Conheci o companheiro Wagner Lino numa atividade festiva do núcleo do PT do Bairro Alves Dias em 1982, atividade esta em apoio a campanha de Donaldo Araújo (Doca) a vereador pelo PT. Na ocasião eu era candidato a Deputado Estadual pelo recém-criado Partido dos Trabalhadores onde obtive 13070 votos.
O candidato a prefeito foi Mauricio Soares/Terezinha Gomes vice. Nesta eleição Lula foi candidato ao Governo do Estado de São Paulo e o norte politico da campanha dele era Terra, Trabalho e liberdade, uma vez que estávamos em plena ditadura Militar.
Nesta atividade politica chegou um grupo de militantes juntamente com um camarada alto, com uma mecha branca no bigode ( Wagner Lino) e uma jovem companheira(Cleusa) sua futura esposa. Nesta eleição de 1982 o Wagner foi eleito vereador com dois votos à frente de outro candidato da Vila Rosa, Antonio Manzato.
Em 1988 após uma intensa campanha o Partido dos trabalhadores ganha a Prefeitura com o Prefeito Mauricio Soares/ Djalma bom vice.
O vereador Wagner Lino foi reeleito, e nesta eleição também consegui ser eleito vereador de forma surpreendente e contrariando todas as expectativas pessoais e partidárias.
Tomamos Posse no dia 1° de janeiro de 1989 e passei a conviver com este valoroso camarada que tinha inquestionável liderança junto ao conjunto dos vereadores da bancada, bem como, junto ao executivo municipal, embora sempre em permanente conflito com o setor majoritário que dava as cartas no interior do partido.
Com sua experiência parlamentar, socializava com o conjunto dos vereadores/as sua leitura de mundo e apontava pautas novas no plenário da Câmara Municipal ao mesmo tempo em que mediava junto ao prefeito as demandas e os clamores do povo que esperavam muito da gestão do PT.
Ao colocar em prática o que aprendi com as lutas do cotidiano, comecei a ser colocado à margem pelas proposituras que apresentávamos e pela continuidade da organização da classe, através dos núcleos de base do Partido. Quando eu era questionado por discordar com as práticas diferentes das que motivaram a eleição do executivo, sempre contava com o apoio e defesa de "Corisco", apelido alcunhado pelo vereador Alberto Souza, outro declarado e brilhante comunista.
Não foram poucas as vezes que o Wagner me chamava, conversava e ao mesmo tempo tentava politizar as ações do executivo, que em varias ocasiões fazia chantagem politica, querendo ter o poder absoluto no executivo, junto a bancada de vereadores/as e junto às decisões partidárias.
O primeiro conflito que foi notório, foi na eleição direta para o cargo de subprefeito do Riacho Grande, defesa do Movimento Negro com a aprovação do dia da consciência negra em 1989, ao mesmo tempo em que Wagner liderava o movimento ambiental, defesa dos animais, a luta sindical e outras. Um momento marcante foi a grande ocupação da Vila Lulaldo em dezembro 1989, um divisor de águas dentro do partido, na administração e na sociedade.
Mais uma vez, e enfrentando a lógica da gestão de Mauricio Soares, ele sai em defesa dos moradores, uma vez que a ausência de politicas habitacionais tinha levado a saída dos moradores do Jurubeba para o terreno ocupado, que depois foi denominado em assembleia, por sugestão da Dona Emília, como "Vila Lulaldo", juntando as iniciais do nome do Lula e do vereador Aldo Santos.
Foram inúmeras passeatas, enfrentamentos com o prefeito, mas finalmente o povo venceu aquela que foi uma das maiores polêmicas que de certa forma desestabilizou a lógica conservadora da gestão de Mauricio Soares.
Outra polêmica que sacudiu a cidade foi o projeto de lei que apresentamos pelo passe livre estudantil, não faltando mais uma vez o apoio e esforço do Wagner na defesa dos estudantes, além de nossa defesa da municipalização do transporte na cidade. Ele foi eleito Deputado Estadual, mas sempre estava presente e à disposição do conjunto da bancada de vereadores e dos movimentos sociais.
Apoiamos o Wagner a candidato a prefeito, embora muitos setores internos ficaram com o freio de mão puxado, para que o mesmo não avançasse ainda mais, pois quase conseguimos dirigir o partido na cidade, dentro de uma perspectiva de conteúdo socialista com nova prática transformadora.
Atuamos juntos nas lutas de moradia em Diadema, fortalecendo o movimento organizado na luta por suas conquistas. Outro momento de enfrentamento foi a luta ao lado dos moradores do Jardim Falcão, que foram vitimas de uma truculenta reintegração de posse, e mais uma vez, fizemos de tudo para evitar a citada tragédia das demolições.
O prefeito Mauricio mais uma vez foi implacável e de forma vingativa acompanhou a derrubada de dezenas de casas sem se manifestar em apoio aos moradores.
Outra grande atuação foi em relação à Ocupação Santo Dias, no terreno em frente e de propriedade da Volkswagen do Brasil. Mais uma vez a atuação do Wagner foi fundamental na ação direta e na solidariedade de classe, mais uma vez.
Nossas trajetórias de vida e militância foram diferentes, pois ele era do meio urbano e teve contato com os segmentos mais avançados ideologicamente da luta de classe, enquanto eu era um trabalhador campesino e distante dos centros urbanos e das decisões políticas, vindo tomar consciência de classe tardiamente.
Em diálogo, ele me dizia que a única forma de sair do isolamento que os outros tentam nos impor, era cumprir as agendas da participação direta junto às fábricas, aos movimento sociais, estudantis, partidário e institucional.
Com minha saída do PT em 2005 e com o ingresso no Psol, mesmo em partidos diferentes mantivemos um bom relacionamento e respeito ao campo da esquerda e acompanhei de perto sua brilhante atuação à frente da Subprefeitura do Riacho Grande, na gestão do Prefeito Luiz Marinho.
Ao tomar conhecimento da doença que o acometeu impiedosamente, nos aproximamos ainda mais, e mesmo nas adversidades da vida, ele sempre contava suas histórias que acabávamos por sorrir coletivamente.
Confesso que sua morte foi impactante para mim e certamente para o conjunto de militantes que compareceram maciçamente ao seu enterro, no cemitério da Vila Euclides, SBCampo.
Quando o Serginho me comunicou a morte do Wagner eu escrevi sinteticamente: Convivi por vários anos com um dos melhores companheiros de jornada de vida, que foi o nosso amigo e Irmão Wagner Lino.
Foram inúmeras lutas, enfrentamentos, compartilhamentos e respeito revolucionário. Perdemos um dos mais destemido, competente e representante dos ideias de liberdade, de justiça e de luta por uma sociedade comunista. Que sua luta e exemplo sirvam de alento e rumo certo para as novas e futuras gerações. Meus sentimentos a família enlutada. Wagner Lino presente sempre!
Durante o velório reencontramos os antigos combatentes que escrevemos uma orgulhosa história, que certamente vai ter importante contribuição a memória e a história continuada dos novos militantes. Dentre estes, conversei bastante com outro brilhante comunista Alberto Souza, que sentia orgulho de sua capacidade parlamentar em plenário e de seu compromisso ético em defesa da política e da classe trabalhadora.
Como dois garotos órfãos, o lamento era grande pela perda do combativo "Corisco" e, dentre inúmeras narrativas, acertamos que vamos escrever e manter viva a história de um singular momento da luta de classe vivenciadas por três comunistas que orgulhava a Câmara Municipal de São Bernardo do Campo e que ainda hoje continuam sendo referências de luta de um momento histórico sem fim.
Quando nos referimos aos vereadores, leia-se também a contribuição do conjunto das assessorias que também desempenharam imprescindível papel teórico e operativo.
Tempos depois, juntou-se ao trio dos comunistas, o companheiro Melão Monteiro, que teve destacada atuação de esquerda na Câmara e na cidade.
Companheiro Wagner Lino, sempre presente!
Aldo Santos- Ex-vereador, Presidente da Associação de Professores/as de Filosofia e filósofos/as do Brasil, militante do Psol.
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