Reunião com históricas lideranças do Hospital Mandaqui: Raimundo, Rodolfo, Aldo Santos, Eunice, Terezinha e Jurandir. |
Hoje, doze de maio de
2020, Dia Internacional da Enfernagem, fui despertado por uma companheira me
parabenizando pelo dia da enfermagem.
Trabalhei por doze
anos como auxiliar de enfermagem no Complexo Hospitalar do Mandaqui, Zona Norte
da Capital de São Paulo.
Agradeci a lembrança
que me fez recordar e refletir sobre essa importante atividade profissional que
exerci com muito zelo e respeito aos pacientes no Hospital Mandaqui.
O Mandaqui sempre
esteve muito presente na minha vida, desde o tempo em que lá fiquei internado,
para tratar um problema sério de saúde e posteriormente iniciando minha vida
profissional como atendente de enfermagem. Foi, digamos assim, o início da
minha sobrevivência e de superação dos obstáculos da vida.
Neste período como
atendente de enfermagem, presenciei uma forte epidemia de Meningite, que por
muito tempo foi silenciada pela ditadura militar, lotando os hospitais, muitos
foram curados, porém houve também muitas mortes.
Ingressei no Estado,
através da famosa lei 500/74, lei esta que deu suporte ao atendimento às
pessoas infectadas e fui para o "fronte" naquele terrível momento da
vida brasileira, em plena ditadura militar.
Depois ganhei uma
bolsa para fazer o curso de auxiliar de enfermagem no Hospital Maria Pia
Matarazzo, próximo a Paulista, na capital. A bolsa foi em tempo integral, e,
diga-se de passagem, foi um importante marco em minha vida. Foi neste período
em que me casei e tive meu primeiro filho, Jardel.
Depois, como auxiliar
de enfermagem, comecei exercer com mais consistência e também comecei a tomar consciência de que
só exercendo a ação de socorro não mudaria radicalmente a vida dos paciente e
dos familiares, bem como a valorização profissional da categoria.
Influenciado por dois
grandes comunistas, Dr Washington e Anacleto Vieira da Cruz e
pela incipiente participação das comunidades Eclesiais de Base, comecei a
enxergar o mundo do sofrimento, a causa da miséria social e a necessária tomada de partido na história.
Entendia que a
resolutividade dos problemas das mortes precoces, da epidemia de meningite, da
tuberculose e outras doenças não eram um castigo aos incrédulos, nem um teste
de purificação dos espíritos, estava sim, diretamente, ligada aos interesses
dos capitalistas e mercantilizadores da saúde.
Percebi realmente que precisava de gente corajosa
para tomar decisão política, socorrendo os pacientes no dia a dia, mas também lutando e indo à
causa dos problemas e atacá-los no seu nascedouro.
Com a ditadura
militar em pleno vigor, informantes por todos os lados, com direitos sociais
mitigados como o direito à organização sindical, mesmo assim, com toda a coragem e enfrentamentos
necessários, fundamos a Associação dos Funcionários do Hospital Mandaqui e, em
nível estadual, fundamos a ASSES - Associação dos Servidores da Saúde do Estado de São Paulo, onde fui o primeiro
presidente, e , sem saber como organizar a luta dos trabalhadores, um dia fomos
na Associação dos funcionários do Iamspe, e rapidamente tomamos consciência de
como organizar a luta. Assim realizamos a primeira greve, depois de quarenta
anos de existência do Hospital Mandaqui, em 1979.
Eu, Jurandir,
Anacleto, Eneias, Dejair e Duarte, iniciamos uma forte luta e depois outros
militantes foram surgindo daquela batalha e levantando a bandeira dos direitos sindicais e de um partido com a
cara dos trabalhadores.
Foi um momento de
luta muito intenso, com pessoas sendo
assassinadas, presas e nós fomos perseguidos
no trabalho e intimados a ir ao DEOPS/SP, mas mesmo
assim, enfrentamos com coragem, valentia e cabeça erguida.
Fizemos várias greves,
e posteriormente fui punido várias vezes, até que em meados de 1984, 1985 fui
expulso pela direção do hospital do Mandaqui em conluio com a Secretaria de saúde
do Estado.
Covardemente me
expulsaram durante uma punição de afastamento do trabalho por 30 dias, sem
direito ao salário e ao final dos trinta dias, fui "aleatoriamente"
transferido para um centro de saúde no Heliópolis, com pouquíssimos
funcionários.
Em 1985, comecei a
lecionar em Diadema e tive uma forte pneumonia, ficando internado no servidor
estadual, foi quando perceberam o
acúmulo, e de imediato tive que optar entre ficar na saúde ou na educação.
Mais uma vez a luta
que fizemos pela instituição da lei 500/74, foi a lei que permitiu meu contrato
nos quadros da secretaria de educação- ACT- Admitidos em caráter temporário.
No Mandaqui, fui
punido várias vezes por denunciar as condições de precarização com o
atendimento aos pacientes e funcionários, bem como, as precárias condições de
trabalho dos servidores estaduais.
Desde criança meu
grande sonho era ser Médico, mas pelas circunstâncias da vida não consegui
vencer os obstáculos, mas, mesmo assim, me realizei como alguém que sabe a dor
dos outros e a responsabilidade e respeito que a profissão exige
com os que enveredam por este caminho.
Neste momento de pandemia,
com um vírus assassino e com um governo genocida, não existe outro caminho a
não ser lutar, lutar e lutar pela saúde pública, fortalecendo o SUS, com fortes
investimentos necessários. A valorização profissional e salarial é urgente e
fundamental.
Neste sentido, além
do reconhecimento do fundamental papel dos trabalhadores/as da saúde pública é
indispensável a luta por aumento salarial já, cumprimento da bandeira de luta
de redução da jornada para 30 horas semanais, sem redução de salário, assegurar
EPIs a todos e todas, bem como atender
as entidades sindicais com suas pautas gerais e específicas.
Em nome e em defesa
de uma saúde pública ampla, universal e irrestrita, é necessário e urgente o
fora Bolsonaro, fora Mourão e eleições diretas Já!
Aldo Santos- Militante
sindical, membro das diretorias da Aproffesp e Aproffib, militante do Psol e dirigente
da corrente política – Enfrente!
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