O CAMINHAR DA JUVENTUDE DE ESQUERDA
ALEMÃ NA ATUALIDADE.
Companheiros, o companheiro Aldo tinha me pedido pra escrever um texto
sobre a situação da esquerda na Europa, escrevi um documento interessante
sobre a questão da juventude da esquerda alemã, peço que acrescentem os
pontos de pontuação que faltarem porque estou usando um teclado sem acentos e
utilizem o texto da forma que julgarem adequado, um grande abs.
Desde que cheguei a cerca de 6
meses na Alemanha, sinto me frustrado por não conseguir propor uma análise de
conjuntura que seja compatível com a realidade da juventude de esquerda que
aqui encontrei.
As condições históricas e culturais aqui colocadas se deram de uma
forma tão distinta das encontradas no Brasil e na América Latina num geral,
que toda minha noção de organização da esquerda obtida após anos na luta no
movimento estudantil brasileiro teve de ser revista de ponta cabeça. As
diferenças iniciam-se no campo prático e estrutural, onde não se há grandes
preocupações por parte dos coletivos de juventude de esquerda alemães em construir
e retirar sua maior base do movimento estudantil, logica essa que é a razão
de existência da maioria dos coletivos de juventude brasileiros, ate o campo
ideológico onde ao contrario da esquerda Brasileira que todos vêm com bons
olhos às figuras e obras de Marx, Engels, Lenin, não existe uma linha de
ideias comum entre os membros dos coletivos de juventude de maior expressão
na Alemanha, ao passo que eles se intitulam apenas como anticapitalistas e
antifascistas, não dando nenhuma orientação teórica e ideológica para seus
militantes que vá alem disso.
A educação na Alemanha é
bastante setorizada de tal forma que existem escolas de ensino médio
distintas, escolas para trabalho ou escolas técnicas, e escolas que
possibilitam aos alunos a entrada num curso superior. Quem opta por uma
formação técnica terá um ensino médio com parte das aulas teóricas e outra
parte prática, ao fim do curso o estudante adquiriu uma profissão e não terá
acesso a universidade.
O ensino é publico e de
excelente qualidade, a seleção para as universidades se dão por notas obtidas
em exames finais aplicadas nas escolas de ensino médio para educação superior
como critério único de seleção, ao passo que não existe vestibular. Graças a
esse diferente sistema de ensino, os cursos técnicos não perdem sua
importância, e a universidade mantém seu caráter puramente cientifico não se
tornando tecnocrata, além de impedir a formação de centros universitários
privados de péssima qualidade feitos exclusivamente para o aluno obter um
pseudo diploma com intuito de auxiliá-lo na busca por um emprego, como vem
acontecendo no Brasil. Esse tipo de sistema de ensino da um enfoque
completamente diferente de como deve ser organizada a juventude por parte da
esquerda, a começar que por mais que nem todos os jovens entrarão numa
universidade, a juventude ainda assim se vê contemplada por essa realidade,
pois as diferenças salariais entre empregos técnicos e universitários não são
absurdas, pode-se viver confortavelmente com um emprego técnico e dependendo
da situação com até mais regalias que um emprego universitário, logo, não
existe a luta primaria do Brasil pelo acesso a educação.
Paralelamente a isso, bandeiras
históricas do movimento estudantil brasileiro como o passe livre estudantil
universitário, moradia estudantil e auxilio financeiro (bolsa em auxilio a
manutenção do estudante de renda media e baixa na universidade), são
asseguradas aos estudantes universitários alemães.
O passe livre universitário se da de uma forma tal que o estudante
universitário pode utilizar todos os transportes públicos do estado em que se
encontra sua universidade, o que conta todos os trens intermunicipais,
metros, bondes e ônibus. Dessa forma para abranger toda a juventude, a
esquerda alemã não se constrói no movimento estudantil, mas sim num movimento
de caráter civil, em fóruns municipais onde os problemas da juventude de uma
dada localidade são pautados e discutidos.
Durante os anos de socialismo
real soviético, toda população da Alemanha Oriental socialista possuía uma
emprego, o direito universal ao trabalho era garantido na constituição, não
existiam problemas de fome e pobreza crônica, analfabetismo e falta de água
potável, como se vê nas partes mais pobres e marginalizadas do mundo
capitalista, contanto, houve falhas graves no planejamento econômico e político
do socialismo, os empregos não eram bem divididos ao passo que muitos faziam
o trabalho que uma pessoa sozinha poderia fazer as fugas do oriente para o
ocidente eram constantes e se davam pela mesma razão dos atuais dissidentes
cubanos.
Na Alemanha capitalista era
possível ganhar com uma formação universitária e carreira esportiva diversas
vezes mais que no socialismo, além da repressão do estado por conta da
conjuntura da guerra fria aos contra revolucionários, gerava relativo
descontentamento na população. Quando a população do oriente pensava no
capitalismo, nunca vinha a mente a imagem da África miserável, ou das
ditaduras truculentas da América Latina, das Favelas e da fome, mas sim uma
Europa Ocidental rica, com uma social democracia estável e uma América do
Norte das oportunidades forjada no milagre do credito livre e do
empreendedorismo. Assim que ocorreu o processo de unificação, estava mais do
que claro para a população da Alemanha Oriental que o capitalismo social
democrata só pode ser superior ao socialismo da repressão aos “contra
revolucionários” e da ineficiência econômica, imagens e ideias do antigo
socialismo foram altamente difamadas pela mídia e colocadas na vala comum de
ditadura e autoritarismo. Tal propaganda teve um grande impacto enorme nas
gerações nascida no final dos anos 80
e início dos anos 90 que hoje compõem a juventude alemã.
O capitalismo trouxe suas
mazelas desde o primeiro dia da unificação para o lado oriental, empresas
foram fechadas diversas pessoas perderam seus empregos, vilas e pequenas
cidades sofriam de estagnação econômica e havia um constante fluxo migratório
para o ocidente, tais problemas se dão em um certo grau até os dias atuais.
Para enfrentar os problemas sociais colocados pelo capitalismo, grupos de
diversas tendências e críticos do capital se juntaram num novo partido de tendências,
intitulado “Die Linke – A Esquerda”. Como um típico partido de tendências, a
linha política do partido é bastante diversificada nos diferentes coletivos
que constroem o partido, contanto a maior discrepância de pensamentos se da
em especial nas diferentes gerações do partido. As maiores partes dos
militantes mais antigos ainda utilizam uma linha de pensamento marxista para
pautar suas ações, e em alguns casos tem uma espécie de nostalgia dos tempos
do socialismo da Alemanha Oriental, já a juventude pensa de maneira
completamente distinta.
A juventude que entrou no partido, o buscou para dar solução aos
problemas sociais colocados na Alemanha, contanto por conta de ter crescido
com a propaganda de que o socialismo é sinônimo de ditadura, ela se recusa a
pautar sua política numa linha marxista, se intitulando como “Nova Esquerda”,
buscando apenas enfrentar os problemas sociais colocados com reformas do
atual sistema e não com uma radical mudança na ordem econômica.
Basicamente a juventude de esquerda alemã acredita que a solução dos
problemas do capitalismo é uma social democracia mais efetiva pois essa que
esta colocada não é suficientemente de esquerda e possibilita problemas
sociais.
A crise ideológica da esquerda Brasileira esta na busca de qual fora o
momento que a União Soviética deixara de servir de fato a classe operaria,
alguns dizem que os problemas começaram com a morte de Lênin, e o Ascenso de
Stalin, sendo que esses muitas vezes se intitulam Trotkystas, outros dizem
que os problemas vieram após Stalin e são Stalinistas, mas uma coisa todos
concordam que a linha revolucionaria
até Lênin fora correta, já a “nova esquerda” alemã, considera todas essas
formas de pensamentos arcaicas e excessivamente tradicionalistas, ao passo
que para um brasileiro de esquerda passei por algumas situações bastante
cômicas , ao perguntar uma vez para um companheiro sobre a atuação dos
Trotkystas na Alemanha, ele me respondeu: “Trotkystas quase não existem aqui
e os que existem não conseguem atuar conosco da nova esquerda, pois são muito
tradicionais”, grupos esses que no Brasil são considerados como a esquerda
mais liberal e anti tradicionalista existente no pais. A falta da analise
marxista e o enfrentamento apenas de problemas pontuais leva a erros de
analise de conjuntura sérios, amplamente sanados pela esquerda Brasileira,
como por exemplo, a defesa do estado de Israel.
A juventude de esquerda alemã
considera que a construção do estado de Israel é justa devido à discriminação
sofrida pelo povo judeu na segunda guerra mundial, contanto isso no Brasil é
considerado um absurdo pela esquerda, pois com uma simples análise marxista
compreende-se que o que houve com os judeus na segunda guerra mundial foi
fruto de um nacionalismo exacerbado gerado por um estado fascista, o
nacionalismo, que é um grande inimigo
do povo, pois todos os povos devem ser um, a questão deve ser resolvida
garantido a liberdade religiosa e a proibição a qualquer tipo de perseguição
as minorias étnicas nas nações , e não combatendo nacionalismo radical com
nacionalismo radical, criando o estado de Israel e segregando famílias
palestinas que vivem a anos naquelas regiões, obrigando-as a abandonarem suas
terras, casas e pertences.
A contra parte da ultra
direita, grupos neonazistas, também buscam se projetar tentando dar uma razão
e solução aos problemas sociais ainda persistentes na Alemanha, sempre
apontando que o problema esta na imigração estrangeira que rouba os empregos
da população local, mesmo quando a cidade ou vila de suas atuações não
possuem número significativo de moradores estrangeiros. De uma maneira
evidente a juventude de esquerda propõem diversas ações de repúdio a esses
grupos, como bloqueios, que se caracterizam como um cordão humano feito por
militantes de esquerda e membros da população local, feitos ao entorno de
manifestantes neonazistas, para impedir seus avanços.
O grande erro, porém é que
devido ao estado de bem estar e que os problemas sociais da população não são
tão aparentes a primeira vista, a juventude de esquerda muitas vezes deixa de
propor ações em combate aos problemas sociais para apenas se focar em atos
contra os grupos neofascistas, o que caracteriza um grande erro de abandono
das bandeiras essenciais que garante o crescimento da base e sucesso na luta
para um investimento numa política de contra propaganda que apenas auxilia o
crescimento da base adversária.
A social democracia alemã
trouxe de fato inúmeros benefícios a população
alemã, o que promoveu uma maior consciência do povo quanto a seus direitos.
Sistema social, o que no Brasil chamamos de bolsa Família, é considerado por
aqui como um direito de todo o desempregado e não um favor do governo como no
Brasil, além de diversas outras conquistas que ainda temos que conquistar no
Brasil e que a população as toma como direitos fundamentais, contanto é
evidente com o retrato da crise dos outros países europeus e dos problemas
sociais que a Alemanha ainda enfrenta, o capitalismo promove crises que
abalam qualquer sistema social e a superação para essas crises constantes e
cíclicas é com o fim da especulação do capital, o fim do capitalismo e a construção
da sociedade socialista.
Os companheiros da “nova esquerda alemã” pecam em não observar que o
erro do passado não foi a revolução e a ruptura de sistema, mas sim uma
questão conjuntural, erros econômicos que deverão ser corrigidos na nossa próxima
tentativa de tomar o poder, ao optar por não romper com a ordem a nova
esquerda não se caracteriza como nova, mas sim com o que há de mais velho no
movimento socialista, o revisionismo social democrata.
Dresden, 18.01.2014 Lucas
Becker
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sábado, 18 de janeiro de 2014
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