domingo, 13 de março de 2011

Vamos ampliar nossa agenda de ação militante contra a matança do povo negro.


Esse ano temos inúmeros desafios pela frente, como o baixos salários aprovado pelos políticos profissionais, o assalto aos cofres públicos pelos deputados no Congresso e no Senado com seu efeito cascata nas assembléias legislativas e câmaras de vereadores no Brasil inteiro, além de outros problemas da maior gravidade. Do ponto de vista da macro-economia a crise continua assolando vários países e serve de combustível para alimentar o processo de enfrentamento “de alternância de poder” que vem ocorrendo no oriente médio e o norte da áfrica.

No Brasil os cortes no orçamento e o aumento da inflação são elementos concretos na conjuntura nacional e mais uma vez o governo aumenta os juros e penaliza as áreas sociais diante da crise estabelecida que prenuncia arrocho econômico, desemprego e piora na qualidade de vida da classe trabalhadora.

Por sua vez, a burguesia nacional nunca esteve tão segura e lucrativa como nos governos Lula/Dilma, com grande parte dos movimentos amordaçados e/ou cooptados, cuja governabilidade e sustentabilidade contam ainda com a ancora e o silêncio dos de baixo, mobilizados pelas políticas compensatórias em detrimento de políticas promotoras da auto-estima e da libertação de fato dos empobrecidos pelo capitalismo.

Nesse contexto, o mapa da violência publicado pelos meios de comunicação é um agravante, pois expõe uma tragédia social e concomitantemente, uma tragédia racial que sugere por porte dos governantes uma faxina étnica, conforme os dados a seguir: “No Brasil, em cada três assassinatos, dois são de negros. Em 2008, morreram 103% mais negros que brancos. Dez anos antes, essa diferença já existia, mas era de 20%. Esses números estão no Mapa da Violência 2011, um estudo nacional apresentado hoje pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz.Os números mostram que, enquanto os assassinatos de brancos vêm caindo, os de negros continuam a subir. De 2005 para 2008, houve uma queda de 22,7% nos homicídios de pessoas brancas; entre os negros, as taxas subiram 12,1%. O cenário é ainda pior entre os jovens (15 a 24 anos). Entre os brancos, o número de homicídios caiu de 6.592 para 4.582 entre 2002 e 2008, uma diferença de 30%. Enquanto isso, os assassinatos entre os jovens negros passaram de 11.308 para 12.749 - aumento de 13%.No Estado da Paraíba, em 2008, morreram 1.083% mais negros do que brancos. Em Alagoas, no mesmo ano, foram 974,8% mais mortes de negros. Em 11 Estados, esse índice ultrapassa 200%. As diferenças são pequenas apenas nos Estados onde a população negra também é menor, como no Rio Grande do Sul, onde a diferença é de 12,5%; Santa Catarina, com 14,7%; e Acre, com 4%.

“Alguns Estados têm taxas insuportáveis. Não é uma situação premeditada, mas tem as características de um extermínio”, diz o pesquisador Waiselfisz. “A distância entre brancos e negros cresce muito rápido”, ressalta. Ele credita essa diferença à falta de segurança que envolve a população mais pobre, em que os negros são maioria. “O que acontece com a segurança pública é o que já aconteceu com outros setores, como educação, saúde, previdência social: a privatização. Quem pode, paga a segurança privada. Os negros estão entre os mais pobres, moram em zonas de risco e não podem pagar”. ( Publicado no Estado de S. Paulo, 24/02/2011).

Mais do que dados produzidos e sistematizados em laboratórios como expressão de um mundo real, está em curso uma verdadeira guerra civil, onde os pobres e negros são dizimados nessa carnificina protagonizada pelo estado burguês. Aliás, essa violência não é nova no cenário étnico e da classe.

Como uma tentativa a mais no combate ao preconceito racial, o dia 21 de março deve incorporar o nosso calendário de luta, assim como o 13 de maio, dia de denunciar o racismo e o dia 20 de novembro, em memória de Zumbi dos Palmares, assassinado em 1695. Segundo o documento do movimento negro unificado, o dia 21 de março “é lembrado em memória ao massacre de Sharppeville, ocorrido na cidade de Johanesburgo, na África do Sul, no mesmo dia do ano de 1960, quando milhares de negros que protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão e o saldo da violência foram 69 mortos e 186 feridos.Mesmo com a criação da Secretaria da Igualdade Racial no Maranhão, tudo caminha ainda lentamente, pois é preciso agilizar a adoção de políticas públicas para eliminar as desigualdades que se abatem sobre as populações das comunidades negras rurais quilombolas e sobre população negra urbana na diáspora. Faltam, também, medidas que coíbam o desrespeito à religiosidade de matriz africana pelos intolerantes.

O enfrentamento ao racismo e suas manifestações: o preconceito e a discriminação raciais começa com a denúncia para conscientizar negros/as e educar não-negros/as sobre os malefícios provocados pelo racismo. Precisamos lutar por melhores condições de vida para o povo negro, contra a intolerância religiosa e por paz no mundo.

Conscientize-se e Reaja à Violência Racial!

Junte-se a nós na luta contra o racismo!(texto publicado em 2008 no blog do Movimento Negro Unificado – MNU)

Nesse sentido, além das lutas e manifestações que ocorrem em novembro por ocasião do Mês da consciência negra, devemos fazer dessa temática a expressão do nosso cotidiano, condenando práticas que expressam o preconceito racial, bem como, debatermos os dados mencionados nas reportagens citadas e outros.

Os dados apresentados vão além da reafirmação do preconceito; trata-se da eliminação física dos pobres e negros do nosso país, o que merece por parte da sociedade o mais profundo repudio às políticas implementadas pelos governantes ao longo dos 511 de escravidão e opressão aos nativos, negros e operários.

Diante dessa realidade, devemos alimentar nossa rebeldia, dar voz e vez aos nossos Quilombos, trilhando nas estradas da efetiva libertação do nosso povo, rumo a uma nova sociedade livre dos opressores, economicamente igualitária, com mesa e liberdade farta.

“É necessário saber que, historicamente, havia duas espécies de escravos: o negro da casa e o negro do campo. O negro da casa vivia junto do senhor, na senzala ou no sótão da casa grande. Vestia-se, comia bem e amava o senhor. Amava mais o senhor do que o senhor amava a ele. Se o senhor dizia: — Temos uma bela casa. Ele respondia: — Pois temos. Se a casa pegasse fogo, o negro da casa corria para apagar o fogo. Se o senhor adoecesse dizia: — estamos doentes. Se um escravo do campo lhe dissesse 'vamos fugir desse senhor', ele respondia: — Existe uma coisa melhor do que o que temos aqui? Não saio daqui. O chamávamos de negro da casa. É o que lhe chamamos agora, porque ainda há muitos negros de casa”.(... Malcon X)



Reagir contra a morte do nosso povo é preciso!

Aldo Santos. Ex-vereador em SBC, Coordenador da Corrente Política TLS, Sindicalista, membro da Executiva Nacional do Psol e presidente da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo. (10/03/2011)



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