A
Matemática é fundamental para entendermos os fenômenos do mundo e do próprio
ser humano, ninguém duvida disso. Porém muitos duvidam da importância que tem a
Filosofia, questionam (Questionar não é filosofar?) seu valor e falam com
desdém: “Para que Filosofia?” E expulsam a disciplina das escolas, das
empresas, do cotidiano...
Então,
quando a sociedade deixa de indagar sobre o significado, sentido e finalidade
das coisas e da existência, a nossa vida fica sem rumo, principalmente quando
enfrentamos uma catástrofe, moléstia ou qualquer coisa que nos tire da zona do
conforto ou das farsas e ilusões (como o coronavírus). Aí surgem as salvadoras
dos indivíduos: a Psicologia, a psicanálise, a psiquiatria e, claro, a
medicina; não falemos aqui do papel das religiões e seitas que oferecem a
salvação do corpo e da alma, inclusive a salvação eterna! Tudo bem, cada um se
agarra na tábua que tem. Há “tábuas” que nos mantém na superfície do rio e
outras que nos fazem afundar mais rapidamente; mesmo assim, muitos morrem
felizes, acreditando.
Mas uma coisa ninguém pode negar: todos buscamos
um sentido e uma razão para o que fazemos, sentimos, pensamos e acreditamos;
procuramos uma razão e um sentido para o nosso existir; e este sentido não é
uma mera equação individual. Ela é coletiva e transcende nosso ambiente
familiar, tribal, regional e mesmo nacional. O sentido é sempre global, sua
equação está na esfera do humano e da humanidade. E esta equação a Matemática e
nenhuma das Ciências pode responder sozinha e nem mesmo todas em seu conjunto,
porque o sentido não é a meras somas das partes; ele depende de uma formulação
e de uma fundamentação transcendental (no sentido epistemológico), para além da
concretude dos fenômenos e dos indivíduos e de suas interpretações
particulares.
Aqui
surge a função da Filosofia e do filosofar cuja reflexão não se resume e não termina na simples ou
complexa explicação do mundo, dos fenômenos,
das coisas e da vida (biológica,
social, política, econômica...);
filosofar é a busca perene do significado último da existência que é sempre
eu-com-os outros-no-mundo (cf. lebenswelt,
conceito hursseliano de “mundo da vida”); e ser com-os-outros-no-mundo supõe
dialeticamente o não-mundo, o não-ser, supõe, para os seres humanos, a morte,
não como fim biológico, mas como fim da
existência do ser . Só o ser humano sabe disso, o que torna o filosofar não um
diletantismo, um luxo, mas uma necessidade humana. Quem nega o filosofar está
negando uma das necessidades básicas o SER humano.
Como
Albert Camus, ficamos revoltados (“L’homme révolté” - 1951) com esse mundo do
mercado e dos negócios que faz da vida (saúde/doença, educação, segurança, religião, tudo, uma simples
mercadoria regida pelas leis do "deus-mercado"...e constantemente
tentam fazer da Filosofia um mero instrumento desta ou daquela moral, um
instrumento da lógica instrumental, um verniz requintado de teorias
psicológicas, e o que é pior: simplesmente desconhecem a importância essencial
da Filosofia na constituição da Ética, da Educação, da Política,
da Estética, da Ecologia...Não é à toa que as grandes
"autoridades" do mundo se sintam encurraladas diante de um simples,
todavia perigoso coronavírus, enquanto a população sente medo e se vê desamparada.
Amanhã
será outro dia e "eles" continuarão a desprezar a Filosofia e o valor
da Vida para além dos lucros, luxos e vaidades! Poucos ouviram o discurso que
Sócrates fez aos seus discípulos logo após sua condenação à morte, pelos
poderosos de seu tempo, em Atenas há 2.400 anos.
Filosofar
e re-agir é necessário!
São Paulo, 23/03/2020.
Prof. Chico Gretter, mestre em Filosofia
e História da Educação, Diretor da APROFFESP.
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