domingo, 21 de março de 2010

DEFENDER AS COTAS É PRECISO.


DEFENDER AS COTAS É PRECISO.

Durante a última semana, o tema das cotas raciais tomou conta do noticiário nacional a partir da audiência e dos debates promovidos pelo Supremo Tribunal Federal.

Mais uma vez os escravagistas de ontem estavam representados pelos neo-escravagistas de plantão. Os opressores de ontem estavam em base a uma oratória articulada defendendo e destilando ódio de classe e, conseqüentemente, ódio racial.

O expoente da elite brasileira, o senador do DEM, Demóstenes Torres (diga-se de passagem, do mesmo partido do chefe da quadrilha de Brasília, o governador José Arruda e “companhia ilimitada”) liderou a bancada anti-cotista.

O referido senador, Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, ao usar a palavra fez várias considerações sobre a escravidão e os escravos, afirmando: “Que os africanos eram os principais responsáveis pelo tráfico transatlântico de escravos. Que escravas negras não foram violentadas pelos patrões brancos, afinal de contas “isso se deu de forma muito mais consensual” e “levou o Brasil a ter hoje essa magnífica configuração social” de hoje. Que no dia seguinte à sua libertação, os escravos “eram cidadão como outro qualquer, com todos os direitos políticos e o mesmo grau de elegibilidade” (publicado no blog do Sakamoto e no site do Psol,06/03/2010).

Posicionou-se contra as cotas raciais com a clássica manobra e a falsa polêmica entre a defesa das cotas sociais/cotas raciais.

Na prática, mesmo o reconhecimento e o avanço do debate sobre as cotas sociais, forçou grande parte da elite brasileira a apoiar-se nos “alunos da Escola Pública” para de conjunto justificar e negar a cota racial defendida pelo movimento e implementada em grande parte nas universidades públicas Brasileira.

Felizmente, o resultado e o debate consistente em defesa das cotas raciais tem demonstrado na prática que a capacidade dos pobres e negros do nosso país não é uma quimera, pois o aproveitamento pedagógico dos cotistas é igual ou superior aos não cotistas.

Só a possibilidade de se incluir em pé de igualdade os que foram excluídos economicamente há séculos nesse país, traz em seu bojo o ódio racial e de classe e todas as formas e justificativas para perpetuar a exclusão e o racismo institucional.

As cotas já existem, basta verificar nas universidades públicas e privadas o conjunto dos alunos, seu extrato social, para se constatar o óbvio:A esmagadora maioria dos alunos (as) são brancos e os negros sempre estão ausentes no chão da sala de aula.

Só o fato de existir vestibular, disputa de vagas e exclusão universitária, já merece por parte de todos nós veemente repúdio ao modelo educacional brasileiro.

No Brasil, além do salário estudantil defendido pela juventude da corrente política do Psol,Trabalhadores na Luta Socialista - TLS, as escolas públicas deveriam dar continuidade ao ensino médio, transformando várias unidades escolares em extensão e faculdades populares, onde o acesso seja assegurado a todos , acabando com o funil que hoje existe em relação aos pobres e filhos da classe trabalhadora. “A série sobre o vestibular mostra como funciona o funil da educação brasileira. Para cada aluno que se forma no curso superior, nove pararam de estudar no meio do caminho”.(jornal hoje.13/12/2004)

A defesa das cotas é a defesa da luta de classe, uma vez que os negros estão dentro de um contexto social de permanente exclusão política e econômica. O sistema educacional é perverso, pois a exemplo dos embates da luta de classe, via de regra o funil do ensino médio para o ensino superior é alarmante e afeta o conjunto dos filhos da classe trabalhadora e, em especial, a exclusão racial é evidente e deplorável.

Nesse sentido, a defesa das cotas é uma defesa política inclusiva e de justiça e reparo social para com uma população que historicamente foi espoliada e ainda hoje é vítima do preconceito deliberadamente existente na sociedade brasileira. Resguardada a devida proporção, ser contra as cotas é tomar partido ao lado da elite dominante e dos neo-escravagistas atuais.

A introdução do modelo escravagista foi a partir de uma decisão e orientação econômica, onde para a classe dominante tudo e todos foram transformados em mercadoria e lucro.

O “fim da escravidão” também foi uma saída de mercado, já que a Inglaterra não tinha mais interesse na mão de obra escrava, visto que buscavam e visavam outras formas de trabalho e consumo.

Antes da escravidão formal a luta de classe já existia e com o fim do tráfico negreiro a luta de classe continua existindo.

O debate da defesa das cotas, assim como outros direitos elementares faz parte da estratégia de luta para por fim ao sistema que continua transformando tudo e todos em mercadoria, no qual a exclusão dos negros da sala de aula, também faz parte desse modelo e “produto mercadológico educacional”.

Não podemos ficar com “meias verdades” ou inibido na defesa das cotas com argumentos fomentados pela multimídia e pela indústria educacional, uma vez que podemos e devemos aprofundar o debate étnico no contexto da luta de classe,para questionarmos e destruirmos a escravidão do Capital e os estereótipos escravagistas ainda existentes na sociedade “moderna e pós-moderna”.

"Muitos negros da chamada classe superior estão tão convencidos em impressionar os brancos, mostrando que são "diferentes" dos outros, que não percebem que estão ajudando o homem branco a manter sua opinião desdenhosa a respeito de todos os negros." Malcon X

DEFENDER AS COTAS E UMA EDUCAÇÃO CLASSISTA E REVOLUCIONÁRIA É PRECISO.!!!

Aldo Santos: Sindicalista, Ex-vereador -SBC, Presidente da Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo, Coordenador da corrente política TLS, Membro do Diretório Nacional e da Executiva do Psol-SP e de SBC.(06/03/2010

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