Festa de fim de ano 2005/2006, na chácara da Tânia em São Carlos. Cleonaldo, Valter, Josias Raimundo,Aldo Santos, Alda, Chicão, Tânia, Erivaldo, Raimundo e fernando-amigo da Família. |
Hoje, (09/05/2020) completa dez anos que o Pai Morreu.
Saudades, histórias e vidas que seguem...
HISTÓRIA DE JOSIAS RAIMUNDO DOS SANTOS; NOSSA HISTÓRIA.
Josias Raimundo dos
Santos nasceu no dia 25 de maio de 1925 na Comarca de Missão Velha, Ceará. È
filho de Maria Inês de Jesus Filha e Raimundo Pereira dos Santos. Seus avôs
maternos são Raimundo Martins dos Santos e Maria Inês da Conceição, falecidos.
Sua avó paterna era dona Bárbara. A Bisavó materna chamava-se Josefa Maria de
Jesus, sendo que Josias não a conheceu. Todos nasceram na comarca de Missão
Velha, Ceará. Josias teve vários irmãos,
sendo eles: José Raimundo dos Santos, Assis, Luzia Maria de Jesus, Anaíde Inês da Conceição, Antonio Raimundo dos Santos, Maria Inês Santos, Zeca, Mariquinha e
Neco. Todos os irmãos nasceram em Brejo Santos – Ceará. A maioria não possuía
registro de nascimento, tendo apenas o batistério.
A mãe de Josias, Maria Inês de Jesus Filha, faleceu em 1930
por consequência das sequelas do parto de Antonio Raimundo. Seu pai, Raimundo
Pereira dos Santos faleceu em 1931 com mais ou menos 42 anos de idade. Era
gordo, parecido com o neto Cleonaldo, trabalhava como distribuidor de bebidas e
tinha uma propriedade de mais ou menos 20 tarefas de terra, batizada de Sítio
Pau-Branco, situada no município de Brejo Santo.
O Sítio produzia milho, feijão de corda, mandioca, algodão e
arroz. Após a morte de seu pai, o irmão mais velho, José Raimundo, foi para o
Maranhão. Aos 16 anos de idade, Josias vem para o Estado de São Paulo. Viaja
pelo rio São Francisco de vapor e pela estrada de ferro de Pirapora, chegando á
São Paulo após 15 dias de viagem. Josias não tinha idade para viajar, veio
fugido.
No Estado de São Paulo trabalhou de boia-fria na fazenda
Monte Alvão, Presidente Prudente. Trabalhou de diarista (recebia por dia de
trabalho) plantando e colhendo algodão, milho, feijão. Trabalhava muito e não
ganhava quase nada. Em 1944, voltou para
Brejo Santo, Ceará. Casou-se na igreja com Maria Bevenuta de Jesus.
Dois filhos do casal
nasceram mortos. Os vivos são: Raimundo
Josias dos Santos, Francisco Josias dos Santos, Erivaldo Josias dos Santos,
Aldo Josias dos Santos, Tânia Maria dos Santos, Cleonaldo dos Santos, Francisco
Raimundo dos Santos e Alda Maria dos Santos. Na época de seu casamento,
trabalhava na lavoura e no boteco “bodega seca”.
Nos anos de 1952 e 1953 a seca acabou com a lavoura. Josias e
a família, não vendo outra saída, migram para São Paulo. Viajaram 18 dias de
Pau-de-arara. Em São Paulo, foram morar na fazenda Santa Amália, Rancharia.
Josias trabalhava como boia-fria.
Em 1958, foi trabalhar como cortador de lenha em Porto
Alvorada, no Paraná, com o Seu Zé, um Cearense cuja passagem de volta nós
pagamos. Foram morar depois na fazenda Palmeira, Murutinga do Sul. Trabalhou
com o arrendatário Arlindo e depois com o Sr. Horácio Miranda. Esta região era
conhecida como ‘terra de cascavel”.
Depois foram para Mesópolis trabalhar na lavoura também como
arrendatário.
Nesta época, Josias comprou um sítio de dois alqueires
localizado na fazenda São João. Depois adquiriu mais dois alqueires da terra
vizinha á sua. Em 1971, depois do
fracasso da lavoura, a família de Josias migra para São Paulo. Foram morar no
Bairro Independência, São Bernardo do Campo e depois em Diadema. Estudou na
época em que a palmatória era usada como castigo nas escolas.
Na Grande São Paulo, trabalhou de ajudante geral na Mercedes
e na Panex. Josias adquiriu doenças ligadas á pressão arterial e precisou ser
aposentado. Sua aposentadoria foi feita pelo Dr. Aron. Morou muitos anos em
Diadema e atualmente mora com os filhos..( Relato da história oral de Josias
Raimundo dos Santos a seu filho Aldo
Josias dos Santos em 07/02/99)
Depois de viver boa parte da vida, na idade de Diadema, no
Jardim Santa Cândida, por motivos de saúde muda-se para Hortolândia, onde num
primeiro momento morou próximo a Dona Maria, mudando-se posteriormente
para a chácara do Chicão em outro bairro da cidade.Com a saúde debilitada, no dia 9 de maio de 2010, aos 86 anos de
idade, morreu num hospital de campinas ,
deixando filhos, netos e bisnetos. O seu
corpo foi enterrado no cemitério do jardim das colinas em Sbcampo, juntamente
com Maria Bevenuta de Jesus.
Meu pai teve uma vida marcada pelo sofrimento e como
migrante viveu, batalhou e lutou para
criar os filhos, deixando para eles
os valores éticos e morais de sua época,
além de uma grande e próspera família,
com netos e bisnetos espalhados em várias partes do Brasil.
Quanto mais o tempo passa, mais valorizamos e compreendemos o
significado da vida, a gratidão por nos criarem em condições adversas, longe
das ciladas, das imoralidades e da falta de ética tão presente no mundo em que
vivemos.
Sr. Josias:
“Simples como a vida,
Duro como a vida,
Porém vitorioso
Pelo que de belo existe
Em cada um dos que descendem
de Josias Raimundo dos Santos.”
(Aldo Santos)
Além do Espelho
João Nogueira
Composição :
João Nogueira e Paulo César Pinheiro
Quando eu olho o meu olho além do espelho
Tem alguém que me olha e não sou eu
Vive dentro do meu olho vermelho
É o olhar de meu pai que já morreu
O meu olho parece um aparelho
De quem sempre me olhou e protegeu
Assim como meu olho dá conselho
Quando eu olho no olhar de um filho meu
A vida é sempre uma missão
A morte uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu
Sempre que um filho meu me dá um beijo
Sei que o amor de meu pai não se perdeu
Só de ver seu olhar sei seu desejo
Assim como meu pai sabia o meu
Mas meu pai foi-se embora no cortejo
E eu no espelho chorei porque doeu
Só que olhando meu filho agora eu vejo
Ele é o espelho do espelho que sou eu
A vida é sempre uma missão
A morte uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu
Toda imagem no espelho refletida
Tem mil faces que o tempo ali prendeu
Todos têm qualquer coisa repetida
Um pedaço de quem nos concebeu
A missão de meu pai já foi cumprida
Vou cumprir a missão que Deus me deu
Se meu pai foi o espelho em minha vida
Quero ser pro meu filho espelho seu
A vida é sempre uma missão
A morte uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu
E o meu medo maior é o espelho se quebrar
E o meu medo maior é o espelho se quebrar
E o meu medo maior é o espelho se quebrar
E o meu medo maior é o espelho se quebrar
Seu Josias
Presente Hoje e Sempre!
Escute o Hino do Nordestino que descreve a vida dos migrantes
e da nossa família.
Triste Partida (cantada por Luiz Gonzaga)
Patativa do Assaré
Meu Deus, meu Deus. . .
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai
A treze do mês
Ele fez experiência
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois a barra não tem
Ai, ai, ai, ai
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai
Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Senhor São José
Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai
Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai
Nós vamos a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai
E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também
Meu Deus, meu Deus
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem
Ai, ai, ai, ai
Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrível
Que tudo devora
Lhe bota pra fora
Da terra natá
Ai, ai, ai, ai
O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar
Ai, ai, ai, ai
No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus
Tão triste, coitado
Falando saudoso
Seu filho choroso
Exclama a dizer
Ai, ai, ai, ai
De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus
Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer
Ai, ai, ai, ai
E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus
Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou
Ai, ai, ai, ai
E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo azul
Meu Deus, meu Deus
O pai, pesaroso
Nos filho pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul
Ai, ai, ai, ai
Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Procura um patrão
Meu Deus, meu Deus
Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão
Ai, ai, ai, ai
Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, ai
Se arguma notícia
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus
Lhe bate no peito
Saudade lhe molho
E as água nos óio
Começa a cair
Ai, ai, ai, ai
Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus
O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai
Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
À lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai
Composição: Patativa do Assaré.
Súplica Cearense.
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