quarta-feira, 4 de agosto de 2010

...Posicionamento da instituição de ensino Objetivo frente às seguintes situações:

Importante denúncia sobre preconceito racial.



Companheiro Aldo fique à vontade pra publicar esta carta no seu Blog ou demais meios de comunicação da esquerda.

Caberá agora construirmos um ato do Movimento Negro contra este colégio racista da elite de SBC.

Saudações ao companheiro Aldo!

Saudações à quem tem coragem!

Carlos


...Posicionamento da instituição de ensino Objetivo frente às seguintes situações:
À Coordenação

Vimos por meio desta, demonstrar nosso sentimento de repúdio, e exigir um posicionamento da instituição de ensino Objetivo frente às seguintes situações.

Um jovem negro, ex-aluno do período matutino desta unidade de ensino, tornou público a esse grupo, que em vários momentos dos dois meses em que estudou na mesma, sofreu discriminação por parte de professores e colegas de sala.

O sonho por estudar em um curso preparatório com o objetivo de ingressar na vida universitária fazia parte do dia-a-dia desse jovem negro trabalhador. O colégio Objetivo, com sua marca bem conhecida e seu histórico de inclusão no ensino superior, era parte do imaginário do jovem já a muitos anos, cujo sentimento era subjetivamente reforçado sempre que passava em frente à esta unidade, a caminho de sua casa na periferia de São Bernardo do Campo. Entretanto, o sonho, uma vez realizado, foi se definhando ao longo dos dois meses, em que o jovem sofreu sistematicamente um processo de aviltamento de sua auto-estima nas dependências desta instituição.

De acordo com o relato, um professor de Biologia, já logo em sua primeira aula com a presença do aluno, ao tratar de uma temática referente à melanina da pele, em “tom de brincadeira” disse que o aluno podia “ir para a praia pelado, que ele nunca teria câncer de pele, pois tem bastante melanina”, fato esse não-científico.

Em outro momento, o mesmo professor, já munido do nome e apelido do jovem, após comentar que o mesmo ficaria “famoso” naquele dia, sugeriu que o mesmo “cantasse um rap”, para no prosseguimento da aula citar seu nome em mais de vinte momentos, colocando-o em situação vexatória todo esse tempo, lhe fazendo perguntas de difícil resolução até mesmo para o conjunto de alunos da sala, fazendo com que o conjunto da classe “se divertisse” às custas de sua exposição.

Entre várias outras passagens, o jovem chegou a ser perguntado por colegas de sala o porquê de estar estudando nesta instituição e não na Educafro (cursinho pré-vestibular destinado a pessoas pobres e afro-descendentes); isto é, como se falasse que o espaço dessa instituição de ensino, por mais que o jovem pagasse por esse acesso, não fosse feito para ele; ou como se ele fosse o culpado de não estar dentro do “padrão estabelecido”. Por conseguinte, chegou a ouvir também que já estava mais que na hora de cortar seu cabelo, pois no formato em que estava – em dreads – era “zoado”, “fedido” e que concentrava uma infinidade de piolhos, “tal como Bob Marley”.

Em uma outra aula o jovem resolveu se sentar no meio dos cerca de sessenta alunos de sua classe para se proteger da situação vexatória em que o tal professor de biologia o estava expondo em todas as aulas, tentativa inútil pois o tal professor em questão conseguiu localizá-lo e o expôs mais uma vez ao conjunto dos alunos, ao fim da aula dirigindo-se ao mesmo com o seguinte comentário: “Senta aqui na frente na próxima aula que você alegra a turma!”

Sabemos que tal instituição é uma empresa privada que mercantiliza um “sistema de ensino” próprio e particular, porém sua atuação compete à prática universal da educação, a qual independente do caráter em que se dê – por mais que seu conteúdo seja quase que integralmente determinado por sua forma – abarca as práticas pedagógicas de socialização de conhecimentos frente à realidade, passando pelo contato das diversidades, e prioritariamente auxiliando no desenvolvimento das habilidades humanas e na expansão da visão de mundo e do nível cultural dos educandos. Educandos esses que no contato entre si e com o universo escolar, vão se conhecendo e desenvolvendo no mundo, seja em sua sexualidade, posição política ou nos campos psicológicos e afetivos.

Dessa maneira, esses fatos vividos pelo jovem em questão expressam a presença do racismo em suas manifestações mais corriqueiras e cruéis, ou seja, sua forma branda, sutil e mascarada. O Racismo Brasileiro está presente, também em seu caráter universal, dado os limites colocados a grupos raciais ao acesso às riquezas produzidas pela humanidade, devido a organização da sociedade atual, fruto de práticas escravistas, e seu atrelamento ideológico de sub-julgo dos povos não brancos (é só verificarem a quantidade de estudantes negros nessa mesma instituição). Por conseguinte, o racismo “às brasileiras” demonstra a mesma força destrutiva que em outros países.

Força essa que destrói a auto-estima dos indivíduos e grupos que sofrem com esse tipo de violência, mesmo sendo corrente no senso comum de que essas práticas são normais e corriqueiras; e é por esse mesmo motivo que estamos centrando força em levar casos desse tipo adiante, para que essas práticas não sejam naturalizadas, e sim tratadas de acordo com sua complexidade.

Temos nítido que o racismo é uma problemática internacional e que não compete unicamente a esta instituição a superação do mesmo, porém, a partir do momento em que estão tomando ciência dessas questões no interior de suas dependências, exigimos um posicionamento da mesma, para que possamos minimamente levar à tona essa temática e discuti-la de forma mais qualificada, de acordo com a complexidade que a envolve, e para que os educandos dessa instituição possam ter acesso a uma prática pedagógica que garanta o conhecimento real da diversidade humana e conseqüentemente a aceitação dos diferentes.



São Bernardo do Campo, 28 de abril de 2010.

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