domingo, 7 de junho de 2020

NÃO CONSIGO RESPIRAR...


Intrumentos de castigos para os escravos.
 Máscara de folha de flandres.
Cena retirada do filme Quanto vale ou é por quilo













Não consigo respirar
Diz o recém nascido ao nascer
Toma um tapa no bubum
Para a vida e o viver
É o sopro na  caminhada
Que ninguém deve deter.
Viver não é preciso
Mas é preciso navegar.
Nos porões da escravidão
Não consigo respirar
Capturado na África
Separados dos entes queridos
Empurrados para os tumbeiros
Lançados ao mar do sem nunca
Saber para onde vai
Como ficaram  filhos seus
Clamam aos senhores ensurdecidos
Abandonados por deuses
Amontoados nos fétidos porões
Como seres inanimados
Sem direito, sem respeito
Talvez os fortes viverão
Nos dialetos diziam
Não tem luz, não tem ar, nem comida
Só tem morte
Não tem vida
Não consigo respirar.
A resposta era o açoite
Espancamento dilacerados
Jogados ao mar, silenciados
Para os cardumes  saciar
O navio seguia sua rota
Rumo ao mundo  sem fim
De repente
A carga, a mercadoria
Num dado porto descia
Um novo mundo imundo
Vendidos nem despediam
Para o trabalho surrado
torrados nos tachos de engenho
Lembrando do seu passado
Não tem ninguém por eles
Só silêncio derramado.

Não consigo respirar
Com a máscara sufocado

Não consigo respirar
De solidão afogado.
Milhões vivem este inferno
Do ser nada a pensar
Condenados sem direito
Resta o destino de Cam
A conversão aceitar

Não consigo respirar
As divindade dos seus
Não me deixam mais viver
Cultuando  o meu Deus.
Apesar dessa não vida
Lutavam de cabeça erguida
Não desistiam  jamais
Prometiam ao relento ao seu mundo retornar
Mesmo que na memória
Dos que começaram a história
Para o outro carregar.
Como ainda diz o poeta,
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro… ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!…”

Os navios negreiros rasgam o mar.
Foi lutando que vivemos
Sem a tal da abolição
A corte  só fez o jogo
Da  grande abominação.
Se livraram e descartam os negos
Sem casa, sem direito a sonhar e sem pão
A escravidão não acabou
Sempre o senhor
e o chicote do feitor
Não consigo respirar
É o chicote, a arma, e o policial  assassino
Que mutila  esfola e mata do velho ao jovem menino
Nesta Dante infernal.
É no país atrasado
Na economia  crescida
O que vale é o capital
O lucro acima  vida

Não consigo respirar
Com os algozes nos  matando.
Quero viver
Não quero morrer
Mas a sanha de matar  nada escuta
A dor de não respirar
Nos corredores dos hospitais
Sufocados   pelos vírus
Negros, pobres e velhos imploram
Estendam a mão do viver
Pelo que tem de mais sagrado
Não merecemos  morrer

Não consigo respirar.
Os governantes calculam
O quanto precisam lucrar
Abram a economia
Brandam os capitalistas
Aumenta a agonia
 A morte é só um detalhe
Na  imperante economia

Não consigo respirar
No matadouro estamos
Alguém pode ajudar?
Por fogo nos opressores
Vamos vingar cada gota
Do sangue inocente derramado
Do combatente valente
Ao anônimo asfixiado
De João Pedro
Do Miguel
Da Mariele
E de  George Floyd, esmagado
Vamos a luta sempre
Mudar o  mundo mudado
Só com  luta respiramos
É o  oxigênio da vida
A luta de classe ensina
Não fujam dela, senhores, idosos, meninos/meninas
Precisamos respirar
Viver, sorrir e cantar
No presente/futuro, o sol  ainda  vai  brilhar...

Aldo Santos. Ex-vereador/sbc, militante sindical , educador popular e militante do Psol.

Um comentário:

  1. Olá prof.Aldo, sua expressão artística me emociona. Grandes redes precisamos unir e continuar nessa caminhada. Que tod@s @a ancestrais te cuidem, força companheiro, os bastões serão transferidos. Um grande juventude deve entrar em conta, veja os controladores das mídias digitalais.

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