VILA
LULALDO 25 ANOS DEPOIS.
Lançamento do livro na sede da Lulaldo (Ivo, Arimateia, Ana Valim e Aldo Santos) |
“No dia 3
de dezembro de 1989, pela manha, 215 famílias desceram o morro da favela
Jurubeba, rumo a Área ociosa, próxima ao Km 28 da Rodovia Anchieta, a mil
metros da represa Billings. Os lotes de 100 metros quadrados foram demarcados
com barbantes, primeiro a dona Emilia, depois da Dilma, o Barba, o Geraldo, as
Marias e Josés...até as 22 horas, cinco barracos foram construídos, apesar da
tentativa da policia de impedir a construção durante o dia.
A medição feita
com barbante se transformou num momento emblemático para a ocupação dos
moradores da Vila Lulaldo. O uso do barbante na demarcação dos lotes passou a
ser um símbolo da organização, união e igualdade dos ocupantes da nova área.A
nossa preocupação desde o inicio foi constituir uma Vila, onde cada um teria um
terreno medido e o suficiente para acolher a família.
Cada
morador cuidava de uma coisa, uns ficavam vigiando o movimento de estranhos no
local, outros mediam os terrenos, enquanto a comissão ia assentando os
moradores que estavam no Jurubeba. Assim,
a ocupação contou com a ativa participação dos moradores e movimento
organizado, em eu pese a violenta reação por parte do prefeito do PT, Mauricio
Soares, e vereadores da bancada de sustentação.
Além do
mandato do vereador Aldo Santos, a ocupação contou com o apoio direto do subprefeito do Riacho,
Francisco Raimundo dos Santos e de sua mulher Angélica que juntamente com o companheiro Natanael
Júlio da Silva, o Taná, fizeram a medição dos terrenos com um barbante.Também
foi importante a atuação dos assessores
do Vereador Aldo Santos, que de forma incansável participaram diretamente na remoção
de famílias, na infraestrutura e no enfrentamento direto com os interesses dos
moradores.
Foi
marcante a atuação da companheira Emilia, que já doente animava a todos, fazia
um cafezinho e, às vezes, oferecia um gole de pinga para os que estavam no
trabalho pesado de construção das moradias. Assim como, a atuação destemida do
Barba, que era uma liderança fantástica.
Depois que a Vila demonstrou condições de efetiva permanência, vários
parlamentares também ajudaram no processo de enfrentamento, dentre eles o
deputado Wagner Lino e outros que deram contribuição para a consolidação dessa
importante ocupação.
Nas
assembleias, os discursos eram politizados e sempre falávamos que a história da
classe trabalhadora deve ser escrita pela própria classe trabalhadora. E foi
com esse espírito de construção e participação na História que a Emília surpreendeu
a todos ao propor o nome de Vila Lulaldo, pois a justificativa dela, na
assembleia, foi de que: ’O Aldo todo dia diz que devemos construir a nossa
história a partir dos pobres e lutadores do povo. Nesse sentido, um grande
lutador do povo é o Lula e o outro é o nosso vereador Aldo Santos, que está com
a gente desde o inicio, dia e noite. Vamos juntar o nome os dois nomes e dar
nome a vila de LULALDO’. Surpreendeu a todos e propôs que houvesse votação e
assim foi feito e sua proposta foi vitoriosa. É claro que nessa indicação
existia uma espécie de esperteza, pois ficaria mais difícil para o prefeito do
PT, se insurgir contra o Lula e um vereador do seu partido. Foi também uma
forma fina de resistência de defesa e manutenção dos moradores na área, Isso
ela afirmou, em conversas posteriores, sobre a aprovação do nome.
Foi uma luta encarniçada e a policia militar
sabia que a resistência era pra valer e certamente na reintegração poderia
ocorrer de tudo.Foi uma grande vitória dos moradores que lutaram e acreditaram
na força de suas próprias ações.Para quem luta a conquista é certa, como foi em
vários movimentos nesse país. Essa vitória só foi possível com muita
união e organização dos moradores e moradoras, ao longo dessas décadas.
Essa Vila foi e continua sendo um desafio à
ordem Burguesa, pois a força do movimento é capaz de impor derrotas aos algozes
dos trabalhadores. Essa ocupação é um grande exemplo, pois, quando o poder
público não apresenta soluções o povo organizado sabe por onde começar e aonde
pode chegar.
Que esse
exemplo continue animando outras pessoas na busca de uma saída para a falta de
moradia popular, rumo a reforma urbana e agrária tão necessária e
socializadora, para melhorar a vida da classe trabalhadora. Esperamos que os
dirigentes desse movimento possam continuar na defesa dos que residem e de
outros que ainda não conseguiram uma solução para os problemas habitacionais. É
urgente a luta por mais moradia. Lutar e vencer é preciso. ” (SANTOS,Aldo:VALIM,Ana.Vila
Lulaldo: Da lei do Barbante à Regularização fundiária,Dialógica Ed,213, pag.15/16)
Os governantes
precisam estabelecer efetivamente que a moradia deve ser uma ação prioritário
de governo, pois na lógica capitalista e da especulação imobiliária os pobres
sempre serão excluídos da moradia popular. Falta de moradia é um problema
social e não policial.
Aldo Santos-
Movimento Sem Casa e da executiva Nacional da INTERSINDICAL.
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