sábado, 29 de setembro de 2018

COM CANDIDATOS/AS AO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Participantes: ANA BOCK (VICE) DO PT; LISETE ARELARO, DO PSOL E TONINHO FERREIRA, DO PSTU


IV ENCONTRO ESTADUAL DE PROFESSORES/AS DE FILOSOFIA E FILÓSOFOS/AS DO ESTADO DE SÃO PAULO
12, 13 e 14 de setembro de 2018

MESA DE DEBATE:
COM CANDIDATOS/AS AO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Participantes: ANA BOCK (VICE) DO PT; LISETE ARELARO, DO PSOL E TONINHO FERREIRA, DO PSTU

Tema: “A BNCC E A REFORMA DO ENSINO MÉDIO NO ESTADO DE SÃO PAULO”
Data: 14/09/2018

Mediação: professor Aldo Santos
Relatora: Profa. Lúcia Denardi
Essa mesa é com os candidatos ao governo do Estado de São Paulo, com quem nós conseguimos estabelecer o contato e o retorno efetivo. O tema dessa mesa e desse debate é a BNCC - Base Nacional Comum Curricular - e a reforma do ensino médio no Estado de São Paulo. Nós, da APROFFESP, achamos absolutamente pertinente esse debate, a partir das propostas dos candidatos e candidatas. Portanto, eu queria chamar para compor a mesa a psicóloga Ana Bock, professora da PUC, que é candidata a vice pelo PT e está representando o candidato Luiz Marinho. Queremos também convidar Toninho Ferreira, que é candidato pelo PSTU. E convidar a professora Lisete Arelaro, do PSOL, para também dar a sua contribuição.

TONINHO FERREIRA – PSTU
Muito bom dia, companheiros e companheiras. Em primeiro lugar eu quero agradecer o convite para que pudesse vir até aqui expor um pouco as nossas ideias, e vinte minutos para mim é bastante tempo, porque na televisão nós temos quatro segundos. Toda vez que nos convidam a gente aceita porque nós acreditamos naquilo que falamos e pensamos. Nós não perdemos a capacidade do sonho, não perdemos essa faculdade de poder sonhar com uma sociedade melhor.
Como vocês são lutares do movimento também, eu queria fazer uma denúncia, foi preso na Argentina, anteontem, um companheiro petroleiro chamado Daniel Ruiz. A Argentina vive num processo de prender dirigentes sindicais e ativistas. Pela grande mobilização contra a reforma da previdência, há companheiros que estão escondidos para não serem presos. Quem sabe o movimento sindical brasileiro possa ser solidário aos companheiros que estão sendo presos lá.
Eu sou Antônio Ferreira, fui presidente do Sindicato dos Metalúrgicos em São José dos Campos por duas vezes e um dos dirigentes e um dos advogados da luta do Pinheirinho, em 2012. Com certeza muitos de vocês foram solidários por ocasião daquela desocupação, feita pelo governo Alckmin, naquele ano. Agora, estou aqui na qualidade de candidato a governador a um Estado muito rico, com um orçamento de 216 bilhões, para 2018, mas com uma população bastante pobre. Nós temos corrido por todo o Estado, no interior e nas grandes cidades, o que é essa periferia da cidade de São Paulo? É uma coisa muito assustadora, a gente já convive com isso, mas sempre encontra uma situação pior do que você imaginava.
E a gente diz isso no seguinte sentido, a proposta dessa Base Nacional Comum Curricular, ou a que se tem para o ensino em geral, não só o ensino médio, são propostas que vêm ao encontro do que prega o Banco Mundial. Ou seja, o que está por trás disso tudo? Porque não é só na educação, é também na saúde, e em todos os setores, é a mesma proposta, que é o chamado Estado mínimo. É diminuir o Estado, é privatizar, é entregar tudo o que ele tem. Aí a gente pergunta: Estado mínimo para quem? Estado mínimo para a população, para quem precisa dele, mas o Estado máximo para os grandes empresários. É isso que eles fazem, é essa a proposta que eles estão trazendo, e tudo é parte de uma proposta só.
Pegando a saúde como exemplo, o repasse às chamadas OS - Organizações Sociais o que é senão uma privatização? Enquanto a saúde for uma mercadoria não vai se resolver o problema e qualquer candidato que achar que tem que ser através das OS está mentindo para a população, eles vão resolver os problemas dos empresários.
É assim também na educação. Há candidato a presidente da República que está dizendo que para resolver o problema vai dar um voucher para os alunos estudarem onde quiserem. Esse cara não conhece nada, não sabe nada da vida, um milionário que não sabe o que quer, o que se passa aqui embaixo com a população de carne e osso, a população mais pobre. Como você vai dar um voucher para a pessoa estudar, isso significa também a privatização, vai estudar onde e o quê? Tem essas propostas malucas que aparecem por aí.
E tem um outro, que agora não está em campanha por convalescência, que disse que é preciso militarizar as escolas. A proposta do João riquinho Dória em relação à segurança é a mesma coisa. Ele diz o seguinte, há quatro Rotas, ele quer passar para 22, para bater na gente quando estiver fazendo greve. Como fizeram com os professores municipais, que eles meteram bomba de gás lacrimogênio e botaram a polícia lá. Qualquer um que fale que tem que aumentar o número de profissionais e policiais é um absurdo, isso não é o que queremos. Porque se você pensar em colocar um policial para cada cidadão, você não vai aumentar segurança, vai aumentar mais insegurança, não é isso que nós queremos.
Voltando à questão da educação, por exemplo, essa BNCC, pega prioritariamente só duas matérias, português e matemática, e o restante pode ser à distância, pode ser fora de sala de aula, significa o que? Significa a privatização do ensino. Eu quero dizer a vocês, isso é uma coisa que já vem de um tempo, não está começando agora. Eles vêm fazendo isso há algum tempo, por exigência do Banco Mundial.
Parte disso ou o porquê disso é a própria PEC 95, a chamada PEC do fim do mundo, que congela investimentos em todas as áreas durante 20 anos. Parte disso, para arrecadar mais e sobrar mais dinheiro para se ter um déficit primário e poder pagar banqueiro. A dívida pública significa pagar banqueiro. Todos eles dizem a mesma coisa, que é preciso enxugar o Estado, arrecadar mais para pagar banqueiro. E nós sabemos que a dívida pública não se paga mais, é impossível se pagar.
Alguém aqui, por exemplo, já viu e já entrou em cartão de crédito e ficou devendo? Você paga e paga e o negócio não acaba. E a dívida pública é isso, quanto mais paga, mais deve, e a gente vai devendo cada vez mais e é preciso tirar do Estado e da população para pagar banqueiro. O que eles estão fazendo é isso, privatizando e entregando tudo. Com uma crise dessas que estamos vivendo, os banqueiros vão muito bem obrigado, tiveram um crescimento fantástico durante todo esse tempo.
Bom, uma das propostas que todos os candidatos têm que é a chamada parceria público privada também é parte da privatização. Não há nuances nesse sentido, significa a privatização, ou não é isso no transporte? Aliás, uma cidade do tamanho de São Paulo, com apenas 82 km de metrô, é uma aberração total. O PSDB nunca quis um transporte que fosse diferente e o que o Covas dizia era isso, que o transporte sobre trilho era muito caro. E agora, como eles fazem? Pegam o dinheiro do Estado, se endividam e depois entregam para a iniciativa privada, é o que eles fazem e o povo paga a conta. Aliás, tem umas estações aí que são belíssimas, um luxo, quando deveria ter mais quilômetros de metrô do que estações com esse luxo todo.
A situação está cada vez pior, por exemplo, a chamada categoria O, isso é uma aberração total, os professores precisam trabalhar em vários lugares ao mesmo tempo. Eu queria dizer a vocês que vão terceirizando cada vez mais, não só do ensino, mas de todo lado. Quem conhece um terceirizado, quem tem um amigo terceirizado, quem trabalhou terceirizado sabe qual é a situação. Agora, um ministro do STF está ganhando 33 mil reais e quer passar a ganhar 39, sabe quanto um trabalhador tem que trabalhar para ganhar o que eles ganham no mês? Quase 40 meses, mais de três anos.
Assim, como os deputados, que votaram na reforma trabalhista para prejudicar a gente aqui embaixo, nunca trabalharam na vida. Alguém acha que o Rodrigo Maia já bateu cartão alguma vez? Todos eles são filhos de algum deputado, é muito engraçado, porque parece que o pai chega quando está lá na maternidade e fala "Vai ser deputado". Filho do Rodrigo Maia, filho do Jader Barbalho, do Efraim Morais, do Abi-Ackel, todos eles são filhos de alguém e nunca trabalharam na vida. Agora votam para que a gente possa cumprir.
Digo isso porque há pouco tempo fui convidado para um encontro dos trabalhadores da AFUSE, e conversando com eles caí na besteira de falar que um trabalhador de escola ganhava um salário mínimo e meio. Eles disseram: "Opa, como um salário mínimo e meio? ”. Os trabalhadores estão ganhando menos que isso, como é que pode? Como uma pessoa vai sobreviver, que tipo de ensino nós vamos ter? Que maneira nós vamos tocar isso?
É por isso, gente, que eu penso que está certo o que fez a juventude em 2015, quando o Alckmin disse: "Vou fechar a sala de aula, vou fechar a escola". Eles se rebelaram, e é dessa rebelião que nós estamos falando, é preciso se levantar, é preciso se emanar, se juntar e se colocar contra esse tipo de coisa. Se não fosse a juventude, tinham diminuído as salas de aula. Agora, eles desistiram disso? Não, vão continuar, vão vir para cima e vai ser preciso se rebelar de novo. Está certa a ocupação de escola como fizeram, nós precisamos fazer mais ocupação.
Em todos os setores deve ser assim, a greve geral que nós fizemos foi uma bela paralisação, mas deveria ter tido continuidade, infelizmente não tivemos. O Planalto deveria ter julgado o Temer. Na greve da rebelião dos caminhoneiros, se o movimento sindical tivesse se organizado e realizado uma greve geral, a gente teria derrubado o Temer, alguém duvida? Ninguém dúvida, mas os dirigentes sindicais talvez. A gente queria, mas não fizemos, mas era possível.
O que se tem é isso, é a política de privatização e vai ser cada vez pior. A classe trabalhadora brasileira, seja ela na educação e em qualquer outro setor, é preciso se levantar, é preciso mudar esse estado de coisas. Não é possível, num país como o nosso, onde meia dúzia de pessoas tem a mesma riqueza que 100 milhões de outras, como é que nós podemos aceitar um tipo de coisa dessas? Nós vamos ter que nos rebelar completamente. Tudo isso é parte de um projeto do Banco Mundial, é parte de um projeto total do Temer.
Os caras estão falando que vão fazer escolas públicas como as do SESI, eu as conheço porque minhas filhas estudaram lá. São boas, mas com o ensino 5 S é mole, o investimento é muito dinheiro. Eles vão ter o sistema 5 S? E os que vêm com a proposta para resolver o problema da educação se continuarem a pagar a dívida pública não vão resolver, esquece, não há saída. Se continuar pagando a dívida pública não vai melhorar as escolas, é mentira. E vocês sabem que numa eleição, assim como na guerra, a primeira a ser assassinada é a verdade, a verdade é assassinada logo de cara. Mas essa do Skaf não vai resolver, se os outros vierem com a proposta que vão pagar a dívida pública, vão manter contratos, mas quem é que fez? Para quem serviram? Mas "Ah, não podemos dar calote." Mas calote em quem? O povo já tomou calote, nós estamos tomando faz tempo, o calote já existe.
Bom, para terminar, eu queria me aventurar, como dirigente sindical que já fui, acho que nós do movimento, a APEOESP e todo mundo deveríamos ter um projeto acabado para a educação. Não ficar só discutindo salário, mas condições de trabalho, discutir tudo, um projeto que nós queremos, um projeto de massa para que a massa saiba, com pais e alunos. Uma das vantagens de ser candidato a governador é que você aprende muito. Como nós somos eternos alunos, nós vamos sempre aprendendo.

ANA BOCK - PT
Obrigada, comprimento aqui o 4º Encontro Estadual de Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo, a coordenação que organizou e agradeço em nome do Marinho. Eu, na verdade, sou candidata a vice-governadora, sou a vice do Marinho e ele me pediu que viesse a essa atividade. Então, comprimento a todos vocês, parabenizo a realização de um espaço de debate, que é sempre educativo.
Eu gostaria de começar apontando alguns princípios que têm guiado o programa nesse campo da educação. O primeiro, sempre repetido pelo Marinho, é de que não há universalização do ensino médio. Há muitos jovens em São Paulo que nós nos colocamos a intenção política de resgatá-los, são 223 mil jovens, entre 15 e 17 anos, que estão fora da escola.
Por outro lado, há jovens na escola que têm uma vinculação tênue com a mesma, não compreendem corretamente a função, o exercício, o que estão fazendo ali, não foram completamente apresentados a ela, ou a escola não lhes foi completamente apresentada. Então, há uma questão que deve nos preocupar como educadores, que é esse vínculo que os jovens mantêm com a escola.
O terceiro é de que reconhecemos que há um esvaziamento de conteúdo da escola, principalmente nas reformas propostas, embora tenham uma perspectiva conteudista. Um quarto ponto seria que há uma desigualdade social que se reflete ou se apoia na escola. Não é a escola que produz essa desigualdade, mas ela está posta no meio educacional, e, ao mesmo tempo, tem se apoiado e se fortalecido, pela desigualdade que é reproduzida no meio escolar.
Então, esses pontos são importantes para que a gente possa pensar a posição apresentada. No que denominamos projeto Lula, que é o projeto para o Brasil, agora defendido pelo nosso candidato Haddad, que o coordenou, e por Manuela, nós temos lá claramente posto: a revogação da reforma do ensino médio, a ideia de concretizar as metas do PNE, articulando com os planos estaduais e municipais, a institucionalização do sistema nacional de educação, o apoio dos institutos federais às escolas estaduais que têm índices baixos no Ideb, que lá apresentam uma certa fragilidade e vulnerabilidade, e de necessidade de fortalecimento e formação de professor.
Tudo isso estaria sendo feito através de uma política de convênio, de acordo com os institutos federais, numa clara intenção de esvaziamento do papel das ONGs, das OSs nessa função social. Além da formação do professor, que é sempre uma prioridade para qualquer plano que tenha dignidade social, eu incluiria ainda toda a preocupação que tem o plano nacional com a mídia. Porque considero que quando a gente fala em educação precisa considerar o papel que cumpre a mídia na nossa sociedade, a necessidade, portanto, o compromisso do PT e PCdoB com a democratização da mídia.
O professor no primeiro espaço disse: "Eu não acredito em promessa de político”. Eu acho que o presidente Lula prometeu muito menos coisa do que fez, ele é uma pessoa com pouca escolarização, que criou 18 universidades e muitas extensões de vários campus; criou 500 institutos federais; ampliou o orçamento do MEC para 206%; o piso salarial dos professores foi instituído; o Fundeb; as próprias matrículas de creches que se triplicaram; educação indígena e quilombola como preocupações e uma série de ações nessa direção; as matrículas no ensino superior que subiram de 3 milhões para 8 milhões, no período de 2002 a 2015; fortalecimento das cotas nas universidades e o Prouni com as universidades particulares.
Isso tudo mostrando de que fomos capazes dessa construção e nosso candidato à presidência da República, Fernando Haddad, foi sem dúvida o melhor ministro da educação que o Brasil já teve. O que não quer dizer que não tenha falhas, necessidade de aprimoramento, mas o melhor até hoje na nossa história.
Então, isso para dizer, que a gente se sente muito potente, capaz de trabalhar na direção de qualificação da educação brasileira e, no caso, na educação de São Paulo, afinados nos princípios do projeto Lula para o Brasil e, claro, com as especificidades do Estado de São Paulo. O Marinho tem afirmado, também em seu programa, a necessidade de um pacto pela educação, que envolva a sociedade e seus recursos, ou seja, o reconhecimento de que a educação chegou em uma tal situação que não é fácil reverter, fazer uma ruptura nesse processo reeducacional. E que só com um pacto que envolva toda a sociedade, as associações organizadas, os professores organizados, os estudantes organizados, é que a gente poderá reformular a educação. Tem que haver um envolvimento de cada cidadão, um interesse de reformular, de mudar.
A educação no projeto estadual entra como um eixo importante, que vai fazer ponte e integrar várias políticas que, a nosso ver, são apresentadas de forma muito isoladas. A segurança, exemplo, é apresentada a aumentar o contingente policial, as pessoas só pensam nisso, quando, na verdade, ela se cruza, tem uma necessidade de se articular com todo um processo educacional que acontece no meio social. E o papel da escola está colocado aí e o que ela é capaz de fazer para contribuir e não somente aumentar policial.
Outra questão é que quando você fala que tem que diminuir a violência, acabar com a violência dos policiais em relação a população, principalmente a população pobre, nós estamos falando de uma coisa bastante difícil. Porque é preciso educar esses policiais com um novo olhar social, a olhar de uma maneira distinta a sociedade, que encara sua divisão de classe, de raça, de gênero, como uma coisa natural. Então, há uma dificuldade, porque eles têm que sair dessa naturalização, onde foram formados, ainda mais aqui em São Paulo, 24 anos na escola do PSBD, a gente sabe da dificuldade que se terá, mas é preciso fazer isso. Então, a articulação com toda a política de emprego, com toda a política do trabalho, de ampliação da questão da juventude, a questão da cultura, de esporte, tudo isso se articula com educação, e, portanto, ela tem um papel bastante central.
Tornar a escola atrativa, uma fala que o Marinho tem feito, não quer dizer fazer marketing dela, não é isso que vai resolver o vínculo do jovem com a escola, é preciso que a gente tenha medidas bastante efetivas de acolher a vida social no meio escolar. A escola não pode ter nada da vida social que lhe seja estranha. Então, assim, vai se discutir gênero? Claro que vai se discutir gênero, está posto na sociedade essa questão. Vai se discutir política? Vai, claro que vai, ela é essencialmente política, de natureza política, mas vai discutir a política no parlamento. Então, nada pode ser estranho à escola, porque ela é construção de cidadania. Se a gente tiver algum conteúdo que deve estar fora dela, há alguma coisa estranha nessa concepção de escola.
A reforma do ensino médio vai de forma contrária de tudo isso, ela parte de uma naturalização da divisão de classes, há o trabalho manual e o trabalho braçal na nossa sociedade e o trabalho intelectual. Através da ideia dos itinerários formativos, que parece bonita, porque oferece coisas, leva-se até a pensar que a autonomia da escola está garantida. O que vai acontecer a gente sabe, dado a nossa desigualdade social que marca a instituição escola, nós vamos fortalecer e ser ainda mais apoiadores dessa desigualdade instituída na nossa sociedade.
Então, a gente é absolutamente contrário a isso. A mudança da escola, portanto, deve se dar pela transformação da sua natureza enciclopédica, não é necessário diminuir disciplinas, como pensa a reforma. Bobagem e equívoco, porque é o contrário. A escola tem que rever o seu jeito de trabalhar o seu conteúdo, não tem que ser conteudista. Ela tem que trabalhar com ideias gerais, ideias centrais, deve abarcar todos os conhecimentos, não pode dispensar nenhum conhecimento que a humanidade conquistou. A escola é o lugar da sabedoria constituída pela humanidade. E com isso, é claro, e está no programa do Marinho, fixar a obrigatoriedade do ensino da filosofia, da sociologia, da educação física, das artes, ao lado de outros componentes curriculares existentes, além da lei do ensino da história da cultura afro que também será aplicada.
Então, há uma necessidade que esses conteúdos retornem às escolas e que muitos que ainda não a visitaram sejam pensados, de forma que a realidade social esteja presente e que a escola possa realmente fazer uma formação crítica, complexa e completa. Portanto, é necessário convidar todos os conhecimentos para estarem na escola, não porque eles existem simplesmente, mas porque precisam colaborar para uma formação crítica.
O ensino médio não pode ser pensado exclusivamente como uma formação direta para o trabalho, ou para a preparação do ensino superior. Ele tem que ser pensado como pedaço da educação básica, tem que ser pensando como um conjunto e concordo de que há a necessidade de se impor uma concepção de educação, uma intencionalidade.
Eu acho que nós temos grandes projetos nacionais para educação, que eu diria que são dois: um capitaneado pelo PSDB, pelos vários tons de Temer, como disse o Boulos, e o outro, por um conjunto progressista da esquerda. Então, eu acho que existem esses dois conjuntos e se a gente os visitar de uma forma crítica, vamos encontrar duas concepções de educação, de formação. O que é educação, que relação ela tem com a formação da cidadania, que relação ela tem com a formação de trabalhadores, para que a gente possa ter ali e entender os projetos que estão postos?
O que eu estou querendo dizer com isso é que não basta jogar a reforma do ensino médio fora, é preciso colocar em debate as concepções de educação que estão por trás de construções de projetos para o ensino. Acho que competências e habilidades é outra bobagem comprada pelo Brasil que tem um pensamento colonizado e fica achando tudo bacana o que é produzido em outro lugar. Ao invés de a gente discutir que cidadania eu quero incentivar, que educação, que papel tem que ser cumprido pela escola, qual é a educação que eu quero instituir e incentivar; se fica discutindo quais são as habilidades e as competências, o que desvia o debate de concepção de educação.
Não temos dúvidas que o PSDB representa um conjunto do pensamento empresarial que tem interesse no mercado editorial, que está aí se pondo a serviço das escolas, e é esse o nosso inimigo, e é aí que a gente tem que bater, por isso a ideia de que a escola federal possa ser a colaboradora da qualidade das escolas estaduais.
Nesse sentido de fomentar o debate, é preciso pensar que todas as parcelas da população - as entidades, principalmente esses setores organizados, as entidades de professores, de funcionários de educação, de especialidades na educação, de estudantes, hoje a gente tem uma organização estudantil que pode com certeza participar, especialistas, políticos que estão mais destinados ou interessados ao pensar educação – têm que ser convocados para esse pacto que nós estamos propondo, guiados com princípios gerais que estou pretendendo aqui esclarecer, que eu apresentei no início. E, nesse sentido, o fortalecimento do Fórum Estadual de Educação é uma estratégia bastante importante, porque ali há uma organização possível para se fazer o debate do plano.
É bom lembrar que existem algumas questões importantes no plano da educação, como as condições de trabalho, e que o Marinho está aí colocando a meta de dobrar o salário nos quatro anos de gestão dele, melhorar a infraestrutura das escolas e dos equipamentos. Tem que haver dignidade no trabalho educacional. Como é que a gente quer atrair o jovem, fazer com que ele se sinta bem na escola, se nela não tem água, o banheiro está todo quebrado, as salas de aula, as carteiras e tudo? Então, tem que haver uma forma de recebê-lo com dignidade para que possa se sentir apropriado da escola.
Pensar no ensino médio como uma possiblidade de salto de qualidade de toda a educação básica é um momento de síntese. E, nesse sentido, é preciso que a gente universalize o ensino médio, para que ele seja o final de uma carreira da educação básica e possa ajudar o jovem a fazer uma síntese da sua formação.
O ensino médio, claro, prepara para o ensino superior, mas a gente tem que ter o cuidado, lembrando que o vestibular guia o conteúdo do ensino médio, que, por sua vez, passa a ser guiado pelos interesses do ensino superior. Cuidado com a qualificação dos professores que é, sem dúvida alguma, fundamental e trabalhar para reduzir a interferência empresarial na educação. Acho que com esses pontos que eu dou conta muito rapidamente do programa do Marinho PT e PCdoB.

LISETE ARELARO - PSOL
Bom dia, eu queria dizer também da minha satisfação de representar aqui um partido que tem uma grande liderança do movimento social, o MTST, o candidato à presidência da República, e, pela primeira vez, uma mulher representante dos movimentos indígenas no Brasil como co-presidenta, a Sonia Guajajara.
Eu já vou falar o que nós vamos fazer, porque eu tive a oportunidade de discutir essas questões, mas eu gostaria de lembrar que enquanto nós estamos aqui, certamente duas, três ou cinco salas de aula estão sendo fechadas. Nesses dois anos, já perdemos, entre aspas, 1.500 salas.
O movimento secundarista ocupou as escolas e, de fato, houve um compromisso do PSDB, na época o governo Alckmin, para que a reorganização iniciada em 1995, na época do Covas, realmente fosse suspensa. Mas, na verdade, nós estamos assistindo, de forma bastante preocupante, o que significou no início desse ano, a falta de aulas surpreendente para professores de todas as disciplinas na nossa rede estadual de ensino. E, evidentemente, tem que pensar no que isso significa.
Quero dizer para vocês que eu comecei minha primeira atividade no ensino médio ou na rede estadual, em 1968, como professora de filosofia, e nós tínhamos um nome muito feio: professor precário, hoje eles são mais sutis, é o professor eventual. Mas é muito chato chamar professor precário, eu era muito bem preparada, mas estava lá como precária. Eu confesso para vocês que em 69, eu recebi o primeiro enquadramento na lei de segurança nacional, porque reivindicávamos que os professores precários fossem contratados pela CLT.
Nós estamos em 2018, e eu diria que a condição dos professores da letra O é pior do que a nossa condição de professor precário, em 1969. Então, há muito a fazer, a exploração dos professores é um fato. Eu sou ainda professora da Faculdade de Educação da USP e temos uma pesquisa longa há seis anos sobre salários de professores e, por isso, hoje podemos dizer, com muita tranquilidade, que o professor no Brasil é a categoria profissional que menos ganha, 40% menos do que qualquer outra profissão com a mesma formação acadêmica.
Então, atualizar o salário dos professores não é mais que uma correção de uma injustiça salarial dentre o conjunto dos funcionários públicos, basta ver no edital de concurso de médico, engenheiro, psicólogo, fisioterapeuta, e você vai ver que, de fato, a situação dos professores é bastante precária. E é por isso que estou afirmando que nós vamos dar 40% de aumento ainda nos seis primeiros meses de governo por essa razão. E as pessoas perguntam: "É, mas de onde vai tirar o dinheiro?" Pelo menos essa vantagem eu tenho, sei exatamente de onde vou tirar o dinheiro, de dois lugares: o primeiro não sei se vocês sabem, o PSDB, nos últimos 12 anos, apesar da constituição estadual estabelecer que se gaste 30% de manutenção e desenvolvimento em ensino, eles têm gasto 25%, porque 5% eles pagam professores aposentados.
Nos últimos oito anos o Geraldo Alckmin, assinou um TAC - Termo de Ajuste e Conduta junto ao Tribunal de Contas do Estado. Em qualquer outro lugar do Brasil ele teria sido cassado, aqui não, faz oito anos que ele fala, "Não, tudo bem, vou fazer ano que vem". No ano passado, ele teve um grande cinismo, entre os vários, apresentou uma proposta de lei orçamentária na qual constava 25% para educação, alegando que a lei federal, a constituição federal falava em no mínimo 25%, e ele estava propondo, portanto, o mínimo como se não existisse a constituição federal.
Então, estou dizendo isso porque o governador que entrar aqui, é incrível dizer isso, contra o governador, o secretário de educação, o secretário de planeamento, responsáveis por essa decisão, exatamente para que os 30% voltem para a educação. Portanto, já por princípio, esse ano, eles já fizeram a mesma coisa e não têm o 5% para dar de aumento, já tem recurso reservado, e obviamente nós também temos outra fonte de recurso reservado, que é uma questão muito importante. Vocês sabem que nós estamos aqui e a partir de hoje há uma pressão bastante grande, movimentos no Estado de professores universitários, alunos, pela votação da lei de diretrizes orçamentárias, que por incrível que pareça não foi votada ainda. A constituição manda que seja votada até 30 de junho, e, surpreendentemente, foi adiada, claro que há interesse de adiar, porque enquanto não se definir onde se vai o dinheiro, fica muito fácil, inclusive, para o atual governador dizer que vai fazer qualquer coisa, porque não tem realmente compromisso nenhum escrito.
No que se refere à Base Nacional Curricular, minha hipótese é de que nós estamos vivendo a criação atualizada do que o governo da ditadura empresarial militar pretendia fazer conosco no início dos anos de 1970, que é a chamada ideologia tecnocrática. Em 70 ingressei como professora do curso Normal e queria deixar claro para vocês duas coisas, até divergindo um pouco do Marcos Lorieri, que antecedeu na mesa anterior, porque eu teria muita clareza, eu não era efetiva e, portanto, não é só que eles nos desestimularam, não havia concurso para professores de filosofia. Portanto, foi muito fácil para o governo militar acabar com a filosofia, porque bastava não nos contratar mais, o que, aliás, foi o que eles fizeram.
Eu também admirei porque a escola dele (do Lorieri) acho que foi a única, ele foi o primeiro que não teve um controle, porque o controle sobre nós não era sútil, era direto, por exemplo, nós não podíamos falar que ali havia sido dado o golpe, a orientação é que falássemos que tinha havido uma revolução. Então, é só para a gente saber que tinha um controle sobre os conteúdos, sobre a maneira de apresentá-los, que não era uma questão qualquer, era dirigida. Como professora de metodologia de ensino, do curso normal, fui convidada a fazer cursos, e eu fiz um de excelente qualidade no Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais, no IMPE, lá em 1971/72. Para a gente ver um pouco como as coisas eram complicadas, foi quando ouvi pela primeira vez e aprendi os conceitos do que era eficácia, eficiência, avaliação de desempenho, produtividade.
Portanto, eu quero dizer, que quando eu penso que essas palavras eram de 72 e hoje dirigem inclusive a organização dos conteúdos, quero lembrar que habilidades e competências não é uma questão qualquer.  Hoje eu só trouxe a Base Nacional do Ensino Médio, porque a do ensino fundamental é mais gorducha, então, pesa muito. Mas, é interessante, ler e andar com elas, porque algumas vezes temos que ler pois a pessoa não acredita que a gente está dizendo o que eles disseram, de tão absurdo que elas são. E qual é a concepção que eles têm de professor, o que eles pensam de nós? Primeiro, todos nós somos um pouco preguiçosos, somos, digamos, resistentes à inovação e obviamente malformados, razão pelo qual tudo tem que ser dito do jeito que eles querem que se diga.
Eu tenho aqui, trouxe duas coisas que são bem interessantes sobre unidade temática, está lá na Base Nacional Comum Curricular:  "Ciências no 1º ano" - só para vocês verem o que eles pensam da gente - se chama "Vida em evolução", essa é a unidade temática: "O conhecimento é corpo humano/respeito à diversidade". Agora veja a atividade que tem que se desenvolver, imagine só, eu comecei como professora alfabetizadora, só para vocês verem "Localizar...", fora aquele número que vem EF01ZCR0234, muito fácil de você identificar "Localizar, nomear e representar..." Isso é habilidades nesse requerido "Graficamente (por meio de desenhos) partes do corpo humano e explicar suas funções. Segunda habilidade, discutir as razões pelas quais os hábitos de higiene do corpo (lavar as mãos antes de comer, escovar os dentes, limpar os olhos, o nariz e as orelhas etc.) são necessárias para a manutenção da saúde". Ou seja, é considerar que um professor decididamente é um imbecil.
Eu estou dizendo isso, porque sobre isso virá o material que será distribuído para todos os professores. Em 72, eu fiz um curso do qual eles queriam ensinar as professoras alfabetizadoras a fazer um plano de aula competente, na época tínhamos nas leis de diretrizes de base assim: "Formação integral da criança e do adolescente". O governo da ditadura dizia o seguinte: "Olha, formação integral, como é que se mede isso, o que quer dizer formação integral? Vocês têm mania de usar esses termos generalistas, o que é a formação integral?" E, às vezes, a gente tinha aquela mania mesmo de falar: "Olha, se a criança está feliz de ir na aula é porque deve estar sendo muito bom o que acontece lá". E eles diziam "Felicidade? É ridículo uma coisa como essa.
Você tem que dizer o seguinte: "Primeira semana de setembro, o aluno tem que aprender, falar e escrever, cinco palavras que, por exemplo, comecem com o dígrafo LH. Se ele escrever palhaço, galho, parabéns. Se ele escrever cinco palavras, Lisete, muito bem, você foi uma boa professora. Escreveu três, Lisete, você precisa se dedicar mais. Não escreveu nenhuma, Lisete, já está aqui um sinalzinho, cuidado, você tem se dedicado pouco." 
Vou ler sobre as habilidades que está dada aqui na Base de Ensino Nacional Curricular, página 29: "Diferenciar escravidão, servidão e trabalho livre no mundo antigo". Peguei uma de história, porque vocês sabem que o professor de história está sofrendo, aí vem a explicação: "Explicitar, esse é o verbo". Veja bem "Que explicita o verbo cognitivo envolvido na habilidade". Se isso não é tecnocracia, não sei muito bem como chamaria. Segundo: "Complemento do verbo, que explicita o objeto de conhecimento mobilizados na habilidade e modificadores do verbo ou do complemento dos verbos que o contexto e/ou uma maior especificação da aprendizagem esperada". No caso, no mundo antigo.
Eu estou colocando isso, porque realmente a habilidade e competência é uma visão exclusiva de uma determinada concepção de educação, e eu sou paulofreiriana, portanto, para mim não quer dizer coisa nenhuma. Sobre a questão da reforma, como governadora vou autorizar uma grande confusão que é o seguinte:  "Alô, alô, professores, vamos queimar todos juntos as apostilas. Alô, alô, escolas, que tal apresentar o projeto que vocês querem fazer na escola, conversando com a comunidade, chamando os pais. E, alô, alô, que tal começar a abrir de novo as escolas nos finais de semana para que a gente possa tirar as grades vergonhosas, uma prisão?"
Dá vergonha de entrar nas escolas estaduais de ensino médio do Estado de São Paulo. Outro dia fui dar uma aula, conversar com os meninos, você sabe que como candidato não é tão fácil assim, eu entrei meio clandestina e recebi na entrada um S e até pensei: "Eles acham que sou uma Sonia". Para descobrir que aquele S que eu recebi era a maçaneta da porta onde entrei. Nós conversamos com o diretor, foi uma conversa delicada, porque eu falei: "Escuta, mas como assim?" E ele disse: "Não, Lisete, porque os alunos sacodem, arrancam a porta”. Eu perguntei: "Para entrar ou para sair? Se for para sair, bom. Agora se for para entrar". E ele: "Bom, Lisete, é que a gente fecha a escola às 7 horas". E eu vou dizer, fechar a escola às 7 horas pontualmente nós sabemos o que significa, eu dou aula na USP, na Pós-Graduação, e sei que obviamente as pessoas não têm condição de chegar, minha aula começa 7 e meia e eu não posso fechar a porta as 7h30 ou 7h29, porque eu teria metade da classe. Por que um jovem de 14 anos vai ter condição de chegar lá à noite exatamente às 7 horas?
Eu estou colocando isso, porque nós temos uma organização de 24 anos que deu para o PSDB mudar concepções, mudar ideais, mudar a formação de professores e eles querem, e vocês sabem disso. Nós temos duas senhoras, a mesma Rose que nós conhecemos muito bem e Guiomar de Melo, que nós conhecemos melhor ainda, que têm feito intervenções nas propostas das três universidades públicas, a Unicamp, a Unesp e nós, é que na USP eles têm menos coragem de entrar em cima, a gente é mais talvez petulante, qualquer coisa assim.
Mas, efetivamente, eles estão tentando alterar conteúdos, vou citar dois casos. Em Rio Claro, eles tentaram, tentaram o que eu estou dizendo é entrar direto, e tem o aval. Não por acaso, a pró-reitora de graduação hoje é membro do Conselho Estadual de Educação. Então, com o aval da pró-reitora, eles foram a Rio Claro para dizer o seguinte: "Retire o Luiz Carlos Freitas da bibliografia da avaliação crítica dos exames nacionais". Isso numa universidade pública. Segundo, em Marília, de onde eu estou vindo anteontem, um coordenador do curso de Ciências Sociais falou: "Lisete, aquela Cleomar teve a coragem de falar que a gente aqui usa uma bibliografia ultrapassada e esse tal de Karl Marx ninguém mais acredita nele". Então, é uma coisa incrível.
Mas isso que eu estou contando, de forma jocosa, significa intervenção direta e é o que a Base Nacional Curricular quer fazer com todos nós, que a gente realmente crie para a juventude, para nós mesmos, que nós comecemos a nos policiar. Por isso que a escola sem partido tem o aval deles, porque eles querem que nós comecemos a sentir medo do que a gente trabalha. Que, como bem colocou aqui a mesa que nos antecedeu, tem lá um controle, hoje as nossas aulas são gravadas e podem gravar. Mas eu digo assim, elas são gravadas exatamente para criar potencialmente uma situação de medo em nós, para que a gente não discuta as questões críticas contra o governo, contra a situação, contra exatamente o que significa hoje o capitalismo. Portanto, é realmente um controle que tem que ser feito e nós vamos sugerir que a Base fique de lado, que ela seja ignorada.
Nós temos uma autora que hoje até virou ativista, Diane Ravitch, que foi secretária de educação do Estado de Nova Iorque por sete anos. Ela diz que antes entrar, não sei se vocês sabem também nos Estados Unidos a qualidade vai mal, falou: "Bom, eu quero entrar e melhorar a qualidade de ensino. O que é preciso fazer?" Logicamente, o Banco Mundial diz: "Nós temos aqui a solução. Três coisas resolvem o caso: Primeiro, “uniformizar o currículo". Nos Estados Unidos, o Estado é que define os currículos, e ela realmente estabeleceu um currículo único para o Estado de Nova York. Segundo: “criar testes estaduais únicos”, e ela os criou. Terceiro: “estabelecer um salário básico, porém, só o plus a mais, você quer um aumento salarial ele será dado pelos resultados dos exames das notas que os alunos tirarem." Parece alguma coisa parecida?
A Diane Ravitch fez isso, sete anos depois ela escreve um desses livros que eu acho que vale a pena a gente ler, chamado Vida e morte do ensino americano, no qual ela diz: "Queridos, eu fiz tudo que o Banco Mundial mandou. Preciso confessar que realmente me enganaram. Primeiro, não é verdade que a qualidade do ensino americano melhorou. Segundo, não é verdade daquele dia em diante, nunca mais foi possível o trabalho coletivo e de equipe em sala de aula em cada escola, porque estabeleceu-se uma competitividade entre os professores que matou a possibilidade de a escola sequer ter um projeto de educação para a sociedade americana."
Então, é reagindo preventivamente contra isso que nós podemos dizer com muito prazer: “abaixo a BNCC”, “abaixo a essa reforma do ensino médio”. Vamos ao respeito à história pedagógica que cada escola da rede tem, fazendo a sua proposta e elaborando seu projeto pedagógico. Eu não tenho dúvida nenhuma que nós vamos conseguir reavivar a possibilidade de esperança e fazer da escola uma possibilidade sim, que a nossa juventude tenha uma emancipação intelectual, emocional. Eu estou brincando com o emocional, porque eles falam socioemocional e que é superengraçado, já discuti essa questão até com a Ana. Mas, é um pouco isso, então, pela dignidade da escola pública, do respeito aos professores e professoras do Estado de São Paulo, não à BNCC, não à reforma do ensino médio.


PLENÁRIA
Perguntas:
INÊS - GUARULHOS NORTE: A minha preocupação, além das possíveis reformas e a BNCC, que vêm para destruir mais ainda a educação, são as escolas que já fecharam o noturno, numa região precária, que é a do Cabuçu e vizinhança, onde a população é muito grande, os jovens começam a trabalhar aos 14 anos e, muitas vezes, antes disso pela situação precária da família.  A escola em que eu trabalho é a única que permanece o noturno. Nós estamos com as salas superlotadas, com 52, 55 alunos, mesmo na parte da manhã, por terem fechado salas e aglomerado tudo numa única escola. Ela contempla o ensino fundamental, médio e o EJA, então, como podemos aceitar que a secretaria feche o noturno numa região aonde a maioria precisa de trabalhar ainda muito jovem?
RICARDO – BAURU: Por favor, não pessoalizem minha questão. Eu milito há uns 20 anos e sempre pela esquerda, apesar de morar no interior, numa região extremamente conservadora, e vir de uma família também conservadora. Mas, fiquei pensando, me agrada muito sempre ouvir a esquerda falar, apesar de ver uma mesa que provavelmente vai ser derrotada, não chegaram nem a 10% dos votos. Por que a esquerda não se une nunca, será que a gente vai ver isso acontecer algum dia? A esquerda tem um discurso de defesa do trabalhador, mas o que eu acho engraçado é que o trabalhador não vota nos candidatos que defendem o trabalhador, pelo menos de modo geral, pelo o que eu entendo 90% da população devem ser de trabalhadores formais ou não. O PSTU eu acompanho desde "Contra burguês, vote 16" e, mesmo assim, não elege ninguém. O PT e PSOL dizendo que vão dobrar nosso salário e os professores não estão acreditando nisso.
OZIMAR FREITAS - LESTE SÃO PAULO: A voz da educação pelos meios midiáticos, não só em São Paulo, mas em todo o Brasil, é o Todos pela educação. Em entrevista, a sua presidente, a professora Priscila Cruz, fala a seguinte frase: "Precisamos de governo que tenha obsessão por resultados em educação. Não precisa de dinheiro e sim de reformulação”. Queria saber qual a opinião de vocês sobre essa fala dela? Qual é a opinião dos candidatos sobre a introdução da filosofia para as crianças no ensino fundamental, um projeto encampado pela APROFFESP?
ANDRÉIA – PENÁPOLIS: Minha questão é sobre a saúde do professor, já que somos uma classe que adoecemos muito e a nossa assistência é bastante precária. Eu queira saber dos candidatos quais os dados que eles têm aí a respeito e o que propõem para que a gente tenha um outro quadro?
NÍCIO - SANTO ANDRÉ: Eu gostaria de perguntar à candidata à vice do PT, qual é o posicionamento do partido referente ao projeto Lula sobre a revogação da reforma Temer?
SADI – BUTANTÃ: Os professores estão ficando doentes, o aluno passa sem saber, ele faz o que quiser na sala de aula, não pode ser suspenso, a escola não transfere para uma outra, as advertências não valem nada, as notas não valem nada, porque o professor está coagido totalmente, a gente não pode dar o conteúdo que planejou, não é só os professores de filosofia, todos.
EDERSON – OSASCO: Vamos imaginar que temos um 2º turno, vocês se colocariam a favor de quem está na frente? Será que vocês são capazes de se unir e se mobilizar por esse lado social? Esses dias eu estava em casa e vimos uma candidata e a minha mãe falou: "Como assim, essa mulher quer ser candidata à governadora? Ela é negra, tem cara de empregada doméstica, ela se parece comigo. Ela não sabe se colocar no seu lugar?" Minha indagação é será que a escola está conseguindo fazer esse papel de quebrar o imaginário de que o pobre pode ocupar outros espaços, também a mulher?

Respostas:
LISETE ARELARO - PSOL
Inês, realmente a proposta do governo do Estado de São Paulo é absolutamente transparente em relação a isso, aliás, eles nem mencionam que nós temos 2 milhões e meio de analfabetos no Estado mais rico da federação, eles não querem tratar disso. E, portanto, é o seguinte, o EJA para o PSDB efetivamente será feito à distância, eu estou colocando isso porque até o deputado Ivan Valente apresentou um projeto de lei para provocá-los mesmo, exatamente obrigando que toda escola tenha EJA presencial. Eles querem que todo o ensino seja à distância para o EJA do ensino médio, o que eu considero um absurdo, querem é juntar as escolas, nós já temos até um mapeamento.
Eu participo de um grupo que nós criamos por ocasião da ocupação das escolas, exatamente porque os meninos tinham que apresentar ao Ministério Público dados objetivos para fazer a denúncia. O Estado precisava de dados, quantas classes fecharam, que escolas etc. E, obviamente, eles teriam uma dificuldade para isso. Então, nós criamos uma rede chamada Repu. Nós temos hoje um retrato do Estado e é impressionante, quando você pega o município de São Paulo ou Guarulhos, vê que eles juntaram as classes e puseram longe, como se os pobres morassem num lugar só. Então, é um negócio maluco.
Devia ser o contrário, quem não conseguiu fazer em época hábil, quanto mais você facilitar o acesso, mais a tendência é que ele permaneça. A outra questão é a oposta, na época do Naline ele teve a coragem de nos falar como os alunos desistem de uma forma transparente, como tem evasão no ensino médio. Então, o que que faz? Vamos colocar 50, aí termina com 30, ou seja, não só a evasão é admitida, como ela é prevista e estimulada.
Eles têm, inclusive, dados de pesquisa que mostraram, desde dos anos 80, que se eu tiver uma classe com 25 alunos, a tendência é que os 25 permaneçam nos três anos no ensino médio. Está escrito no nosso programa de governo, mas quem quiser acompanhar, por favor é lisete.com.br, que efetivamente nós vamos, já no dia 2 de janeiro, recuperar as 1.500 salas fechadas e depois vamos discutir se há salas sobrando, porque estão sobrando. E, portanto, como eles querem fazer esses dois processos, um que meu colega aqui já denunciou, que é a economia, então, você faz um sistema à distância.
Nós temos uma posição nacional, as entidades de educação, sindicais e acadêmicas de que a primeira graduação tem que ser presencial, a partir da segunda, curso de especialização, se quiser fazer à distância, ok, porque a pessoa já tem as condições mínimas de formação para poder acompanhar os cursos. Mas, até lá, nós defendemos que seja presencial, até porque vocês sabem que aquele tutor em qualquer curso à distância é um recém-formado, em geral, que responde todas as perguntas como se ele fosse uma enciclopédia. Ou seja, ele lê as perguntas que já foram programadas.
Qual a riqueza da nossa formação e por que a gente defende sendo presencial? Porque certamente num curso, você tem 10, 12 professores de formações diferentes, com crenças diferentes e visões diferentes e é essa riqueza da diversidade, inclusive dos professores, que permitem, sem dúvida nenhuma, até uma avaliação crítica sobre a vida ou sobre a sociedade etc. Então, é preocupante. Quero lembrar também que a Base Nacional, a reforma do ensino médio, entrou em cima de um processo de negociação nacional que vinha sendo feito no congresso, com adesões variadas e até já tínhamos uma proposta razoavelmente consensuada. Então, é contra realmente a educação que essa lei existe.
Ricardo, eu diria para você que a esquerda não se une porque nós temos divergências em relações importantes, nós temos concepções, a direita também tem. Aliás, basta pegar o PSDB aqui em São Paulo, se nós quisermos discutir divergências, estamos no Estado certo para fazer isso. Aí, eu acho interessante, você fala que os professores não acreditam, está certo, eles têm o direito de não acreditar, faz 20 que qualquer candidato fala que vai dar aumento, e eu estou dizendo experimente votar Lisete 50 e você pode experimentar uma nova realidade.
Ozimar, olha, a Priscila desculpe, Todos pela educação eles escolhem as pessoas que eles querem e, obviamente, eles estão disputando conosco, e a Priscila é paga por eles para ter uma determinada posição que ela sustentará. Se ela não sustentar essa posição está demitida. Então, ela sustenta isso, não é o caso de ninguém dessa mesa, e nós sabemos que o processo nós desprezamos o resultado, mas a questão do processo de aprendizagem sabemos todos que ele é fundamental, e, portanto, essa é uma questão.
 A introdução de filosofia é polêmica, acho que se a escola quiser fazer uma experiência é direito dela, mas eu me estabeleceria que a filosofia seja obrigatória em todo o ensino fundamental. Agora, não vejo problema nenhum, por isso que eu defendo que cada escola tenha um projeto, tem lá um professor que quer experimentar, tem um projetinho ou projetão, quer experimentar, conversou com os alunos e eles topam, legal, vamos lá e isso é muito bom.
Andréia, eu acho que os professores estão ficando mais doentes do que nós ficamos, até porque estou com 73 anos, tenho oito orientandos, três projetos de pesquisa e dou aula de pós-graduação animadinha. Sem dúvida nenhuma, a pressão dos professores da educação básica é terrível, nós não estamos discutindo aqui o MMR, mas eu consideraria que é uma das formas de opressão e controle mais duras que, se a gente não derrubar, o professor vai enlouquecer. Aumentar salário, dar boas condições de trabalho na escola, o professor poder ter seu projeto, ele vai levantando o ombro. Um professor que acha que tem um pouco de liberdade, que pode pegar um projeto que acredita para realmente colocar em discussão e em execução, olha, acho que a gente vai ficar mais saudável. Essa é uma condição, sem dúvida nenhuma, fundamental para nós, não dá para controlar a forma como a gente está trabalhando.
Sadi, eu acho que você levanta alguns problemas, que eu diria que a escola também deve ao aluno, vou pegar a ocupação das escolas. O que os rapazes e moças falaram para nós? Primeiro: "Queridos professores, como nós gostamos da nossa escola". Segundo: "Nós gostamos de vocês, só não gostamos das aulas que vocês dão." O que é absolutamente saudável. E falaram: "Se vocês perguntassem mais para nós, poderíamos sugerir propostas muito interessantes." Eu confesso para vocês que aprendi muito com eles, confesso que fiquei surpresa, com a divisão de tarefa que eles fizeram, quem cuidava da limpeza, da segurança, de convidar as pessoas, da alimentação. Foi uma coisa absolutamente perfeita e as propostas de cursos, eu tive o privilégio de ser convidada e participar de um dos cursos deles, que é um pouco isso, quem denuncia a despolitização da educação, a descontextualização do conhecimento foram eles. Então, eu diria, Sadi, se você abrir um pouco, se as escolas toparem realmente conversar mais com os alunos, eles nos respeitarão mais também.
Everson, num segundo turno acho que é isso. Num primeiro turno nós nos apresentamos com o nosso programa de governo, então, sou do PSOL, estamos com coligação com o PCB, porque éramos dois partidos que tinham maior identidade num programa de governo. Agora, o segundo turno é o segundo turno e logicamente a gente espera que nós tenhamos alguma alternativa, mas nós também estamos defendendo que, por favor, vote naquilo que você acredita no primeiro turno, para termos a chance de ter boas alternativas no segundo, é um pouco isso.
Ontem, eu fui sabatinada na CBN e até fiquei sabendo lá que, de fato, o coiso pretende defenestrar o Paulo Freire. Vocês já sabem, eu já disse que não vou morar no palácio dos bandeirantes porque eu tenho casa e gosto da minha cama e não vejo relação em ser servente a governador e ter que morar em palácio, nunca morei, não sou de lá e vou transformar numa universidade popular de nome Paulo Freire. Daí eles falaram "O coiso falou que vai defenestrar todos os livros do Paulo Freire". E eu até ofereci uma vaga no meu curso de atualidade no pensamento do Paulo Freire e também vou mandar um livrinho do Paulo Freire, aproveitar que ele está internado, desejando melhoras e que ele leia.
E o papel da escola é um pouco isso, acho que a ocupação das escolas nos deu uma boa ideia, eu não quero que a gente perca isso, foi muito difícil para eles fazerem, foi um movimento que surpreendeu a todos nós. Não era um movimento organizado e eles conseguiram se organizar e, até hoje, muitos deles estão sendo perseguidos pelas diretorias de educação, inclusive com fotos distribuídas a policiais, e onde eles vão estão sendo controlados. Foi um movimento de rebeldia absolutamente sadia e lembremos que ordem e progresso que o Temer defendeu foi proposto por Plínio Salgado, um integralista, portanto, para nós, não tenho dúvida nenhuma, um pouco de desordem é a condição efetiva de um progresso, de uma vida digna no país. Então, sem medo de mudar São Paulo, sem medo de mudar o Brasil, vote PSOL, vote 50 e acho que nós seríamos mais felizes. Muito obrigado pelo espaço, foi um grande prazer estar aqui com vocês.

TONINHO FERREIRA - PSTU
Eu tenho quatro irmãs professoras, isso não me credencia conhecer da educação, em absoluto, mas duas delas já estão aposentadas, uma está desesperada para se aposentar, ela dá aula numa periferia, e uma não tem condição de se aposentar. Mas, por exemplo, não sei quanto elas adoravam a escola, uma delas, inclusive, desistiu mesmo de dar aula para poder se aposentar, mas o que nos comenta, o que nos fala da escola, é que é um sacerdócio dar aula.
A gente não pode só ver apenas a questão da educação, mas no todo também, porque senão não tem muito saída. O social precisa ser visto de conjunto, por isso eu disse e volto a repetir, se vai pagar ou não a dívida pública, porque se pagar não tem solução em nenhum setor. É essa dívida que nós temos que comprar e é isso que nós devemos fazer.
E é preciso acabar com o nível de corrupção, acabar com a corrupção em conjunto você não consegue, porque ela é inerente ao capitalismo, não tem jeito, sem capitalismo não vai ter corrupção. Não podemos aceitar o presidente da Assembleia Legislativa ser o chefe da máfia da merenda, aí não dá, é quem tira a alimentação da boca das crianças. Esse cara chamado Fernando Cabez, presidente da Assembleia Legislativa, por sua vez, é irmão do Rodrigo Cabez, que foi o cara que era juiz e foi dirigir as tropas do Pinheirinho, em 2012, para tirar as 8 mil pessoas que estavam lá. E agora, depois de tudo isso, o Rodrigo Cabez foi ser assessor do Dias Toffoli, aonde que nós vamos parar? É isso que existe e o Fernando Capez hoje é candidato a deputado federal pelo PSDB, agora como a gente pode aceitar uma máfia da merenda?
É preciso, no mínimo, diminuir os níveis, não sou nenhum doido de achar que vai acabar no capitalismo a corrupção, não vai, mas ela é muito escandalosa. E o que passa no bolso deles para poder fazer as campanhas, para poder enriquecer, é o que falta na educação, é o que falta na saúde, é o que falta na moradia popular, é o que falta para o saneamento, é o que falta para tudo, e que são milhões, muitos milhões.
Inês, o que está acontecendo nessas escolas de 50, 55 alunos na sala de aula é o que eles querem fazer, porque é preciso economizar e ter superávit primário para pagar a dívida, esse é o Estado mínimo que nós chamamos. É preciso privatizar tudo, esse é o Estado mínimo, retirar da sociedade para sobrar mais para banqueiro, porque é preciso garantir os acionistas, então é por isso que faz dessa forma.
Por que a esquerda não se une? Porque tem propostas diferentes, não tenha dúvida, em alguns momentos já se unificou e já votou em trabalhador, nós achamos que não valeu a experiência, tem gente que acha que deve, nós achamos que a experiência não valeu. Nós não somos a favor do Prouni e do Fies, o filho da lavadeira consegui uma vaga, uma, e o que foi para banqueiro, que poderia ter ido para escola e para educação? Isso é uma diferença. Evidentemente, nós vamos continuar fazendo. Não, não queremos apenas um filho que virou médico, nós queremos muitos, porque isso vai para o balanço do ensino.
Resultado na educação, mas como que mede isso, se aprova ou não aprova no final, que resultado? Sei que tem muitos candidatos que estavam com essa história aí. A saúde do professor no Estado, isso é um caos, eu escuto isso quase todos os dias, eu milito no movimento popular, é uma das categorias que mais adoecem, porque a situação é muito difícil. Se não resolve a questão social, os professores vão continuar adoecendo, tem a ver também com a questão do salário. Por exemplo, o professor tem que dar aula em duas, três, quatro escolas. Aliás, eu estou vindo de São José dos Campos, para chegar é muito difícil, um transito que não dá. E como é que o professor vai dar aula em mais de uma escola, ele vai se matar, e mais as condições de dar aula para 50, 55 alunos, e aí como é que ele não vai ficar doente?
E é essa a situação que a gente vive, ou a gente se rebela e luta contra esse status quo, junto com o aluno, todo mundo se rebelando, fazendo grandes mobilizações ou não tem saída.
A questão do voto no segundo turno, o segundo turno é outra eleição, eu acho que é errado essa história de escolher o mal menor, não acredito e não concordo, muita gente votou no Covas para poder enfrentar o Maluf, adiantou? Quanta gente votou em fulano por que sicrano era pior? Eu não quero mal menor, eu não quero o mal, eu não quero escolher se vou morrer com dois tiros ou se vou ser enforcado, eu não quero é morrer, não dá. Aquele que não se deve nomear, para lembrar o Harry Poter, nós devemos enfrentá-lo? Não sei, tem tanta coisa para passar por baixo da ponte, ele não é o super-homem, para alguns candidatos se tornar vítima é bom, mas para ele não é bom não. Ele tem que ser o super-homem, a faca tinha que ter quebrado na barriga dele, a faca não quebrou, ela entrou.
Então, tem que tomar um certo cuidado. Vamos ver, por mim não tem nada definido, os dados estão rolando, eu estou com 1%, estou feliz. Estou feliz, com sinceridade, não tenho tempo na televisão, não consigo falar com ninguém, eu não consigo colocar minhas ideias. Aliás, vou para a CBN, viu Lisete, vou estar segunda-feira quem puder me ouvir às 11 da manhã, hoje vou dar uma entrevista na Globo, a Globo sempre me entrevista, mas nunca passa. Como nós não temos muitos candidatos - seis deputados - eles vivem me entrevistando, devem estar fazendo um arquivo e um dia vão usar aquilo, não sei para que.
Ederson, às vezes, me agride muito essa história que sua mãe falou, porque nós militamos com isso. Mas eu acho isso uma coisa impressionante, essa é a luta que nós temos que fazer e é por isso que nós colocamos caráter de classe. O que é mais importante é o caráter de classe, que está colocado para nós: de que lado está, se tem ou se não tem lado. Por exemplo, nossa companheira candidata à presidência da República é uma mulher, negra, nordestina, pequeninha, se formou em sociologia com muita dificuldade, saiu do sertão do Pernambuco, foi tocar a vida em Sergipe. Por que que não pode ser candidata à presidência da República? Por que que o santo pode e ela não pode? Pode, tem posições diferentes, em absoluto, eu sei.
Mas é uma coisa que é difícil, eu sei o que você coloca. No mais, eu queria dizer que a Michele, candidata do PSTU, é negra, grande parte dos nossos candidatos são negros, e é aí que nós queremos atuar, nós atuamos com os operários na periferia e esse é o nosso povo. Para terminar, eu queria mais uma vez agradecer imensamente essa oportunidade que nos deu de poder vir aqui e falar um pouco das nossas ideias, a gente não vive só na eleição, nosso partido não vive só de eleição. A gente vive pós eleição, a gente vive todos os momentos dos trabalhadores, da população pobre, se por acaso tiver um novo encontro, mesmo eu não sendo candidato, me convida que eu venho com muita satisfação. Já disse aqui a vocês, tenho convicção do que falo, acredito no que falo e não perdi a capacidade de sonho, a gente continua dessa maneira e é por isso que a gente vem na luta dos trabalhadores independente do momento.

ANA BOCK - PT
Inês, acho que nós não temos que aceitar o fechamento, quando nós estamos nos oferecendo como candidatos com outro programa estamos dizendo que não aceitamos, que achamos que é de outra forma que se pensa educação, que se faz educação. Então, agora resta votar nessas outras alternativas com garra para que a gente possa ter chance.
Ricardo, a gente tem o discurso, a defesa do trabalhador e o trabalhador acaba não votando, eu acho que existe isso. A Lisete e o Toninho devem ter a mesma coisa, quando vamos nos lugares temos a impressão que todo mundo vota na gente. "Quem será que vota nos outros?" Porque tem um contingente grande votando na gente, apoiando nos lugares que você vai. Mas eu concordo que há, está aí o resultado da eleição mostrando.
Acho que tem a mídia com uma questão importante nessa história, que formula inverdades e convence a população disso. E golpes, por exemplo, o inominável, ele tinha sete segundos de propaganda eleitoral na televisão, ele ganhou agora 24 horas, a gente tem que ficar assistindo como vai a saúde dele, como vai a mãozinha. Então, acho que é assim uma questão difícil e que se a gente não interferir na mídia nós nunca vamos conseguir mudar o cenário brasileiro. É possível democratizar a mídia, é preciso acabar com esse domínio de sete famílias serem donas da mídia brasileira.
Então, eu acho que a gente tem essa questão posta e as pessoas continuam a falar, "Mas eu não posso votar no Lula", quando ainda era o Lula, "Porque ele está preso". E eu "E daí? ”  “Se ele está preso, se a justiça o prendeu é porque ele tem culpa". Ainda existe uma crença na justiça. A gente que trabalha na psicologia, existe uma coisa que é o fato e existe uma coisa que é a dimensão subjetiva que é como as pessoas significam individualmente, como significam coletivamente os fatos que estão acontecendo, e a gente não pode esquecer disso. Até quando fazemos campanha não pode esquecer disso, que as pessoas estão dominadas por inverdades ou pelas verdades que elas receberam, às vezes até da escola.
Vai dobrar o salário? Vai ter que dobrar porque é uma questão de investimento na educação que é básico, porque nós estamos dizendo assim que é outro projeto de Brasil, é outra coisa e essa outra coisa exige a valorização do trabalho do professor. Não estou dizendo que nos quatro anos, existe uma coisa que é o projeto eleitoral e existe outra que é o plano de governo, que é na hora que você precisa fazer, estruturar, negociar com a Câmara, você tem orçamento para os quatro anos. Mas é isso, vamos dobrar o salário do professor.
Bom, o Todos pela educação, gente, ali não tem nenhum pela educação, devia mudar o nome, porque é um pensamento bastante retrógrado, é uma concepção. É preciso que a gente entenda a diferença entre projetos, tentei aqui na minha apresentação falar desses dois projetos, da concepção de educação que está posta, dá para pegar nas frases deles quando divulgam, o que eles estão chamando de educação.
Filosofia para criança, penso como a Lisete, há muitos anos fiz um trabalho para uma editora onde a gente afirmava no livro para os professores, fizemos de história, de comunicação, eram três áreas, que tudo pode ser ensinado para qualquer criança, desde que formulado da forma que ela tem de compreender naquele momento. Então, eu acho que é possível ensinar filosofia para as crianças, assim como é possível ensinar matemática. Agora, é isso, tem que ter lá um professor que saiba fazer isso, tem que ter uma disposição da escola. E acho que experiências podem ser feitas, precisa haver mais empenho para que os professores se sintam preparados para trabalhar com as crianças.
Saúde para os professores, acho que já se falou muito de salário, formação, o espaço da escola, a qualidade do material, queria só acrescentar uma questão que para os psicólogos é muito cara, que é o clima afetivo com que se trabalha numa escola. Entendendo que ali formam um conjunto educacional, todos podem colaborar, todos podem fazer trabalhos de professor de história junto com o de português, a disponibilidade para um trabalho mais parceiro. Essa ideia de ter um clima bom na escola, coletivo e isso vai implicar e exigir que se tenha gestão democrática e autonomia. Defendo sempre que a escola tem toda condição de formular seu projeto, e eu acho que, mais do que ter autonomia, é conseguir que ao formular seu projeto todo aquele conjunto se sinta apropriado, pertencendo. Há que haver um sentimento de pertencimento.
Bom, é categórica a revogação da reforma do ensino médio, a educação está no capítulo dos direitos sociais. Agora, claro que é preciso estudar as revogações, porque algumas podem ser revogadas por vontade popular, outras por uma legislação, por medida provisória, se for medida provisória que a instituiu toca uma medida provisória nela e desinstitui. É preciso analisar, e acho que a Base Nacional teve um início realmente de processo mais democrático, ela não estava boa ainda quando foi interrompida. É preciso resgatar esse processo mais democrático para que ela possa ser revista.
Ederson, acho que é possível a união no segundo turno, não tenho dúvida disso, vocês têm que perguntar isso é para o Toninho. Eu acho que a gente pensa muito simplesmente assim, enquanto o PSTU faz o discurso dele, milhares de médicos, engenheiros, psicólogos, pedagogos, foram formados pelo Prouni, nós formamos, por outro lado, milhares de pessoas. Existem sim, como ele afirmou, essas diferenças, mas acho que é possível, não acho que tem que se escolher o menos pior, isso é ele que está dizendo. Se a gente tiver uma alternativa de esquerda e uma de direita, não temos dúvida, vamos unir e vamos sim eleger a alternativa de esquerda e trabalharmos todos como movimento popular, como movimento social, para contribuir para o avanço daquele que foi vencedor. Se não tivermos alternativa, aí a gente vai apoiar o PSTU ou voto nulo, mas se a gente tiver alguma alternativa progressista de esquerda, que pense diferente da gente, que não seja absolutamente igual, mas que a gente reconheça um progressismo na sua proposta nós vamos sim apoiar porque a população do Brasil precisa disso, a população de São Paulo precisa disso, é respeito à população.
E por fim, Ederson, acho que sua mãe é vítima, como muitos de nós, do pensamento da elite que se impôs na escola, que se impõe na mídia, é o que eu chamei de dimensão subjetiva, por mais que já tenha se mudado, por mais que haja aí uma força social que questiona, que haja lei que proíbe preconceito racial, apesar de tudo isso, há uma dimensão de subjetividade que ainda não pode ser superada, e ela representa isso.
Então, nós estamos aqui defendendo uma outra escola, uma outra educação, porque nós precisamos que toda a população brasileira caminhe para superar posições fascistas, racistas, machistas, nós precisamos superar tudo isso, e a escola não é a única, se a gente não mexer na mídia, a gente não consegue. Eu sempre digo que "A escola não muda o mundo, mas o mundo não muda sem que a escola mude". Nós precisamos trabalhar nisso, perdoe sua mãe, ela é só vítima de uma elite insuperável, que nós estamos aqui juntos como três grupos, representando um conjunto até grande de partidos, tentando superar para que não exista mais isso.

         Ao final, o professor Aldo Santos agradeceu a presença das candidatas e do candidato e a importância da continuidade do debate do tema no Estado de São Paulo e no Brasil.


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