ALMOÇO
SOLIDÁRIO E A ORGANIZAÇÃO POPULAR EM SÃO BERNARDO DO CAMPO
Este foi o décimo quarto almoço
comunitário que vem sendo realizado na comunidade periférica no Parque São Bernardo,
em São Bernardo do Campo.
O primeiro almoço teve início em
1999, e foi idealizado pelo líder comunitário José da Silva Leme, popularmente
conhecido como Zé Neguinho, irmão do também popular Ditinho da Congada.
Em 1999, começou com um simples almoço e acompanhado
com um copo de suco.
Cada ano vem aumentando o número de crianças e familiares,
bem como a ajuda de pessoas das mais variadas camadas sociais da comunidade, do comércio local e de outras regiões. Na prática, os trabalhos começam no dia anterior para tudo ficar pronto no horário combinado.
Esse ano na unidade escolar onde é servida a
alimentação e a distribuição de brinquedos, contou com o apoio da Família Lemes
e mais de cem voluntários que ajudam nessa atividade comunitária, onde atendem
mais de 2000 mil crianças e pessoas que almoçam, jantam e ainda recebem
brinquedos, animados com muita música de artistas da comunidade.
A comida é feita no fogão a
lenha na casa da Mãe da família Lemes, Dona Cotinha, que com 86 anos, serenamente ainda comanda o conjunto das
atividades desenvolvidas no local.
Grande parte das atividades
desenvolvidas pela Família Lemes vem da liderança do Senhor Antonio Silva Lemes
que faleceu em, 2005 e que desde Minas Gerais, mais precisamente na cidade “Monsenhor
Paulo” com aproximadamente 30 mil habitantes, a tradição cultural e religiosa continua viva através
da Dona Cotinha, dos filhos, netos e bisnetos.
Hoje a Família Lemes conta com aproximadamente
50 componentes, segundo Zé Neguinho. Essa família desenvolve vários projetos
populares como a Congada do Parque São Bernardo, a Escola de Samba Renascente de
São Bernardo, além do almoço comunitário e todos os anos ainda organizam a Semana
da Consciência Negra. Segundo ele, no dia 13 de maio de 2013 inauguraram o “Centro
Comunitário Família Lemes” no Parque São Bernardo que deve entrar em pleno
funcionamento em 2014.
Para Zé Neguinho, “é um orgulho manter
a família unida em torno de objetivos coletivos”. As atividades relativas ao
almoço comunitário começaram no escadão da Vila, depois na Rua Paula Souza,
depois na Escola Estadual Palmira Gracioto e atualmente na EMEB Professora Maria
Therezinha Besana.
Até hoje lamentamos que a escola Estadual Palmira não recepcione nossas atividades no Bairro, pois a escola parece que se isolou, levantando enormes muros e a comunidade quase
nada pode fazer para utilizar esse espaço público da comunidade, afirma Zé
Neguinho.
“A Escola Besana recebe a comunidade com maior carinho”, afirma o líder comunitário.
A escola de Samba também ensaiava na escola
Palmira e hoje também não pode mais ensaiar
nesse espaço público, o que dificulta
as atividades pedagógicas e de
lazer comunitário.
Em relação à consciência negra, ele disse que
sonha reunir pelo menos 1000 negros no Paço municipal, uma vez que o movimento
negro hoje ainda está muito fragilizado.
Em relação a infraestrutura do almoço,
não existe publicidade de ninguém para evitar promoção ou uso indevido dessa importante
atividade solidária e comunitária. Tudo é feito de forma voluntária e no anonimato.
Junto as crianças e os membros que
participaram do almoço comunitário, tinha inclusive moradores de rua que
também faziam parte dos milhares
de participantes dessa atividade.
Para o jovem Papai Noel Marcelo, do Rudge Ramos, ao ser indagado sobre o significado de sua participação nesse
evento, ele disse que cumpre uma
promessa e a realização do sonho de seu
pai que queria ser o papai Noel, porém, ele
morreu e agora estou cumprindo a promessa dele por sete anos, e depois, pretendo dar continuidade, disse Marcelo, hoje com 31
anos.
O Almoço estava muito bom, e foi
servido Arroz, feijão, macarrão, farofa, carnes, salada, refrigerante, panetone,
melancia, arroz doce e doce de leite. Duas salas estavam lotadas com brinquedos
para meninas e meninos, que, com uma pulseirinha receberiam os presentes
doados.
Para o Ditinho da Congada, essa atividade
é um desafio que vem dando certo e que deve continuar com outras coisas por
parte da Família e da comunidade organizada.
Para Ditinho, as atividades no dia de natal teve início às 7 horas e deve
ir até às 20 horas, com a entrada e saída
permanente de crianças e pessoas, perfazendo um número de aproximadamente 4 mil
pessoas presentes ao evento. Afirmou ainda que amanha, dia 26 haverá
almoço especial para moradores de rua que hoje já vem recebendo 40 refeições
diárias, onde a família mora.
Com essa multidão reunida, não
teve ocorrência policial, presença da guarda municipal, pois a educação de
convivência coletiva prevalece.
Essa é seguramente a maior
atividade natalina do grande ABCD, onde o papel do poder público é apenas a cessão do espaço físico.
Dessa atividade tiramos pelo menos duas
conclusões: Diferentemente da fala e propaganda do governo federal, estadual e
municipal, existe um grande contingente de pessoas excluídas como se verifica numa
cidade que tem um dos maiores orçamentos do País.
Essa atividade expõe
a crueldade dos famélicos que o
governos tenta de todas as formas esconder ou dissimular com políticas compensatórias pontuais.
Outra grande lição é o
ensinamento que esse tipo de atividade propicia como a educação coletiva, a convivência
fraterna, conectando a essa atividade outras manifestações culturais, como a escola de samba, a semana da consciência negra e
o aprimoramento do espaço cultural Família
Lemes, que de forma positiva cumprem um
papel que o poder público deveria realizar , porém, se negam ou se omitem de
tal atribuição.
É uma denúncia social das
condições degradantes em que vivem milhões de pessoas nesse país, e o anúncio de
que quando a população organizada e unida atua, as coisas acontecem com ou sem
o apoio dos poderes constituídos.
Parabéns a Família Lemes e aos voluntários
apoiadores, que, sensíveis ao reclamo social dedicam o dia de Natal a essa
prática social de solidariedade e crença na classe Trabalhadora e na libertação dos oprimidos pelo capital.
Ser
solidário e participar é preciso!
Aldo
Santos - Coordenador da apeoes-sbc, Presidente da Associação dos Professores de
Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo e do Brasil, presidente do Psol em
SBCAMPO.
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