INDEFERIDA! Esta
tem sido a resposta do Estado para as solicitações de licença médica, inclusive
para os casos de doenças psiquiátricas. Professores enfrentam uma verdadeira
via sacra no processo de regularização de sua situação trabalhista.
Os transtornos mentais são a terceira causa de
afastamento do trabalho no Brasil, de acordo com levantamentos realizados pela
Previdência Social de 2008 para cá. Entre os professores, essas doenças só
perdem para as do sistema osteomuscular, caso da LER (Lesão por Esforço
Repetitivo), e as lesões traumáticas.
Classes superlotadas, falta de estrutura e de condições de trabalho, violência, excesso de pressão das direções, assédio moral, ineficiência do atendimento médico – esses são alguns fatores que contribuem para o crescimento significativo do número de solicitações de afastamento do trabalho por uma parcela cada vez maior de professores da rede oficial do Estado, vitimados por doenças psiquiátricas.
Classes superlotadas, falta de estrutura e de condições de trabalho, violência, excesso de pressão das direções, assédio moral, ineficiência do atendimento médico – esses são alguns fatores que contribuem para o crescimento significativo do número de solicitações de afastamento do trabalho por uma parcela cada vez maior de professores da rede oficial do Estado, vitimados por doenças psiquiátricas.
Somente no dia 15 de abril deste ano, a Subsede da
APEOESP de São Bernardo do Campo, através do Departamento Jurídico, atendeu dez
professores (maioria por doenças
psiquiátricas) que tiveram sua solicitação de licença médica indeferida pelo
Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME), órgão ligado à Secretaria
Estadual de Gestão Pública.
Profissionais que apresentam graves distúrbios mentais, diagnosticados
por médicos particulares ou do convênio, mas que se veem obrigados a enfrentar
uma verdadeira via sacra burocrática para regularizar sua situação trabalhista,
o que piora as condições de saúde já debilitadas. Há casos, inclusive, de
tentativa de suicídio.
No período de janeiro a março deste ano, o Departamento
Jurídico da Subsede SBC elaborou e encaminhou ao DPME mais de 240 recursos /
reconsiderações que tem indeferido a grande maioria das solicitações de licença
médica apresentada pelos professores. Entre elas, mais de 80% por conta de doenças
psiquiátricas.
Processo
lento e burocrático
Graças à Lei complementar nº 1041, de 14 de abril de
2008, que “dispõe sobre o vencimento ou o salário do servidor que
deixar de comparecer ao expediente em virtude de consulta médica ou sessão de
tratamento de saúde”, conhecida como “lei das faltas médicas”, o
professor com problemas de saúde é obrigado a enfrentar uma verdadeira maratona
burocrática para a regularização de licenças médicas.
Ao ter problemas de saúde, o professor passa por um
médico, que pode ser particular ou do convênio, o qual, dependendo da
gravidade, dá um atestado por determinado período. Em um prazo de 24 horas, o
professor apresenta o atestado na unidade escolar em que atua para que seja
feito o agendamento de perícia médica no DPME, que definirá data, horário e
local da consulta - podendo ser muitas vezes em qualquer cidade do Estado,
independente do local de residência do solicitante, o que ocorre principalmente
nos casos de psiquiatria. Cabe ao
professor garantir sua locomoção. No
caso de não comparecer à perícia, o profissional deve justificar, por escrito, ao
DPME para um novo agendamento, que somente será possível se o pedido de
reconsideração for deferido.
No dia da perícia, o professor deve apresentar o atestado
médico original e os exames complementares realizados. Por isso é necessário
ter uma cópia de todos os materiais apresentados para a elaboração do recurso/pedido
de reconsideração, caso venha a ser negada a licença, o que, aliás, vem sendo
uma rotina.
Caberá ao professor acompanhar o Diário Oficial para
conferir a decisão do DPME (http://www.dpme.sp.gov.br/consulicenca.html). No caso da licença não ser concedida
ou com redução do número de dias determinado pelo médico, o professor deve
procurar a APEOESP para providências jurídicas, porque há prazo para dar
entrada com o recurso, conforme legislação. O Departamento Jurídico da Subsede
elabora e encaminha o recurso para seus associados ao DPME.
O professor solicitante deve acompanhar a publicação da
decisão no Diário Oficial. Caso seja
indeferida, deve procurar imediatamente a APEOESP para entrar com um novo
recurso junto à Secretaria de Gestão Pública do Estado.
Com isso, pode ocorrer um acúmulo de licenças médicas
negadas e de recursos, prejudicando a situação trabalhista do professor, ou obrigando
a volta ao trabalho, independente das condições físicas e mentais para exercer
suas funções. O que é agravante no caso de doenças psiquiátricas como síndrome
do pânico, depressão, bipolaridade, dependência química, alcoolismo, entre
outras. Em último caso, a APEOESP entra com ação contra o Estado junto ao
Ministério Público.
Recurso
negado
Esta tem sido a tônica da perícia médica
oficial diante das solicitações de licenças médicas, mesmo diante de evidências
que comprovam a gravidade dos casos e em muitos casos com diagnóstico feito por
médicos do próprio Hospital do Servidor Público. O que é, no mínimo, mas um flagrante do
descaso do Estado frente às péssimas condições de trabalho e salário do
professorado, assegura o coordenador da APEOESP Subsede-SBC, Aldo Santos.
Os exemplos são muitos, como de um professor que, mesmo
tendo em mãos atestado de clínica psiquiátrica de renome, teve sua solicitação indeferida
pelo DPME, sendo obrigado a voltar ao trabalho. “Paciente em acompanhamento médico
medicamentoso nesta clínica... apresentando quadro sintomatológico e evolutivo
com características sugestivo de Depressão Recorrente episódio atual
Moderado/Grave, associado a quadro sugestivo de Estafa Total... Apresenta
atualmente claro comprometimento de sua capacidade laborativa, sem condições de
exercer suas funções habituais... Sugiro a esta perícia a possibilidade do
afastamento de suas funções por um período de 90 (noventa) dias.”
DEPOIMENTO
“Aposentar por psiquiatria só se tiver tacando pedra em avião. Eu estou doente não em virtude dos alunos, os
problemas maiores estão nas direções das escolas e da Diretoria de Ensino, com
suas burocracias e mentiras. Há professores que se submetem a qualquer coisa,
eu não consigo. As escolas estão caindo, os alunos não têm acesso à sala de
informática, as regras são obsoletas em prejuízo do conteúdo. Essa situação vem
piorando desde que entrei no magistério, nos anos 90. Às vezes, minha vontade
era de arrebentar a cara da diretora. Minhas condições de saúde pioraram quando
minha mãe foi diagnosticada com câncer, me afundei no alcoolismo e nas drogas e
passei a ser atendida no Servidor Público, e os médicos me declararam
dependente química. Em 2011, por conta de uma over dose, fui internada no Servidor, onde vi pacientes que
passaram por terapia de choque elétrico, que quando voltavam para o quarto não
se lembravam de mais nada, não sabiam mais nem falar ou comer. Quando sai,
continuei o tratamento no ambulatório.
Sinto que os pacientes de psiquiatria são tratados com
discriminação pelos próprios médicos do Servidor, sem falar que eles nem olham
na sua cara. Desde 2005, venho intercalando licenças e volta ao trabalho, e nem
sei mais quantas licenças e recursos dei entrada e que foram indeferidos pelo
DPME, nesse período, muitas delas licenças emitidas por médicos do próprio
Servidor. Voltar ao trabalho era angustiante, ter que aguentar os comentários
dos diretores e até de professores me tachando de `vagabunda`. Às vezes, dá vontade de desistir de tudo, mas
o pessoal da APEOESP me apoia e incentiva. Uma vez deixei de entrar com recurso
e fiquei sem salário por um mês, não dá. Atualmente, estou de licença, devo
passar de novo por uma junta médica.
O sistema educacional acabou comigo: a burocracia, as direções e
coordenações. Desencantei-me de dar aulas, sofri tanta decepção, não aguento
mais o Estado. O sistema educacional é mentiroso, decadente, é uma maquiagem, e
não só em São Paulo, é em todo o país.”
COMUNICAÇÃO DA APEOESP
PUBLICAÇÃO SUBSEDE DA APEOESP DE SÃO BERNARDO DO CAMPO
TELEFONES: (11) 4125.6558 OU (11) 4332.3913
EMAIL: saobernardo@apeoespsub.org.br
Coordenação: coordenacaosbc@terra.com.br
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