IV ENCONTRO
ESTADUAL DE PROFESSORES/AS DE FILOSOFIA E FILÓSOFOS/AS DO ESTADO DE SÃO PAULO
12, 13 e 14 de setembro de 2018
MESA DE DEBATE:
COM CANDIDATOS/AS AO GOVERNO DO
ESTADO DE SÃO PAULO
Participantes: ANA BOCK (VICE) DO PT;
LISETE ARELARO, DO PSOL E TONINHO FERREIRA, DO PSTU
Tema: “A BNCC E A REFORMA DO ENSINO
MÉDIO NO ESTADO DE SÃO PAULO”
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Data:
14/09/2018
Mediação:
professor Aldo Santos
Relatora:
Profa. Lúcia Denardi
Essa mesa é com os candidatos ao governo do Estado
de São Paulo, com quem nós conseguimos estabelecer o contato e o retorno
efetivo. O tema dessa mesa e desse debate é a BNCC - Base Nacional Comum
Curricular - e a reforma do ensino médio no Estado de São Paulo. Nós, da APROFFESP,
achamos absolutamente pertinente esse debate, a partir das propostas dos
candidatos e candidatas. Portanto, eu queria chamar para compor a mesa a
psicóloga Ana Bock, professora da PUC, que
é candidata a vice pelo PT e está representando o candidato Luiz Marinho. Queremos
também convidar Toninho Ferreira, que é
candidato pelo PSTU. E convidar a professora
Lisete Arelaro, do PSOL, para também dar a sua contribuição.
TONINHO FERREIRA – PSTU
Muito
bom dia, companheiros e companheiras. Em primeiro lugar eu quero agradecer o
convite para que pudesse vir até aqui expor um pouco as nossas ideias, e vinte
minutos para mim é bastante tempo, porque na televisão nós temos quatro
segundos. Toda vez que nos convidam a gente aceita porque nós acreditamos
naquilo que falamos e pensamos. Nós não perdemos a capacidade do sonho, não
perdemos essa faculdade de poder sonhar com uma sociedade melhor.
Como
vocês são lutares do movimento também, eu queria fazer uma denúncia, foi preso
na Argentina, anteontem, um companheiro petroleiro chamado Daniel Ruiz. A
Argentina vive num processo de prender dirigentes sindicais e ativistas. Pela
grande mobilização contra a reforma da previdência, há companheiros que estão escondidos
para não serem presos. Quem sabe o movimento sindical brasileiro possa ser
solidário aos companheiros que estão sendo presos lá.
Eu
sou Antônio Ferreira, fui presidente do Sindicato dos Metalúrgicos em São José
dos Campos por duas vezes e um dos dirigentes e um dos advogados da luta do
Pinheirinho, em 2012. Com certeza muitos de vocês foram solidários por ocasião
daquela desocupação, feita pelo governo Alckmin, naquele ano. Agora, estou aqui
na qualidade de candidato a governador a um Estado muito rico, com um orçamento
de 216 bilhões, para 2018, mas com uma população bastante pobre. Nós temos
corrido por todo o Estado, no interior e nas grandes cidades, o que é essa
periferia da cidade de São Paulo? É uma coisa muito assustadora, a gente já
convive com isso, mas sempre encontra uma situação pior do que você imaginava.
E
a gente diz isso no seguinte sentido, a proposta dessa Base Nacional Comum
Curricular, ou a que se tem para o ensino em geral, não só o ensino médio, são
propostas que vêm ao encontro do que prega o Banco Mundial. Ou seja, o que está
por trás disso tudo? Porque não é só na educação, é também na saúde, e em todos
os setores, é a mesma proposta, que é o chamado Estado mínimo. É diminuir o Estado,
é privatizar, é entregar tudo o que ele tem. Aí a gente pergunta: Estado mínimo
para quem? Estado mínimo para a população, para quem precisa dele, mas o Estado
máximo para os grandes empresários. É isso que eles fazem, é essa a proposta
que eles estão trazendo, e tudo é parte de uma proposta só.
Pegando
a saúde como exemplo, o repasse às chamadas OS - Organizações Sociais o que é
senão uma privatização? Enquanto a saúde for uma mercadoria não vai se resolver
o problema e qualquer candidato que achar que tem que ser através das OS está
mentindo para a população, eles vão resolver os problemas dos empresários.
É assim também na educação. Há
candidato a presidente da República que está dizendo que para resolver o
problema vai dar um voucher para os
alunos estudarem onde quiserem. Esse cara não conhece nada, não sabe nada da
vida, um milionário que não sabe o que quer, o que se passa aqui embaixo com a
população de carne e osso, a população mais pobre. Como você vai dar um voucher para a pessoa estudar, isso
significa também a privatização, vai estudar onde e o quê? Tem essas propostas
malucas que aparecem por aí.
E tem um outro, que agora
não está em campanha por convalescência, que disse que é preciso militarizar as
escolas. A proposta do João riquinho Dória em relação à segurança é a mesma
coisa. Ele diz o seguinte, há quatro Rotas, ele quer passar para 22, para bater
na gente quando estiver fazendo greve. Como fizeram com os professores
municipais, que eles meteram bomba de gás lacrimogênio e botaram a polícia lá. Qualquer
um que fale que tem que aumentar o número de profissionais e policiais é um
absurdo, isso não é o que queremos. Porque se você pensar em colocar um
policial para cada cidadão, você não vai aumentar segurança, vai aumentar mais
insegurança, não é isso que nós queremos.
Voltando
à questão da educação, por exemplo, essa BNCC, pega prioritariamente só duas
matérias, português e matemática, e o restante pode ser à distância, pode ser
fora de sala de aula, significa o que? Significa a privatização do ensino. Eu
quero dizer a vocês, isso é uma coisa que já vem de um tempo, não está começando
agora. Eles vêm fazendo isso há algum tempo, por exigência do Banco Mundial.
Parte
disso ou o porquê disso é a própria PEC 95, a chamada PEC do fim do mundo, que congela
investimentos em todas as áreas durante 20 anos. Parte disso, para arrecadar
mais e sobrar mais dinheiro para se ter um déficit primário e poder pagar
banqueiro. A dívida pública significa pagar banqueiro. Todos eles dizem a mesma
coisa, que é preciso enxugar o Estado, arrecadar mais para pagar banqueiro. E
nós sabemos que a dívida pública não se paga mais, é impossível se pagar.
Alguém
aqui, por exemplo, já viu e já entrou em cartão de crédito e ficou devendo? Você
paga e paga e o negócio não acaba. E a dívida pública é isso, quanto mais paga,
mais deve, e a gente vai devendo cada vez mais e é preciso tirar do Estado e da
população para pagar banqueiro. O que eles estão fazendo é isso, privatizando e
entregando tudo. Com uma crise dessas que estamos vivendo, os banqueiros vão
muito bem obrigado, tiveram um crescimento fantástico durante todo esse tempo.
Bom,
uma das propostas que todos os candidatos têm que é a chamada parceria público
privada também é parte da privatização. Não há nuances nesse sentido, significa
a privatização, ou não é isso no transporte? Aliás, uma cidade do tamanho de
São Paulo, com apenas 82 km de metrô, é uma aberração total. O PSDB nunca quis
um transporte que fosse diferente e o que o Covas dizia era isso, que o
transporte sobre trilho era muito caro. E agora, como eles fazem? Pegam o dinheiro
do Estado, se endividam e depois entregam para a iniciativa privada, é o que
eles fazem e o povo paga a conta. Aliás, tem umas estações aí que são
belíssimas, um luxo, quando deveria ter mais quilômetros de metrô do que
estações com esse luxo todo.
A
situação está cada vez pior, por exemplo, a chamada categoria O, isso é uma
aberração total, os professores precisam trabalhar em vários lugares ao mesmo
tempo. Eu queria dizer a vocês que vão terceirizando cada vez mais, não só do
ensino, mas de todo lado. Quem conhece um terceirizado, quem tem um amigo
terceirizado, quem trabalhou terceirizado sabe qual é a situação. Agora, um
ministro do STF está ganhando 33 mil reais e quer passar a ganhar 39, sabe
quanto um trabalhador tem que trabalhar para ganhar o que eles ganham no mês?
Quase 40 meses, mais de três anos.
Assim,
como os deputados, que votaram na reforma trabalhista para prejudicar a gente aqui
embaixo, nunca trabalharam na vida. Alguém acha que o Rodrigo Maia já bateu
cartão alguma vez? Todos eles são filhos de algum deputado, é muito engraçado,
porque parece que o pai chega quando está lá na maternidade e fala "Vai
ser deputado". Filho do Rodrigo Maia, filho do Jader Barbalho, do Efraim
Morais, do Abi-Ackel, todos eles são filhos de alguém e nunca trabalharam na
vida. Agora votam para que a gente possa cumprir.
Digo
isso porque há pouco tempo fui convidado para um encontro dos trabalhadores da AFUSE,
e conversando com eles caí na besteira de falar que um trabalhador de escola ganhava
um salário mínimo e meio. Eles disseram: "Opa, como um salário mínimo e meio?
”. Os trabalhadores estão ganhando menos que isso, como é que pode? Como uma
pessoa vai sobreviver, que tipo de ensino nós vamos ter? Que maneira nós vamos
tocar isso?
É
por isso, gente, que eu penso que está certo o que fez a juventude em 2015,
quando o Alckmin disse: "Vou fechar a sala de aula, vou fechar a
escola". Eles se rebelaram, e é dessa rebelião que nós estamos falando, é
preciso se levantar, é preciso se emanar, se juntar e se colocar contra esse
tipo de coisa. Se não fosse a juventude, tinham diminuído as salas de aula.
Agora, eles desistiram disso? Não, vão continuar, vão vir para cima e vai ser
preciso se rebelar de novo. Está certa a ocupação de escola como fizeram, nós
precisamos fazer mais ocupação.
Em
todos os setores deve ser assim, a greve geral que nós fizemos foi uma bela
paralisação, mas deveria ter tido continuidade, infelizmente não tivemos. O Planalto
deveria ter julgado o Temer. Na greve da rebelião dos caminhoneiros, se o
movimento sindical tivesse se organizado e realizado uma greve geral, a gente
teria derrubado o Temer, alguém duvida? Ninguém dúvida, mas os dirigentes
sindicais talvez. A gente queria, mas não fizemos, mas era possível.
O
que se tem é isso, é a política de privatização e vai ser cada vez pior. A
classe trabalhadora brasileira, seja ela na educação e em qualquer outro setor,
é preciso se levantar, é preciso mudar esse estado de coisas. Não é possível, num
país como o nosso, onde meia dúzia de pessoas tem a mesma riqueza que 100
milhões de outras, como é que nós podemos aceitar um tipo de coisa dessas? Nós
vamos ter que nos rebelar completamente. Tudo isso é parte de um projeto do
Banco Mundial, é parte de um projeto total do Temer.
Os
caras estão falando que vão fazer escolas públicas como as do SESI, eu as conheço
porque minhas filhas estudaram lá. São boas, mas com o ensino 5 S é mole, o
investimento é muito dinheiro. Eles vão ter o sistema 5 S? E os que vêm com a
proposta para resolver o problema da educação se continuarem a pagar a dívida
pública não vão resolver, esquece, não há saída. Se continuar pagando a dívida
pública não vai melhorar as escolas, é mentira. E vocês sabem que numa eleição,
assim como na guerra, a primeira a ser assassinada é a verdade, a verdade é
assassinada logo de cara. Mas essa do Skaf não vai resolver, se os outros vierem
com a proposta que vão pagar a dívida pública, vão manter contratos, mas quem é
que fez? Para quem serviram? Mas "Ah, não podemos dar calote." Mas
calote em quem? O povo já tomou calote, nós estamos tomando faz tempo, o calote
já existe.
Bom,
para terminar, eu queria me aventurar, como dirigente sindical que já fui, acho
que nós do movimento, a APEOESP e todo mundo deveríamos ter um projeto acabado para
a educação. Não ficar só discutindo salário, mas condições de trabalho,
discutir tudo, um projeto que nós queremos, um projeto de massa para que a
massa saiba, com pais e alunos. Uma das vantagens de ser candidato a governador
é que você aprende muito. Como nós somos eternos alunos, nós vamos sempre
aprendendo.
ANA BOCK - PT
Obrigada,
comprimento aqui o 4º Encontro Estadual de Professores de Filosofia e Filósofos
do Estado de São Paulo, a coordenação que organizou e agradeço em nome do
Marinho. Eu, na verdade, sou candidata a vice-governadora, sou a vice do
Marinho e ele me pediu que viesse a essa atividade. Então, comprimento a todos
vocês, parabenizo a realização de um espaço de debate, que é sempre educativo.
Eu
gostaria de começar apontando alguns princípios que têm guiado o programa nesse
campo da educação. O primeiro, sempre repetido pelo Marinho, é de que não há
universalização do ensino médio. Há muitos jovens em São Paulo que nós nos
colocamos a intenção política de resgatá-los, são 223 mil jovens, entre 15 e 17
anos, que estão fora da escola.
Por
outro lado, há jovens na escola que têm uma vinculação tênue com a mesma, não
compreendem corretamente a função, o exercício, o que estão fazendo ali, não
foram completamente apresentados a ela, ou a escola não lhes foi completamente
apresentada. Então, há uma questão que deve nos preocupar como educadores, que
é esse vínculo que os jovens mantêm com a escola.
O
terceiro é de que reconhecemos que há um esvaziamento de conteúdo da escola,
principalmente nas reformas propostas, embora tenham uma perspectiva
conteudista. Um quarto ponto seria que há uma desigualdade social que se
reflete ou se apoia na escola. Não é a escola que produz essa desigualdade, mas
ela está posta no meio educacional, e, ao mesmo tempo, tem se apoiado e se
fortalecido, pela desigualdade que é reproduzida no meio escolar.
Então,
esses pontos são importantes para que a gente possa pensar a posição
apresentada. No que denominamos projeto Lula, que é o projeto para o Brasil,
agora defendido pelo nosso candidato Haddad, que o coordenou, e por Manuela,
nós temos lá claramente posto: a revogação da reforma do ensino médio, a ideia
de concretizar as metas do PNE, articulando com os planos estaduais e
municipais, a institucionalização do sistema nacional de educação, o apoio dos
institutos federais às escolas estaduais que têm índices baixos no Ideb, que lá
apresentam uma certa fragilidade e vulnerabilidade, e de necessidade de
fortalecimento e formação de professor.
Tudo
isso estaria sendo feito através de uma política de convênio, de acordo com os
institutos federais, numa clara intenção de esvaziamento do papel das ONGs, das
OSs nessa função social. Além da formação do professor, que é sempre uma
prioridade para qualquer plano que tenha dignidade social, eu incluiria ainda
toda a preocupação que tem o plano nacional com a mídia. Porque considero que quando
a gente fala em educação precisa considerar o papel que cumpre a mídia na nossa
sociedade, a necessidade, portanto, o compromisso do PT e PCdoB com a
democratização da mídia.
O
professor no primeiro espaço disse: "Eu não acredito em promessa de
político”. Eu acho que o presidente Lula prometeu muito menos coisa do que fez,
ele é uma pessoa com pouca escolarização, que criou 18 universidades e muitas
extensões de vários campus; criou 500 institutos federais; ampliou o orçamento do
MEC para 206%; o piso salarial dos professores foi instituído; o Fundeb; as
próprias matrículas de creches que se triplicaram; educação indígena e
quilombola como preocupações e uma série de ações nessa direção; as matrículas
no ensino superior que subiram de 3 milhões para 8 milhões, no período de 2002
a 2015; fortalecimento das cotas nas universidades e o Prouni com as
universidades particulares.
Isso
tudo mostrando de que fomos capazes dessa construção e nosso candidato à
presidência da República, Fernando Haddad, foi sem dúvida o melhor ministro da
educação que o Brasil já teve. O que não quer dizer que não tenha falhas,
necessidade de aprimoramento, mas o melhor até hoje na nossa história.
Então,
isso para dizer, que a gente se sente muito potente, capaz de trabalhar na
direção de qualificação da educação brasileira e, no caso, na educação de São
Paulo, afinados nos princípios do projeto Lula para o Brasil e, claro, com as
especificidades do Estado de São Paulo. O Marinho tem afirmado, também em seu
programa, a necessidade de um pacto pela educação, que envolva a sociedade e
seus recursos, ou seja, o reconhecimento de que a educação chegou em uma tal
situação que não é fácil reverter, fazer uma ruptura nesse processo reeducacional.
E que só com um pacto que envolva toda a sociedade, as associações organizadas,
os professores organizados, os estudantes organizados, é que a gente poderá
reformular a educação. Tem que haver um envolvimento de cada cidadão, um
interesse de reformular, de mudar.
A
educação no projeto estadual entra como um eixo importante, que vai fazer ponte
e integrar várias políticas que, a nosso ver, são apresentadas de forma muito
isoladas. A segurança, exemplo, é apresentada a aumentar o contingente
policial, as pessoas só pensam nisso, quando, na verdade, ela se cruza, tem uma
necessidade de se articular com todo um processo educacional que acontece no
meio social. E o papel da escola está colocado aí e o que ela é capaz de fazer
para contribuir e não somente aumentar policial.
Outra
questão é que quando você fala que tem que diminuir a violência, acabar com a
violência dos policiais em relação a população, principalmente a população
pobre, nós estamos falando de uma coisa bastante difícil. Porque é preciso
educar esses policiais com um novo olhar social, a olhar de uma maneira
distinta a sociedade, que encara sua divisão de classe, de raça, de gênero,
como uma coisa natural. Então, há uma dificuldade, porque eles têm que sair
dessa naturalização, onde foram formados, ainda mais aqui em São Paulo, 24 anos
na escola do PSBD, a gente sabe da dificuldade que se terá, mas é preciso fazer
isso. Então, a articulação com toda a política de emprego, com toda a política
do trabalho, de ampliação da questão da juventude, a questão da cultura, de
esporte, tudo isso se articula com educação, e, portanto, ela tem um papel bastante
central.
Tornar a escola atrativa,
uma fala que o Marinho tem feito, não quer dizer fazer marketing dela, não é isso
que vai resolver o vínculo do jovem com a escola, é preciso que a gente tenha
medidas bastante efetivas de acolher a vida social no meio escolar. A escola
não pode ter nada da vida social que lhe seja estranha. Então, assim, vai se
discutir gênero? Claro que vai se discutir gênero, está posto na sociedade essa
questão. Vai se discutir política? Vai, claro que vai, ela é essencialmente
política, de natureza política, mas vai discutir a política no parlamento.
Então, nada pode ser estranho à escola, porque ela é construção de cidadania. Se
a gente tiver algum conteúdo que deve estar fora dela, há alguma coisa estranha
nessa concepção de escola.
A reforma do ensino médio
vai de forma contrária de tudo isso, ela parte de uma naturalização da divisão
de classes, há o trabalho manual e o trabalho braçal na nossa sociedade e o
trabalho intelectual. Através da ideia dos itinerários formativos, que parece
bonita, porque oferece coisas, leva-se até a pensar que a autonomia da escola
está garantida. O que vai acontecer a gente sabe, dado a nossa desigualdade
social que marca a instituição escola, nós vamos fortalecer e ser ainda mais
apoiadores dessa desigualdade instituída na nossa sociedade.
Então, a gente é
absolutamente contrário a isso. A mudança da escola, portanto, deve se dar pela
transformação da sua natureza enciclopédica, não é necessário diminuir disciplinas,
como pensa a reforma. Bobagem e equívoco, porque é o contrário. A escola tem
que rever o seu jeito de trabalhar o seu conteúdo, não tem que ser conteudista.
Ela tem que trabalhar com ideias gerais, ideias centrais, deve abarcar todos os
conhecimentos, não pode dispensar nenhum conhecimento que a humanidade
conquistou. A escola é o lugar da sabedoria constituída pela humanidade. E com
isso, é claro, e está no programa do Marinho, fixar a obrigatoriedade do ensino
da filosofia, da sociologia, da educação física, das artes, ao lado de outros
componentes curriculares existentes, além da lei do ensino da história da
cultura afro que também será aplicada.
Então, há uma necessidade
que esses conteúdos retornem às escolas e que muitos que ainda não a visitaram
sejam pensados, de forma que a realidade social esteja presente e que a escola
possa realmente fazer uma formação crítica, complexa e completa. Portanto, é
necessário convidar todos os conhecimentos para estarem na escola, não porque
eles existem simplesmente, mas porque precisam colaborar para uma formação crítica.
O ensino médio não pode ser
pensado exclusivamente como uma formação direta para o trabalho, ou para a
preparação do ensino superior. Ele tem que ser pensado como pedaço da educação
básica, tem que ser pensando como um conjunto e concordo de que há a
necessidade de se impor uma concepção de educação, uma intencionalidade.
Eu acho que nós temos
grandes projetos nacionais para educação, que eu diria que são dois: um
capitaneado pelo PSDB, pelos vários tons de Temer, como disse o Boulos, e o
outro, por um conjunto progressista da esquerda. Então, eu acho que existem
esses dois conjuntos e se a gente os visitar de uma forma crítica, vamos
encontrar duas concepções de educação, de formação. O que é educação, que
relação ela tem com a formação da cidadania, que relação ela tem com a formação
de trabalhadores, para que a gente possa ter ali e entender os projetos que
estão postos?
O que eu estou querendo
dizer com isso é que não basta jogar a reforma do ensino médio fora, é preciso
colocar em debate as concepções de educação que estão por trás de construções
de projetos para o ensino. Acho que competências e habilidades é outra bobagem
comprada pelo Brasil que tem um pensamento colonizado e fica achando tudo
bacana o que é produzido em outro lugar. Ao invés de a gente discutir que
cidadania eu quero incentivar, que educação, que papel tem que ser cumprido
pela escola, qual é a educação que eu quero instituir e incentivar; se fica
discutindo quais são as habilidades e as competências, o que desvia o debate de
concepção de educação.
Não temos dúvidas que o PSDB
representa um conjunto do pensamento empresarial que tem interesse no mercado
editorial, que está aí se pondo a serviço das escolas, e é esse o nosso
inimigo, e é aí que a gente tem que bater, por isso a ideia de que a escola
federal possa ser a colaboradora da qualidade das escolas estaduais.
Nesse sentido de fomentar o
debate, é preciso pensar que todas as parcelas da população - as entidades,
principalmente esses setores organizados, as entidades de professores, de funcionários
de educação, de especialidades na educação, de estudantes, hoje a gente tem uma
organização estudantil que pode com certeza participar, especialistas,
políticos que estão mais destinados ou interessados ao pensar educação – têm
que ser convocados para esse pacto que nós estamos propondo, guiados com
princípios gerais que estou pretendendo aqui esclarecer, que eu apresentei no
início. E, nesse sentido, o fortalecimento do Fórum Estadual de Educação é uma
estratégia bastante importante, porque ali há uma organização possível para se
fazer o debate do plano.
É bom lembrar que existem
algumas questões importantes no plano da educação, como as condições de
trabalho, e que o Marinho está aí colocando a meta de dobrar o salário nos
quatro anos de gestão dele, melhorar a infraestrutura das escolas e dos
equipamentos. Tem que haver dignidade no trabalho educacional. Como é que a
gente quer atrair o jovem, fazer com que ele se sinta bem na escola, se nela não
tem água, o banheiro está todo quebrado, as salas de aula, as carteiras e tudo?
Então, tem que haver uma forma de recebê-lo com dignidade para que possa se
sentir apropriado da escola.
Pensar no ensino médio como
uma possiblidade de salto de qualidade de toda a educação básica é um momento
de síntese. E, nesse sentido, é preciso que a gente universalize o ensino
médio, para que ele seja o final de uma carreira da educação básica e possa
ajudar o jovem a fazer uma síntese da sua formação.
O ensino médio, claro,
prepara para o ensino superior, mas a gente tem que ter o cuidado, lembrando
que o vestibular guia o conteúdo do ensino médio, que, por sua vez, passa a ser
guiado pelos interesses do ensino superior. Cuidado com a qualificação dos
professores que é, sem dúvida alguma, fundamental e trabalhar para reduzir a
interferência empresarial na educação. Acho que com esses pontos que eu dou
conta muito rapidamente do programa do Marinho PT e PCdoB.
LISETE
ARELARO - PSOL
Bom
dia, eu queria dizer também da minha satisfação de representar aqui um partido
que tem uma grande liderança do movimento social, o MTST, o candidato à
presidência da República, e, pela primeira vez, uma mulher representante dos
movimentos indígenas no Brasil como co-presidenta, a Sonia Guajajara.
Eu
já vou falar o que nós vamos fazer, porque eu tive a oportunidade de discutir
essas questões, mas eu gostaria de lembrar que enquanto nós estamos aqui,
certamente duas, três ou cinco salas de aula estão sendo fechadas. Nesses dois
anos, já perdemos, entre aspas, 1.500 salas.
O
movimento secundarista ocupou as escolas e, de fato, houve um compromisso do
PSDB, na época o governo Alckmin, para que a reorganização iniciada em 1995, na
época do Covas, realmente fosse suspensa. Mas, na verdade, nós estamos
assistindo, de forma bastante preocupante, o que significou no início desse
ano, a falta de aulas surpreendente para professores de todas as disciplinas na
nossa rede estadual de ensino. E, evidentemente, tem que pensar no que isso
significa.
Quero
dizer para vocês que eu comecei minha primeira atividade no ensino médio ou na
rede estadual, em 1968, como professora de filosofia, e nós tínhamos um nome
muito feio: professor precário, hoje eles são mais sutis, é o professor
eventual. Mas é muito chato chamar professor precário, eu era muito bem
preparada, mas estava lá como precária. Eu confesso para vocês que em 69, eu
recebi o primeiro enquadramento na lei de segurança nacional, porque
reivindicávamos que os professores precários fossem contratados pela CLT.
Nós
estamos em 2018, e eu diria que a condição dos professores da letra O é pior do
que a nossa condição de professor precário, em 1969. Então, há muito a fazer, a
exploração dos professores é um fato. Eu sou ainda professora da Faculdade de
Educação da USP e temos uma pesquisa longa há seis anos sobre salários de
professores e, por isso, hoje podemos dizer, com muita tranquilidade, que o
professor no Brasil é a categoria profissional que menos ganha, 40% menos do
que qualquer outra profissão com a mesma formação acadêmica.
Então,
atualizar o salário dos professores não é mais que uma correção de uma injustiça
salarial dentre o conjunto dos funcionários públicos, basta ver no edital de
concurso de médico, engenheiro, psicólogo, fisioterapeuta, e você vai ver que, de
fato, a situação dos professores é bastante precária. E é por isso que estou
afirmando que nós vamos dar 40% de aumento ainda nos seis primeiros meses de
governo por essa razão. E as pessoas perguntam: "É, mas de onde vai tirar
o dinheiro?" Pelo menos essa vantagem eu tenho, sei exatamente de onde vou
tirar o dinheiro, de dois lugares: o primeiro não sei se vocês sabem, o PSDB,
nos últimos 12 anos, apesar da constituição estadual estabelecer que se gaste
30% de manutenção e desenvolvimento em ensino, eles têm gasto 25%, porque 5%
eles pagam professores aposentados.
Nos
últimos oito anos o Geraldo Alckmin, assinou um TAC - Termo de Ajuste e Conduta
junto ao Tribunal de Contas do Estado. Em qualquer outro lugar do Brasil ele
teria sido cassado, aqui não, faz oito anos que ele fala, "Não, tudo bem,
vou fazer ano que vem". No ano passado, ele teve um grande cinismo, entre
os vários, apresentou uma proposta de lei orçamentária na qual constava 25%
para educação, alegando que a lei federal, a constituição federal falava em no
mínimo 25%, e ele estava propondo, portanto, o mínimo como se não existisse a
constituição federal.
Então,
estou dizendo isso porque o governador que entrar aqui, é incrível dizer isso,
contra o governador, o secretário de educação, o secretário de planeamento,
responsáveis por essa decisão, exatamente para que os 30% voltem para a
educação. Portanto, já por princípio, esse ano, eles já fizeram a mesma coisa e
não têm o 5% para dar de aumento, já tem recurso reservado, e obviamente nós também
temos outra fonte de recurso reservado, que é uma questão muito importante. Vocês
sabem que nós estamos aqui e a partir de hoje há uma pressão bastante grande,
movimentos no Estado de professores universitários, alunos, pela votação da lei
de diretrizes orçamentárias, que por incrível que pareça não foi votada ainda.
A constituição manda que seja votada até 30 de junho, e, surpreendentemente,
foi adiada, claro que há interesse de adiar, porque enquanto não se definir
onde se vai o dinheiro, fica muito fácil, inclusive, para o atual governador
dizer que vai fazer qualquer coisa, porque não tem realmente compromisso nenhum
escrito.
No
que se refere à Base Nacional Curricular, minha hipótese é de que nós estamos
vivendo a criação atualizada do que o governo da ditadura empresarial militar
pretendia fazer conosco no início dos anos de 1970, que é a chamada ideologia
tecnocrática. Em 70 ingressei como professora do curso Normal e queria deixar
claro para vocês duas coisas, até divergindo um pouco do Marcos Lorieri, que
antecedeu na mesa anterior, porque eu teria muita clareza, eu não era efetiva
e, portanto, não é só que eles nos desestimularam, não havia concurso para
professores de filosofia. Portanto, foi muito fácil para o governo militar
acabar com a filosofia, porque bastava não nos contratar mais, o que, aliás,
foi o que eles fizeram.
Eu
também admirei porque a escola dele (do Lorieri) acho que foi a única, ele foi
o primeiro que não teve um controle, porque o controle sobre nós não era sútil,
era direto, por exemplo, nós não podíamos falar que ali havia sido dado o
golpe, a orientação é que falássemos que tinha havido uma revolução. Então, é
só para a gente saber que tinha um controle sobre os conteúdos, sobre a maneira
de apresentá-los, que não era uma questão qualquer, era dirigida. Como
professora de metodologia de ensino, do curso normal, fui convidada a fazer
cursos, e eu fiz um de excelente qualidade no Instituto Nacional de Pesquisa
Espaciais, no IMPE, lá em 1971/72. Para a gente ver um pouco como as coisas
eram complicadas, foi quando ouvi pela primeira vez e aprendi os conceitos do
que era eficácia, eficiência, avaliação de desempenho, produtividade.
Portanto,
eu quero dizer, que quando eu penso que essas palavras eram de 72 e hoje dirigem
inclusive a organização dos conteúdos, quero lembrar que habilidades e
competências não é uma questão qualquer.
Hoje eu só trouxe a Base Nacional do Ensino Médio, porque a do ensino
fundamental é mais gorducha, então, pesa muito. Mas, é interessante, ler e
andar com elas, porque algumas vezes temos que ler pois a pessoa não acredita
que a gente está dizendo o que eles disseram, de tão absurdo que elas são. E
qual é a concepção que eles têm de professor, o que eles pensam de nós?
Primeiro, todos nós somos um pouco preguiçosos, somos, digamos, resistentes à
inovação e obviamente malformados, razão pelo qual tudo tem que ser dito do
jeito que eles querem que se diga.
Eu
tenho aqui, trouxe duas coisas que são bem interessantes sobre unidade
temática, está lá na Base Nacional Comum Curricular: "Ciências no 1º ano" - só para
vocês verem o que eles pensam da gente - se chama "Vida em evolução",
essa é a unidade temática: "O conhecimento é corpo humano/respeito à
diversidade". Agora veja a atividade que tem que se desenvolver, imagine
só, eu comecei como professora alfabetizadora, só para vocês verem
"Localizar...", fora aquele número que vem EF01ZCR0234, muito fácil
de você identificar "Localizar, nomear e representar..." Isso é
habilidades nesse requerido "Graficamente (por meio de desenhos) partes do
corpo humano e explicar suas funções. Segunda habilidade, discutir as razões
pelas quais os hábitos de higiene do corpo (lavar as mãos antes de comer,
escovar os dentes, limpar os olhos, o nariz e as orelhas etc.) são necessárias
para a manutenção da saúde". Ou seja, é considerar que um professor
decididamente é um imbecil.
Eu
estou dizendo isso, porque sobre isso virá o material que será distribuído para
todos os professores. Em 72, eu fiz um curso do qual eles queriam ensinar as
professoras alfabetizadoras a fazer um plano de aula competente, na época tínhamos
nas leis de diretrizes de base assim: "Formação integral da criança e do
adolescente". O governo da ditadura dizia o seguinte: "Olha, formação
integral, como é que se mede isso, o que quer dizer formação integral? Vocês
têm mania de usar esses termos generalistas, o que é a formação integral?"
E, às vezes, a gente tinha aquela mania mesmo de falar: "Olha, se a criança
está feliz de ir na aula é porque deve estar sendo muito bom o que acontece
lá". E eles diziam "Felicidade? É ridículo uma coisa como essa.
Você
tem que dizer o seguinte: "Primeira semana de setembro, o aluno tem que
aprender, falar e escrever, cinco palavras que, por exemplo, comecem com o
dígrafo LH. Se ele escrever palhaço, galho, parabéns. Se ele escrever cinco
palavras, Lisete, muito bem, você foi uma boa professora. Escreveu três,
Lisete, você precisa se dedicar mais. Não escreveu nenhuma, Lisete, já está
aqui um sinalzinho, cuidado, você tem se dedicado pouco."
Vou
ler sobre as habilidades que está dada aqui na Base de Ensino Nacional
Curricular, página 29: "Diferenciar escravidão, servidão e trabalho livre
no mundo antigo". Peguei uma de história, porque vocês sabem que o
professor de história está sofrendo, aí vem a explicação: "Explicitar,
esse é o verbo". Veja bem "Que explicita o verbo cognitivo envolvido
na habilidade". Se isso não é tecnocracia, não sei muito bem como
chamaria. Segundo: "Complemento do verbo, que explicita o objeto de
conhecimento mobilizados na habilidade e modificadores do verbo ou do
complemento dos verbos que o contexto e/ou uma maior especificação da
aprendizagem esperada". No caso, no mundo antigo.
Eu
estou colocando isso, porque realmente a habilidade e competência é uma visão
exclusiva de uma determinada concepção de educação, e eu sou paulofreiriana, portanto,
para mim não quer dizer coisa nenhuma. Sobre a questão da reforma, como
governadora vou autorizar uma grande confusão que é o seguinte: "Alô, alô, professores, vamos queimar
todos juntos as apostilas. Alô, alô, escolas, que tal apresentar o projeto que
vocês querem fazer na escola, conversando com a comunidade, chamando os pais. E,
alô, alô, que tal começar a abrir de novo as escolas nos finais de semana para
que a gente possa tirar as grades vergonhosas, uma prisão?"
Dá
vergonha de entrar nas escolas estaduais de ensino médio do Estado de São
Paulo. Outro dia fui dar uma aula, conversar com os meninos, você sabe que como
candidato não é tão fácil assim, eu entrei meio clandestina e recebi na entrada
um S e até pensei: "Eles acham que sou uma Sonia". Para descobrir que
aquele S que eu recebi era a maçaneta da porta onde entrei. Nós conversamos com
o diretor, foi uma conversa delicada, porque eu falei: "Escuta, mas como
assim?" E ele disse: "Não, Lisete, porque os alunos sacodem, arrancam
a porta”. Eu perguntei: "Para entrar ou para sair? Se for para sair, bom.
Agora se for para entrar". E ele: "Bom, Lisete, é que a gente fecha a
escola às 7 horas". E eu vou dizer, fechar a escola às 7 horas
pontualmente nós sabemos o que significa, eu dou aula na USP, na Pós-Graduação,
e sei que obviamente as pessoas não têm condição de chegar, minha aula começa 7
e meia e eu não posso fechar a porta as 7h30 ou 7h29, porque eu teria metade da
classe. Por que um jovem de 14 anos vai ter condição de chegar lá à noite exatamente
às 7 horas?
Eu
estou colocando isso, porque nós temos uma organização de 24 anos que deu para
o PSDB mudar concepções, mudar ideais, mudar a formação de professores e eles
querem, e vocês sabem disso. Nós temos duas senhoras, a mesma Rose que nós
conhecemos muito bem e Guiomar de Melo, que nós conhecemos melhor ainda, que têm
feito intervenções nas propostas das três universidades públicas, a Unicamp, a
Unesp e nós, é que na USP eles têm menos coragem de entrar em cima, a gente é
mais talvez petulante, qualquer coisa assim.
Mas,
efetivamente, eles estão tentando alterar conteúdos, vou citar dois casos. Em
Rio Claro, eles tentaram, tentaram o que eu estou dizendo é entrar direto, e
tem o aval. Não por acaso, a pró-reitora de graduação hoje é membro do Conselho
Estadual de Educação. Então, com o aval da pró-reitora, eles foram a Rio Claro
para dizer o seguinte: "Retire o Luiz Carlos Freitas da bibliografia da
avaliação crítica dos exames nacionais". Isso numa universidade pública.
Segundo, em Marília, de onde eu estou vindo anteontem, um coordenador do curso
de Ciências Sociais falou: "Lisete, aquela Cleomar teve a coragem de falar
que a gente aqui usa uma bibliografia ultrapassada e esse tal de Karl Marx
ninguém mais acredita nele". Então, é uma coisa incrível.
Mas
isso que eu estou contando, de forma jocosa, significa intervenção direta e é o
que a Base Nacional Curricular quer fazer com todos nós, que a gente realmente
crie para a juventude, para nós mesmos, que nós comecemos a nos policiar. Por
isso que a escola sem partido tem o aval deles, porque eles querem que nós
comecemos a sentir medo do que a gente trabalha. Que, como bem colocou aqui a
mesa que nos antecedeu, tem lá um controle, hoje as nossas aulas são gravadas e
podem gravar. Mas eu digo assim, elas são gravadas exatamente para criar
potencialmente uma situação de medo em nós, para que a gente não discuta as
questões críticas contra o governo, contra a situação, contra exatamente o que
significa hoje o capitalismo. Portanto, é realmente um controle que tem que ser
feito e nós vamos sugerir que a Base fique de lado, que ela seja ignorada.
Nós
temos uma autora que hoje até virou ativista, Diane Ravitch, que foi secretária
de educação do Estado de Nova Iorque por sete anos. Ela diz que antes entrar, não
sei se vocês sabem também nos Estados Unidos a qualidade vai mal, falou:
"Bom, eu quero entrar e melhorar a qualidade de ensino. O que é preciso
fazer?" Logicamente, o Banco Mundial diz: "Nós temos aqui a solução.
Três coisas resolvem o caso: Primeiro, “uniformizar o currículo". Nos
Estados Unidos, o Estado é que define os currículos, e ela realmente
estabeleceu um currículo único para o Estado de Nova York. Segundo: “criar
testes estaduais únicos”, e ela os criou. Terceiro: “estabelecer um salário
básico, porém, só o plus a mais, você quer um aumento salarial ele será dado
pelos resultados dos exames das notas que os alunos tirarem." Parece
alguma coisa parecida?
A
Diane Ravitch fez isso, sete anos depois ela escreve um desses livros que eu
acho que vale a pena a gente ler, chamado Vida
e morte do ensino americano, no qual ela diz: "Queridos, eu fiz tudo
que o Banco Mundial mandou. Preciso confessar que realmente me enganaram.
Primeiro, não é verdade que a qualidade do ensino americano melhorou. Segundo,
não é verdade daquele dia em diante, nunca mais foi possível o trabalho
coletivo e de equipe em sala de aula em cada escola, porque estabeleceu-se uma
competitividade entre os professores que matou a possibilidade de a escola
sequer ter um projeto de educação para a sociedade americana."
Então,
é reagindo preventivamente contra isso que nós podemos dizer com muito prazer: “abaixo
a BNCC”, “abaixo a essa reforma do ensino médio”. Vamos ao respeito à história
pedagógica que cada escola da rede tem, fazendo a sua proposta e elaborando seu
projeto pedagógico. Eu não tenho dúvida nenhuma que nós vamos conseguir reavivar
a possibilidade de esperança e fazer da escola uma possibilidade sim, que a
nossa juventude tenha uma emancipação intelectual, emocional. Eu estou
brincando com o emocional, porque eles falam socioemocional e que é superengraçado,
já discuti essa questão até com a Ana. Mas, é um pouco isso, então, pela
dignidade da escola pública, do respeito aos professores e professoras do
Estado de São Paulo, não à BNCC, não à reforma do ensino médio.
PLENÁRIA
Perguntas:
INÊS - GUARULHOS NORTE: A minha preocupação, além das possíveis reformas e
a BNCC, que vêm para destruir mais ainda a educação, são as escolas que já
fecharam o noturno, numa região precária, que é a do Cabuçu e vizinhança, onde
a população é muito grande, os jovens começam a trabalhar aos 14 anos e, muitas
vezes, antes disso pela situação precária da família. A escola em que eu trabalho é a única que
permanece o noturno. Nós estamos com as salas superlotadas, com 52, 55 alunos,
mesmo na parte da manhã, por terem fechado salas e aglomerado tudo numa única
escola. Ela contempla o ensino fundamental, médio e o EJA, então, como podemos
aceitar que a secretaria feche o noturno numa região aonde a maioria precisa de
trabalhar ainda muito jovem?
RICARDO – BAURU: Por favor, não pessoalizem minha questão. Eu milito há uns 20 anos e
sempre pela esquerda, apesar de morar no interior, numa região extremamente
conservadora, e vir de uma família também conservadora. Mas, fiquei pensando,
me agrada muito sempre ouvir a esquerda falar, apesar de ver uma mesa que provavelmente
vai ser derrotada, não chegaram nem a 10% dos votos. Por que a esquerda não se
une nunca, será que a gente vai ver isso acontecer algum dia? A esquerda tem um
discurso de defesa do trabalhador, mas o que eu acho engraçado é que o
trabalhador não vota nos candidatos que defendem o trabalhador, pelo menos de
modo geral, pelo o que eu entendo 90% da população devem ser de trabalhadores
formais ou não. O PSTU eu acompanho desde "Contra burguês, vote 16"
e, mesmo assim, não elege ninguém. O PT e PSOL dizendo que vão dobrar nosso
salário e os professores não estão acreditando nisso.
OZIMAR FREITAS - LESTE SÃO PAULO: A voz da educação pelos meios midiáticos, não só
em São Paulo, mas em todo o Brasil, é o Todos pela educação. Em entrevista, a
sua presidente, a professora Priscila Cruz, fala a seguinte frase:
"Precisamos de governo que tenha obsessão por resultados em educação. Não
precisa de dinheiro e sim de reformulação”. Queria saber qual a opinião de
vocês sobre essa fala dela? Qual é a opinião dos candidatos sobre a introdução
da filosofia para as crianças no ensino fundamental, um projeto encampado pela
APROFFESP?
ANDRÉIA – PENÁPOLIS: Minha questão é sobre a saúde do professor, já que
somos uma classe que adoecemos muito e a nossa assistência é bastante precária.
Eu queira saber dos candidatos quais os dados que eles têm aí a respeito e o
que propõem para que a gente tenha um outro quadro?
NÍCIO - SANTO ANDRÉ: Eu gostaria de perguntar à candidata à vice do PT,
qual é o posicionamento do partido referente ao projeto Lula sobre a revogação
da reforma Temer?
SADI – BUTANTÃ: Os professores estão ficando doentes, o aluno passa sem saber, ele faz
o que quiser na sala de aula, não pode ser suspenso, a escola não transfere
para uma outra, as advertências não valem nada, as notas não valem nada, porque
o professor está coagido totalmente, a gente não pode dar o conteúdo que
planejou, não é só os professores de filosofia, todos.
EDERSON – OSASCO: Vamos imaginar que temos um 2º turno, vocês se colocariam a favor de
quem está na frente? Será que vocês são capazes de se unir e se mobilizar por
esse lado social? Esses dias eu estava em casa e vimos uma candidata e a minha
mãe falou: "Como assim, essa mulher quer ser candidata à governadora? Ela
é negra, tem cara de empregada doméstica, ela se parece comigo. Ela não sabe se
colocar no seu lugar?" Minha indagação é será que a escola está
conseguindo fazer esse papel de quebrar o imaginário de que o pobre pode ocupar
outros espaços, também a mulher?
Respostas:
LISETE
ARELARO - PSOL
Inês, realmente a proposta
do governo do Estado de São Paulo é absolutamente transparente em relação a
isso, aliás, eles nem mencionam que nós temos 2 milhões e meio de analfabetos
no Estado mais rico da federação, eles não querem tratar disso. E, portanto, é
o seguinte, o EJA para o PSDB efetivamente será feito à distância, eu estou
colocando isso porque até o deputado Ivan Valente apresentou um projeto de lei
para provocá-los mesmo, exatamente obrigando que toda escola tenha EJA
presencial. Eles querem que todo o ensino seja à distância para o EJA do ensino
médio, o que eu considero um absurdo, querem é juntar as escolas, nós já temos
até um mapeamento.
Eu participo de um grupo que
nós criamos por ocasião da ocupação das escolas, exatamente porque os meninos
tinham que apresentar ao Ministério Público dados objetivos para fazer a
denúncia. O Estado precisava de dados, quantas classes fecharam, que escolas etc.
E, obviamente, eles teriam uma dificuldade para isso. Então, nós criamos uma
rede chamada Repu. Nós temos hoje um retrato do Estado e é impressionante,
quando você pega o município de São Paulo ou Guarulhos, vê que eles juntaram as
classes e puseram longe, como se os pobres morassem num lugar só. Então, é um
negócio maluco.
Devia ser o contrário, quem
não conseguiu fazer em época hábil, quanto mais você facilitar o acesso, mais a
tendência é que ele permaneça. A outra questão é a oposta, na época do Naline
ele teve a coragem de nos falar como os alunos desistem de uma forma
transparente, como tem evasão no ensino médio. Então, o que que faz? Vamos
colocar 50, aí termina com 30, ou seja, não só a evasão é admitida, como ela é
prevista e estimulada.
Eles têm, inclusive, dados
de pesquisa que mostraram, desde dos anos 80, que se eu tiver uma classe com 25
alunos, a tendência é que os 25 permaneçam nos três anos no ensino médio. Está
escrito no nosso programa de governo, mas quem quiser acompanhar, por favor é lisete.com.br,
que efetivamente nós vamos, já no dia 2 de janeiro, recuperar as 1.500 salas
fechadas e depois vamos discutir se há salas sobrando, porque estão sobrando. E,
portanto, como eles querem fazer esses dois processos, um que meu colega aqui
já denunciou, que é a economia, então, você faz um sistema à distância.
Nós temos uma posição
nacional, as entidades de educação, sindicais e acadêmicas de que a primeira
graduação tem que ser presencial, a partir da segunda, curso de especialização,
se quiser fazer à distância, ok, porque a pessoa já tem as condições mínimas de
formação para poder acompanhar os cursos. Mas, até lá, nós defendemos que seja
presencial, até porque vocês sabem que aquele tutor em qualquer curso à
distância é um recém-formado, em geral, que responde todas as perguntas como se
ele fosse uma enciclopédia. Ou seja, ele lê as perguntas que já foram
programadas.
Qual a riqueza da nossa
formação e por que a gente defende sendo presencial? Porque certamente num
curso, você tem 10, 12 professores de formações diferentes, com crenças
diferentes e visões diferentes e é essa riqueza da diversidade, inclusive dos
professores, que permitem, sem dúvida nenhuma, até uma avaliação crítica sobre
a vida ou sobre a sociedade etc. Então, é preocupante. Quero lembrar também que
a Base Nacional, a reforma do ensino médio, entrou em cima de um processo de
negociação nacional que vinha sendo feito no congresso, com adesões variadas e
até já tínhamos uma proposta razoavelmente consensuada. Então, é contra
realmente a educação que essa lei existe.
Ricardo, eu diria para você
que a esquerda não se une porque nós temos divergências em relações
importantes, nós temos concepções, a direita também tem. Aliás, basta pegar o
PSDB aqui em São Paulo, se nós quisermos discutir divergências, estamos no Estado
certo para fazer isso. Aí, eu acho interessante, você fala que os professores
não acreditam, está certo, eles têm o direito de não acreditar, faz 20 que
qualquer candidato fala que vai dar aumento, e eu estou dizendo experimente
votar Lisete 50 e você pode experimentar uma nova realidade.
Ozimar, olha, a Priscila
desculpe, Todos pela educação eles escolhem as pessoas que eles querem e,
obviamente, eles estão disputando conosco, e a Priscila é paga por eles para
ter uma determinada posição que ela sustentará. Se ela não sustentar essa
posição está demitida. Então, ela sustenta isso, não é o caso de ninguém dessa
mesa, e nós sabemos que o processo nós desprezamos o resultado, mas a questão
do processo de aprendizagem sabemos todos que ele é fundamental, e, portanto,
essa é uma questão.
A introdução de filosofia é polêmica, acho que
se a escola quiser fazer uma experiência é direito dela, mas eu me
estabeleceria que a filosofia seja obrigatória em todo o ensino fundamental.
Agora, não vejo problema nenhum, por isso que eu defendo que cada escola tenha
um projeto, tem lá um professor que quer experimentar, tem um projetinho ou
projetão, quer experimentar, conversou com os alunos e eles topam, legal, vamos
lá e isso é muito bom.
Andréia, eu acho que os
professores estão ficando mais doentes do que nós ficamos, até porque estou com
73 anos, tenho oito orientandos, três projetos de pesquisa e dou aula de
pós-graduação animadinha. Sem dúvida nenhuma, a pressão dos professores da
educação básica é terrível, nós não estamos discutindo aqui o MMR, mas eu
consideraria que é uma das formas de opressão e controle mais duras que, se a
gente não derrubar, o professor vai enlouquecer. Aumentar salário, dar boas
condições de trabalho na escola, o professor poder ter seu projeto, ele vai
levantando o ombro. Um professor que acha que tem um pouco de liberdade, que pode
pegar um projeto que acredita para realmente colocar em discussão e em
execução, olha, acho que a gente vai ficar mais saudável. Essa é uma condição,
sem dúvida nenhuma, fundamental para nós, não dá para controlar a forma como a
gente está trabalhando.
Sadi, eu acho que você
levanta alguns problemas, que eu diria que a escola também deve ao aluno, vou
pegar a ocupação das escolas. O que os rapazes e moças falaram para nós?
Primeiro: "Queridos professores, como nós gostamos da nossa escola".
Segundo: "Nós gostamos de vocês, só não gostamos das aulas que vocês
dão." O que é absolutamente saudável. E falaram: "Se vocês
perguntassem mais para nós, poderíamos sugerir propostas muito
interessantes." Eu confesso para vocês que aprendi muito com eles, confesso
que fiquei surpresa, com a divisão de tarefa que eles fizeram, quem cuidava da
limpeza, da segurança, de convidar as pessoas, da alimentação. Foi uma coisa
absolutamente perfeita e as propostas de cursos, eu tive o privilégio de ser
convidada e participar de um dos cursos deles, que é um pouco isso, quem
denuncia a despolitização da educação, a descontextualização do conhecimento
foram eles. Então, eu diria, Sadi, se você abrir um pouco, se as escolas
toparem realmente conversar mais com os alunos, eles nos respeitarão mais
também.
Everson, num segundo turno
acho que é isso. Num primeiro turno nós nos apresentamos com o nosso programa
de governo, então, sou do PSOL, estamos com coligação com o PCB, porque éramos
dois partidos que tinham maior identidade num programa de governo. Agora, o segundo
turno é o segundo turno e logicamente a gente espera que nós tenhamos alguma
alternativa, mas nós também estamos defendendo que, por favor, vote naquilo que
você acredita no primeiro turno, para termos a chance de ter boas alternativas
no segundo, é um pouco isso.
Ontem, eu fui sabatinada na
CBN e até fiquei sabendo lá que, de fato, o coiso pretende defenestrar o Paulo
Freire. Vocês já sabem, eu já disse que não vou morar no palácio dos
bandeirantes porque eu tenho casa e gosto da minha cama e não vejo relação em
ser servente a governador e ter que morar em palácio, nunca morei, não sou de
lá e vou transformar numa universidade popular de nome Paulo Freire. Daí eles
falaram "O coiso falou que vai defenestrar todos os livros do Paulo
Freire". E eu até ofereci uma vaga no meu curso de atualidade no pensamento
do Paulo Freire e também vou mandar um livrinho do Paulo Freire, aproveitar que
ele está internado, desejando melhoras e que ele leia.
E o papel da escola é um
pouco isso, acho que a ocupação das escolas nos deu uma boa ideia, eu não quero
que a gente perca isso, foi muito difícil para eles fazerem, foi um movimento
que surpreendeu a todos nós. Não era um movimento organizado e eles conseguiram
se organizar e, até hoje, muitos deles estão sendo perseguidos pelas diretorias
de educação, inclusive com fotos distribuídas a policiais, e onde eles vão
estão sendo controlados. Foi um movimento de rebeldia absolutamente sadia e lembremos
que ordem e progresso que o Temer defendeu foi proposto por Plínio Salgado, um
integralista, portanto, para nós, não tenho dúvida nenhuma, um pouco de
desordem é a condição efetiva de um progresso, de uma vida digna no país.
Então, sem medo de mudar São Paulo, sem medo de mudar o Brasil, vote PSOL, vote
50 e acho que nós seríamos mais felizes. Muito obrigado pelo espaço, foi um
grande prazer estar aqui com vocês.
TONINHO
FERREIRA - PSTU
Eu
tenho quatro irmãs professoras, isso não me credencia conhecer da educação, em
absoluto, mas duas delas já estão aposentadas, uma está desesperada para se
aposentar, ela dá aula numa periferia, e uma não tem condição de se aposentar.
Mas, por exemplo, não sei quanto elas adoravam a escola, uma delas, inclusive, desistiu
mesmo de dar aula para poder se aposentar, mas o que nos comenta, o que nos
fala da escola, é que é um sacerdócio dar aula.
A
gente não pode só ver apenas a questão da educação, mas no todo também, porque
senão não tem muito saída. O social precisa ser visto de conjunto, por isso eu
disse e volto a repetir, se vai pagar ou não a dívida pública, porque se pagar não
tem solução em nenhum setor. É essa dívida que nós temos que comprar e é isso
que nós devemos fazer.
E
é preciso acabar com o nível de corrupção, acabar com a corrupção em conjunto
você não consegue, porque ela é inerente ao capitalismo, não tem jeito, sem
capitalismo não vai ter corrupção. Não podemos aceitar o presidente da
Assembleia Legislativa ser o chefe da máfia da merenda, aí não dá, é quem tira
a alimentação da boca das crianças. Esse cara chamado Fernando Cabez,
presidente da Assembleia Legislativa, por sua vez, é irmão do Rodrigo Cabez,
que foi o cara que era juiz e foi dirigir as tropas do Pinheirinho, em 2012,
para tirar as 8 mil pessoas que estavam lá. E agora, depois de tudo isso, o
Rodrigo Cabez foi ser assessor do Dias Toffoli, aonde que nós vamos parar? É
isso que existe e o Fernando Capez hoje é candidato a deputado federal pelo
PSDB, agora como a gente pode aceitar uma máfia da merenda?
É
preciso, no mínimo, diminuir os níveis, não sou nenhum doido de achar que vai
acabar no capitalismo a corrupção, não vai, mas ela é muito escandalosa. E o
que passa no bolso deles para poder fazer as campanhas, para poder enriquecer,
é o que falta na educação, é o que falta na saúde, é o que falta na moradia
popular, é o que falta para o saneamento, é o que falta para tudo, e que são
milhões, muitos milhões.
Inês,
o que está acontecendo nessas escolas de 50, 55 alunos na sala de aula é o que
eles querem fazer, porque é preciso economizar e ter superávit primário para
pagar a dívida, esse é o Estado mínimo que nós chamamos. É preciso privatizar
tudo, esse é o Estado mínimo, retirar da sociedade para sobrar mais para
banqueiro, porque é preciso garantir os acionistas, então é por isso que faz
dessa forma.
Por
que a esquerda não se une? Porque tem propostas diferentes, não tenha dúvida, em
alguns momentos já se unificou e já votou em trabalhador, nós achamos que não
valeu a experiência, tem gente que acha que deve, nós achamos que a experiência
não valeu. Nós não somos a favor do Prouni e do Fies, o filho da lavadeira
consegui uma vaga, uma, e o que foi para banqueiro, que poderia ter ido para
escola e para educação? Isso é uma diferença. Evidentemente, nós vamos continuar
fazendo. Não, não queremos apenas um filho que virou médico, nós queremos
muitos, porque isso vai para o balanço do ensino.
Resultado
na educação, mas como que mede isso, se aprova ou não aprova no final, que
resultado? Sei que tem muitos candidatos que estavam com essa história aí. A
saúde do professor no Estado, isso é um caos, eu escuto isso quase todos os
dias, eu milito no movimento popular, é uma das categorias que mais adoecem, porque
a situação é muito difícil. Se não resolve a questão social, os professores vão
continuar adoecendo, tem a ver também com a questão do salário. Por exemplo, o
professor tem que dar aula em duas, três, quatro escolas. Aliás, eu estou vindo
de São José dos Campos, para chegar é muito difícil, um transito que não dá. E
como é que o professor vai dar aula em mais de uma escola, ele vai se matar, e
mais as condições de dar aula para 50, 55 alunos, e aí como é que ele não vai
ficar doente?
E
é essa a situação que a gente vive, ou a gente se rebela e luta contra esse
status quo, junto com o aluno, todo mundo se rebelando, fazendo grandes
mobilizações ou não tem saída.
A
questão do voto no segundo turno, o segundo turno é outra eleição, eu acho que
é errado essa história de escolher o mal menor, não acredito e não concordo,
muita gente votou no Covas para poder enfrentar o Maluf, adiantou? Quanta gente
votou em fulano por que sicrano era pior? Eu não quero mal menor, eu não quero
o mal, eu não quero escolher se vou morrer com dois tiros ou se vou ser
enforcado, eu não quero é morrer, não dá. Aquele que não se deve nomear, para
lembrar o Harry Poter, nós devemos enfrentá-lo? Não sei, tem tanta coisa para
passar por baixo da ponte, ele não é o super-homem, para alguns candidatos se
tornar vítima é bom, mas para ele não é bom não. Ele tem que ser o super-homem,
a faca tinha que ter quebrado na barriga dele, a faca não quebrou, ela entrou.
Então,
tem que tomar um certo cuidado. Vamos ver, por mim não tem nada definido, os
dados estão rolando, eu estou com 1%, estou feliz. Estou feliz, com
sinceridade, não tenho tempo na televisão, não consigo falar com ninguém, eu
não consigo colocar minhas ideias. Aliás, vou para a CBN, viu Lisete, vou estar
segunda-feira quem puder me ouvir às 11 da manhã, hoje vou dar uma entrevista
na Globo, a Globo sempre me entrevista, mas nunca passa. Como nós não temos
muitos candidatos - seis deputados - eles vivem me entrevistando, devem estar
fazendo um arquivo e um dia vão usar aquilo, não sei para que.
Ederson,
às vezes, me agride muito essa história que sua mãe falou, porque nós militamos
com isso. Mas eu acho isso uma coisa impressionante, essa é a luta que nós
temos que fazer e é por isso que nós colocamos caráter de classe. O que é mais
importante é o caráter de classe, que está colocado para nós: de que lado está,
se tem ou se não tem lado. Por exemplo, nossa companheira candidata à
presidência da República é uma mulher, negra, nordestina, pequeninha, se formou
em sociologia com muita dificuldade, saiu do sertão do Pernambuco, foi tocar a
vida em Sergipe. Por que que não pode ser candidata à presidência da República?
Por que que o santo pode e ela não pode? Pode, tem posições diferentes, em
absoluto, eu sei.
Mas
é uma coisa que é difícil, eu sei o que você coloca. No mais, eu queria dizer
que a Michele, candidata do PSTU, é negra, grande parte dos nossos candidatos
são negros, e é aí que nós queremos atuar, nós atuamos com os operários na
periferia e esse é o nosso povo. Para terminar, eu queria mais uma vez agradecer
imensamente essa oportunidade que nos deu de poder vir aqui e falar um pouco
das nossas ideias, a gente não vive só na eleição, nosso partido não vive só de
eleição. A gente vive pós eleição, a gente vive todos os momentos dos
trabalhadores, da população pobre, se por acaso tiver um novo encontro, mesmo
eu não sendo candidato, me convida que eu venho com muita satisfação. Já disse
aqui a vocês, tenho convicção do que falo, acredito no que falo e não perdi a
capacidade de sonho, a gente continua dessa maneira e é por isso que a gente
vem na luta dos trabalhadores independente do momento.
ANA BOCK -
PT
Inês, acho que nós não temos que aceitar o
fechamento, quando nós estamos nos oferecendo como candidatos com outro
programa estamos dizendo que não aceitamos, que achamos que é de outra forma
que se pensa educação, que se faz educação. Então, agora resta votar nessas
outras alternativas com garra para que a gente possa ter chance.
Ricardo,
a gente tem o discurso, a defesa do trabalhador e o trabalhador acaba não votando,
eu acho que existe isso. A Lisete e o Toninho devem ter a mesma coisa, quando vamos
nos lugares temos a impressão que todo mundo vota na gente. "Quem será que
vota nos outros?" Porque tem um contingente grande votando na gente,
apoiando nos lugares que você vai. Mas eu concordo que há, está aí o resultado
da eleição mostrando.
Acho
que tem a mídia com uma questão importante nessa história, que formula
inverdades e convence a população disso. E golpes, por exemplo, o inominável,
ele tinha sete segundos de propaganda eleitoral na televisão, ele ganhou agora
24 horas, a gente tem que ficar assistindo como vai a saúde dele, como vai a
mãozinha. Então, acho que é assim uma questão difícil e que se a gente não
interferir na mídia nós nunca vamos conseguir mudar o cenário brasileiro. É
possível democratizar a mídia, é preciso acabar com esse domínio de sete
famílias serem donas da mídia brasileira.
Então,
eu acho que a gente tem essa questão posta e as pessoas continuam a falar,
"Mas eu não posso votar no Lula", quando ainda era o Lula, "Porque
ele está preso". E eu "E daí? ”
“Se ele está preso, se a justiça o prendeu é porque ele tem culpa".
Ainda existe uma crença na justiça. A gente que trabalha na psicologia, existe
uma coisa que é o fato e existe uma coisa que é a dimensão subjetiva que é como
as pessoas significam individualmente, como significam coletivamente os fatos
que estão acontecendo, e a gente não pode esquecer disso. Até quando fazemos
campanha não pode esquecer disso, que as pessoas estão dominadas por inverdades
ou pelas verdades que elas receberam, às vezes até da escola.
Vai
dobrar o salário? Vai ter que dobrar porque é uma questão de investimento na
educação que é básico, porque nós estamos dizendo assim que é outro projeto de
Brasil, é outra coisa e essa outra coisa exige a valorização do trabalho do
professor. Não estou dizendo que nos quatro anos, existe uma coisa que é o
projeto eleitoral e existe outra que é o plano de governo, que é na hora que
você precisa fazer, estruturar, negociar com a Câmara, você tem orçamento para
os quatro anos. Mas é isso, vamos dobrar o salário do professor.
Bom,
o Todos pela educação, gente, ali não tem nenhum pela educação, devia mudar o
nome, porque é um pensamento bastante retrógrado, é uma concepção. É preciso
que a gente entenda a diferença entre projetos, tentei aqui na minha
apresentação falar desses dois projetos, da concepção de educação que está
posta, dá para pegar nas frases deles quando divulgam, o que eles estão
chamando de educação.
Filosofia
para criança, penso como a Lisete, há muitos anos fiz um trabalho para uma
editora onde a gente afirmava no livro para os professores, fizemos de história,
de comunicação, eram três áreas, que tudo pode ser ensinado para qualquer
criança, desde que formulado da forma que ela tem de compreender naquele momento.
Então, eu acho que é possível ensinar filosofia para as crianças, assim como é possível
ensinar matemática. Agora, é isso, tem que ter lá um professor que saiba fazer
isso, tem que ter uma disposição da escola. E acho que experiências podem ser
feitas, precisa haver mais empenho para que os professores se sintam preparados
para trabalhar com as crianças.
Saúde
para os professores, acho que já se falou muito de salário, formação, o espaço
da escola, a qualidade do material, queria só acrescentar uma questão que para
os psicólogos é muito cara, que é o clima afetivo com que se trabalha numa
escola. Entendendo que ali formam um conjunto educacional, todos podem
colaborar, todos podem fazer trabalhos de professor de história junto com o de
português, a disponibilidade para um trabalho mais parceiro. Essa ideia de ter
um clima bom na escola, coletivo e isso vai implicar e exigir que se tenha
gestão democrática e autonomia. Defendo sempre que a escola tem toda condição
de formular seu projeto, e eu acho que, mais do que ter autonomia, é conseguir
que ao formular seu projeto todo aquele conjunto se sinta apropriado, pertencendo.
Há que haver um sentimento de pertencimento.
Bom,
é categórica a revogação da reforma do ensino médio, a educação está no
capítulo dos direitos sociais. Agora, claro que é preciso estudar as
revogações, porque algumas podem ser revogadas por vontade popular, outras por
uma legislação, por medida provisória, se for medida provisória que a instituiu
toca uma medida provisória nela e desinstitui. É preciso analisar, e acho que a
Base Nacional teve um início realmente de processo mais democrático, ela não
estava boa ainda quando foi interrompida. É preciso resgatar esse processo mais
democrático para que ela possa ser revista.
Ederson,
acho que é possível a união no segundo turno, não tenho dúvida disso, vocês têm
que perguntar isso é para o Toninho. Eu acho que a gente pensa muito
simplesmente assim, enquanto o PSTU faz o discurso dele, milhares de médicos,
engenheiros, psicólogos, pedagogos, foram formados pelo Prouni, nós formamos,
por outro lado, milhares de pessoas. Existem sim, como ele afirmou, essas
diferenças, mas acho que é possível, não acho que tem que se escolher o menos
pior, isso é ele que está dizendo. Se a gente tiver uma alternativa de esquerda
e uma de direita, não temos dúvida, vamos unir e vamos sim eleger a alternativa
de esquerda e trabalharmos todos como movimento popular, como movimento social,
para contribuir para o avanço daquele que foi vencedor. Se não tivermos
alternativa, aí a gente vai apoiar o PSTU ou voto nulo, mas se a gente tiver
alguma alternativa progressista de esquerda, que pense diferente da gente, que
não seja absolutamente igual, mas que a gente reconheça um progressismo na sua
proposta nós vamos sim apoiar porque a população do Brasil precisa disso, a população
de São Paulo precisa disso, é respeito à população.
E
por fim, Ederson, acho que sua mãe é vítima, como muitos de nós, do pensamento
da elite que se impôs na escola, que se impõe na mídia, é o que eu chamei de
dimensão subjetiva, por mais que já tenha se mudado, por mais que haja aí uma
força social que questiona, que haja lei que proíbe preconceito racial, apesar
de tudo isso, há uma dimensão de subjetividade que ainda não pode ser superada,
e ela representa isso.
Então,
nós estamos aqui defendendo uma outra escola, uma outra educação, porque nós
precisamos que toda a população brasileira caminhe para superar posições
fascistas, racistas, machistas, nós precisamos superar tudo isso, e a escola
não é a única, se a gente não mexer na mídia, a gente não consegue. Eu sempre
digo que "A escola não muda o mundo, mas o mundo não muda sem que a escola
mude". Nós precisamos trabalhar nisso, perdoe sua mãe, ela é só vítima de
uma elite insuperável, que nós estamos aqui juntos como três grupos,
representando um conjunto até grande de partidos, tentando superar para que não
exista mais isso.
Ao
final, o professor Aldo Santos agradeceu a presença das candidatas e do
candidato e a importância da continuidade do debate do tema no Estado de São
Paulo e no Brasil.
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