terça-feira, 5 de maio de 2020

Cinema político: quando a sétima arte e a política se encontram



Uma modesta dica de filmes para amenizar (um pouco) este angustiante confinamento.
A Batalha de Argel
Filme assinado pelo grande diretor Gillo Pontecorvo que também dirigiu Queimada, outra obra-prima do cinema.
Considerado, por muitos, como um dos maiores filmes políticos de todos os tempos, “A Batalha de Argel” narra a luta do exército francês, entre 1954 e 1957, no combate a FLN - Frente de Libertação Nacional- organização política que lutava contra a dominação francesa, pela independência da Argélia.
No Brasil, por mostrar ações desenvolvidas pelos militantes da FLN face aos colonizadores franceses, a cópia do filme- até então proibido - foi requisitada pela Escola Superior de Guerra para ser utilizada nos cursos antiguerrilhas promovidos pelos militares.
O roteiro foi baseado em relatos de um ex-dirigente da FLN que, inclusive, participa do filme como ator. O filme didaticamente apresenta a Teoria das Pirâmides, a comparação do movimento- no caso a FLN - a uma tênia; cortar a cabeça senão voltará a germinar.
O filme é exemplar ao mostrar a intensa participação das mulheres argelinas na luta pela independência da Argélia e, ao mesmo tempo, os métodos de torturas empregados pelo exército francês.
A Batalha do Chile
Premiado documentário em três DVDs que mostra a agonia e morte do governo de Salvador Allende e a instauração de uma ditadura militar no Chile, em 1973.
O documentário suscita um debate apaixonante; é possível chegar ao socialismo, pela via pacífica, por reformas no capitalismo? Os trabalhadores devem confiar em um governo de Frente Popular?
A respeito destas questões vale a pena ler o livro “Dialética de uma Derrota”, de Carlos Altamirano dirigente do Partido Socialista Chileno que integrou a UP - Unidade Popular- que governou o Chile naqueles trágicos anos. A classe operária chilena tinha tudo e nada diante de si.
O Leopardo
Filme de 1963 dirigido pelo consagrado diretor italiano Luchino Visconti. Trata-se de uma adaptação do romance "o Leopardo" de Giuseppe Tomasi de Lampedusa, escrito em 1956.
A abordagem é a unificação da Itália em meados do século XIX e ascensão da burguesia como classe dominante.
Consciente da inevitável decadência da aristocracia e para se adaptar aos novos que se avizinhavam, para manter-se próximo ao poder e usufruir dos privilégios que isto proporciona, um membro da decadente nobreza dirá a uma frase que se tornou célebre nos meios políticos:
"É preciso mudar, para que tudo fique como está".
Queimada
Outra obra prima dirigida por Gillo Pontecorvo. Com atuação magistral de Marlon Brando no papel de William Walker agente da Coroa Britânica.
Willian Walker é enviado a uma fictícia Ilha do Caribe chamada Queimada, grande produtora de açúcar- dominada pelos portugueses- com o objetivo de praticar um golpe de Estado, via insurreição de escravos, expulsar os portugueses e colocar um governo fantoche a serviço da Coroa Britânica.
O objetivo era quebrar o monopólio da produção e comercialização do açúcar exercido pelos portugueses que ocupavam Queimada, acabar com a escravidão e instaurar o “trabalho livre” na Ilha. Abrindo assim caminho para a Coroa Britânica apossar-se da Ilha e de sua produção de açúcar e negociá-lo livremente no mercado europeu.
Temas como colonialismo, golpe de Estado, insurreição de escravos, trabalho livre verso trabalho escravo, estão presentes neste belo filme. Há também uma didática explicação sobre a vantagem do trabalho livre em relação ao trabalho escravo, dada por William Walker aos escravocratas senhores de engenho de Queimada que eram radicalmente contra o fim da escravidão. Esta explicação é um dos pontos altos do filme.
O filma Queimada é uma verdadeira aula de História. Imperdível.
Obs. Os portugueses não possuíam colônias no Caribe. Trata-se de um artifício utilizado por Gillo Pontecorvo. O importante são os temas abordados no filme, que sempre estiveram presentes na exploração das colônias pelo imperialismo europeu.
Prof. Antonio Lucas Maciel – professor de História e Sociologia.






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