Dando início a nossa plenária, eu sou a
professora Lúcia, da cidade de Caieiras, sou presidente da APROFFESP, que o
nosso querido Aldo fundou, Associação de Professores e Professoras de Filosofia
e Filósofos do Estado de São Paulo, sou também da direção da Intersindical e
estamos aí junto com o Aldo já há algum tempo fazendo as lutas e somamos aqui
neste ato de desagravo diante dessa barbárie que a gente vê avançar nesse país.
Então, nós entendemos que o Aldo é uma causa hoje, porque não é só o Aldo que é
atacado, não é a pessoa do Aldo Santos que é atacada, mas é o militante Aldo
Santos, é o político, é o professor, é o defensor de direitos.
Por
isso nós estamos aqui hoje para realizar esse ato de desagravo. Agradecendo a
presença de todos. Seria importante que todo mundo pudesse falar, acredito que
todos aqui tenham depoimentos para contribuir, para nos lembrar de quão importante
é a luta do Aldo Santos. Como não dá
para todo mundo falar, vamos ver se a gente dá conta com as representações dos
movimentos aqui presentes. Nós temos o Fernando Tolentino, do PSOL municipal; Walmir
que é secretário da APROFFESP; Marcos, hoje eleito presidente da APROFFIB;
Serginho Hora, que era também conselheiro tutelar no momento da ocupação que
vai motivar essa condenação; Albert, do MEL
Movimento Estudantil; Hélio do MTST; Hélder da Resistência; José Geraldo,
vereador de Hortolândia; Ana Valim, jornalista; Joãozinho, APEOESP; Paulo da
APEOPESP e da TLS; Chininha da Igreja Católica; Carmelice, diretora de escola;
Sueli da Socialismo ou Barbárie; Eliana,
coordenadora da subsede APEOESP de Hortolândia; Ivanildo, da Associação Moradia
Oeste e Léo Duarte, do Conselho Tutelar.
DEPOIMENTOS
FERNANDO TOLENTINO- PRESIDENTE DO PSOL/SBC
O que está acontecendo com o companheiro
Aldo, pegando o gancho que a Lúcia disse, não é só a condenação a uma pessoa, a
um militante, é a criminalização dos movimentos sociais, como também à
militância partidária, como o ativismo sindical de modo geral, que tudo está
interligado no que se refere a lutas de classes. E na minha avaliação, isso
serve como um exemplo de arbitrariedade, porque hoje há outras arbitrariedades
que estão sendo feita, como a própria prisão do Lula, arbitrariedades cometidas
contra outras pessoas também que são inconvenientes no momento para toda essa
conjuntura.
Além do Aldo, há outros exemplos de
tentativas de conter a militância de esquerda, quem defende sem-terra, sem
teto, defende os trabalhadores, como historicamente o Aldo defendeu. A
conjuntura, muitas vezes, deixa a gente um pouco amedrontado, esse tipo de
condenação arbitrária acho que serve para isso. Quando eu estudei direito, eu
não cheguei a completar, tinha um professor que dizia "O juiz pode ser
pró-réu ou pró-reclamante, mas tem que sempre estar do lado dele mesmo."
Quem decidiu por essa arbitrariedade, muitas vezes, dá uma de Pôncio Pilatos,
lava as mãos.
E eu, em nome do pessoal, venho aqui prestar
a solidariedade e apoio incondicional ao Aldo e a todos que interessem nessa
questão de luta de classes. A gente sempre vai estar do lado dos trabalhadores
para defender os nossos interesses que são diferentes do interesse do capital,
a gente sempre vai estar nesse antagonismo entre capital e trabalho, obrigado
pela atenção.
PROFESSOR
WALMIR DA APROFFESP
Sou professor Walmir, de São Paulo, região da
Lapa, secretário da APROFFESP, companheiro do Aldo na luta na construção da entidade.
A gente está aqui hoje dando a solidariedade ao Aldo no contexto que nós
sabemos que não é de hoje a luta contra os trabalhadores. Eu milito desde minha
juventude, comecei lá no Movimento Sem Terra na região norte, na época em que
líderes do movimento eram ceifados a mando de fazendeiros, testemunhei na
época, na década de 80 também, em Rondônia, casos de assassinatos. Hoje nós
estamos vivendo a partidarização da justiça de certa maneira, a justiça burguesa
tomando o lado realmente. Enquanto nós vivemos uma perseguição no âmbito da
Educação, tentando tolher a nossa liberdade, nos acusando de partidarizar, mas
nós temos, na verdade, uma justiça partidária, uma justiça que tem lado e que
está aí a mando de outros interesses, a fim de silenciar as lideranças sociais,
as lideranças dos trabalhadores.
Então, mais do que nunca esse momento, essa
tarde aqui é para somar a força novamente em apoio ao Aldo. Mas também nessa
luta que nós vamos ter que enfrentar, de agora para frente, com relação ao
fortalecimento dessa perseguição. Então, mais que nunca, unidos, lutando e
apoiando os movimentos sociais, muita força para os movimentos sociais e força
aos trabalhadores nesse contexto de luta.
Dr. MARCOS SILVA E SILVA- PRESIDENTE DA APROFFIB
É bom a gente se reunir, às vezes, para falar
de uma pessoa que representa a luta dos movimentos sociais, a luta pela
democracia, e a gente nunca pensou que aquelas velhas teorias da conspiração de
que o sistema inteiro estaria contra ao povo, agora a gente está vendo, o
sistema inteiro está contra a gente. A gente tem que ter consciência disso, a
mídia, a polícia, o judiciário, o sistema inteiro está contra o povo.
Vou contar uma história aqui do Aldo, que é
uma história que representa o momento dele. Lá em Santo André, que é aonde
estou, teve uma manifestação, o Aldo estava naquela praça, na Concha acústica de
Santo André, do lado da igreja, de repente, o pai de uma mocinha chegou para
reclamar com o Aldo porque a menina estava ali conversando com ele sobre
política, falando de PSOL, falando de luta. O pai da menina chamou o Aldo de
canto para reprimi-lo, porque ele não queria que fizesse aquilo. Eu vendo aquela situação por inteira, tirei
uma foto do Aldo e lembrei de uma história, que eu sou de filosofia, lembrei de
Sócrates.
Para quem não conhece, o Sócrates foi um filósofo
que foi condenado por corromper a juventude, e rapidamente eu fiz a associação
entre o Aldo e o Sócrates, cada um na sua medida. Porque o Sócrates foi
condenado à morte, teve que tomar cicuta para negar a verdade que ele
manifestava com os meninos ali na democracia e o Aldo foi condenado pelo pai
porque estava “corrompendo” aquela menina ali naquela hora. Agora eu vejo do
Aldo é um pouco pior que o Sócrates. O Sócrates foi covarde, porque ele tirou a
própria vida e não quis lutar pela verdade, ele não negou a verdade, mas não
lutou por ela. O Aldo é diferente, sinto que ele não aceita a condenação, e
luta pela verdade, ou seja, luta pela justiça. E o que é mais bonito, no
momento da morte de Sócrates, praticamente ele estava sozinho, tinha cinco ou
seis com ele, no momento dessa injustiça contra o Aldo a gente percebe que ele
não está sozinho.
E uma coisa que temos que ter em nossas
cabeças, caso isso continue, não é contra o Aldo, mas é contra tudo aquilo que
nós acreditamos, é contra o direito da minoria, é contra a moradia, é contra a
educação, é contra as pessoas individuais. O Aldo representa aqui o que é o
problema da maioria, mas a gente não pode esmorecer porque ainda há luz no fim
do horizonte e essa luz é um pouco do raio de sol, PSOL.
HORÁCIO NETO- ADVOGADO
A gente quer manifestar aqui também a nossa
solidariedade ao companheiro Aldo e à outra companheira que também foi
condenada nesse processo, a Camila, que está em outra atividade agora. Então,
eu quero dizer a vocês que a gente vem lutando nesse processo desde 2004,
quando ocorreu o Movimento por Moradia no terreno da Volkswagen, e foi com a
direção do MTST, que já vem desde daquela época. Eu era vereador assim como o
Aldo, na época, eu era vereador em São Caetano. O Aldo participou no apoio ao
Movimento de Moradia dos trabalhadores e trabalhadoras diretamente como
vereador de São Bernardo, nós apoiamos também, como vereador de São Caetano,
não nos ligamos diretamente ao Movimento.
E a partir daí surgiu uma série de acusações,
a Câmara Municipal daqui isentou o companheiro Aldo de qualquer ato ilegal, mas
o Ministério Público da cidade propôs uma ação civil pública contra os líderes
do movimento, que eram do MTST, a Camila, inclusive que fazia parte, e contra o
Aldo Santos, vereador que estava apoiando o movimento. A acusação era de
praticar-se atos contra a ordem urbanística, coisas assim, desse nível, e o
processo correu os envolvidos, os participantes foram absolvidos aqui em São
Bernardo do Campo e o Ministério Público recorreu para São Paulo. Em São Paulo,
ocorreu uma dura condenação aos militantes e ao Aldo e nós recorremos para Brasília,
onde conseguimos anular esse julgamento, nós apontamos uma falha no julgamento,
porque não tinham levado em conta um dos argumentos da nossa defesa, em suma,
que o Movimento era legítimo e que a participação do parlamentar era no apoio a
esse movimento. Aí o processo voltou para São Paulo para um outro julgamento e
nisso corre os anos, e nesse outro julgamento que a gente tinha a expectativa
de que ocorreria algo diferente, o Tribunal saneou a falha que tinha sido
apontada, a omissão que tinha sido apontada e confirmou a condenação.
E a partir daí nós recorremos novamente ao
STF e ao Superior Tribunal de Justiça, mas esgotamos todos os argumentos, e não
conseguimos reverter a decisão que transitou em julgado agora recentemente, em
2018. Então, o processo voltou para São Bernardo e está agora em fase de
execução, a luta jurídica continua, inclusive com reforço dos companheiros
advogados da APEOESP e com o Luiz Eduardo Greenhalgh, que também é advogado da
APEOESP, e conhecido dos movimentos sociais.
Nós estamos fazendo resistência à uma
execução que está bloqueando as contas do Aldo Santos, e ameaçando penhorar
imóveis e assim por diante. Então, nós achamos que nesse momento cabe levantar
duas bandeiras: a bandeira jurídica, que é a resistência à essa execução, nós
entramos com recurso feito pelo companheiro da APEOESP; e estamos também
fazendo a luta política, como exemplo esse ato, e outras iniciativas que virão.
Então, quero aqui novamente manifestar solidariedade
ao companheiro Aldo e dizer que estamos juntos nessa luta, vamos até o fim,
porque esse ato na verdade é contra também a criminalização dos movimentos
sociais que já vem lá detrás, em 2004, e que hoje está tão na moda falar em
criminalização, mas lá atrás já tinha isso. Nós temos que estar juntos nessa
luta.
SERGINHO
HORA - PROFESSOR E CONSELHEIRO TUTELAR, NA ÉPOCA
Eu estava conselheiro tutelar naquele
período, o Léo, que é conselheiro hoje, também estava na ocupação, fui todos os
dias no terreno, desde do primeiro dia. Um dia antes, o Derinho passou no
conselho tutelar, a gente conversou um pouco, e aí no sábado de madrugada
ocorreu, de uma hora para outra, o número de pessoas era muito grande, o número
de crianças era muito grande. Um processo extremamente complexo, porque de onde
essas pessoas vinham não tinha saneamento básico, elas não tinham condição de
pagar aluguel, era um período difícil, de uma conjuntura extremamente difícil
do ponto de vista municipal.
O Dib era o prefeito da cidade, nós não
tínhamos projetos de moradia popular na cidade, e era o início do governo Lula.
O pessoal vai para a ocupação, alguns jovens, naquele momento o companheiro
Guilherme Boulos era uma das lideranças, a Camila e outras lideranças, algumas
ligadas à USP, eles tinham uma relação muito próxima com o projeto Meninos e
Meninas de Rua, o companheiro Marcelo Buzetto, do MST que estava junto com o
MTST nesse processo. A ocupação ocorreu porque teve um trabalho muito grande, o
projeto estava envolvido, algumas igrejas, o pastor Levi, e outros companheiros
que estavam nesse processo.
Eu estive lá todos os dias, participei do dia
inclusive que o jornalista levou o tiro, nós estávamos saindo com mil registros
de nascimento de crianças lá e o tiro aconteceu na nossa frente. Na verdade,
assaltaram um posto de gasolina que tinha ali perto e um dos jornalistas acabou
fotografando ou filmando e o pessoal que assaltou veio e pediu a câmera e o
cara não deu e deram tiro nele. E aí virou uma tragédia nacional aquele
processo, porque se voltou contra a ocupação naqueles primeiros momentos. Aquele
terreno era da Volkswagen, que devia muito imposto, estava largado aquilo, nós
participamos de todas as negociações, inclusive no comando junto com o Ivan,
Horácio, o Guilherme, Aldo, o Wagner, alguns vereadores daqui da região, com
muita gente. Um dia o Guilherme Boulos saiu no meio da negociação porque ele se
estranhou com um dos comandantes e foi embora porque o que eles queriam de fato
é desocupar de uma vez por todas.
O conselho tutelar, nós tivemos uma posição
bem interessante, na época, tentamos segurar ao máximo, fizemos uma
representação para o juiz, eu e o ILacir fomos chamados pelo juiz para falar,
porque o prefeito foi lá e pediu as nossas cabeças. A gente teve argumento para conversar com o
juiz e num determinado momento a conversa foi essa "Se você vai tirar o
pessoa de lá, você tem que arrumar um lugar para eles, não pode ser desse
jeito." Aí, o doutor Luiz tirou um pouco o pé nesse processo, mas foi
extremamente complexo. Eu estive lá no penúltimo dia, na manhã seguinte era a
desocupação, nós sabíamos porque o conselho tutelar, sempre que há uma
reintegração de posse tem a função de resguardar o direito das crianças que
estão lá.
O conselho tutelar é obrigado a acompanhar o
processo, tinha uma ordem judicial solicitando isso. Eu fui à noite lá, era uma
noite fria, o lugar era bem escuro, e aí encontrei alguns companheiros lá
dentro da ocupação, no outro dia seria a reintegração de posse. Eles usaram 800
policiais para fazer a reintegração de posse, fecharam as escolas da região,
eles tinham toda a informação. Quando eu chego lá encontro alguns companheiros sentados
no chão, entre eles o companheiro Aldo Santos, que foi presente nessa ocupação
o tempo inteiro, tentando fazer com que aquelas pessoas não tivessem seus
direitos violados mais do que elas já tinham, porque viver numa condição
daquela, debaixo de uma lona preta, daquele jeito que estava, não era
tranquilo. As noites eram frias, os dias quentes, muito quentes, muitas
crianças lá, uma situação extremamente complexa. Quando eu cheguei lá dentro,
eu posso até cometer alguma injustiça, mas encontrei a Irene sentada no chão,
companheira de Diadema, o companheiro Wagner Lino, companheiro Aldo Santos, eu
sei que tinha um advogado que estava acompanhando, eu lembro mais desse
pessoal, o Melão esteve lá o tempo inteiro, a Rosa do Fórum Municipal da
Criança, estava lá todos os dias, todas as lideranças aqui da região iam para
lá para colaborar, para que aquilo não virasse uma tragédia.
Eu vim aqui dizer o seguinte, Aldo, um
vereador só tem sentido de ser se for para estar ao lado das pessoas que
necessitam, não é fiscalizar, dar o parlamento, aquela chatice que é lá, é ir
para rua e defender aqueles que precisam, você teve a posição correta,
companheiro, e aqueles companheiros todos que estavam lá tiveram a posição
correta. Nós lutamos contra uma justiça entre aspas, que só comete injustiça,
principalmente quando é com os pobres, porque eles podiam muito bem - 3 mil
pessoas estavam lá, aquelas pessoas não tinham saneamento básico, havia muita criança,
era uma situação horrorosa - podiam muito bem ter negociado aquele terreno, as
pessoas não queriam de graça, queriam que se fizesse uma negociação.
Então, Aldo, eu vim aqui para falar que estamos
solidários, sabemos que é uma questão complexa. É difícil ficar com o salário
bloqueado, porque não é nenhum empresário que está com o pagamento trancado lá,
é um trabalhador aposentado, professor, que não deve ser 10 mil reais sua
aposentadoria. Então, eu entendo e a gente está solidário aqui, inclusive para
se juntar a qualquer solidariedade que for feita.
ALBERT
- MEL (MOVIMENTO ESTUDANTIL LIVRE)
Eu gostei muito da fala do professor que
falou sobre Sócrates, me identifiquei muito, porque o Aldo é uma figura muito
importante para a juventude. Mais do que as palavras, mas também como o papel
de educador de exemplo, acho que ele é um exemplo para gente de
responsabilidade da luta, não só de um período, mas a luta da vida inteira. Como
aquele poema, que diz "Pessoas que lutam um dia são boas, que lutam anos
são melhores ainda, agora quem luta a vida inteira são imprescindíveis".
Acho que para a gente esse é um exemplo,
principalmente essa questão da responsabilidade. E também ser responsável para
lutar contra essa condenação, que é uma condenação contra a gente, temos que
levar para as pessoas, na faculdade, na escola, no lugar de serviço essa
questão, estar divulgando, levando abaixo-assinado, chamando para o próximo
ato, acho que é uma responsabilidade inclusive moral, ainda mais nesse momento
que a gente está lutando contra o fim da aposentadoria, tem um companheiro
nosso que está com a aposentadoria ameaçada. A gente teve a eleição agora que o
Guilherme Boulos foi candidato a presidente, a gente tem um companheiro que
apoiou a ocupação que está sendo condenado, então, acho que a gente tem o dever
moral de estar todo dia falando isso com as pessoas, estar levando esse
material, estar divulgando o máximo possível e lutando, porque é a gente que
está sendo condenado também.
HÉLIO
- MILITANTE DO MTST
Referente ao Aldo Santos, essa ocupação em
2004 eu não acompanhei, eu não vou comentar nada sobre isso, mas escutei muito
sobre, ele falou muito. Inclusive, eu e o Aldo, a gente anda muito nos
movimentos, ele é uma influência para a juventude, não só para mim, mas para
todos do movimento principalmente. Sempre estava fortalecendo no momento bom ou
difícil, coloca o pé na lama, ajuda lá nos barracos, sempre vimos você lá Aldo
na Scania. Acho que é assim como o Lula, onde vai parar esse Brasil? Hoje você
ajudar os menos favorecidos, a classe trabalhadora, a classe pobre desse país,
você pode ser condenado, seguindo exemplo do Aldo Santos, onde nós vamos parar desse
jeito?
HÉLDER
- RESISTÊNCIA/PSOL
Eu vim trazer a solidariedade da Resistência,
sou o Hélder do PSOL aqui de São Bernardo. E lembrar o que alguns companheiros
já disseram, que a gente está num momento de grande ofensiva da burguesia, dos
opressores sobre os trabalhadores, e para arrancar nossos direitos eles vão
atacar aqueles que lutam pelos direitos, isso foi o que fizeram com o companheiro
Aldo Santos. Isso é o que fazem no campo do Brasil, matando os lutadores do
campo, na cidade, criminalizando os movimentos dos trabalhadores, dos Sem Teto,
o que eles querem fazer é nos esmagar e a gente tem que resistir contra isso.
A gente vê uma ofensiva tentando formalizar
com um pacote anticrime do senhor Sérgio Moro, que quer colocar a prisão após
2ª instância e ampliar o conceito de legítima defesa para o policial, que a
gente sabe que no Brasil hoje há um verdadeiro genocídio da juventude negra. A
gente sabe que nesse país se não enfrentar isso nós seremos esmagados. A gente
tem que enfrentar essa condenação ao companheiro Aldo Santos, que é uma
condenação muito grave e cassação aos direitos políticos, e também congelamento
dos bens, é um ataque a todos nós como já disseram aqui. A gente tem que seguir
firme na luta, porque senão eles vão nos derrotar e a gente não vai deixar isso
acontecer. Queria trazer essa solidariedade aqui dos companheiros da
Resistência e falar para o companheiro Aldo que a gente está na luta, a gente
vai ter que denunciar isso cada vez mais e vamos seguir firmes.
JOSÉ
GERALDO - VEREADOR DE HORTOLÂNDIA (SP)
O vereador Aldo Santos talvez seja o camarada
mais corajoso que eu já conheci até hoje e punir o Aldo Santos hoje é punir a
coragem. Mais do que punir a coragem, punir a coragem de um homem extremamente
generoso nas suas ações, do homem que sempre me ensinou, e eu quero dizer isso,
porque é necessário, a aprender de onde você está, tudo tem que ter um lado. O
Aldo sempre disse isso "De que lado você está?" O Aldo nunca ameaçou
a estar no outro lado que não fosse a classe trabalhadora, do lado dos
oprimidos. Foi com o Aldo que eu aprendi a lutar contra os preconceitos, contra
todo tipo de opressão aos trabalhadores. E o Aldo por alguns momentos abandonou
São Bernardo e foi pregar essa forma de fazer política com coerência no
interior, nós estamos no 4º mandato em Hortolândia, mas felizmente fomos
educados na política pelo Aldo. Com grande contribuição do companheiro Chicão,
grande militante, lá em Hortolândia, das causas dos que mais precisam, mas se
nós atuamos lá no movimento de moradia, no movimento da educação, dos
estudantes, foi pelo aprendizado de que vale a pena fazer política quando se
tem lado e quando se está do lado daquele que precisa da luta.
Para mim, Aldo, estar aqui, apesar da
tristeza, saber que quem luta é punido nesse país, também é uma alegria em
saber que, a partir daqueles que te oprimem, aqueles que te tentam calar, nós vamos
criar também uma revolta, uma insatisfação vai servir de aprendizado na luta
histórica, servir para a gente aqui como motivação para continuar junto com
você construindo sonhos mais libertadores, mais emancipadores, e de
solidariedade aos movimentos sociais. Não poderia não estar aqui, porque toda a
minha vida política você nos educou, nos preparou para enfrentar os momentos difíceis,
se você está num momento difícil agora, acho que todos aqueles que você deu a
mão, de uma forma ou de outra, o mínimo de coerência é vir aqui e dizer que
estamos juntos, se tiver que sofrer sofremos juntos, se tiver que lutar,
lutamos juntos. Obrigado pela sua história que tanto nos ensinou.
ANA
VALIM - JORNALISTA E ESCRITORA
Falar do Aldo é muito fácil, como jornalista sempre
o vi como notícia. Onde está o Aldo tem notícia, porque tem rebeldia, porque
tem ousadia, porque tem o lado B dos acontecimentos. Eu conheci o Aldo na
igreja católica e ele já era lado B. Eu querendo voar e o Aldo o cara alado,
mas que não voa sozinho. Ele tem sempre uma motivação, ele tem sempre uma
palavra, ele tem uma cara de taturana, mas não é tão bravo quanto parece. Então,
é isso, a gente vai apoiá-lo a vida inteira, porque ele é um mestre, para mim é
um mestre.
JOÃOZINHO
- APEOESP
Dá até calor falar do Aldo. Sou João Carlos,
sou professor de Educação Física, moro na zona leste, estou cada vez mais em
São Bernardo, e é boa essa experiência porque eu aprendo com o Aldo. Eu chamo
duas pessoas de mestre na militância política, uma é clavada de ironia e outra
a clavada de sinceridade, com o Aldo sempre falo "O, mestre, como você
está? Vamos tomar um café?" e é clavado de sinceridade. Gostei muito da citação
do Marcos, porque eu observo muito o Aldo como esse cara que é cercado pela
juventude. E quem é cercado da juventude nesse mundo duro da disputa política,
mesmo na esquerda que a gente quer o mundo justo, fraterno, solidário, é um
mundo que, às vezes, nos desumaniza, nos rouba sorriso, alegria, porque há
embate?
Nós que militamos no mundo sindical, por mais
que a gente queira desenhar um mundo mais justo, alegre, é muito pesado, e o
Aldo traz essa leveza, mesmo sendo jovem há mais tempo que a gente. Então, essa
coisa socrática que o Marcos citou, nosso Sócrates do ABC, guardando as medidas,
diferenças históricas e intelectuais, acho que ele é esse exemplo. Todos as
lutas justas o Aldo está, as lutas partidárias, as lutas da juventude, do
movimento sindical, social, e é legal a gente poder elogiar alguém que não é da
nossa corrente, nunca fui da corrente do Aldo, nunca fomos da mesma central,
quando o conheci já estava saindo da CUT.
E essa admiração sincera, quando ela não é em
troca de nada, é só em troca do exemplo, da generosidade, acho que é a coisa
mais cara, mais rica na política, que é esse desprendimento, que está sempre
cercado das pessoas mais diversas, das várias idades e das correntes. Eu sempre
brigo com os caras e essa disputa toda "Ah, mas cita muito o Aldo, ele
nunca estava aqui nesse espaço físico ou ideológico com a gente". Mas eu
cito pelo exemplo, pela caminhada pelo histórico. Então, fica aqui a
solidariedade da Escola e da Luta, da Intersindical, da APEOESP, nós nunca nos
furtamos de fazer a defesa, seja o doutor Cesar Pimentel, seja o Greenhalgh,
que foi indicação da própria oposição, o Paulo e de outros valorosos que não
estão aqui, Serginho e outros. E o que gente pode fazer para você nesse mundo
duro, agressivo, às vezes, espinhoso, é a solidariedade.
PAULO NEVES- APEOESP E TLS
Conheci o Aldo na época do PT, meados dos anos
80, o Aldo, eu, companheiro Chicão, nós travamos várias lutas, o Tonho, Elton,
Sampaio, Margarida, Ângela, Angélica também. E na realidade para mim ali foi o
jardim da infância das lutas sociais, dos movimentos políticos. Depois Aldo se
elegeu vereador, primeiro embate que nós tivemos foi de apoio diretamente
contra o PT. O Aldo foi eleito pelo PT em 88, assumiu o mandato em 89, e logo
no início do mandato teve uma ocupação no Riacho Grande, e foi o pessoal do
Jurubeba que ocupou um local depois passou a chamar Vila Lulaldo. E na época, o
pessoal veio até à Câmara tentar falar para que o Maurício desapropriasse a
área, mas ele se negou a receber o movimento, o movimento ocupou o paço, e, por
conta disso, o Aldo tinha sido ameaçado de expulsão do PT em 89. E naquela
oportunidade ele colocou o seguinte "Se o preço que eu tenho a pagar é a
expulsão do partido, eu vou pagar o preço, vou ficar do lado no movimento".
O Aldo sempre teve essa concepção de
princípio como guia. Depois teve a luta do Passe Livre e nós lotamos essa
Câmara com mais de 500 estudantes, através da UMES - União Municipal dos
Estudantes Secundaristas, nós aprovamos o projeto do passe livre, que na época
o PT dizia que era um projeto demagógico e que muitas décadas depois várias
prefeituras implementaram. Mas na época, inclusive o Aldo sofreu e teve que derrubar
o veto, o Maurício vetou e a Câmara aprovou, depois o Mauricio vetou o projeto
e depois a Câmara derrubou o veto que tinha sido apontado pelo Maurício, que entrou
na justiça para não cumprir a lei. Então, vejam que é uma sequência de lutas
sociais na área de habitação e defesa dos despossuídos, é uma sequência
encabeçando a luta e ajudando nas lutas dos movimentos sociais, ao lado do
sindical, ao lado da APOESP.
Eu lembro das batalhas que nós travamos aqui
numa greve contra o Fleury, tem até uma foto histórica em que o Aldo está praticamente
quase sendo engolido por um cachorro pastor alemão da tropa de choque. Depois
teve aquela greve de 2000 quando a tropa de choque nos encurralou na Paulista e
jogaram bomba de gás lacrimogênio e bala de borracha nos professores, e depois
no dia seguinte teve o episódio com o Covas aqui em São Bernardo, que triste
memória. Mas o Aldo sempre esteve do lado, incentivando, e enfrentando os
poderosos nesse país.
Essa questão da ocupação Santo Dias foi uma
questão pedagógica, porque concretamente foi uma atitude corajosa, correta que
o companheiro tomou, e essa punição é uma punição que a burguesia desse país
tenta apontar, encaminhando para a conclusão. Ontem eu participei de uma aula
magna na Câmara Municipal de São Paulo, que foi proferida pela professora Maria
Lucia Fattorelli, onde ela colocava alguns elementos que o Brasil foi
sequestrado por uma carta de banqueiros. Só para você ter uma ideia, há no Brasil,
hoje, 320 mil empresários que recebem mais de 300 salários mínimos e não pagam
nenhum imposto, vocês sabiam disso? No Brasil os banqueiros, as sobras dos
empréstimos consignados, quando chega no final do ano, eles depositam no Banco
Central e exigem que seja pago o chamado empréstimo remunerado de forma
voluntária, e o Banco Central tem que pagar para esses banqueiros.
Nos últimos 10 anos, o Banco Central gostou
quase 800 bilhões de reais nessa operação ilegal, que não existe previsão legal
para fazer esse tipo de alteração. E é esse tipo de roubalheira total do
saqueamento do estado brasileiro que eles querem manter. E é por isso que eles
estão punindo os lutadores, companheiros como o Aldo e outras centenas de
lutadores desse país têm sido punidos rigorosamente. Exatamente para não
questionar esse sistema, que eles querem manter submetendo milhões de
brasileiros na miséria, a morar nas piores condições, a amargarem o desemprego
que hoje atinge 60 milhões de trabalhadores desempregados ou subempregados e
com empregos precários nesse país, que foi uma política deliberada a partir de
2015.
Nós vamos continuar nessa campanha, fazer vários
atos, mexeu com o companheiro Aldo, mexeu com todos nós. A juventude uma vez
aqui falava o seguinte "O professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu
comigo". O companheiro Aldo é nosso amigo, mexeu com ele mexeu com todos
nós, se precisar vamos fazer vaquinha para garantir o salário do companheiro e
não por isso que o companheiro vai passar privação ou vai passar necessidade.
Nós vamos à luta e pode contar conosco, companheiro.
CHININHA
- MILITANTE DA IGREJA CATÓLICA
O Aldo conquistou nosso coração em 1974. Lá
em 74 que a gente começou a participar junto do movimento e o Aldo sempre foi
esse sujeito aí, querendo discutir as coisas e perguntando o porquê das coisas
e questionando a razão de ser de certas coisas. Quando ela falou que eu ia
falar aqui, lembrei de uma passagem de Dom Hélder, que ele dizia assim
"Quando eu dou pão ao pobre, sou um santo, mas quando eu pergunto a razão
da pobreza eu sou um comunista." É essa a passagem, quando ele faz essas
perguntas, a sociedade o chama de comunista, o isola. Mas, esse é o Aldo, ele
passou a vida inteira, desde que conheci o Aldo lá atrás, e toda a família
dele, ele é esse questionador, esse que quer ir a fundo nas relações. E quem
faz esse caminho, a sociedade cobra um preço, porque esse sistema que a gente
vive, esse sistema capitalista, ele transforma tudo em mercadoria. Então, quem
vive questionando que a vida não é mercadoria é um confronto a esse sistema
maluco que a gente vive, e o Aldo é esse sujeito.
CARMELICE
- DIRETORA DE ESCOLA
Gente, eu estou aqui representando a
educação, e eu quero dizer, assim, 30 anos na educação, já vivi de tudo, fui
perseguida também, eu acho isso uma injustiça muito grande o que está sendo
feito. Temos que lutar contra isso mesmo, porque quem está do lado da verdade
sempre tem aquele que quer destruir todo um trabalho. Estamos com você Aldo, é
um carinho muito grande que todos têm por ele e estamos juntos.
SUELI
- SOCIALISMO OU BARBÁRIE
Eu estava falando ali que eu queria uma fala
mais política, pensando na questão do Aldo, mas não tem como a gente não falar
um pouco da nossa história. Eu comecei a militar há 25 anos, no Movimento
Secundarista, num grupo chamado Ação Estudantil e praticamente no gabinete do
vereador Aldo Santos. Então, a gente sabe do apoio que o Aldo nos deu naquela
luta secundarista, pelo passe livre aqui na cidade, e o quanto o mandato do
Aldo era muito importante para nós que estávamos na luta naquele momento. Anos
depois eu fui ser funcionária da subsede da APEOESP, acompanhei diariamente
durante três anos também a militância do Aldo. Então, acho importante dizer
isso, que quando hoje estão atacando o lutador Aldo Santos, atacam também a
nossa luta, a nossa história na cidade, a luta de tanta gente que esteve ao
lado do Aldo neste período.
Então, agora como militante do Socialismo ou
Barbárie, dizer Aldo que nós estamos do seu lado, vamos lutar com você e contra
mais esse ataque. Nós sabemos que esse sistema vai continuar atacando os
lutadores, nós perdemos a nossa companheira Marielle, nós temos pelo país
muitos lutadores que estão sendo atacados e o Aldo é mais um deles. Então, nós
estamos juntos, não vamos deixar que isso aconteça, todo o nosso apoio Aldo.
ELIANE
- COORDENAÇÃO DA SUBSEDE SUMARÉ
Acho que todo mundo aqui tem uma história com
o Aldo, a gente lá não é diferente. Sou professora da rede estadual, diretora
da APEOESP também, comecei minha militância na APEOESP em 2001. E o Aldo foi um
dos sujeitos mais importantes para nossa subsede, hoje é uma das subsedes de
oposição mais atuante do interior. Ele deu vários exemplos, qualificou muito os
debates na subsede, elevou o nível da discussão. Conseguiu que a gente
mantivesse por esses 18 anos uma atuação que hoje orgulha muitos professores
daquela região. Assim, a gente está feliz a certo modo de ter esse número de
pessoas hoje aqui por um bem comum, porque quando ataca um lutador, ataca todos
os lutadores. Ao mesmo tempo, a gente não pode perder a nossa capacidade de nos
indignar diante das barbáries que estão sendo feitas com nossos trabalhadores e
trabalhadoras e com todo o povo do Brasil.
Acho que esse é um momento muito duro,
momento muito difícil, mas eu sempre digo que são nas lutas que a gente se
reconhece e hoje a gente se reconhece aqui numa luta muito importante, de
extrema necessidade que a gente está aqui hoje. E dizer ao Aldo que a gente
está de novo junto, ombro a ombro, para trazer nossa solidariedade de Sumaré,
Hortolândia, todos os professores e lutadores de lá. Aldo, estamos sempre
presentes.
IVANILDO
- ASSOCIAÇÃO OESTE E APEOESP
Venho como representante da APEOESP Diadema e
do Movimento de Moradia Associação Oeste, também somos DE uma organização pela
construção do Partido Operário, estamos aí na luta há algum tempo. Venho
prestar a solidariedade em nome de meus companheiros ao Aldo, é uma luta
reconhecida, que outros lutadores como Tonhão, Toni em Diadema já passaram.
Enfim, é um repeteco do que acontece contra os defensores dos oprimidos. A
gente encara esse momento da seguinte forma, em primeiro lugar, em virtude de
tudo que passamos nunca recuar, acho que o companheiro aqui é um exemplo, a
gente vive um momento de contra-ataque da grande burguesia, de contra-ataque do
grande capital financeiro, estão como aves de rapina para retirar e retomar os
direitos dos trabalhadores que foram conquistados à míngua, por isso a gente
não pode recuar.
Trata-se de um governo com fortes tendências
fascistas, basta observar os atos do cotidiano, apesar de parecerem idiotas,
uma coisa é o lado pessoal do presidente, outra coisa é o caráter de governo,
do estado, de como eles querem conduzir o estado. Então, o governo que aplaca
os direitos do povo oprimido, mas, ao mesmo tempo, reforça o estado cada vez
mais opressor. É um estado que é diminuído, aplacado quanto ao atendimento à
população, aos serviços básicos, que terceiriza, privatiza, mas é um estado que
vai se armando, que vai se ideologizando material e ideias para oprimir o povo
trabalhador. É isso, Aldo, muito obrigado.
LEO
- MEMBRO DO CONSELHO TUTELAR
Fui acampado na ocupação Santo Dias, na
verdade a gente trabalhou fazendo trabalho de base dois anos antes da ocupação,
fiquei lá do primeiro ao último dia. Quando eu convidei meu filho para vir
hoje, o João, que hoje tem 17 anos, ele falou "Quem é Aldo Santos,
pai?" Eu falei "Aldo Santos foi um dos vereadores que defendeu os
direitos de a gente continuar morando no lugar que nós ocupamos, quando você
tinha apenas três meses de idade". Hoje ele já está com 17 anos e tem
acompanhado algumas lutas que a gente tem travado aqui no município. É até
emocionante falar daquele processo de ocupação e do apoio que o Aldo Santos nos
deu, porque a ocupação é uma forma de denunciar o déficit em moradia, ninguém
quer morar embaixo de uma lona preta, ninguém quer morar numa área de risco, as
pessoas lutam para ficarem bem, morarem bem. E o que nós estávamos fazendo e o
Aldo reconheceu isso, era exatamente denunciar que a cidade tinha um déficit
muito grande de habitação e muitas pessoas estavam morando em situação de
risco, isso em 2003.
Acontece a reintegração de posse, sem
observar que essas famílias tinham que ser encaminhadas para outro espaço e não
aquele terreno, algumas pessoas continuaram, ficaram acampados aqui no paço,
depois na praça da matriz, na APEOESP, depois foram para a quadra do Gaviões da
Fiel, depois para o Brás, num galpão, enfim. Mas a grande maioria das pessoas
voltou para a área de risco, para cima dos morros.
Em 2005, com as fortes chuvas que aconteceram
em São Bernardo, essas famílias foram vitimizadas, 12 pessoas foram
assassinadas pela justiça quando determinou que aquela área fosse reintegrada e
não deu nenhum indicativo que as famílias precisavam ir para um lugar de
proteção. Então, a justiça, de forma indireta, acaba por vitimizar e ceifar a
vida de 12 pessoas, sendo sete crianças, lá na região do Silvina. Então, a
irresponsabilidade que as pessoas têm tratado, por exemplo, o processo de
acusação do Aldo, nos motiva a nos mobilizar para lutar contra as injustiças.
E aí, sei muito bem o que o Aldo deve estar
sentindo, não nesse momento que ele se sente acolhido, vendo tantas pessoas
importantes no processo de luta, se sente gratificado e tal. Mas na maior parte
da nossa história a gente se sente meio inconformado, meio indignado com esse
tipo de situação, e eu sei exatamente isso, porque nós estamos vivenciando o
processo de escolha no conselho tutelar, e estão tentando também me tirar o
direito de concorrer. E nós não podemos permitir que esse processo impeça o
nosso companheiro Aldo Santos de ser candidato a prefeito e ser eleito a
prefeito de São Bernardo do Campo, porque ele foi um bom vereador, um ótimo
vereador e com certeza será um grande prefeito em São Bernardo.
MELÃO
MONTEIRO - EX-VEREADOR/SBC
Não poderia deixar de estar presente nessa
manifestação. Aceitar passivamente esse tipo de condenação é aceitar a
condenação de todos nós que participamos dos movimentos sociais, é aceitar a
condenação dos próprios movimentos sociais. E o momento em que nós estamos
vivendo é momento de grande disputa social também. Então, assim, não podemos
soltar a mão de ninguém e ter claro, Aldo, essa condenação não é sua, é de
todos nós.
Nesse momento também, Guilherme Boulos, por
exemplo, que foi nosso candidato a presidente do PSOL, está lá com trocentos
processos judiciais, ou seja, se a gente permitir, tudo quanto é ato vai ser
judicializado, não vão ser mais as disputas políticas ideológicas, mas vai ser
a judicialização, principalmente das lideranças mais importantes desse país, e o
resultado disso com certeza nós já sabemos qual será. Que será a nossa
condenação, vide as regras que estão sendo impostas nesse Brasil, é só olhar o
projeto de justiça que o nosso Ministro da Justiça está apresentando, as vítimas
nós já sabemos quem serão.
Não podemos permitir que esse tipo de coisa
aconteça. Então, nossa solidariedade é do núcleo PSOL de São Bernardo, mas
também da nossa corrente, que em breve terá nova nomenclatura Ação Popular e
Socialista, gostaria que a Rosa que apresentou essa monção no nosso encontro
estadual pudesse estar trazendo aqui. E o nosso lema é esse mesmo "Ninguém
solta a mão de ninguém" e vamos para cima deles, dia 14 de julho greve
geral, não vamos dar mole não, está certo? E vamos lutar para tirar essas
amarras que estão bloqueando suas contas, teu direito de cidadania às duras
penas conquistadas. Queria chamar a Rosa aqui, que é a nossa coordenadora do
grupo, coordenadora da corrente.
ROSA
- AÇÃO POPULAR E SOCIALISTA
Teria muita coisa para falar da nossa
história, da própria ocupação, de quanto a gente acompanhou, mas vou me
restringir a apresentar a moção feita pela APS, moção de apoio ao companheiro
Aldo Santos de repúdio à sua condenação injusta: “Nós militantes da APS São
Paulo e companheiros e companheiras que participam do processo de construção da
nova tendência do PSOL, vimos manifestar total apoio ao Aldo Santos, importante
militante do PSOL e incansável lutador contra as injustiças sociais.
Aldo Santos é professor aposentado da rede
pública e ex-vereador de São Bernardo do Campo. Durante toda sua trajetória
política posicionou-se sempre, sem medir esforços, ao lado dos trabalhadores e
trabalhadoras, em 2003, mais uma vez do lado certo da história colocou seu mandato
de vereador a serviço das mulheres e homens que lutavam por direito
constitucional à moradia durante a ocupação Santo Dias, realizada pelo MTST em
São Bernardo. Por isso, tem sido dura e injustamente perseguido, sua condenação
além de injusta é uma grande demonstração de perseguição política aos
movimentos sociais e aos lutadores e lutadoras que se colocam ao lado do povo e
contra as mazelas do grande capital. Por esses motivos, manifestamos também
nosso repúdio à condenação do companheiro Aldo Santos”. Então, em nome da APS
São Paulo, trago aqui a nossa moção e apoio total.
ANDRÉ
RODRIGUES - INTERSINDICAL GUARULHOS
Não dá nem para explicar o sentimento que a
gente presencia aqui, porque a gente tem um enfrentamento, que já é habitual
com os governos, mas de tempos para cá esse enfrentamento nos colocou novos
desafios. A perseguição aos movimentos, que é uma constante nesse país se
intensificou, esse novo governo, o governo Bolsonaro tem intensificado esses
ataques, essa perseguição, o governo Dória, enfim. A gente se vê num limite que,
por mais que a gente apresente e identifique diferenças, nos coloca o único
exercício, que é da unidade, da solidariedade, das mãos dadas como foi dito,
ninguém vai soltar a mão de ninguém. Sou muito sensível a esse debate porque
naquele momento do acampamento aqui em São Bernardo, nós nos enfrentávamos em
Guarulhos também como uma das maiores ocupações que o MTST teve na sua
história, na sua construção, que foi o da Anita Garibaldi.
Queria registrar aqui que somos solidários ao
companheiro Aldo, mas somos solidários também à companheira Camila, que
responde o mesmo processo, que enfrenta a mesma dificuldade, uma companheira
que participou ativamente na direção do MTST, e claro, o companheiro Aldo que
cumpriu uma tarefa naquele momento de parlamentar, que colocou o seu mandato,
que tem isso na sua história. Esse é motivo de orgulho para qualquer lutador,
de colocar seu mandato à disposição da luta, de colocar seu mandato à
disposição dos lutadores e das lutadoras. E a gente tem esse desafio de
enfrentar a justiça burguesa nos perseguindo, condenando companheiro,
condenando a companheira, com uma única intenção que é nos calar, e isso, dessa
trajetória toda por mais difícil que seja, o companheiro nos deixou um belo
exemplo aqui que é de nunca ter se calado, que é de nunca ter se acuado.
O companheiro perdeu seu mandato, as urnas
não foram tão generosas com a esquerda nos últimos anos, mas a gente está aqui
se organizando, sem nos calar, ao lado ombro a ombro, de mãos dadas indo para
cima dessa lógica burguesa que tenta nos oprimir, que tenta nos calar. Lá em
Guarulhos nesse momento está tendo uma plenária da Povo Sem Medo, a gente está
pautando isso lá também, foi colocado na coordenação, a gente quer ampliar essa
campanha que tem que ser em defesa de cada lutador, em defesa de cada
revolucionário, em defesa de cada um, de cada indivíduo que luta por aquilo que
foi dito aqui, do direito mais básico que é a moradia. O companheiro nos disse
aqui, ninguém quer morar em lona preta, a gente que ter moradia digna, a gente
quer um teto, a gente quer dormir, a gente quer ficar sossegado, criar família,
levantar de manhã cedo e trabalhar, e o estado a cada dia nos tira esse direito
mais elementar, nós não vamos aceitar isso.
Vamos estar aqui todo mundo junto, quero
saudar aqui o companheiro Aldo, a companheira Lúcia, que está cumprindo uma
tarefa junto com a gente, os companheiros de outras correntes que estão aqui. Porque
um detalhe importante eu gostaria de destacar é que naquele momento em 2003,
início do governo Lula, a luta nos colocava em posições distintas, cada um aqui
militava em uma corrente, e o mais interessante dessa história é que a luta nos
trouxe para o mesmo lugar, a luta nos mostrou que a gente tem que estar do
mesmo lado, independente das correntes ou das siglas partidárias.
Cada lutador, cada indivíduo que tem um
sentimento progressista, que tem o seu ideal de sociedade justa, tem que estar
aqui junto com a gente. Fico feliz de estar aqui participando dessa luta, mas
muito triste e solidário também aos ataques que está sendo feito aos
companheiros. Nós não vamos recuar nenhum milímetro, vamos juntos, boa sorte,
Aldo, estamos juntos e daqui para frente não vamos recuar. Vamos para cima e o
que a gente puder ajudar as nossas estruturas, as nossas subsedes a gente vai
colocar à disposição dessa luta.
ALDO
SANTOS
Primeiro quero agradecer a presença de todos
aqui, agradecer a presença das figuras importantes, todos são importantes, mas
a figura que nesse movimento estivemos ombro a ombro, que foi o Melão. Melão
foi uma figura fantástica nessa ocupação e também sabe muito bem do que
acontecia nos bastidores, do que acontecia na macro política geral. Muitas
vezes, trocamos figurinhas, conversamos e sofremos muito, na ocasião, por conta
do partido que estávamos. Por conta da possibilidade de se resolver um
problema, mas que não tiveram vontade política para resolver, isso foi uma
amargura para a gente na ocasião. Agradecer à Lúcia e à Soninha, que, assim
como demais pessoas, têm tido papel fundamental na divulgação, na visibilidade
dessas nossas atividades aqui. São duas companheiras que estão na APROFFESP, além
do Chico Gretter, não vou falar nome para não incorrer no erro de não incluir
pessoas, porque nossa política é de inclusão, não exclusão.
Mas, essas pessoas têm contribuído fortemente
nesse compromisso. Às vezes, a gente vê um ato como esse, mas não sabe a
dificuldade que dá para poder convencer pessoas, dialogar com as pessoas para
estarem aqui presentes nessa atividade. Quero agradecer também, o Chicão, que é
meu irmão, o Cleonaldo, que é também meu irmão, quero agradecer a meus filhos,
agradecer minha filha, as duas netas lindas, a Lis é a mais recente, que chegou
aí no campo da família e está aqui nos dando a honra da presença dela também.
Ela vai tirar uma foto histórica, para dizer daqui 20, 30 ou 40 anos, para
dizer "Estava lá na atividade do meu avô". É história, a história é
assim. A Gi, assim, está todo mundo aqui presente. Agradecer aos amigos, aos
companheiros que, na ocasião, trabalharam comigo na assessoria, não foi uma
luta só do vereador, mas luta coletiva.
Quero registrar também o papel importante da
companheira Angélica e da companheira Ângela, que tiveram junto aos movimentos
sociais e às ocupações daquele momento. A Angélica, quem pegar aquele livro da
Lulaldo vê lá a Angélica junto com os moradores, medindo o terreno, não sei se
ela gosta daquela foto hoje, mas tenho orgulho daquela foto porque registrou um
momento histórico e que ela estava lá, foi medido terreno por terreno. A
Angélica que é a companheira do Chicão, que na época era subprefeito do Riacho
Grande. Ele perdeu o cargo de subprefeito, porque entre ficar do lado dos
moradores da ocupação da Lulaldo ou ficar com o cargo que ganhava muito bem,
ele não teve dúvida de tomar partido e depois ficar desempregado. Então, eu
acho que é um pouco do DNA da família essa luta aguerrida. Antes de continuar, quero
pedir para o Chicão, que hoje mora em Hortolândia, é um empresário, tem uma
vida, digamos assim, de certa forma, resolvida do ponto de vista econômico, mas
tem uma solidariedade de classe, um compromisso, continua filiado ao PSOL, e é
um companheiro que também fez história na cidade nessa ocupação da Lulaldo e na
luta do Passe Livre. Então, queria que o Chicão, em nome da família e dos
companheiros que estão aqui, pudesse também fazer uma saudação.
CHICÃO
Primeiro, quero dizer que esses atos são,
pedindo licença à juventude, muito bons porque a gente encontra uns velhos
aqui, pessoas que faz tempo que a gente não se vê. Gente da velha guarda, que
também tem uma história interessante. Nós tivemos experiências enormes com o
movimento e aqui tem gente que foi testemunha disso. A nossa experiência é
interessante e o que eu mais gosto é porque ela conseguiu atrair camaradas, ela
conseguiu atrair gente da igreja, é muito gratificante encontrar um velho
companheiro como o Chininha, com quem atuamos há 40 anos.
Claro que os tempos mudaram e hoje nós
estamos numa situação muito adversa, eu vejo companheiros aqui como o Uelton
que já está com barba branca, gente que era jovem, e já fazíamos esse embate
muito duro aqui. Me orgulha muito vir aqui, quero dizer uma coisa muito
importante para vocês, aqui não tem sacanagem não, aqui nessa cidade tem alguns
nomes que precisam ser respeitados, que passaram aqui, há centenas e centenas
aqui nessa cidade, mas tem alguns que deveras precisam ser respeitados com toda
a força. Gente como Alberto Souza, gente como Melão, gente como o companheiro
Wagner Lino que faleceu, o companheiro Aldo, que não tem um dia de luta, que
não tem uma luta no movimento, tem uma vida inteira, que abdicou de ver seus
filhos crescerem, como eu. A nossa solidariedade não é qualquer uma, não é por
puxa-saco, a gente vem aqui porque são gente séria, que tem compromisso com uma
história mais limpa e pura, que é um compromisso com os despossuídos, com os
que menos têm, com aqueles que precisam se organizar para fazer a mudança
transformadora que nós precisamos.
ALDO
SANTOS
Agradeço ao Chicão, que continua sendo uma
pessoa com uma consciência política absolutamente limpa. E quero também
agradecer às notas dos companheiros que nos têm chegado: a nota da APS; uma
saudação do companheiro Vicentinho pelo WhatsApp; os companheiros do PSTU, que
fizeram uma moção e foi entregue para gente, foi lida no último RE; os
companheiros do Socialismo ou Barbárie, que também fizeram uma moção e foi
distribuída; os companheiros da corrente que eu faço parte, a TLS, que também fizeram
importante manifestação; os companheiros da Intersindical Nacional fizeram uma
importante manifestação, moção de apoio; os companheiros do MTST Nacional que
fizeram uma moção de apoio à essa luta; os companheiros do PSOL, tenho recebido
vários apoios como o Melão mencionou e de outros partidos aqui do centro,
inclusive o nosso presidente, o Tolentino, já tem feito menção a isso; o
companheiro Giannazi, que se manifestou publicamente, no plenário da Assembleia
Legislativa, quando estivemos lá, em defesa e combatendo e criticando essa situação;
os companheiros da APROFFIB e da APROFFESP, que fizeram, através da
contribuição do Chico e de outros, uma significativa nota de manifestação de
apoio. Portanto, tem chegado apoio de vários lugares e de várias formas,
dezenas de subsedes da APEOESP, o RE, o Conselho Estadual de Representantes da
APEOESP.
Então,
tem vindo manifestação porque é um pouco aquilo que o Melão disse de que não é
uma condenação nominal, é uma condenação a um projeto político, que se
contrapõe à lógica neoliberal. É um debate muito mais amplo, as pessoas pensam,
muitas vezes, que é um debate localizado, é um vitimismo, mas não se trata
disso. Nós precisamos reagir à lógica desses governantes que não veem no pobre
o elemento central de transformação, de mudança e de condições de igualdade a
ser assegurada. Nós vivemos hoje num país onde você tem quase 40 milhões de
pessoas entre desempregados, pessoas que desistiram de procurar emprego e que
estão à margem da sociedade. E essas pessoas não têm interlocução, não têm voz,
muitas vezes porque não estão absolutamente organizadas, no sentido amplo da
palavra.
Então,
é fundamental que uma atividade como essa não se torne um fim em si mesma, de
que cada um aqui, para além do que falou e para além do que escutou, também
tenha responsabilidade nesse processo político. Nós estamos falando para nós
mesmos? Estamos falando para nós mesmos, estamos falando para não desistirmos,
não declinar da luta. Porque quando eles punem alguém, eles querem, com isso, gerar
um tipo de medo nas pessoas, de preocupação nas pessoas. Eles prenderam o Lula,
imagina o que vão fazer comigo, prenderam não sei mais quem, imagina o que vai
acontecer comigo. Estava conversando com a Maria Irene, a possibilidade
inclusive que pode chegar à prisão o nosso caso, pois tem elemento jurídico
para isso.
Então,
imagine um militante que está começando agora, companheiro do Movimento
Estudantil Livre fala "Poxa, você está doido, você acha que eu vou entrar
num trem desse. Você acha que vou me aproximar desse cara, desse grupo, que vou
me aproximar dessa luta, desse partido?". Não vai. Mas aí nós estamos
dizendo a vocês o seguinte, é um pouco que o Chicão disse, aqui não tem recuo,
aqui não tem passo atrás, e não é de hoje não. Quando tiraram meu salário na
época em que eu trabalhava no Mandaqui, na zona Norte, ganhava um salário
mínimo por mês, eu fui brigar para que tivesse comida para os funcionários, o
administrador me chamou "Aldo, vem cá, vamos conversar. Vamos combinar o
seguinte, você chega do serviço vem aqui, vai comer com a gente lá na cozinha,
cara." Eu falei "Cara, você é generoso, mas não é isso que estou
pedindo. Eu estou pedindo que tem que ter comida para todo mundo." Aí os
caras já viraram a cara.
Denunciei
que estava chovendo na cama dos pacientes, era hospital de tuberculose, aonde
estava a escória da sociedade entre aspas, chovia sobre a cama dos pacientes.
Chamei a Folha de São Paulo na ocasião, em plena ditadura militar, vai lá um jornalista
fantástico e faz uma puta reportagem, no outro dia sai na Folha de São Paulo
escancarado, aí eu me lasquei todinho. Aí estava surgindo o PT, o PT manda o
Luiz Eduardo Greenhalgh para me ajudar. Há poucos dias, a Maria Irene falou
para mim "Pai, será que tudo será no início. Como no início será o
fim?" Eu falei "Não tem fim ainda não." Não tem fim, por enquanto não, porque o Greenhalgh
me defende no começo e agora o Greenhalgh é colocado à disposição também nessa
luta. Ou seja, 30 dias afastado, sem salário, numa miséria desgraçada, recém
casado, com filho pequeno, Jardel tinha nascido, mas também não arredemos o pé,
porque nossa luta era justa. Não é justo chover sobre a cama de pessoas que
estão internadas, doentes, não é justo. Aí, estava em casa, a companheira na
época e a família falavam "Esse cara é louco". Aí no dia do
pagamento, chegaram lá uns companheiros que eu tive a honra de essa semana
encontrar, o Jurandir na zona Norte (nós vamos fazer o encontro dos ex-
trabalhadores do Mandaqui, 80% já morreu, mas os vivos vão se encontrar, vamos
nos encontrar). Então, chegou o pessoal lá com o envelopezinho "Está aqui
seu salário, que nós fizemos uma vaquinha no Mandaqui e eles não vão deixar
você passar fome."
Você
quer coisa mais gratificante do que essa, um reconhecimento desse, isso não é apenas
um reconhecimento, isso é um oxigênio, estímulo para a luta, porque eles
reconheceram naquele ato que não foi fácil. Eu me lembro da Silvani, a
professora aqui de São Bernardo, que nós fomos protestar, em plena ditadura
militar, na Secretaria Estadual de Saúde, ao lado do Hospital Emílio Ribas,
lotando aquilo lá. Porque os caras estavam me perseguindo, me deram outro
gancho, aí voltei e me afastaram do Mandaqui e fui trabalhar no Centro de Saúde
com seis pessoas, o Mandaqui tinha mil pessoas e me transferiram
compulsoriamente sem pedir. Ou seja, "Esse cara não pode ficar no meio do
povo porque ele vai dar trabalho." Mas, mesmo assim, com seis pessoas
fizemos agito lá com o pessoal, faltou vacina e eu chamei as mães e conversamos
"Vamos lutar, que tal?".
Por
que eu estou dizendo isso? Eu não quero cansar muito vocês, porque fazer
discurso grande a gente sabe, mas não é o necessário. Mas eu sou um cara
realizado, mesmo cearense que foi expulso da sua terra natal, que veio no
pau-de-arara para cá com a família grande. Eu sou um cara realizado porque eu
não negociei, não deixei de lado aquilo que aprendi com minha mãe e meu pai: que
é ser honesto e lutar pela vida. Aprendi com eles, não aprendi com Karl Marx, o
Karl Marx me aperfeiçoou, os outros me aperfeiçoaram, eu aprendi com eles que a
vida vai modelando a gente, mas a gente não pode perder a origem da nossa vida.
E minha vida inteira foi assim, a vida da minha família inteira foi assim, na
base da labuta, sem ficar com medo do que vai acontecer. Com a devida
responsabilidade, a gente tem sempre feito o que tem que ser feito.
O
velho Plínio, uma vez eu tive um encontro com o PSOL, ele começou conversar e disse
para todo mundo "Olha, não tem nada pior do que a pneumonia sem
febre." E eu fiquei pensando, eu trabalhei 11 anos em hospital, eu sou
auxiliar de enfermagem, fiquei pensando, de fato a pneumonia sem febre é porque
o anticorpo não reage, não resiste e você vai definhando. O que eles querem é
definhar a gente e não há sentimento mais difícil do que choro sem lágrima,
tanto a pneumonia sem febre e o choro sem lágrima.
Às
vezes, eu tenho chorado e não tem nem lágrima, porque praticamente secaram, mas
aí choro sozinho porque a condição da vida é assim, não tenho solidão porque eu
procuro nos meus amigos, nos meus companheiros militantes eu procuro sair da
solidão, sair desse processo. Porque a depressão é quando você não tem com quem
compartilhar as coisas, aí você tem que amargurar sozinho. Mas não é fácil, não
é fácil você ser punido por uma coisa que você tem certeza que é sacanagem,
justiça desses mandatários do poder, não é fácil.
Eu
tenho passado por esses momentos difíceis, não é fácil, eu não compartilho com
as pessoas, eu estou um pouco igual aquele elefante velho que chega a uma certa
idade e vai se afastando da manada para poder ir organizando sua vida, poder ir
aceitando as regras que a vida nos impõe, aceitando a regra da finitude. Mas,
eu entendo que a nossa vida, sem o caráter necessariamente espiritual, está
para além desse processo que é finitude mas está nesse processo histórico que
eu acredito.
Não
está sendo fácil, mas eu tenho convicção de que nós estamos certos, nós não
estamos cometendo nenhuma ilicitude. Se alguém perguntar "Aldo, se você
tivesse que fazer, repetir seu mandato, sua história de vida, as lutas na
saúde, as lutas do Passe Livre em São Bernardo do Campo, se chocando com o
Maurício e com o próprio PT, se você tivesse que voltar na luta do movimento
negro para que a gente tivesse na cidade o feriado municipal, para que a gente
tivesse na cidade não mais a comemoração da princesa Isabel, como era até
então... Se você tivesse que continuar na luta sindical lá dos trabalhadores,
muito mais apanhando do que batendo, na luta da habitação?" Eu diria a
vocês, eu continuaria tudo de novo, começaria tudo de novo.
E
vocês que estão aqui façam a parte de vocês, estou fazendo a minha parte, o
coletivo nosso faz a nossa parte, o Melão fez a parte dele, o Chicão faz a
parte dele, o Jorge faz a parte dele, o Joãozinho faz, o André faz, a Lúcia
está fazendo, todos, o Serginho, todos os companheiros aqui, a juventude. Mas,
nós temos, companheiros, o mundo a construir pela frente, porque enquanto
existir trabalhador de cabeça baixa, que não tem muitas vezes o que cozinhar, e
o dinheiro para procurar emprego... Enquanto existir uma sociedade opressora,
aonde as pessoas não têm liberdade de se expressar como querem e como devem,
uma sociedade aonde o feminicídio ataca covardemente as companheiras, matam as
companheiras, nós não temos nenhum motivo para silenciar.
Muito
pelo contrário, eu sonho com a destruição desse sistema capitalista, eu sonho
de que um dia nós vamos conseguir, mesmo que eu não alcance, ou mesmo que não
alcancemos, mas nós vamos um dia conseguir uma sociedade livre, uma sociedade
justa, uma sociedade igualitária, aonde todos terão as condições e a
oportunidade de ser o que são, mas nós não teremos a defasagem e o abismo
social que nós vivemos na sociedade capitalista. É um sonho, um sonho que nós
temos que sonhar, mas sonhar andando, não é sonhar parado, sonhar de mão
estendida como nós fazemos com a juventude.
A
juventude aqui vem estudar gratuitamente graças aos professores, vem estudar e
alguns companheiros ainda não podem pagar passagem e nós estamos organizando
uma feijoada para sábado que vem, porque esse dinheiro vai ser para ajudar a
pagar a passagem daquele aluno que não tem condição para ele não parar de
estudar. Porque não existe socialismo de mão retida, só existe socialismo de
mão estendida. Porque eu sei da minha juventude, como era duro você pedir uma
oportunidade e não ter muitas vezes uma mão estendida para te ajudar, eu sei
que não é fácil.
E é
esse o nosso projeto de construir o nosso país, de formar nesse país não só
militantes que pensem em eleição de quatro em quatro anos, ou de dois em dois.
Estou condenado a cinco anos a não participar das eleições, mas vou ajudar
todos companheiros que tiverem se candidatando para poder, de fato, eles se
candidatarem. Porque não é um projeto pessoal.
E se
os governantes, o Supremo Tribunal acham que vão me calar porque me condenou a
cinco anos, não vão me calar. Se acham que vão me calar tirando o meu salário,
não vão me calar, porque sei que tenho pessoas solidárias e se eu falar
"Gente, eu estou sem dinheiro para comprar ração para a cachorra." Eu
sei que tem gente que vai chegar com a ração e vai me ajudar. O próprio sindicato
que eu participo, sendo majoritariamente da articulação, é bem certo que se
confiscarem o salário, vai repor meu salário para que eu não passe necessidade.
E se
eles acham que vão me calar porque vão levar meu carro velho, que vale 5 ou 6
mil reais, mas foi comprado com dignidade, sem maracutaia, sem Lava Jato, foi
comprado com dignidade. Não vão me calar, vou arrumar um jeito de andar, mesmo
que eu tenha que reaprender o patins, bicicleta, vai ser difícil, mas não vão
me impedir de andar. Se eles acham que vão me calar porque dizem que vão
colocar a casa a leilão, quando eu morrer, não vou levar nenhuma casa para o
enterro, muito menos para a gaveta, nenhuma casa, nenhuma. Se eles acham que
vão me calar por conta de uma multa de 650 mil reais, que mesmo que eu tivesse
outra vida, eu não conseguiria pagar, também não vão me calar.
Não
vão me calar e não vão nos calar. Porque todos nós aqui temos consciência de
classe, mas também nós temos muito ódio de classe, porque é inconcebível uma
pessoa ter tudo, é inconcebível mil famílias terem tudo e a grande maioria
viver na miséria absoluta. As pessoas não têm o que comer, a criança não tem
leite para tomar, as pessoas não têm escola, até o SUS querem acabar.
Então,
gente, quero agradecer vocês, dizer que isso daqui é um momento importante, mas
não é único, dia 18 nós teremos um outro ato lá na Assembleia Legislativa de
São Paulo, e no dia 29 nós vamos ter outro ato, outra atividade para pensar os
próximos passos. Porque se essa revolta serviu para reunir essas pessoas, então
nós vamos usar essa revolta para organizar ainda mais as pessoas, ainda mais o
partido, ainda mais os sem teto, ainda mais os estudantes, ainda mais os
filósofos, ainda mais os sem terra. Semana passada me chamaram para participar
da nova categoria dos sem salário.
Então,
eu quero dizer para vocês, que estou muito contente, viu Valim, muito contente,
sua fala foi brilhante "O Aldo é alado, mas não voa sozinho." Isso é
poético, isso é a fala de uma grande intelectual como a Valim e como as outras
pessoas que falaram aqui, uma jornalista compromissada, não uma jornalista
vendida, e além da fala de todo mundo que esteve aqui. Quero agradecer a
presença de todos. Um grande abraço a todos e não tem recuo, não tem desânimo e
vamos para frente. Nós temos um grande projeto para construir nesse país que é
uma sociedade absolutamente antagônica com os valores da sociedade capitalista,
que humilha, esmaga a classe trabalhadora. Nós temos que um dia colocar no
patamar da civilização um novo projeto social e para isso é fundamental a
participação do PSOL, a organização do partido político, para que a gente
aponte os horizontes e lute conta esse governo, que além de incapaz não
representa sequer mais aqueles que, equivocadamente, o elegeram na eleição
passada. Grande abraço, até a vitória.
Transcrição das falas no primeiro ato de desagravo:
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