São Paulo, que se fortaleça o SUS, que se libere profissionais de educação que ainda são obrigados a irem para as unidades escolares se expondo assim ao perigo do novo coronavírus e dessa forma que nós iremos ampliar os índices de isolamento social com responsabilidade real com nossas vidas e não vilipendiando o significado da luta antirracista construída no Brasil e no estado de São Paulo.

19 de maio de 2020

Movimento Negro Unificado - SP

domingo, 17 de maio de 2020

MUITOS NÃO VOLTARÃO PRA CASA

 O isolamento social é difícil, monótono, irritante às vezes...Mas os que estão em casa com pessoas queridas, aproveitem o momento para "curtir" juntos a presença dos que fazem parte de nossas vidas. 

E esses momentos de nossa relação nem sempre são "leves" ou de alegria e prazer. Os desencontros também fazem parte do grande encontro da existência. Muitas vezes são estrelas cadentes que nos atingem a todo momento, mas pode ser também um grande meteoro a nos atingir como atingiu o planeta Terra há 65 milhões e os dinossauros foram extintos. 

Aproveitemos esse momento de recolhimento, de isolamento social, para aprofundar nossos encontros com os que estão próximos e conosco mesmos. Esse encontro consigo e comigo mesmo é que são elas, não é fácil.

 Muitos nesses dias de isolamento, isolados, deprimidos já há tempo infelizmente acabam se encontrando do derradeiro desencontro do suicídio, cujos dados estatísticos não são divulgados porque a nossa sociedade do prazer e do espetáculo procura esconder o triste e inexplicável fenômeno daqueles que tiram a própria vida, negando-lhe, em si mesmos, o sentido que a todo momento a mídia alardeia: "A vida é bela, divirtam-se, cuidem-se, amem-se, comam e bebam".

 O suicídio nega, na prática solitária e absurda de um indivíduo, o sentido de tudo isso que viemos acreditando: em Deus, no amor, na saúde e na vida! O suicídio é um mistério, um absurdo, assim como não se explica as ações de um psico ou sociopata: simplesmente é absurdo, um fenômeno que a razão não consegue explicar, entender, e o sentimento não consegue aceitar. 

Então, àqueles que estão em casa ou que podem voltar pra casa, não desperdicem seus momentos de alegria junto aos que amam. Curtam a vida, "carpe diem", aproveitem o momento! Muitos   já partiram com essa pandemia e nunca mais poderão voltar pra casa;  e os que estão em suas casas, como eu, jamais virá aquela pessoa querida chegar em frente ao portão e ver/ouvir seu "cachorro latindo".

 Eles e elas partiram para sempre e nenhuma certeza nos garante que nos veremos de novo, que conversaremos como conversávamos e nos abraçaremos como nos abraçavamos. Respeito os que acreditam na "outra vida", no "além", num Deus todo poderoso que "está no controle" ou no Deus Cristão - Jesus Cristo - que nos ama e nos salvou. 

O desenrolar da História humana não me permite aceitar tais consolos. Os quinze mil caixões com seus mortos que foram entererrados nos últimos dois meses , lacrados com entes queridos ceifados pelo coronavírus, estão lá inertes e não podem ver ou sentir a luz do sol desse lindo dia de outono. 

Este é o triste fato. Mas curtir a vida não significa fazer churrascos e tripudiar os que partiram. Não precisamos "carregar um cemitério sobre os ombros", mas também não podemos ficar gargalhando a desgraça alheia dos que morreram ou dos que perderam seus queridos: filhos/as, pais, mães, avós, tios, irmãos/ãs. 

Por mais que a economia volte a crescer, e crescerá sempre para uma minoria, os que se foram jamais voltarão; e os que ficaram, nunca mais poderão vê-los! Por isso não tenho o direito de ficar "leve" e achar que nada aconteceu. 

Vamos viver a vida que, se não tem sentido, nada nos impede de darmos algum sentido a ela, como sugeriu o filósofo francês Jean-Paul Sartre. Para ele, tal SENTIDO não pode ser individual, pois o sentido da existência é coletivo e sempre exige de nós RESPONSABILIDADE diante de todos e diante do mundo. Mas sem desespero. Curtamos a canção interpretada por Raimundo Fagner - RETROVISOR - que canta a volta para casa, ao mesmo tempo que é "...levado pelo    "movimento que sua falta faz"...Todavia, "Quem sabe tudo estará sorrindo quando eu voltar". É triste, lamentavelmente muitos não voltarão! 

São Paulo, 17 de maio de 2020 - 

Prof. Ms. Chico Gretter - filósofo - Diretor da APROFFESP - www.aproffesp.blogspot.com 

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Tem gente!


Tem gente com fome
Tem gente que some
Tem gente sem nome
Tem  gente calado.
Tem gente sem sorte
Andando com a morte
Tem a morte matado.
Tem gente escolhida
Na esquina descida
Furando a bala perdida.
Tem gente no campo
Conurbando a cidade
Tem cidade no campo
Campeando a verdade.
Tem gente que estuda
A leitura do bem
Esquece o mundo
Vivendo do além.
Tem gente que sonha
Um sonho ultrajado
Tem gente que grita
Ao surdo acordado
Tem gente que é crente
Que planta semente
Do ser renovado.
Tem olho de águia
No campo vendado.
Atua no fronte
Enxerga o horizonte
Do mundo esgarçado.
Tem gente sem fome
Tem gente que come
Tem gente com nome
Com discurso afiado.
Caminhando com a vida
Na estrada comprida
Rumo ao mundo pensado.
Tem semente pros crentes
Mas com armas somente
Enfrente,  Enfrente
Pra cima e  pros lados.

Aldo Santos-  Militante sindical e do Psol

Cursinho Passo a Frente na luta pelo Adiamento do ENEM-#AdiaEnem e #15M.

O Cursinho Passo à Frente, em seus sete anos de aulas preparatórias para o ENEM e Vestibulares, ofertadas de forma gratuita por professores e professoras voluntários e voluntárias, tem sido espaço de formação pré universitária e organização estudantil.

 Experiência de contato e apoio mútuo entre estudantes de escola pública e o sindicato dos Professores - APEOESP Subsede São Bernardo. O cursinho oferece aulas voluntárias para aqueles que querem estudar as matérias do ENEM e vestibulares, assim como questionamento e organização contra as estruturas que impedem milhões de jovens de acessar ou que permaneçam nas universidades.

Em 15 de maio de 2019, o Cursinho Passo à Frente esteve junto com a APEOESP São Bernardo e milhões de estudantes e professores nas ruas, se manifestando contra os cortes na Educação. Hoje 15 de maio de 2020, frente a pandêmia estamos nas redes, nos manifestando pelo adiamento do ENEM, com as hashtags



#AdiaEnem e #15M.A posição do ministro da educação Weintraub é uma posição oportunista e reacionária, contrário à ciência e as medidas sanitárias. Ele usa a data do ENEM para fazer pressão contra os estudantes para que se manifestem pedindo o fim da quarentena e a volta às aulas para que possam estudar para o ENEM. A posição do governo bolsonaro é portanto chantagear estudantes, colocando em risco as vidas e sonhos daqueles que vão prestar ENEM.

Por isso em mais um 15 de maio estamos contra esse governo, inimigo da juventude e dos professores e professoras, inimigo das universidades e das ciências.

Frente à Pandemia e os problemas que enfrenta a  juventude trabalhadora, exigimos o adiamento do ENEM, bem como  exigimos   adoção imediata de um conjunto de medidas sanitárias e econômicas pra que a classe trabalhadora possa sobreviver a pandemia e seguir batalhando por seus sonhos. #AdiaEnem. #15M

Coordenação do Cursinho Passo a Frente

Apoio - Movimento Estudantil Livre

terça-feira, 12 de maio de 2020

Mandaqui, bons tempos de luta!

Reunião com históricas lideranças do Hospital
Mandaqui: Raimundo, Rodolfo, Aldo Santos, Eunice,
Terezinha e Jurandir.



Hoje, doze de maio de 2020, Dia Internacional da Enfernagem, fui despertado por uma companheira me parabenizando pelo dia da enfermagem.

Trabalhei por doze anos como auxiliar de enfermagem no Complexo Hospitalar do Mandaqui, Zona Norte da Capital de São Paulo.

Agradeci a lembrança que me fez recordar e refletir sobre essa importante atividade profissional que exerci com muito zelo e respeito aos pacientes no Hospital Mandaqui.

O Mandaqui sempre esteve muito presente na minha vida, desde o tempo em que lá fiquei internado, para tratar um problema sério de saúde e posteriormente iniciando minha vida profissional como atendente de enfermagem. Foi, digamos assim, o início da minha sobrevivência e de superação dos obstáculos da vida.

Neste período como atendente de enfermagem, presenciei uma forte epidemia de Meningite, que por muito tempo foi silenciada pela ditadura militar, lotando os hospitais, muitos foram curados, porém houve também muitas mortes.

Ingressei no Estado, através da famosa lei 500/74, lei esta que deu suporte ao atendimento às pessoas infectadas e fui para o "fronte" naquele terrível momento da vida brasileira, em plena ditadura militar.

Depois ganhei uma bolsa para fazer o curso de auxiliar de enfermagem no Hospital Maria Pia Matarazzo, próximo a Paulista, na capital. A bolsa foi em tempo integral, e, diga-se de passagem, foi um importante marco em minha vida. Foi neste período em que me casei e tive meu primeiro filho, Jardel.

Depois, como auxiliar de enfermagem, comecei exercer com mais consistência  e também comecei a tomar consciência de que só exercendo a ação de socorro não mudaria radicalmente a vida dos paciente e dos familiares, bem como a valorização profissional da categoria.

Influenciado por dois grandes comunistas, Dr Washington e Anacleto Vieira da Cruz e pela incipiente participação das comunidades Eclesiais de Base, comecei a enxergar o mundo do sofrimento, a causa da miséria social  e a necessária  tomada de partido na história.

Entendia que a resolutividade dos problemas das mortes precoces, da epidemia de meningite, da tuberculose e outras doenças não eram um castigo aos incrédulos, nem um teste de purificação dos espíritos, estava sim, diretamente, ligada aos interesses dos capitalistas e mercantilizadores da saúde.

Percebi  realmente que precisava de gente corajosa para tomar decisão política, socorrendo os pacientes  no dia a dia, mas também lutando e indo à causa dos problemas e atacá-los no seu nascedouro.

Com a ditadura militar em pleno vigor, informantes por todos os lados, com direitos sociais mitigados como o direito à organização sindical, mesmo assim,  com toda a coragem e enfrentamentos necessários, fundamos a Associação dos Funcionários do Hospital Mandaqui e, em nível estadual, fundamos a ASSES - Associação dos Servidores da Saúde  do Estado de São Paulo, onde fui o primeiro presidente, e , sem saber como organizar a luta dos trabalhadores, um dia fomos na Associação dos funcionários do Iamspe, e rapidamente tomamos consciência de como organizar a luta. Assim realizamos a primeira greve, depois de quarenta anos de existência do Hospital Mandaqui, em 1979.

Eu, Jurandir, Anacleto, Eneias, Dejair e Duarte, iniciamos uma forte luta e depois outros militantes foram surgindo daquela batalha e levantando a bandeira  dos direitos sindicais e de um partido com a cara dos trabalhadores.

Foi um momento de luta  muito intenso, com pessoas sendo assassinadas, presas e nós fomos perseguidos  no trabalho e intimados a ir ao DEOPS/SP, mas mesmo assim, enfrentamos com coragem, valentia e cabeça erguida.

Fizemos várias greves, e posteriormente fui punido várias vezes, até que em meados de 1984, 1985 fui expulso pela direção do hospital do Mandaqui em conluio com a Secretaria de saúde do Estado.

Covardemente me expulsaram durante uma punição de afastamento do trabalho por 30 dias, sem direito ao salário e ao final dos trinta dias, fui "aleatoriamente" transferido para um centro de saúde no Heliópolis, com pouquíssimos funcionários.

Em 1985, comecei a lecionar em Diadema e tive uma forte pneumonia, ficando internado no servidor estadual, foi  quando perceberam o acúmulo, e de imediato tive que optar entre ficar na saúde ou na educação.

Mais uma vez a luta que fizemos pela instituição da lei 500/74, foi a lei que permitiu meu contrato nos quadros da secretaria de educação- ACT- Admitidos em caráter temporário.

No Mandaqui, fui punido várias vezes por denunciar as condições de precarização com o atendimento aos pacientes e funcionários, bem como, as precárias condições de trabalho dos servidores estaduais.

Desde criança meu grande sonho era ser Médico, mas pelas circunstâncias da vida não consegui vencer os obstáculos, mas, mesmo assim, me realizei como alguém que sabe a dor dos outros e a responsabilidade e respeito que a profissão   exige  com  os que    enveredam por este caminho.

Neste momento de pandemia, com um vírus assassino e com um governo genocida, não existe outro caminho a não ser lutar, lutar e lutar pela saúde pública, fortalecendo o SUS, com fortes investimentos necessários. A valorização profissional e salarial é urgente e fundamental.

Neste sentido, além do reconhecimento do fundamental papel dos trabalhadores/as da saúde pública é indispensável a luta por aumento salarial já, cumprimento da bandeira de luta de redução da jornada para 30 horas semanais, sem redução de salário, assegurar EPIs a todos e todas, bem como  atender as entidades sindicais com suas pautas gerais e específicas.

Em nome e em defesa de uma saúde pública ampla, universal e irrestrita, é necessário e urgente o fora Bolsonaro, fora Mourão e eleições diretas Já!

Aldo Santos- Militante sindical, membro das diretorias da Aproffesp e Aproffib, militante do Psol e dirigente da corrente política – Enfrente!

sábado, 9 de maio de 2020

Diálogos Pertinentes (Chico Gretter, Alessandra Gurgel e Aldo Santos)



Chico Gretter:
Boa tarde, tudo bom? Imagina isso, com o “solzão” que está por aí e o pessoal que gosta de praia não pode ir; está um sol cabeça, eu vejo pela minha janela aqui com meus e minhas sabiás, maior barato, depois eu mando foto.

 Alessandra, eu vou te contar uma história, vou contar para todo mundo, para as pessoas que não sabem. Aldo, eu só tomei meia cerveja... Estou legal, já gravei programa hoje, acordei às seis horas da manhã, gravei o programa que vai ao ar à noite sobre o tema: “EAD - Educação à distância, mas o que é isto?” (#falachico #fatosnãofakes).

No programa eu comento a entrevista do meu amigo, Marco Silva, doutor em educação; o cara é “fera”, ele é quietão, mineiro, você sabe como é que é. Olha, eu tento abordar, tento reunir ali, com a entrevista dele e tudo mais, as questões fundamentais desse negócio da EAD e do governo João Dória/Rossieli. Você sabe que o PSDB, os tucanos, esse pessoal todo aí, o que eles estão tentando fazer, como sempre fizeram: impor suas “novidades” sem diálogo com a categoria. Vai ao ar hoje à noite (29/04), às 10:30 horas. Mas, Alessandra, voltando ao assunto, eu vou contar a história. 
É o seguinte: nós estávamos numa reunião para colocar o nome da APROFFESP, que não era a APROFFESP ainda, não tínhamos um nome. Aí, o Aldo falou, sempre com aquela sabedoria dele, pois havia a Associação dos Professores de Filosofia, a AFESP, havia a SEAF nacional; eu pertenci à AFESP Associação Filosófica do Estado de São Paulo, que só aceitava filósofos, os caras grandões, da elite da Filosofia. Sabe como é que é, os professores da USP, da UNICAMP. A AFESP - Associação Filosófica do Estado de São Paulo - só tinha os bacanas, mestrado, doutorado, o resto era o resto, professor era nada, professor do Ensino Médio nem pensar. Aí, o Aldo, eu e outras pessoas, que não me lembro agora, pensamos assim: “Vamos fazer uma Associação de Filosofia, de professores/as de Filosofia e também de filósofos/as”. Foi essa a grande ideia, que acho foi do Aldo, “Associação dos Professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo”. 
Quando a gente colocou filósofos, começou uma grande discussão, que é uma discussão semelhante no caso da profissão de jornalista.

 Eu não preciso ser formado em filosofia para ser filósofo, aliás já dizia Gramsci, que todos somos filósofos/as; por exemplo, existe você, Alessandra Gurgel, que é historiadora, mas é também filósofa, pois participa dos debates, faz reflexões filosóficas; e tem muitos que dão aula de filosofia e a filosofia não fecha a porta, a filosofia abre a comporta. Sócrates saía nas praças públicas, debatia com todos. 
Então, essa grande sacada da APROFFESP foi fantástica, porque Associação dos Professores de Filosofia e filósofos/as, pois há muita gente que é filósofo, que milita aqui e milita ali em outras áreas, são formados em outras áreas, mas são filósofos reconhecidos, embora não sejam graduados em Filosofia.

 Então, a gente lutou por isso, e não foi fácil não, não foi fácil não mudar esse conceito de filosofia, como Gramsci já tinha falado. Todavia, há sim os especialistas, certo? Eu sou formado em Filosofia e sou especialista numa área, o Aldo é especialista em outra, a Lúcia, a Sônia em outras áreas, somos especialistas dentro da Filosofia.

A Filosofia, e Antônio Gramsci, Sócrates, tiveram a grande ideia. Quando Gramsci diz que nem todo mundo é entomólogo, que é um especialista em inseto, nem todos são especialistas em aparelho de respiração, nem todos são especialistas em música, etc., mas todos pensam, por isso mesmo todos podem ser filósofos; e nós filósofos somos especialistas no pensamento e todos pensam! Olha, quando alguém descobrir isso, meus amigos e amigas filósofas, então descobriremos a riqueza e o “perigo” da filosofia, porque a gente pensa (reflete) o próprio pensamento!

Quando qualquer um diz: “Aquela rosa é bonita”, o filósofo pergunta: “O que é bonito?” “Porque ela é vermelha, eu amo vermelho e não gosto do amarelo, ou detesto azul”. Então, quer dizer que a rosa é bonita porque é vermelha? Mas o que é bonito? O que é vermelho, amarelo, azul? O que é a beleza? Está vendo a questão aí, o que é o ser das coisas? Parece pouco, mas não é; acontece que a maioria fica na superfície das coisas, no senso comum que nos é imposto pela tradição ou pelas “autoridades” que dominam as sociedades.

Por isso, perguntar pelo que as coisas são é uma das questões centrais da reflexão filosófica. Essa é a discussão que a Escola sem Partido tentou nos tirar e não conseguiram; que os governos sucessivos tentam nos tirar, mas não conseguirão, embora haja retrocessos. Eles perseguem e desqualificam a Filosofia porque a temem!

Então, Alessandra Gurgel, você é uma filósofa, eu sou o primeiro a dar o voto a você, que você entre no grupo da Filosofia – COMUNICAÇÃO APROFFESP, porque você é também uma filósofa. E como graduada em História, terá muitas questões para fazer conosco e enriquecer o debate filosófico, mesmo porque, como afirmaram Marx e Nietzsche, é impossível filosofar sem a contribuição da História! E completo, não há como filosofar sem a contribuição de todas as ciências e saberes!

Forte abraço, me desculpe pelas digressões, pois se tomei meia cerveja e já estou assim, imagine quando tomar duas. Meus amigos, vocês não sabem o que é - eu vou fazer um vídeo e enviar para vocês - o que é olhar aqui para os sabiás da minha janela, eles/as virem aqui pegar o mamão que eu botei na sacada; eles/as vêm aqui, olham para cá, olham para lá e pegam o mamão, comem aqui mesmo ou levam para o galho do abacateiro que fica em frente; é fantástico! Mais ainda é “conversar” com os sabiás, o maior barato, sem contar o resto. Até com eles é possível filosofar, ah! Ah!

Então, minha amiga, Alessandra Gurgel, você tem o meu voto para ser adicionada ao grupo de filósofos/as. Abraço para vocês, tchau!

Chico Gretter: professor de Filosofia, mestrado em Filosofia e História da Educação pela FEUSP, Diretor da APROFFESP.  
***

Alessandra Gurgel

Nossa, muito obrigada, me senti lisonjeada por ser chamada de filósofa. Sempre achei a disciplina mais complexa de todas, mãe todas, a matriz de todas, justamente porque pensa o pensamento, pensa o pensar.

Eu uso muitas vezes a maiêutica em sala de aula, Filosofia indispensável. Apesar de eu ser uma historiadora, ter uma formação de historiador é muito pesada, forte. Tô falando no método de investigação científica, de fazer escavação, de escavar, de destrinchar, de pesquisar, de buscar fontes, enfim, todo o método historiográfico.

Mas realmente agora me senti muito elogiada. Também não tenho mestrado e doutorado, não sou mestra, não sou doutora.

 Que bom que alguém encabeçou essa luta. Também sou uma professora de escola pública, e sei que meu currículo ele é manchado em certos pontos, manchado em dois aspectos. Manchado por estar há tantos anos na escola pública, eu sei que isso é como se fosse uma mácula para empresas privadas. Como se fosse uma máquina no currículo. E se jogar meu nome no Google vai aparecer muita coisa da luta da classe trabalhadora.

Meu nome felizmente está gravado na história das lutas da classe trabalhadora. Isso é outra mácula também para o currículo, para as empresas privadas, para os tubarões da educação, são máculas curriculares. Mas são fontes de imenso orgulho para mim, eu posso me orgulhar porque é difícil. Que nem quando esse pessoal fica falando de orgulho hétero, eu dou risada, eu falo ‘Nossa, porque orgulho? Tá difícil ser hétero?’.

A gente tem que ter orgulho daquilo que é difícil de fazer, ser lutador a vida inteira muito difícil.  Então, é possível para a gente se orgulhar. Tenho muito orgulho da minha história da minha trajetória, e não faria diferente disso.

 Mas de fato poder estar ao lado dos filósofos, e sim sei do perigo que representa a filosofia. Aliás, Sócrates pagou com a própria vida, Gramsci também pagou com a própria vida pelos perigos da filosofia, o quão ela é perigosa.

Muito obrigada Chico, imagina quando você tomar as duas latinhas. Eu tenho evitado tomar umas latinhas, porque senão não consigo fazer o que tenho que fazer, não dou conta. Está sendo bem raro, estou espaçando cada vez mais o momento de tomar uma latinha. Tomar uma latinha não porque se eu tomar uma latinha eu morro, tomar o conteúdo da lata, a cerveja.
Grande abraço, Chico.

***

Aldo Santos:
Oi, Chico. Tudo bem? É o Aldo, e aí rapaz. Você tá andando muito viu, você tá saindo muito, você se cuida porque esse vírus não brinca em serviço.

 Então, esse negócio de ficar saindo, eu acho que você tá abusando. Mas tudo bem, fazer o quê? A gente fala, fala, mas esse povo não entende.

Mas deixa eu te dizer o seguinte, você lembrou muito bem da questão conceitual sobre o ser  filósofo, portanto, acho que é bom narrar isso e transcrever talvez um dia essa recuperação da história como parte da  nossa honestidade intelectual, da história tanto da filosofia, quanto a história de uma análise geral, da história organizativa das entidades associativas, sindicais ou partidárias.

Sempre é importante fortalecer essa seriedade e honestidade intelectual das coisas. Só para dizer que de fato essa polêmica no início da APROFFESP foi uma polêmica que teve muitos debates e questionamentos, polêmica esta que eu comprei muita briga com muita gente. No primeiro momento nem tanto.

 Mas, de qualquer forma, foi uma grande polêmica com o passar do tempo, porque o critério que na minha cabeça dava consistência aquilo que eu estava defendendo, que era o critério da existência da entidade, que nós não tínhamos o número de professores de filosofia suficiente para compor a nossa primeira diretoria.

Se você fizer uma análise de todas as diretorias, você vai ver que nós temos professores/as  que, via de regra, não são professores graduados em filosofia, todavia,  eu estava convencido que era necessário fazer uma reflexão sobre o papel do que é ser um professor de filosofia e o que é ser um filósofo. E, na minha opinião, esse debate foi uma grande sacada,  pois,  a partir da clareza  conceitual, eu apresentei essa proposta numa reunião, que num primeiro momento ela foi analisada com uma certa dúvida  se a denominação seria  Associação de Filosofia e filósofos, ou professores de filosofia do Estado de São Paulo. Sustentei que era fundamental manter o caráter e o papel do filósofo, até porque tinha pessoas que estavam na militância conosco, ajudando a organizar a luta sindical, e também ajudando na efetivação da própria APROFFESP.

Naquele momento,  independentemente da sua graduação em filosofia ou não,  no meu entendimento todas as pessoas filosofam.  A filosofia não é uma atribuição de quem  passou na academia, uma vez que temos grandes filósofos populares, grandes argumentadores que não passaram pela academia, e são, digamos assim, grandes argumentadores ou mais importantes do que quem passou e estudou ou leu não sei quantos livros, mas não dialogou com a vida concreta do nosso povo.

 Então, essa foi uma  grande polêmica, e paguei um preço caro, pois perdi algumas pessoas amigas que achavam que eu estava errado e que eu não deveria manter essa postura de misturar o filósofo com  o professor de Filosofia.

Mesmo dentro da perspectiva de Gramsci, você tem uma leitura do mundo e o próprio conceito do que é filosofar já foi pautado. Filosofar não se limita a alguém que ficou num quarto, isolado do mundo escrevendo livros e mais livros, este pode ter dado uma contribuição importante a base intelectual, mas a filosofia não pode continuar com essa perspectiva um pouco monástica, ela tem que avançar na perspectiva do que pensou Karl Marx, que num recorte classista, afirmou:cabe aos militantes sindicais,  aos filósofos/as, aos estudantes, professores/as, aos operários “Não só enxergar o mundo e naturaliza-lo como tal, mas sim, transformar o mundo em que  vivemos.”


Então, todas as pessoas que têm uma leitura de mundo, uma leitura transformadora do mundo e se compromete com essa leitura transformadora, na minha opinião, todos são filósofos/as. Portanto, esse debate é um debate importante, uma vez que segurei essa bronca  no inicio  da APROFFESP, depois quando foi feito a proposta de fundação da APROFFIB  também segurei essa mesma bronca, com essa mesma argumentação e essa mesma compreensão.

Eu não posso dizer que um Patativa do Assaré não é um grande filósofo, uma vez que  além das obras que ele tem, ele falou e declamou sobre o mundo concreto do migrante, ele falou do mundo real, ele falou do mundo que não apareceria nos livros didáticos tão somente. Mas, falou da vida de um povo,  tendo como exemplo, algumas das suas poesias, uma verdaeira obra de arte, a expressão do belo. E assim como ele, inúmeros outros.

 Não dá para dizer que  Paulo Freire não é um grande filósofo “Ah, mas ele é da Pedagogia”. Isso é uma visão reducionista.

Não dá para dizer que pessoas que nos ajudaram na formação da APROFFESP, não filosofam. Eu me recordo de imediato da companheira Rita da Subsede  de Salto, da Naiara, do André Sapanos e da Soninha, da atual diretoria, dentre outros/as, que mesmo não tendo graduação em filosofia, eles tem efetivo  compromisso com o anseio de mudança do nosso povo, bem como  com a transformação libertária do nosso mundo. Portanto, são filósofos/as. Esse é um debate que para mim está superado, embora, frequentemente ele tem que ser enfrentado.

 Essa visão de mundo compartimentada, aqui é  área da filosofia, aqui é  área do historiador, aqui é  área do geógrafo, do químico, da matemática,  isso é uma visão, digamos para fins  didático, mas eu acho que o conhecimento filosófico é, digamos assim, um abraço maior que transita por todo o universo do conhecimento planetário, absolutamente atual e fundamental. E todos e todas que transitam nesse universo do conhecimento, filosofam para o bem ou para o mal, a depender da expectativa e da perspectiva que os interesses  sociais  exigem.

Abraço Chico, pare de tomar cerveja, cuide da sua saúde e vamos vencer mais essa batalha, porque temos muito o que fazer, dialogar e o que compor com os filósofos e as filósofas do nosso mundo e da nossa classe.

Forte abraço, e claro, a Alessandra está dentro desse espectro geral que eu mencionei aqui também, portanto, será bem-vinda ao nosso grupo de professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo e da APROFFIB também e de todos segmentos que ela tenha disposição em participar.
***
Transcrição de áudio postado na página da corrente política: Enfrente!

HISTÓRIA DE JOSIAS RAIMUNDO DOS SANTOS ( NOSSA HISTÓRIA)

Festa de fim de ano 2005/2006, na chácara da Tânia em São Carlos.
Cleonaldo, Valter, Josias Raimundo,Aldo Santos, Alda, Chicão, Tânia,
Erivaldo, Raimundo e fernando-amigo da Família.

Hoje, (09/05/2020) completa dez  anos que o Pai Morreu.
Saudades, histórias e vidas que seguem...

HISTÓRIA DE JOSIAS RAIMUNDO DOS SANTOS; NOSSA HISTÓRIA.

  Josias Raimundo dos Santos nasceu no dia 25 de maio de 1925 na Comarca de Missão Velha, Ceará. È filho de Maria Inês de Jesus Filha e Raimundo Pereira dos Santos. Seus avôs maternos são Raimundo Martins dos Santos e Maria Inês da Conceição, falecidos. Sua avó paterna era dona Bárbara. A Bisavó materna chamava-se Josefa Maria de Jesus, sendo que Josias não a conheceu. Todos nasceram na comarca de Missão Velha, Ceará.  Josias teve vários irmãos, sendo eles: José Raimundo dos Santos, Assis, Luzia Maria de Jesus, Anaíde Inês da Conceição, Antonio Raimundo dos Santos, Maria Inês Santos, Zeca, Mariquinha e Neco. Todos os irmãos nasceram em Brejo Santos – Ceará. A maioria não possuía registro de nascimento, tendo apenas o batistério.
A mãe de Josias, Maria Inês de Jesus Filha, faleceu em 1930 por consequência das sequelas do parto de Antonio Raimundo. Seu pai, Raimundo Pereira dos Santos faleceu em 1931 com mais ou menos 42 anos de idade. Era gordo, parecido com o neto Cleonaldo, trabalhava como distribuidor de bebidas e tinha uma propriedade de mais ou menos 20 tarefas de terra, batizada de Sítio Pau-Branco, situada no município de Brejo Santo.
O Sítio produzia milho, feijão de corda, mandioca, algodão e arroz. Após a morte de seu pai, o irmão mais velho, José Raimundo, foi para o Maranhão. Aos 16 anos de idade, Josias vem para o Estado de São Paulo. Viaja pelo rio São Francisco de vapor e pela estrada de ferro de Pirapora, chegando á São Paulo após 15 dias de viagem. Josias não tinha idade para viajar, veio fugido.
No Estado de São Paulo trabalhou de boia-fria na fazenda Monte Alvão, Presidente Prudente. Trabalhou de diarista (recebia por dia de trabalho) plantando e colhendo algodão, milho, feijão. Trabalhava muito e não ganhava quase nada.  Em 1944, voltou para Brejo Santo, Ceará. Casou-se na igreja com Maria Bevenuta de Jesus.
Dois  filhos do casal nasceram mortos. Os vivos  são: Raimundo Josias dos Santos, Francisco Josias dos Santos, Erivaldo Josias dos Santos, Aldo Josias dos Santos, Tânia Maria dos Santos, Cleonaldo dos Santos, Francisco Raimundo dos Santos e Alda Maria dos Santos. Na época de seu casamento, trabalhava na lavoura e no boteco “bodega seca”.
Nos anos de 1952 e 1953 a seca acabou com a lavoura. Josias e a família, não vendo outra saída, migram para São Paulo. Viajaram 18 dias de Pau-de-arara. Em São Paulo, foram morar na fazenda Santa Amália, Rancharia. Josias trabalhava como boia-fria.
Em 1958, foi trabalhar como cortador de lenha em Porto Alvorada, no Paraná, com o Seu Zé, um Cearense cuja passagem de volta nós pagamos. Foram morar depois na fazenda Palmeira, Murutinga do Sul. Trabalhou com o arrendatário Arlindo e depois com o Sr. Horácio Miranda. Esta região era conhecida como ‘terra de cascavel”.   Depois foram para Mesópolis trabalhar na lavoura também como arrendatário.

Nesta época, Josias comprou um sítio de dois alqueires localizado na fazenda São João. Depois adquiriu mais dois alqueires da terra vizinha á sua.  Em 1971, depois do fracasso da lavoura, a família de Josias migra para São Paulo. Foram morar no Bairro Independência, São Bernardo do Campo e depois em Diadema. Estudou na época em que a palmatória era usada como castigo nas escolas.

Na Grande São Paulo, trabalhou de ajudante geral na Mercedes e na Panex. Josias adquiriu doenças ligadas á pressão arterial e precisou ser aposentado. Sua aposentadoria foi feita pelo Dr. Aron. Morou muitos anos em Diadema e atualmente mora com os filhos..( Relato da história oral de Josias Raimundo dos Santos a seu filho  Aldo Josias dos Santos em 07/02/99)
Depois de viver boa parte da vida, na idade de Diadema, no Jardim Santa Cândida, por motivos de saúde muda-se para Hortolândia, onde num primeiro momento morou próximo a Dona Maria, mudando-se posteriormente para  a chácara do Chicão em outro  bairro da cidade.Com a saúde debilitada,  no dia 9 de maio de 2010, aos 86 anos de idade,  morreu num hospital de campinas , deixando filhos, netos e bisnetos.  O seu corpo foi enterrado no cemitério do jardim das colinas em Sbcampo, juntamente com Maria Bevenuta de Jesus.
Meu pai teve uma vida marcada pelo sofrimento e como migrante  viveu, batalhou e lutou para criar os filhos, deixando  para eles os  valores éticos e morais de sua época, além de uma grande  e próspera família, com netos e bisnetos  espalhados  em várias partes do Brasil.
Quanto mais o tempo passa, mais valorizamos e compreendemos o significado da vida, a gratidão por nos criarem em condições adversas, longe das ciladas, das imoralidades e da falta de ética tão presente no mundo em que vivemos.

Sr. Josias:
“Simples como a vida,
Duro como a vida,
Porém vitorioso
Pelo que de belo existe
Em cada um dos que descendem
de Josias Raimundo dos Santos.”
(Aldo Santos)

Além do Espelho
João Nogueira
Composição :
João Nogueira e Paulo César Pinheiro

Quando eu olho o meu olho além do espelho
Tem alguém que me olha e não sou eu
Vive dentro do meu olho vermelho
É o olhar de meu pai que já morreu
O meu olho parece um aparelho
De quem sempre me olhou e protegeu
Assim como meu olho dá conselho
Quando eu olho no olhar de um filho meu
A vida é sempre uma missão
A morte uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu
Sempre que um filho meu me dá um beijo
Sei que o amor de meu pai não se perdeu
Só de ver seu olhar sei seu desejo
Assim como meu pai sabia o meu
Mas meu pai foi-se embora no cortejo
E eu no espelho chorei porque doeu
Só que olhando meu filho agora eu vejo
Ele é o espelho do espelho que sou eu
A vida é sempre uma missão
A morte uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu
Toda imagem no espelho refletida
Tem mil faces que o tempo ali prendeu
Todos têm qualquer coisa repetida
Um pedaço de quem nos concebeu
A missão de meu pai já foi cumprida
Vou cumprir a missão que Deus me deu
Se meu pai foi o espelho em minha vida
Quero ser pro meu filho espelho seu
A vida é sempre uma missão
A morte uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu
E o meu medo maior é o espelho se quebrar
E o meu medo maior é o espelho se quebrar
E o meu medo maior é o espelho se quebrar
E o meu medo maior é o espelho se quebrar

Seu Josias
Presente Hoje e Sempre!

Escute o Hino do Nordestino que descreve a vida dos migrantes e  da nossa família.

Triste Partida (cantada por Luiz Gonzaga)
Patativa do Assaré

Meu Deus, meu Deus. . .
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai

A treze do mês
Ele fez experiência
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai

Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois a barra não tem
Ai, ai, ai, ai

Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai

Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Senhor São José
Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai

Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai

Nós vamos a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai

E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também
Meu Deus, meu Deus
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem
Ai, ai, ai, ai

Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrível
Que tudo devora
Lhe bota pra fora
Da terra natá
Ai, ai, ai, ai

O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar
Ai, ai, ai, ai

No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus
Tão triste, coitado
Falando saudoso
Seu filho choroso
Exclama a dizer
Ai, ai, ai, ai

De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus
Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer
Ai, ai, ai, ai

E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus
Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou
Ai, ai, ai, ai

E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo azul
Meu Deus, meu Deus
O pai, pesaroso
Nos filho pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul
Ai, ai, ai, ai

Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Procura um patrão
Meu Deus, meu Deus
Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão
Ai, ai, ai, ai

Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, ai

Se arguma notícia
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus
Lhe bate no peito
Saudade lhe molho
E as água nos óio
Começa a cair
Ai, ai, ai, ai

Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus
O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai

Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
À lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai


Composição: Patativa do Assaré.



Súplica Cearense.