quinta-feira, 28 de junho de 2012
SOBRE O CONEG E A GREVE NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS.
Carta de esclarecimento conjuntural do movimento estudantil Atual
Lucas Becker
Na comemoração do nosso 5º ano de militância estudantil, já acreditávamos termos visto de tudo, as guerras de torcidas, as politicagens maquiavélicas de destruição mutua da esquerda, e as falas padronizadas impessoais que soam como dogmas a quem as escuta pela primeira vez.
A análise da conjuntura até o momento, era de que o movimento estudantil estava morto, e que para que para reconstruí-lo, deveríamos atacar incisivamente as guerras partidárias, aglutinando as forças preocupadas em defender os interesses dos estudantes em detrimento dos interesses políticos das castas burocráticas dos partidos que compõem as entidades estudantis, apelando no plenário pela unificação das entidades, em especial a UNE.
Mal sabíamos que foi necessário apenas 1 mês para mudar completamente a conjuntura dos últimos 22 anos do movimento estudantil universitário, 50 instituições federais declararam greve de docentes e técnicos administrativos, com uma adesão surpreendente das categorias, concretizando o que era considerado utópico na atual conjuntura nacional, uma greve geral de categoria.
Com o receio de tomar represália, como a perca de disciplinas que apenas são ofertadas uma vez ao ano, e considerando as condições precárias da grande maioria dos novos campus estabelecidos pela política expansionista do REUNI, que aumenta o numero de universidades e vagas nos institutos federais, mas não aumenta na mesma proporção o investimento devido à aplicação ideal de tal medida, os estudantes da maioria dos Institutos federais, alinharam-se aos professores e técnicos administrativos, decretando greve estudantil.
Em nossa redondeza, a UFABC e a UNIFESP, mobilizaram milhares de estudantes e elegeram comandos de greves combativos, porem, o mais interessante disso tudo, é que tanto aqui na Grande São Paulo, como na maior parte do país essas grandes mobilizações foram impulsionadas pelo espontaneísmo estudantil, com uma efêmera ou simplesmente nenhuma participação direta da UNE ou qualquer outra organizações vanguardistas de juventude.
Onde está a UNE e o que é a UNE? ISSO NÃO NOS REPRESENTA, esses são hoje os questionamentos trazidos pela grande massa da juventude brasileira, que há quase vinte anos não vê mais sua organização de lutas colaborar por suas reivindicações, a maioria se quer sabe o que é a UNE, e a pequena parte que já teve o desprazer de participar de seus últimos congressos viram sua entidade virar um palco burocrático de disputa entre forças políticas.
Nessa Conjuntura caótica, ocorreu o 60º Congresso de Entidades Gerais da UNE (Coneg), que contou com uma massiva participação de estudantes independentes, que queriam antes de tudo compreender os motivos que levaram a degeneração do sistema federal de ensino superior, um coerente e unificado discurso das organizações da esquerda da UNE, que pela primeira vez em anos, deixaram suas diferenças de lado e se aliaram contra a base governista da entidade, e uma política de despolitização e esvaziamento de debates muito mais selvagem que antes já se dera promovida pela base governista da UNE, que temia que sua numerosa massa arrebanhada de estudantes fosse cooptados pela coerência histórica da temível “Oposição unificada da UNE.”
Atualmente a UNE encontra-se num momento crítico, depois de 22 anos de uma gestão que vive a reboque da direção majoritária do partido dos trabalhadores (PT), e que nos últimos 10 anos durante o governo Lula/ Dilma, amortece as lutas estudantis, dada a grandiosa estrutura oferecida pelo governo federal à direção majoritária da UNE e sua base de apoio, uma imensa parcela dos estudantes deixou de considerar a UNE como uma entidade representativa, para considera-la como uma entidade histórica, distante, que teve alguma participação na luta contra a ditadura, no movimento “fora Collor” e nada mais, a visão da UNE hoje para o estudante comum é de um bando de estudantes de cara pintada numa foto antiga em um livro de história do ensino médio.
Está claro porem, que o grande período de esvaziamento político da entidade está chegando ao fim, o forte movimento espontaneísta, colocou em xeque o posicionamento reacionário da direção majoritária da UNE, que considerava o apoio incondicional ao governo federal (Lula / Dilma), como a tática mais correta a se tomar tanto pelo movimento estudantil como o sindical e social,contudo hoje a conjuntura histórica da luta está nítida e só não enxerga quem é cego ou não quer ver, por mais avançado que nosso governo possa ser, ele compactua com a corja elitista que governa esse país a 500 anos, e não a enfrentará para pleitear maiores investimentos a educação, a devida aplicação do REUNI e alem de também fugir das bandeiras mais gritantes e históricas dos trabalhadores, como a divisão das terras improdutivas de nosso país com as famílias camponesas cuja agricultura familiar movimenta 80% dos gêneros alimentícios no mercado nacional, a reforma tributária para questionar a situação atual onde o Brasil é a 5ª Economia do mundo e a 88ª nação em distribuição de renda, a democratização do espaço da mídia que hoje é dominada por uma dezena de famílias que controlam todos os meios de comunicação, entre outras bandeiras que foram abandonadas e que jamais serão resolvidas por esse governo e a política de compactuação com a ordem.
Com o xeque-mate conjuntural, a majoritária da UNE não tinha mais como ludibriar seus militantes das “maravilhas” do REUNI e do governo Lula, está evidente que essa política está sucateando a nível nacional as universidades federais, abarrotando prédios universitários com o maior numero possível de estudantes, e convertendo prédios e escolas infantis abandonadas em Campus provisórios “eternos” dado a processos de licitações dos futuros campus que nunca são aprovados, outra defesa governista histórica da majoritária, a defesa do PROUNI, também está sendo bastante questionado pela oposição e parte das massas, devido primeiramente as medidas fascista de manutenção da bolsa, e que essa política financia e fortalece as redes privadas de educação, principais interessadas no sucateamento da educação publica de todos os níveis, alem de também reduzir o investimento necessário para a expansão do ensino público universitário de qualidade para todos que é um direito constitucional de todos os brasileiros. Basicamente o governo federal está expandindo a nível nacional a política de sucateamento tucano da educação no estado de São Paulo, (escolas estaduais, ETECS e FATECS).
Sabendo que não poderia convencer sua base seus argumentos torpes, a majoritária fez de tudo possível para afastá-la dos grupos de debate e com uma organização exemplar fomentou uma cultura de festas de uma maneira mais radical que a normal durante o congresso, a vinda de suas delegações atrasou um dia, não houve orientação de quais eram os grupos de discussão, e nem os horários das atividades, ofereceram barris de chopp aos estudantes durante os debates, e na noite de sábado para domingo mobilizaram 4 ônibus para levar o maior numero possível de pessoas à noite boêmia do Rio de Janeiro nos arcos da Lapa, trazendo sua juventude de volta ao alojamento faltando 10 minutos para as 6 da manhã, sendo que a abertura da plenária final estava marcada para as 8 horas da manhã.
A plenária final tinha a tarefa de aprovar deliberações de suma importância que representavam os anseios nacionais dos estudantes grevistas, tais como a aprovação do apoio da UNE à formação do comando estudantil nacional de greve, e a posição da entidade quanto ao REUNI que foi o cerne do surgimento da greve geral dos docentes do ensino superior.
A situação temia pela perda de seu tão precioso apoio federal, de sua estrutura e almoços com figuras importantes do governo, mas também temia ser deslegitimada pela grande massa em fúria e cadente por reformas na educação, que pela primeira vez poderia tirá-la da direção do movimento estudantil, agarrou-se então a política de controle das massas da burguesia, a alienação, e torcia para que o sono de seus delegados fosse maior que sua vontade de ouvir a oposição, e pela infelicidade da esquerda, assim como na vida cotidiana da disputa com os donos do capital, a alienação fora vitoriosa.
A esquerda não se deixou abatida pela situação, e pela primeira vez em décadas deram as mãos e se unificaram contra a deturpação do movimento estudantil, a UNE agora não era mais um ringue político com diversos partidos disputando base entre si, agora a UNE é apenas dois coros, forças governistas x forças da esquerda. A união da esquerda se dera pelo comum ideal das forças conscientes, que é libertar o movimento estudantil da prostituição de suas entidades ao governo federal e a burocracia partidária e fomentar a participação da base estudantil no movimento. Agora é tudo ou nada, não se trata mais de quem tem a melhor política partidária, ou de como o outro partido é ruim e malvado, trata-se de salvar o movimento estudantil.
E a esquerda enfrentou o bom combate, colocou suas posições coerentes nos grupos de discussão, desmascarou as mentiras governistas, e nas oportunidades de disputa de base deu sua cara à tapa e conquistou o apoio de diversos estudantes independentes e uma pequena parcela da base arrebanhada das forças majoritárias que estava interessada em participar dos debates.
No plenário, o medo da força majoritária era evidente, atrasaram a entrada de seus delegados a fim de prepará-los para não ouvirem a oposição, apenas votarem e apoiarem suas palavras de ordem, mesmo assim a “Oposição Unificada” conquistou todos os espaços possíveis, mostrava a incoerência da posição política das forças de situação com suas palavras de ordem: “TODO MUNDO SABE A UJS TA NO COLO DO KASSAB”,em alusão ao apoio do PCdoB a criação do partido de extrema direita do atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, nas respostas as palavras de ordem das forças majoritárias como por exemplo: “A COPA DO MUNDO É NOSSA COM COMUNISTA NÃO HÁ QUEM POSSA” ,palavra de ordem do campo majoritário com alusão aos avanços do PCdoB na administração das obras da copa, que foi brilhantemente respondida por “DA COPA DO MUNDO EU ABRO MÃO, MAIS DINHEIRO PARA SAUDE E EDUCAÇÃO” , nas falas e defesas no plenário a esquerda unificada também se mostrou coesa e para quem acompanhou o debate, ficou escancarado o posicionamento oportunista da direção majoritária da UNE.
Mesmo assim, a alienação mais uma vez conseguiu uma grande vitória, e devido ao numero maciço de delegados da força majoritária que estavam alheios ao debate político, o campo majoritário conseguiu encaminhar e vetar todas as propostas que queria, sendo que infelizmente não foi aprovado o apoio da UNE a formação de um comando nacional de greve composto por estudantes eleitos de cada universidade. A derrota dessa vez porem, não tinha um gosto amargo, como fora as derrotas dos últimos anos, agora ela tinha um gosto de esperança, um sorriso surge na boca da esquerda e nossos braços se entrelaçam, sabemos que a majoritária não ganhou nada, que ela manipulou e arrebanhou uma massa, que ela não vai as ruas vivenciar os problemas diários dos estudantes e que nunca a categoria estudantil vai enxergar nela como uma real força de direção do movimento, mas o mais importante, é que esquerda está finalmente unida, e pronta para enfrentar esse momento histórico e limpar a corja da base governista do movimento estudantil de uma vez por todas.
Mesmo com a derrota, a esquerda da UNE não deixou de se articular, se uniu a todas as forças que são de fato a favor da greve docente e discente e está construindo o comando estudantil nacional de greve juntamente com algumas forças que em 2009 se cansaram de disputar a UNE e criaram uma nova entidade estudantil a ANEL, e unidos estão tocando a pauta de reivindicações e lutas exigidos pelos estudantes universitários de todo o país.
Quanto aos companheiros que estão independentes, cansados pela guerra partidária e o desgaste nos sindicatos e movimentos, vos trago a boa nova do movimento estudantil, a conjuntura mudou! E com ela também temos de mudar nossas concepções, todo o apoio à oposição unificada da UNE! Que a esquerda una-se mais uma vez para transformar a realidade, camaradas AVANTE!
Santo André,
22/06/2012
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