Quem quer ser
professor?
Publicado em 12/05/2013
Pesquisa da USP
confirma a estatística de que os jovens universitários querem distância da sala
de aula. Eles têm convites melhores. Resta aos governos fazer contrapostas
Se os números não
mentem, confirma-se a cada dia que a profissão de professor no Brasil goza do
mais alto desprestígio em toda sua história. Pesquisa da Faculdade de Educação
da USP – Atratividade do magistério para a educação básica”, de Luciana França
Leme –, recém-publicada, mostra que metade dos graduandos das faculdades de
Matemática, Física e Química – mesmo sendo alunos de licenciaturas – não
planeja pôr os pés numa sala de aula. Aferição similar foi feita pela Fundação
Carlos Chagas, em 2009, junto a estudantes do ensino médio: só 2% desejavam o
magistério.
Os dados – que não se
desmentem a cada novo levantamento – servem de termômetro. Um país no qual os
jovens universitários rejeitam servir à educação não tem muito do que se
ufanar. Os demais países do mundo que o digam. E isso vale para nações
desenvolvidas, como a Coreia do Sul, e para países em frangalhos, como Cuba,
para citar duas. Em ambas, o status do professor se mantém em alta e esse seria
o segredo.
Convenhamos, não se
trata apenas de uma questão cultural. Fosse por esse prisma, o Brasil por certo
se sairia bem. Ainda que não na prática, pelo menos no discurso, o brasileiro
louva e agradece os professores que teve, ainda que afirme não querer ser à
imagem e semelhança de nenhum deles. A questão é de fundo político. Não basta
reconhecer os mestres, é preciso mostrar, com programas sérios, que o próprio
Estado os reconhece.
Não se trata de coisa
do outro mundo, nem exige gastos que arrasariam os cofres públicos.
Pesquisadores de educação aqui e ali revelam que com incentivos bem calibrados,
muitos sairiam da faculdade e fariam um estágio em sala de aula, irrigando essa
seca danada. Pode ser um estágio de dois anos, numa espécie de período sabático,
tempo em que os governos incentivariam os recém-graduados a provar o gosto do
quadro-negro. Obviamente, isso não resolveria a carência de nada menos do que
170 mil professores de Ciências Exatas nas escolas de ensino fundamental e
médio. Mas pelo menos serviria de estímulo à experiência, saltando dali para
outros voos. Muitos ficariam ali, seduzidos pela paixão de ensinar, motivo para
que tantos milhares tenham abraçado o ensino, apesar dos pesares.
É preciso ir mais
longe. A pesquisa da USP, a da Fundação Carlos Chagas, a da Fundação Lemann,
para citar mais uma, deveriam servir de base para uma investigação mais
profunda, capaz de revelar as causas dessa rejeição a mais nobre das tarefas.
Descrença na educação? Insegurança diante da exposição do professor a
periferias violentas? Propaganda negativa feita pelos próprios professores?
Salários? A depender das respostas, seria possível balizar o que é lenda e o
que é verdade em toda essa nuvem cinzenta que ronda o ensino. Há professores
agredidos nas periferias – é claro. Mas há lá também brasileiros que
desenvolvem projetos de monta e fazem diferença na construção da cidadania. Uma
comparação de rendimentos, do mesmo modo, serviria para mostrar que no quadro
geral são muitos os ramos de atividade com ganhos módicos. O professor não está
sozinho na barca do inferno.
Outro foco de
investigação “da hora”, como se diz, é constatar o quanto estamos numa roda
viva de oferta e procura, custo e benefício, em especial para os profissionais
da área de Matemática, Física e Química. Eles são poucos em sala de aula, mas
também na iniciativa privada. Nem é preciso fazer muito cálculo para saber –
basta conferir a centena de programas corporativos ocupados de arrebanhar bons
profissionais dados a números.
Rende uma boa
conversa – a escola encontrou concorrência. E concorrência se vence fazendo
contrapropostas. Cá entre nós, os governos andam trançando as pernas nesse
quesito, empurrando para depois essa dívida social. Seria um belo programa –
formar, remunerar e incentivar bons profissionais a incluírem a escola nos seus
projetos de vida. Não se trata apenas de uma ideia bonita, tocante, patriótica,
ao som do Hino Nacional. Trata-se da estratégia mais do que comprovada, usada
por coreanos e cubanos, à revelia das terras, mares e dividendos que os
separam. A propósito, o ministro da Educação Aloizio Mercadante jurou de pés
juntos que ia resolver a falta de professores da área de Exatas. Não podemos
deixá-lo esquecer
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