Eu pensei que todo mundo
fosse filho de papai Noel
Do tanquim tenho um registro que é próprio de crianças, mas me
atormenta até os dias de hoje. Era um natal e existia um clima de festa e
alegria por toda parte. O comentário era um só, de que deveríamos deitar cedo,
antes da meia noite; colocar o chinelo no pé da cama onde o Papai Noel iria
colocar o presente de natal.
Lembro-me que fui
dormir cedo, no dia vinte e quatro, e, no dia seguinte, acordei alegre pulei da
cama olhei para os chinelos, e qual foi minha tristeza, não tinha nenhum
presente sobre meu chinelo. Fiquei triste, chorei bastante, e minha tia,
tentando me consolar, disse que o papai Noel vinha a cavalo e, naquela noite,
ele não tinha passado naquela região, por isso o presente não tinha chegado.
Ainda acreditava em papai Noel, tomei um pouco de café, e fui
na estrada ver se havia rastro de casco de
cavalos. Era só o que havia, pois o meio de locomoção naquela região era
o animal. Voltei e perguntei para minha tia como era o casco do cavalo do papai
Noel, ela me olhou triste e disse que era um cavalo bonito, grande e que carregava
muito peso. Despistei e fui verificar se havia algum casco de cavalo com aquela
descrição. Fiquei em dúvida se a minha tia estava falando a verdade. Foi um espanto,
mas descobri que Papai Noel não visitava as casas das crianças pobres, embora
as promessas fossem grandes e enganadoras.
A partir dessa data, passei a não acreditar mais em papai
Noel, pois na verdade, fiquei olhando outras crianças brincarem e o meu pai, não
tinha condições de comprar um presentinho para colocar no meu chinelo.
Foi
um choque em minha vida. Entendi o que dizia a música “Eu pensei que todo mundo
fosse filho de papai Noel”. E por falar em fim de ano, no Natal nossa família
ia para a casa do Tio Antonio e, no Ano Novo, todos vinham para nossa casa. Era
comida e bebida a vontade e era um valor observar aquele que se levantava por ultimo da mesa, geralmente os tios. “Às vezes, enchíamos a cara e era uma
alegria e uma felicidade passageira”.
DO LIVRO MEMÓRIAS DE INFÂNCIA DE ALDO SANTOS
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