O livro de Leandro Konder, “Introdução ao Fascismo”, publicado pela editora Expressão Popular, segunda edição de 2009, é um importante referencial para caracterizar o momento político em que estamos vivendo, com a eleição de um presidente defensor de “bravatas infindáveis”. O livro estabelece uma diferença entre momentos históricos e busca precisar ao termo fascismo e seu conteúdo programático e pragmático. Além de fazer importantes observações sobre o rigor cientifico necessário às caracterizações múltiplas, o autor afirma que “Nem todo movimento reacionário é fascista”. (p.15).
Afirmar ainda que “A história da humanidade registra episódios de extrema crueldade em momentos de tirania, nem por isso tem sentido sustentar que na antiga Esparta havia um estado fascista; nem classifica Nero, em Roma, de Fascista”. (p.15). Além de outros exemplos citados pelo autor, ele reconhece que Mussolini e Hitler marcaram o século XX com uma nova concepção de direita no cenário Internacional da política. Define ainda que “direita é um gênero e o fascismo uma espécie” (p. 28).
Diferentemente de algo sem consistência, os defensores do fascismo vão estudar o comportamento da direita e da esquerda e vão beber na fonte do marxismo para tentar entender o comportamento do operariado e o que defendiam os socialistas. Procuram compreender o conceito da luta de classe e se apropriam de conceitos a serviço dos propósitos dos mentores do fascismo e do nazismo. Literalmente o autor afirma que foram buscar no campo do inimigo a fundamentação necessária para a elaboração do corpo teórico e pragmático do fascismo, com a ajuda inclusive de “alguns desertores do movimento socialista” (p. 31).
“Mussolini, entretanto, transformou a teoria marxista da unidade da teoria e da prática numa identidade de teoria e prática. A teoria perdeu a capacidade de ‘criticar’ a prática: cortaram-lhe as asas”. “Assim como Mussolini utilizou a concepção de Itália proletária de Corradini, Hitler se apoiou nos escritos de um nacionalista de direita, Arthur Moeller van den Bruk, que, num livro publicado em 1923, O Terceiro Reich, que mais tarde viria a dar seu nome ao regime hitleriano” (p. 36).
"O tema das origens do fascismo é excepcionalmente amplo.Alguns autores vão buscar precursores do movimento fascista e da sua ideologia no Renascimento (em Maquiavel!), outros na Idade Média e outros até na antiguidade (Karl Popper chega a incriminar Platão!)" (p.59).
“Não é casual, aliás que o primeiro movimento político fascista significativo, que não surgiu na Itália nem na Alemanha, e sim na França”, que enfrentando contradições internas e na prática acabou não prosperando como aconteceu em outros países.
Mussolini lança o termo fascismo, que vem de fáscio, etimologicamente possui o significado de “feixe”, que representava o poder do imperador romano sobre todas as regiões e povos sob o seu domínio. No tocante a caracterização da composição do fascismo a polêmica é grande e vários teóricos vão se manifestar sobre esta temática. Gramsci vai afirmar que “O fato característico do fascismo consiste em ter constituído uma organização de massa da pequeno-burguesa; é a primeira vez na história que isso se verifica”.
Após avaliar sob vários ângulos as produções teóricas acerca do conteúdo e conceito de fascismo, o Escritor vai defini-lo como: “O fascismo é uma tendência que surge na fase imperialista do capitalismo, que procura se fortalecer nas condições de implantação do capitalismo monopolista de Estado, exprimindo-se através de uma política favorável à crescente concentração do capital: é um movimento político de conteúdo social conservador, que se disfarça sob uma máscara “modernizadora”, guiado pela ideologia de um pragmatismo radical, servindo-se de mitos irracionalistas e conciliando-os com procedimentos racionalistas-formais de tipo manipulatório. O fascismo é um movimento chauvinista, antiliberal, antidemocrático, antissocialista, antioperário. Seu crescimento num país pressupõe condições históricas especiais, pressupõe uma preparação reacionária que tenha sido capaz de minar as bases das forças potencialmente antifascista, enfraquecendo-lhes a influência junto às massas; e pressupõe também as condições da chamada sociedade de massas de consumo dirigido, bem como a existência nele de um certo nível de fusão do capital bancário com o capital industrial, isto é, a existência do capital financeiro” (p. 53).
Segundo notas do autor, em 1930 existia apenas um país socialista no mundo e muitos imaginavam que o mesmo em pouco tempo seria banido do planeta. Hoje a influência socialista é ampla, ainda que conviva com inúmeras contradições internas. Ao final, o autor conclui o livro afirmando que: ”As circunstâncias exigem dos fascistas que eles sejam mais prudentes e mais discretos do que desejariam. Pragmaticamente, adaptam-se às exigências dos novos tempos. Mas continuam a trabalhar, infatigavelmente, preparando-se para os tempos melhores, que lhes permitam maior desenvoltura”.
Tal como no conto “A colônia penal”, de Franz Kafka, O comandante da colônia, que tinha instalado nela um regime de tipo fascista, morrera e fora enterrado nos fundos de uma taverna, embaixo de uma mesa. Com sua morte, o fascismo tinha sofrido uma grave derrota, na penitenciária. Mas sobre o túmulo foi colocada uma lápide com a seguinte inscrição: “Aqui jaz o antigo comandante. Seus adeptos, cujos nomes por ora devem permanecer secretos, dedicaram-lhe esta pedra tumular. Dentro de alguns anos, quando seus adeptos forem mais numerosos, ele voltará a se erguer e reconquistará a colônia. Tende fé e esperai”. (p.178-179).
Mesmo diante de inúmeras caracterizações pelos mais variados teóricos sobre o tema, somos muitas vezes levados a firmar posição, mesmo diante de contradições expressas nos conteúdos e nas afirmativas. Via de regra, os posicionamentos do governo que ora se forma nesse período de transição fazem menção a inúmeras variantes que se identificam como possibilidades, porém, no conjunto da obra, estamos diante da atuação da extrema direita no poder, com viés fascista, sem que isso caracterize fidedignamente uma postura nazista ou fascista propriamente.
Na prática existe um movimento mundial de caráter conservador, a combinação do esgotamento de um modelo idealizado do esperançar petista, um sentimento de banir a corrupção da vida política mesmo frente às contradições internas com a anúncio dos novos ministros do candidato eleito e a necessidade da burguesia a da classe média ampliar seu poder de acúmulo de capital e consumo, hipocritamente exigindo uma nova base moral diferente da que hoje existe. A somatória do conjunto dos elementos que oxigenaram e sedimentaram o golpe político num espectro amplo da extrema direita, com o impedimento de Dilma e Lula, viabilizou, portanto, a candidatura de Bolsonaro/Mourão, mesmo diante de amplos setores da sociedade que não votaram, anularam o voto ou votaram no candidato da centro-esquerda. Pode-se avançar para um governo fascista, mas dificilmente conseguirá esta façanha e o papel dos contribuintes e militantes conscientes é começar já campanha pelo “fora governo Bolsonaro”, até por que o mesmo foi eleito tendo como impulsionador as ferramentas de perfis falsos e investimentos duvidosos, além da base programática reacionária e antipopular por excelência.
Aldo Santos – Ex-vereador em SBCampo, membro da diretoria da aproffesp e presidente da aproffib. 29/11/18
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