GREVES E MARCHAS SEMPRE!
Em 17 de abril de 1997, em sua última entrevista Paulo Freire
afirmou: "... Eu morreria feliz se eu visse o Brasil cheio em seu tempo
histórico de marchas. Marcha dos que não tem escola, marcha dos reprovados,
marchas dos que querem amar e não podem, marcha dos que recusam a uma
obediência servil, marcha dos que se rebelam, marcha dos que querem ser e estão
proibidos de ser.
...Eu acho que as marchas são andarilhagens históricas pelo
mundo ...O meu desejo, o meu sonho como eu disse antes é que outras marchas
pela superação da sem-vergonhice que se democratizou terrivelmente nesse pais. Essas
marchas nos afirmam como gente, como sociedade, e querendo democratizar-se.
Eu estou absolutamente feliz por estar vivo ainda e ter
acompanhado essa marcha (Marcha dos sem terras) que como outras marchas
históricas revelam o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo.”
De fato quando o povo se põe em movimento as mudanças ocorrem,
os conflitos aparecem e a coragem coletiva rompe o ritual de aparente
imutabilidade. Acertadamente Rosa Luxemburgo proclama:
"Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem"
Entendo
que as greves , assim como as marchas, representa um momento singular e
necessário onde põe a nu o estado burguês e representa uma radical explosão
imaginária e de consciência de classe no processo estratégico de
transformação social.
Parafraseando
Paulo Freire, eu diria que: O povo viveria feliz
se no mundo todo ocorressem greves permanentemente. Greves econômicas, greves
de natureza política, de defesa das bandeiras de gênero, etnia e minorias,
contra os limites e o cercamento imposto pelo capitalismo, pois é na greve que
se confronta com maior tenacidade o antagonismo de classe, a consciência do
“valor dos trabalhadores” e as rupturas necessárias como síntese histórica da
transformação revolucionária.
É nesse contexto que podemos identificar que na história da
educação brasileira ao longo dos últimos anos foi marcada por grandes greves,
que além de conquistas parciais, chamou atenção para o sucateamento da educação
em nosso país e desempenhou importante papel do ponto de vista eleitoral,
derrotando governantes que subestimaram a capacidade política das categorias em
luta.
Esperamos
que não seja mais uma bravata da atual presidenta da apeoesp e da direção da
CNTE ao marcarem para o mês de abril mais uma importante greve de caráter
reivindicatório e de natureza política, ao colocar como eixo mais verbas para a
educação.
Na V Conferência Estadual de educação da apeoesp realizada nos
dias 28/29/30 de novembro de 2012, aprovou um calendário de luta rumo a organização
da greve no mês de abril de 2013.Foi aprovado que a categoria irá
deflagrar mais uma greve pelo cumprimento da lei do piso, no que se
refere ao cumprimento da jornada que foi manipulado pelo governador
Geraldo Alckmin do PSDB e por outros governadores,
inclusive do PT que tinha obrigação da dar o exemplo no cumprimento da lei
federal emanada do seu próprio Partido. Além desse eixo, é preciso
avançar nas condições de trabalho precarizados pela falta de efetivo
investimento governamental, reposição das perdas salariais, por um novo
estatuto do magistério, amplamente debatido pelos educadores, capaz de
assegurar direitos, plano de carreira que hoje estão fatiados
por conta de leis cruéis e anacrônicas.
Concomitantemente a CNTE que agrega 44 entidades em todo País
deliberou que na semana da educação, nos dias 23 e 25 de abril vai realizar
importante greve nacional em defesa dos 10% do PIB para a educação, além da
incorporação do que trata a medida provisória (592), sobre os royalties do Petróleo
para que seja vinculado a educação brasileira.
Por ocasião de inúmeros movimentos e pressão popular a comissão
de constituição e justiça da câmara aprovou em 16 de outubro de 2012 o referido
percentual do piso. Espera-se agora que o senado aprove sem modificações para
imediata sansão da presidenta Dilma.
A mais eficaz forma de viabilizar essa importante reivindicação
do movimento educacional brasileiro é a deflagração de uma potente greve para
avançar nas conquistas que os benefícios dessa lei trará para o nossos
educadores/educandos e a sociedade brasileira em geral.
Nesse sentido, é fundamental que a apeoesp de forma
unânime encaminhe as resoluções aprovadas na Conferência estadual de
educação, organizando desde já a metodologia e a
implementação pra valer da referida greve em 2013.
A defesa de uma greve cumpre dois princípios básicos da classe
trabalhadora: é um momento de luta por conquistas e melhorias das condições
salariais e de trabalho, além da politização, união e
organização conforme expressa o enunciado do texto a seguir: “Um dos
mais importantes textos políticos do século XIX inicia com a frase “um espectro
ronda a Europa: o espectro do comunismo”. Trata-se do Manifesto Comunista, de
Marx e Engels, e seu famoso chamado para a união de todos os trabalhadores do
mundo para se oporem ao domínio da burguesia. Outro texto significativo
escrito por um dos grandes líderes revolucionários do século XX diz: “as greves
ensinam os operários a se unirem”. Aqui, a frase é de Lênin, em sua análise “Sobre
as greves”. (Publicado no Brasil de fato em 13/6/2012, Ricardo Prestes
Pazello)
Também é relevante e fundamental a greve proposta pela CNTE,
pois o eixo da mesma deve ser sobre o efetivo investimento na educação,
bem como deve incluir também na pauta a exigência do cumprimento da lei
federal n° 11.738/2008 que estabelece o piso e a
jornada que não esta sendo implementada pelos
governantes do nosso país.
A greve no Estado de São Paulo foi aprovada em assembleia do
dia 15 de março , para o dia 19 de abril de 2013, com assembleia marcada para o
centro do poder econômico da capital que é a Avenida Paulista, seguindo em
passeata até a secretaria de educação na Praça da República. Vamos à luta com
união, organização e convicção de que a greve, historicamente, é um poderoso
instrumento de enfrentamento contra a opressão de classe,em defesa dos reais
interesses dos trabalhadores.
Lutar e vencer
sempre é preciso!
Aldo
Santos-ex-vereador em SBC, Coordenador da subsede da apeoesp-sbc, Presidente da
Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo,
membro da Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do
Brasil, militante do Psol.
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