quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

“Professor morre após agressão”

HISTÓRIA E MEMÓRIA:


“Professor morre após agressão”



Essa foi a manchete do jornal Diário do Grande ABC, publicada no caderno regional, em 25 de novembro de 2001. No subtítulo estava estampado: “Aluno fincou chaves na testa do educador, que passou por cirurgia, mas morreu 15 dias depois.”

Esse foi o ápice da violência nas escolas, que ceifou a vida do professor de história, José Vieira Carneiro, aos 44 anos de idade. Carneiro Lecionava na EE Palmira Gracioto, no Parque São Bernardo-SBC, deixando três filhos e uma viúva.

A agressão aconteceu no dia 09 de novembro 2001, por volta das 19h40min numa das salas da referida unidade escolar. O Aluno foi identificado como: “A.,17”, conforme citação do jornal.

Segundo a imprensa, “o garoto estava brincando com o chaveiro e o professor pediu para que parasse. O garoto, então, partiu para cima dele e o atingiu na cabeça com as chaves”, disse um professor que não quis se identificar.

Em outra citação, a cunhada do professor mencionou: “Ele disse que o menino colocou as chaves entre os dedos e que deu um soco na testa dele”.

Ainda segunda a reportagem, a Diretoria de Ensino “recusou a comentar o assunto”.

Na ocasião, lembro-me que tentaram de toda forma abafar o caso para evitar a repercussão política negativa do acontecido.

Em 2001, num determinado domingo pela manhã, compareceram em minha casa o professor Carneiro e outro colega, também professor, narrou os fatos, queixou-se de fortes dores de cabeça e estava muito preocupado com a situação.

Fiquei preocupado com a perfuração na testa do professor, além de estar com a cabeça um pouco inchada. Disse a ele que deveria urgentemente procurar o hospital do Servidor Público Estadual para reavaliar o caso.

Coloquei o mandato a disposição dele, inclusive o carro oficial para levá-lo ao hospital, o que foi feito por várias vezes. Três dias depois fui visitá-lo em sua casa e percebi que embora estivesse andando, ainda não havia melhorado.

Como auxiliar de enfermagem, percebi que o caso era sério e novamente disse que deveria solicitar sua internação no hospital para intensificar o tratamento.

Para a nossa tristeza e revolta, o mesmo veio a falecer, causando profunda indignação a categoria.

A dirigente de ensino da época era militante de carteirinha do PSDB, que além de incompetente, exalava prepotência e arrogância antipedagógica.

No dia do enterro do professor, fizemos o inusitado no cemitério das colinas em SBC, fixamos reportagens nos vidros do velório onde o corpo estava, além da panfletagem no próprio recinto. Na saída do corpo, num ato de ousadia, discursamos e denunciamos a perda do nosso companheiro; resultado do descaso para com a escola pública e os seus educadores.

O corpo foi levado para sua terra natal, no Estado do Ceará e o sindicato continuou sua ofensiva contra o abandono da rede pública e a violência sofrida pelos educadores em seu cotidiano.

De lá pra cá a violência continua em níveis diferenciados, com assédio moral, agressões verbais e físicas, frequentemente denunciadas em nossas subsedes.

Há dez anos essa tragédia se abateu em nossa rede, e até hoje pouco tem sido feito no sentido de melhorar a escola pública no Estado de São Paulo.

A nossa luta continua contra o baixo salário, o numero excessivo de alunos em sala de aula, a política excludente da meritocracia e a violência nas escolas.

A nossa resistência tem se destacado e dirigentes e ditadores tem perecido ao longo de nossa trajetória, tanto em nível estadual, quanto em nível regional. Esperamos que haja maior empenho da justiça em relação a esse e outros tantos casos que continuam desafiando a lógica do ato de educar.

De nossa parte, continuaremos atuando no sentido de restabelecer a verdadeira escola pública, laica e de qualidade para todos os filhos e filhas da classe trabalhadora.



Educar e resistir sempre é preciso!!!.



Aldo Santos, coordenador da APEOESP-SBC presidente da Associação dos professores de filosofia e filósofos do Estado de São Paulo, membro do Coletivo Nacional de Filosofia, coordenador da corrente política TLS.

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