Sorria, você está sendo filmado até nos banheiros.
Em reportagem publicada pelo portal UOL,
a mesma destacava a colocação de câmeras nos banheiros dos alunos na Escola
Municipal Sebastiana Cobra, em São José dos Campos. A reportagem afirmava que o
objetivo dessa vigilância é para rastrear o comportamento dos alunos e
professores. Segundo a manifestação da entrevistada, “seria bom colocarem câmeras dentro das salas de aula para os pais terem
acesso às imagens de casa e poderem monitorar as atitudes dos filhos e dos
professores” (UOL noticias 03/04/2012 -
20h12).
Esse debate é profundamente
invasivo no tocante a liberdade individual e coletiva, que visa promover
o controle, a vigilância e o patrulhamento sobre eventuais adversários ou
inimigos existentes no interior das unidades escolares.
Todos são vigiados: os bons alunos, os
indisciplinados, eventuais delinquentes sob o mesmo argumento e a mesma lógica
da existência de um inimigo em potencial. Para o senso comum, isso pode parecer
ou representar alguma forma de alívio em saber e acompanhar o cotidiano educacional
dos estudantes com espaço já delimitados no interior das unidades escolares.
No período da ditadura, o controle também existia de outras formas,
tentando coibir a liberdade de expressão e de cátedra dos educadores e a livre
manifestação dos alunos. Hoje de forma sofisticada, todos estão com suas
condutas pessoais e ou coletivas sob suspeita pela vigilância dos agentes do
Estado. Para as pessoas que sonham com outro mundo de liberdade e respeito à
individualidade e a liberdade de cátedra, entendem que toda sociedade
controlada, ocorre por conta dos interesses da classe dominante que tenta
manter o controle pessoal e, consequentemente, o poder pela classe detentora
dos meios de produção.
Esse tipo de
sociedade totalitária foi descrita no livro de George
Orwell: "Grande irmão" é a
expressão usada por George Orwell para definir o controle exercido pelo regime
totalitário em seu romance 1984 (escrito em 1948). Naquela história, os
trabalhadores são manipulados a tal ponto que existe uma complexa "polícia
do pensamento" que a todos vigia por meio de câmaras filmadoras. Pensar
"errado" é um crime passível das mais violentas torturas. O correto,
naquele romance, é "não pensar". Não por acaso, o personagem
principal do livro tem como função em seu trabalho reescrever a história,
apagar vestígios, mudar a escrita sobre o passado. (A autora é carlalssilva@uol.com.br professora Adjunta do Curso de História da UNIOESTE -
Campus Mal. C.Rondon.http://www.unioeste.br/projetos/observatorio/texto_movimento_estudantil.asp)
Outro autor que deve ser lido e entendido é Michael
Foucault, que estudou e de certa forma denunciou o controle social que se dá
pelo macro e micro poder, e com a instalação das câmeras nas salas de
aula,nos corredores e nos banheiros, fazem parte dessa “mico física do
poder”.
Esse tema foi analisado e debatido nas nossas reuniões
de Representantes de Escola na Subsede da Apeoesp de Sbcampo, a partir de
denúncias e da investida da Secretaria Estadual de Educação, incentivando
a colocação de câmeras nas salas de aulas, corredores e até em “banheiros”,
como afirma a reportagem.
Felizmente, a esmagadora maioria dos professores
presentes foram contrários a instalação desses instrumentos de controle sobre
os educadores e educandos. Várias unidades escolares vêm enfrentando esse
debate e, ao mesmo tempo, propõe que o governo contrate mais
funcionários para assegurar o efetivo cumprimento do processo educacional
e não substituí-lo pelo controle virtual como vem ocorrendo.
Vários professores e alguns diretores foram cooptados
por essa nefasta política opressora que visa a implementação de medidas
coercitivas e desrespeitadoras dos diretos humanos.
O espaço escolar é justamento esse espaço de formação,
convivência, aprendizado de conteúdos propedêuticos, de valores éticos e morais
que se aprendem nos ambientes de liberdade e não pelo medo de ser observado,
ser olhado e examinado numa espécie de big brother educacional.
Uma importante contribuição contrária à implantação
desses equipamentos coercitivos é o conteúdo do abaixo-assinado, subscrito por
educadores da unidade escolar Prof. João Batista Bernardes abaixo transcrito: “Nós
abaixo-assinados manifestamos nossa posição contrária à instalação de câmeras
de vídeo nas salas de aula da E. E. Prof. João Batista Bernardes pelos
seguintes motivos:
1
– Já existe na escola câmeras instaladas nos espaços externos a sala de aula (corredores
e pátio) e avaliamos que isto não inibe efetivamente ações de indisciplina;
2
– Entendemos que o espaço escolar é lugar de discussão; produção de
conhecimento e desenvolvimento de valores e que, portanto as ações de controle
e diminuição de indisciplina passam necessariamente pela questão da formação da
autonomia dos sujeitos e não pela coerção e controle;
3
– A escola deve distinguir-se dos demais espaços coletivos como shoppings e
outros onde este sistema de vigilância por câmeras é prática comum. No âmbito
escolar lidamos com um grupo conhecido de alunos e pais e entendemos que
desenvolver ações conjuntas para a resolução de conflitos é mais eficaz do que
esta ação;
4
– Por fim, considerando que a instalação de câmeras visa à proteção patrimonial
e não a necessidade de vigiar os alunos, pois os mesmos se encontram na
presença dos professores (as) nas salas de aula, medidas como estas seria
violar, de forma ofensiva, o direito a liberdade de cátedra dos professores
(as) garantido na Constituição Federal e causar constrangimentos, além de
desrespeitar o direito à individualidade dos alunos garantido pelo ECA* sem
acrescentar nenhuma melhoria no ensino-aprendizagem, tal qual esse espaço foi
reservado.
*ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente):
Art. 17. O direito ao respeito
consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança
e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela
dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”
Na reunião de Representantes de Escola, foi
aprovado que esse conteúdo deveria ser divulgado como experiência
promotora de resistência e luta contra essa famigerada “ação
pedagógica” dos agentes do governo do Estado que ao invés de contratar
mais funcionários, tentam enxugar a maquina pelo viés do controle e da
repressão virtual.
Vamos reagir a essa forma de deseducação, de
desrespeito a autonomia e a individualidade que vem sendo implantada pelo
falido estado capitalista que usa de todas as ferramentas para agredir e
controlar os seres que muitas vezes aprendem com seus erros e sonham com um
mundo livre da opressão de classe e do controle capitalista do gênero
humano.
Liberdade e autonomia para educadores e educandos
já!!!
Aldo Santos. Coordenador da APEOESP-SBC, presidente da
Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo,
membro do Coletivo Nacional de Professores de filosofia, Militante do
Psol.
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