PLÍNIO E A SOLIDARIEDADE DE CLASSE
Conheci o Plínio quando iniciei meus estudos na faculdade de teologia
Nossa Senhora Assunção no Ipiranga, no inicio da década de 80.
Ele foi meu professor nessa faculdade e juntamente com outros nomes da
Teologia da Libertação tive início na vida partidária com a grande avalanche
que foi o surgimento do PT e depois a Central Única dos Trabalhadores. Nessa
ocasião eu trabalhava como auxiliar de enfermagem no Complexo Hospitalar do
Mandaqui, Zona norte da Capital. Na faculdade de teologia
cheguei a participar no centro acadêmico e em 1982 travamos grandes debates
sobre a questão estratégica e tática do Partido dos Trabalhadores e o papel das
Comunidades eclesiais de base naquele contexto. As grandes Greves do ABC, a luta pelo fim da ditadura
militar, o surgimento do PT e o fortalecimento militante das Comunidades foram momentos apaixonantes nas disputas
ideológicas e na formação dos núcleos de discussão contra
as torturas, prisões e mortes de inúmeros militantes que sucumbiram assassinados pelos verdugos da ditadura militar no brasil.
Em 1982 para ajudar na construção do PT, fui candidato a Deputado Estadual
e nosso grupo apoiou para Deputado Federal José Genoíno Neto, que era considerado pela
esquerda radical um nome com as credenciais inconfundíveis da luta revolucionária. Confesso que
deixei de apoiar o Plínio na faculdade de teologia para apoiar o Genoíno.
Na disputa pela prefeitura na
capital apoiei a Luíza Erundina e mais uma vez não apoiei o Plínio que era considerado por setores da esquerda um importante quadro conservador da Igreja Católica Apostólica Romana. O
tempo passou, a Erundina foi para o PSB, Genoíno foi condenado pelo Mensalão e só encontrei o Plínio no debate numa reunião em que se definiu pela vinda do
Ivan Valente e inúmeros setores da esquerda para o Psol em 2005. Comecei a observar melhor sua fala, seu
conteúdo e percebi o quanto tinha errado em apoiar pessoas que provaram historicamente não serem merecedoras
da confiança da classe.
O que mais me marcou nessa relação
com o Plínio foi a sua coerência entre o que falava e praticava. Na campanha de
2010 fui candidato a Vice-Governador pelo Psol e foi um ano de grande decepção ideológica com as mais variadas
forças políticas que dirigiam o Partido
no Estado. Fui acusado pela justiça
burguesa de ficha suja pelo fato de ter apoiado em 2003 a ocupação Santo Dias em sbcampo, a maior ocupação urbana o início
deste século.Em decorrência desse apoio fui vitima de uma condenação política que até
hoje se arrasta nos tribunais.
Enquanto todas as correntes do
partido se manifestaram pelo meu afastamento do cargo de vice-governador, o
único que corajosamente me defendeu publicamente foi o candidato à presidência
da República, o companheiro Plínio de Arruda Sampaio que afirmou: ”o Companheiro Aldo
Santo é Ficha Ouro”.
É no processo histórico que conhecemos os verdadeiramente lutadores que
não subordinam as lutas dos pobres a resultados eleitorais ou disputas mesquinhas
por aparelhos nas instituições burguesas.
Disse a vários companheiros (as) sobre a minha admiração pelo
companheirismo do Plínio, num momento em que poderia ficar calado ou fazer o jogo abjeto da criminalização
dos lutadores e dos movimentos sociais.
Há pouco tempo fui convidado para uma reunião na casa do Plínio acompanhado
do Professor Hugo Allan, Recife e do Daniel. Nessa reunião tratamos do processo
eleitoral em curso no Psol, falamos de candidaturas e ele achou que eu deveria
ser candidato a deputado Federal numa dobrada com seu candidato a
Deputado Estadual, o militante de São Caetano do Sul e da Igreja Católica, seu colaborador e companheiro de luta Daniel. Nessa conversa percebi sua fragilidade
pessoal e me chamou atenção a sua crença
na juventude, nos projetos que estava desenvolvendo e a fé na classe trabalhadora. Falei de sua importância nesse
processo eleitoral e da sua contribuição
sincera no apoio as lutas e as revoltas populares em junho de 2013.
Recentemente fiquei sabendo de seu estado crítico e da tristeza
que os militantes do seu círculo de amizade externavam.
Ao tomar conhecimento de sua morte por volta das 16:30 pelo Face, fique
refletindo sobre a vida e de seu discurso numa reunião em São Bernardo do Campo onde
dizia para a juventude que os melhores dias de sua vida seria os que viriam pela frente; certamente prenunciando a finitude e a continuidade dialética da vida.Numa conferência partidária em 2010
finalizou seu discurso dizendo: “o que
da sentido a vida, dá sentido a morte".
Sua trajetória e fé na classe
trabalhadora continuará viva naqueles que vão em frente perseguindo os mesmos
caminhos a mesma utopia revolucionária.
PLÍNIO SEMPRE PRESENTE !
Aldo Santos-Ex-vereador em sbcampo, Presidente da Associação dos
Professores de Filosofia e Filósofos do Brasil, Membro da Executiva Nacional da
Intersindical-Central da Classe Trabalhadora, Presidente do Psol em SBC.(08/07/2014)
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