25 de novembro, dia
de reflexão contra a violência nas escolas.
Embora todos os dias
nos deparamos com a temática da violência no interior das unidades
escolares, principalmente diante da omissão das autoridades
governamentais, entendo que o dia 25 de novembro de cada ano
deveria ser dedicado a reflexão e balanço sobre a violência
institucional, a violência social, os conflitos de classe e os
desafios da educação diante dessa crescente realidade.
Precisamos politizar
esse debate, identificar o verdadeiro agressor aos educandos e educadores,
estabelecermos uma relação de companheirismo em busca de um mundo justo,
fraterno e igualitário, onde o aluno reconheça que o professor é seu amigo
“mexeu com ele, mexeu comigo”, da mesma forma que o professor deve também
reconhecer que “o aluno é seu amigo, mexeu com ele mexeu comigo”.Portanto, somos
aliados da mesma causa e Classe.
Durante o ano, são
frequentes os problemas e conflitos, haja vista que a escola não é uma
ilha apartada da comunidade. Ela expressa parcialmente e seletivamente o modo de vida da comunidade.
É preciso reconhecer que a sociedade mudou, direitos e deveres avançaram,
conquistas e direitos se estabeleceram, ferramentas virtuais
disputam o imaginário e a coletivização do conhecimento
destronado, ao mesmo tempo em que o educador deve ser o aliado
direto no entendimento e acolhimento da vida concreta dos
filhos da comunidade rumo a construção de um novo mundo livre de todas as
formas de preconceito e opressão, de demarcações e dos atuais paradigmas
da convivência humana.
Essa reflexão tem que
ser a cada momento, porém, do ponto de vista da macro relação para dentro
e fora do universo escolar o dia 25 foi uma data marcante que
causou duas vítimas no processo educacional.
De um lado um pai de
família, trabalhador, educador, lutador pela vida, e, de outro, um jovem sem educação
e noção de limites, reproduzindo certamente a condição de não vida a que foi
submetido ao longo de sua pouca existência. Ninguém saiu vencedor nesse embate,
nem o agredido, nem o agressor, pois no limite foram vitimas da inoperância do
estado burguês que pouco se questiona ou nele se identifica a ira das vítimas
cotidianas do sistema.
Não se resolve a
violência com mais violência ou aparato de violência. O espaço escolar é o
espaço do diálogo, do contraditório e do respeito, uma vez que o grande
violento para com o educador e educando são os governantes com os baixos
salários, com as salas de aulas superlotadas, com a falta de perspectivas para os jovens brasileiros, com a defasagem das ferramentas educacionais, com a falta
de investimento na educação e assim sucessivamente.
Construir um mundo de liberdade não
rima com altos muros similares a prisões, já enunciadas em obras como: “Vigiar e punir do filósofo francês Michel Foucault,
publicado originalmente em 1975 e tida como uma obra que
alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. É um exame
dos mecanismos sociais e teóricos que motivaram das grandes mudanças que se
produziram nos sistemas penais ocidentais durante a era moderna. É dedicado à
análise da vigilância e da punição, que se encontram em várias entidades
estatais (hospitais, prisões e escolas). Foca documentos históricos franceses,
mas as questões sobre as quais se debruça são relevantes para as sociedades
contemporâneas. É uma obra seminal que teve grande influência em intelectuais,
políticos, activistas sociais e artistas.Foucault muda a ideia habitualmente
aceita de que a prisão é uma forma humanista de
cumprir pena...” (publicado no Wikipédia,22/11/2012)
Com maior ênfase, por
exemplo, a problemática da droga frequentemente relacionada com
comportamentos inadequados deve ser enfrentada do ponto de vista educacional e
não policial, haja vista que a juventude esta morrendo pelo vício do crack e
outras drogas, que até hoje não se
resolveu com a repressão praticada historicamente, cujo resultado é desolador.
Portanto, estamos
iniciando essa reflexão tendo como marca uma data que dentro de uma relação
dialética, deve discutir a tese que é o atual modelo educacional, apreciar a
antítese, ou seja, os questionamentos e negação deste, rumo a uma nova síntese
pedagógica, que redundará inexoravelmente numa nova tese.
Estamos sugerindo
que no dia 25 de novembro de cada ano em memória e referência ao Professor José Vieira Carneiro que morreu
após agressão em sala de aula, no dia 25 de novembro de 2001 na Escola Estadual Palmira Graciotto, no Parque São
Bernardo em São Bernardo do Campo, se constitua num marco dessa abjeta realidade.
Aldo Santos,
Coordenador da APEOESP-SBC, Presidente da Associação dos Professores de Filosofia
e Filósofos do Estado de São Paulo.
História e Memória
"Professor morre
após agressão"(texto de 2011)
Essa foi a manchete do jornal Diário do
Grande ABC, publicada no caderno regional, em 25 de novembro de 2001. No
subtítulo estava estampado: “Aluno fincou chaves na testa do educador, que
passou por cirurgia, mas morreu 15 dias depois.”
Esse foi o ápice da violência nas
escolas, que ceifou a vida do professor de história, José Vieira Carneiro, aos
44 anos de idade. Carneiro Lecionava na EE Palmira Gracioto, no Parque São
Bernardo-SBC, deixando três filhos e uma viúva.
A agressão aconteceu no dia 09 de
novembro 2001, por volta das 19h40min numa das salas da referida unidade
escolar. O Aluno foi identificado como: “A.,17”, conforme citação do jornal.
Segundo a imprensa, “o garoto estava
brincando com o chaveiro e o professor pediu para que parasse. O garoto, então,
partiu para cima dele e o atingiu na cabeça com as chaves”, disse um professor
que não quis se identificar.
Em outra citação, a cunhada do
professor mencionou: “Ele disse que o menino colocou as chaves entre os dedos e
que deu um soco na testa dele”.
Ainda segunda a reportagem, a Diretoria
de Ensino “recusou a comentar o assunto”.
Na ocasião, lembro-me que tentaram de
toda forma abafar o caso para evitar a repercussão política negativa do
acontecido.
Em 2001, num determinado domingo pela
manhã, compareceram em minha casa o professor Carneiro e outro colega,
Professor Resende, narrou os fatos, queixou-se de fortes dores de cabeça e
estava muito preocupado com a situação.
Fiquei preocupado com a perfuração na
testa do professor, além de estar com a cabeça um pouco inchada. Disse a ele
que deveria urgentemente procurar o hospital do Servidor Público Estadual para
reavaliar o caso.
Coloquei o mandato a disposição dele,
inclusive o carro oficial para levá-lo ao hospital, o que foi feito por várias
vezes. Três dias depois fui visitá-lo em sua casa e percebi que embora
estivesse andando, ainda não havia melhorado.
Como auxiliar de enfermagem, percebi
que o caso era sério e novamente disse que deveria solicitar sua internação no
hospital para intensificar o tratamento.
Para a nossa tristeza e revolta, o
mesmo veio a falecer, causando profunda indignação a categoria.
A dirigente de ensino da época era
militante de carteirinha do PSDB, que além de incompetente, exalava prepotência
e arrogância antipedagógica.
No dia do enterro do professor, fizemos
o inusitado no cemitério das colinas em SBC, fixamos reportagens nos vidros do
velório onde o corpo estava, além da panfletagem no próprio recinto. Na saída
do corpo, num ato de ousadia, discursamos e denunciamos a perda do nosso
companheiro; resultado do descaso para com a escola pública e os seus
educadores.
O corpo foi levado para sua terra
natal, no Estado do Ceará e o sindicato continuou sua ofensiva contra o
abandono da rede pública e a violência sofrida pelos educadores em seu
cotidiano.
De lá pra cá a violência continua em
níveis diferenciados, com assédio moral, agressões verbais e físicas,
frequentemente denunciadas em nossas subsedes.
Há dez anos essa tragédia se abateu em
nossa rede, e até hoje pouco tem sido feito no sentido de melhorar a escola
pública no Estado de São Paulo.
A nossa luta continua contra o baixo
salário, o numero excessivo de alunos em sala de aula, a política excludente da
meritocracia e a violência nas escolas.
A nossa resistência tem se destacado e
dirigentes e ditadores tem perecido ao longo de nossa trajetória, tanto em
nível estadual, quanto em nível regional. Esperamos que haja maior empenho da
justiça em relação a esse e outros tantos casos que continuam desafiando a
lógica do ato de educar.
De nossa parte, continuaremos atuando
no sentido de restabelecer a verdadeira escola pública, laica e de qualidade
para todos os filhos e filhas da classe trabalhadora.
Educar e resistir sempre é preciso!!!.
Aldo Santos, coordenador da APEOESP-SBC
presidente da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de
São Paulo, membro do Coletivo Nacional de Filosofia, coordenador da corrente
política TLS.
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