terça-feira, 8 de julho de 2014

PLÍNIO E A SOLIDARIEDADE DE CLASSE

PLÍNIO  E A SOLIDARIEDADE DE CLASSE 

Conheci o Plínio quando iniciei meus estudos na faculdade de teologia Nossa Senhora Assunção no Ipiranga, no inicio da década de 80.
Ele foi meu professor nessa faculdade e juntamente com outros nomes da Teologia da Libertação tive início na vida partidária com a grande avalanche que foi o surgimento do PT e depois a Central Única dos Trabalhadores. Nessa ocasião eu trabalhava como auxiliar de enfermagem no Complexo Hospitalar do Mandaqui, Zona norte da Capital. Na faculdade de teologia cheguei a participar no centro acadêmico e em 1982 travamos grandes debates sobre a questão estratégica e tática do Partido dos Trabalhadores e o papel das Comunidades eclesiais de base naquele contexto. As grandes Greves do ABC, a luta pelo fim da ditadura militar, o surgimento do PT e  o fortalecimento militante das Comunidades foram momentos  apaixonantes nas disputas ideológicas e na formação dos núcleos de discussão  contra  as torturas, prisões e mortes de inúmeros militantes que sucumbiram  assassinados pelos verdugos da  ditadura militar no brasil.
Em 1982 para ajudar na construção do PT, fui candidato a Deputado Estadual e nosso grupo apoiou para Deputado  Federal José Genoíno Neto, que era considerado pela esquerda radical um nome com as credenciais inconfundíveis da luta revolucionária. Confesso que deixei de apoiar o Plínio na faculdade de teologia para apoiar o Genoíno.
 Na disputa pela prefeitura na capital   apoiei a Luíza Erundina e mais uma vez não apoiei o Plínio que era considerado por setores da esquerda um importante quadro  conservador da Igreja Católica Apostólica Romana. O tempo passou, a Erundina foi para o PSB, Genoíno foi condenado pelo Mensalão e só  encontrei  o Plínio no debate numa reunião em que se definiu pela  vinda do Ivan Valente e inúmeros setores da esquerda  para o Psol em 2005.  Comecei a observar melhor sua fala, seu conteúdo e percebi o quanto tinha errado em apoiar pessoas  que provaram historicamente não serem  merecedoras  da  confiança da  classe.
 O que mais me marcou nessa relação com o Plínio foi a sua coerência entre o que falava e praticava. Na campanha de 2010 fui candidato a Vice-Governador pelo Psol e foi um ano de grande  decepção ideológica com as mais variadas forças políticas que  dirigiam o Partido no Estado. Fui acusado pela justiça  burguesa de ficha suja  pelo fato de ter  apoiado em 2003 a ocupação Santo Dias  em sbcampo, a maior ocupação urbana o início deste século.Em decorrência  desse apoio  fui vitima de uma condenação política   que até hoje se arrasta nos tribunais.
 Enquanto todas as correntes do partido se manifestaram pelo meu afastamento do cargo de vice-governador, o único que corajosamente me defendeu publicamente foi o candidato à presidência da República, o companheiro Plínio de Arruda Sampaio que  afirmou: ”o Companheiro Aldo Santo é Ficha Ouro”.
É no processo histórico que conhecemos os verdadeiramente lutadores que não subordinam as lutas dos pobres a resultados eleitorais ou disputas mesquinhas por aparelhos nas instituições burguesas.
Disse a vários companheiros (as) sobre a minha admiração pelo companheirismo do Plínio, num momento em que poderia  ficar calado ou fazer o jogo  abjeto  da criminalização dos  lutadores  e dos movimentos sociais.
Há pouco tempo fui convidado para uma reunião na casa do Plínio acompanhado do Professor Hugo Allan, Recife e do Daniel. Nessa reunião tratamos do processo eleitoral em curso no  Psol, falamos de candidaturas e ele achou que eu deveria ser candidato a deputado Federal  numa dobrada com seu candidato a Deputado Estadual, o militante de São Caetano do Sul e da Igreja Católica,  seu colaborador e companheiro de luta  Daniel. Nessa conversa percebi sua fragilidade pessoal e me chamou atenção a sua crença  na juventude, nos projetos que estava  desenvolvendo e a fé na classe  trabalhadora. Falei de sua importância nesse processo eleitoral  e da sua contribuição sincera  no apoio as lutas  e as revoltas  populares em junho de 2013.
Recentemente fiquei sabendo de seu estado  crítico e da tristeza que os militantes do seu círculo de amizade externavam.
Ao tomar conhecimento de sua morte por volta das 16:30 pelo Face, fique refletindo sobre a vida  e de   seu discurso  numa reunião em São Bernardo do Campo onde dizia para a juventude que os melhores dias de sua vida seria  os que  viriam pela frente; certamente  prenunciando a finitude e a continuidade dialética   da vida.Numa conferência partidária em 2010 finalizou seu discurso dizendo:  “o que da sentido a vida, dá sentido a morte".

Sua trajetória e fé  na classe trabalhadora continuará viva naqueles que vão em frente perseguindo os mesmos caminhos a mesma utopia revolucionária.

PLÍNIO  SEMPRE PRESENTE !

Aldo Santos-Ex-vereador em sbcampo, Presidente da Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Brasil, Membro da Executiva Nacional da Intersindical-Central da Classe Trabalhadora, Presidente do Psol  em SBC.(08/07/2014)




Nenhum comentário:

Postar um comentário