Livros didáticos seguirão matrizes
curriculares do Enem a partir de 2015
Especialistas temem que professores não
consigam se preparar para o formato em dois anos
Bárbara Ferreira Santos e
Victor Vieira - O Estado de S.Paulo
A reforma do ensino médio nos moldes do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) já começou antes mesmo da reestruturação do currículo. A
partir de 2015, os livros didáticos das redes públicas serão interligados
dentro das quatro áreas de conhecimento propostas pela prova. "Não
significa o fim do livro didático por disciplina, mas cada matéria terá de
dialogar com outras", explica o secretário de educação básica do
Ministério da Educação (MEC), Romeu Caputo.
O edital dos livros didáticos para 2015 exige que as
disciplinas de Química, Física e Biologia, por exemplo, estejam interligadas e
atendam a requisitos mínimos comuns das Ciências da Natureza. Pela primeira
vez, o documento prevê que as editoras apresentem obras com complementos
digitais - e-books, jogos e aplicativos. Os próximos editais devem seguir esse
mesmo formato, segundo o MEC.
Uma comissão de avaliadores em 12 universidades federais
analisa se os livros apresentados em agosto por editoras de todo o País atendem
a esses critérios. Até junho de 2014, um guia de obras recomendadas pelo
governo federal deve ser enviado às escolas públicas.
Essa mudança faz parte do projeto do MEC para redefinir
todo o currículo do ensino básico - fundamental e médio - em um formato
interdisciplinar semelhante ao Enem. "A mudança faz parte do que chamamos
de Base Nacional Comum do Currículo. Converge avaliação, formação dos
professores e produção de material", diz Caputo.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, diz que o modelo curricular do Brasil
é historicamente determinado pelos vestibulares. "Antes, poucas escolas
tinham acesso a essas informações. Com o Enem e suas áreas definidas, todo
mundo está conhecendo as matrizes de habilidades e competências, especialmente
as escolas públicas."
Especialistas, porém, temem a adoção de obras nesse modelo
sem a preparação dos professores. "Uma coisa é produzir o material, outra
é ser usado com qualidade", diz Paula Louzano, doutora em Educação pela
Universidade de Harvard. Para João Roberto Moreira Alves, presidente do
Instituto de Pesquisas e Administração da Educação, a formação dos professores,
se iniciada hoje, só alcançaria maturidade em 4 anos.
Para alunos e pais das redes públicas, os novos livros só
representarão uma mudança no formato do ensino médio quando o material didático
for efetivamente usado na sala de aula. "Hoje o livro é pouco usado porque
os professores levam os materiais deles e os alunos não querem carregar tanto
peso à toa", afirma Daniela Machado, de 17 anos, que cursa o 2.º ano do
ensino médio na Escola Estadual Ibrahim Nobre, na zona sul de São Paulo. /
COLABOROU CARINA BACELAR, ESPECIAL PARA O ESTADO
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