segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NEGRO NÃO QUER CIRCO, QUER RESPEITO...


A Secretaria de Cultura dos Tucanos está promovendo espetáculos variados na Praça da Sé, quando na realidade devia estar proporcionando políticas de igualdade social entre negros, brancos, índios, asiáticos, latinos, judeus, palestinos, ou seja, ensejos favoráveis para que todas as raças tivessem oportunidades semelhantes, na educação, na saúde, no trabalho.

Ser de raça diferente não significa que todos não sejam humanos, como imaginam nossos lamentáveis governantes... O mais doloroso é que nós os colocamos lá!

Enquanto pobres, pretos, prostitutas, entopem as cadeias, e ficam anos trancafiados pelo roubo de um simples sabonete no supermercado de seu bairro, ricos, brancos e safados respondem em liberdade até serem inocentados por juízes corruptos.

Quem do mensalão está cumprindo pena?

Quem dos sete anões está preso?

Cadê Lalau?

Onde está Pimenta Neves, réu confesso de assassinato da namorada?

Fossem todos eles pobres e pretos estariam amargando as penas atrás das grades.

O mundo tem uma dívida impagável para com os pretos, com todas as barbáries que cometeram durante a escravidão, e principalmente pós-escravidão.

Vias de regra os negros são preteridos nos empregos quando em igualdades de condições com brancos, e desempenhando a mesma função acabam tendo uma remuneração menor.

No Brasil ainda é tratado como um cidadão de terceira classe.

Movimentos como a 7ª Marcha da Consciência Negra, ainda persistem graças à garra de Negros combatentes como Thyko de Souza, Edson França, Simone, Sônia, Edson e nosso obstinado companheiro do P SOL Aldo Santos, que desenvolve constantes mobilizações visando mudanças políticas e sociais para que os negros e todos os outros não negros, mas excluídos tenham uma melhor condição de sobrevivência numa sociedade onde os exploradores de maneira ilegal, maldosa, e preconceituosa auferem lucros e proveitos às custas de explorados que se deixam dominar pela força, pela violência e pelo suplício. Isso sem contar com corruptos parlamentares que legalizam um trabalho escravagista, um salário vil, para que permaneçam senhores da situação.

O P SOL como partido socialista peca por manter-se quase alheio à negritude, não fosse alguns filiados e militantes apoiarem movimentos, o partido nada programou para que essa data se transformasse num instrumento de luta e num sentimento de orgulho racial e conscientização do valor e riqueza cultural dos negros. Salve a Negritude Brasileira!

Temos muito que evolucionar, e nos transformarmos numa ferramenta de enfrentamento dos conflitos de âmbito político, econômico, cultural e racial de uma forma explícita, sem medo de retaliações por sermos contrários aos donos do poder, e por estarmos sempre defendendo os miseráveis, os excluídos e os descriminados.

Hoje o Grupo de Estudos Catálise que coordeno em Praia Grande se reuniu mais uma vez para uma seção revisão de matérias. Mais negros que brancos, afinal as chances apresentadas são diferentes, enquanto os brancos estudam em escolas particulares, os negros freqüentam escolas públicas que nem professores têm. Viajei por matemática, física, química, biologia, português, numa missão quase impossível de instruí-los para as provas finais, e assim serão nos próximos finais de semana, até que o último faça seu exame e fique a espera do veredicto final de um Conselho de Classes que lá está para aprovar.

Fico ciente da matéria a estudar no momento em que me é apresentado, e tenho uma função de elemento catalisador que entra nessa reação, acelera o entendimento e permite que o aluno se desenvolva sozinho. Muitas vezes me obrigo a demonstrar minha ignorância, estudamos juntos e unidos aprendemos. O desgaste é grande, pois cada elemento freqüenta uma série diferente, e necessita de ajuda em disciplinas diferenciadas.

Demos início ao nosso trabalho às 7,30 horas e lá pelas 13 encerramos. Todos estavam exaustos, afinal, estudar, pensar, resolver exercícios não faz parte do cotidiano de todos que anos procuram, preferencialmente no final do ano e semestre quando a casa está prestes a cair...

Tentei persuadi-los a voltarem lá pelas 17 horas, para assistirmos um filme que abordasse a situação do negro no Brasil e discutirmos sobre ele no final. Nenhuma adesão obtive, e decepcionado calei-me... Adolescentes têm os seus limites na prática intelectual, e eles precisavam descansar, curtir uma praia, torcer pelo Corinthians. Nem os negros ousaram em vir, pois lhes faltava consciência crítica de suas condições e papéis junto à sociedade, e não estavam preparados para assumirem uma postura ideológica. Senti-me sobrepujado pela realidade, pois nem uma miséria eminente foi capaz de fazer com que saíssem daquele estado de torpor e inércia que os reprimem.

Estavam todos dominados...

Cabisbaixo belisquei uns petiscos e fui para praia apreciar o movimento.

Era dia da Consciência Negra e eu me abstive de participar dos movimentos que apregoava, estava falhando por omissão novamente.

Fazia sol e a praia estava lotada. Vendedores ambulantes, todos negros, trabalhavam para adquirirem migalhas. Era o Zé do Sorvete que gritava como um louco, para chamar a atenção e vender um picolé. Era o Cata vento, que trajava um fantasioso uniforme azulão e tinha na cabeça um cesto de lixo, com uma aba de isopor bem larga onde mantinha mais de uma dezena de cata-ventos.Era o Neguinho do coco verde com um som infernal e alto com músicas maliciosas. Tinha o homem aranha que trajava uma fantasia bizarra e estapafúrdia na tentativa de aumentar suas vendas de algodão doce. Tinha a idosa D. Maria do Milho Verde que se mantinha fixa, vendendo o milho na espiga e no prato. Era o carrinheiro Mineirinho, que com a esposa, filhos e funcionários todos pretos serviam comes e bebes.

Enfim os que freqüentavam a praia para faturarem tostões, eram todos negros, não consegui identificar nenhum branco.

Em contrapartida os que lá estavam para curtir o calor, se refrescarem na água do mar eram quase todos brancos. Havia uma minoria negra.

Contíguo a mim percebi que negros e brancos dividiam fraternalmente o mesmo espaço.

A razão desse encontro se evidenciava na figura de uma negra exuberante. Uma bunda escultural, seios enormes, corpo divinal que enlouquecia homens só de se imaginar transitando por aquelas curvas insinuantes. Era o tipo da mulher gostosona, lembrava a Sheila Carvalho e Carla Peres. Com as mulheres, independente da raça, a BELEZA TORNA-SE INDISPENSÁVEL E DETERMINANTE PARA QUE TENHA UMA ASCENÇÃO SOCIAL RÁPIDA. MESMO QUE SEJA UMA CABEÇA OCA, SEU VALOR SE RESUME NA FANTASIA SEXUAL DE HOMENS INESCRUPULOSOS.

TORNA-SE UM OBJETO DE USO PARA SE OBTER PRAZER...

Voltei para casa, meus filhos estavam assistindo um jogo na TV, quiçá do Corinthians, sei lá, um dos prováveis a se tornar Campeão Brasileiro, isolei-me no quarto e comecei com a Consciência Branca pesarosa e melindrada a escrever esse texto.

Deixei passar em branco uma data negra que tanto prezo e respeito, o P Sol nada programou em prol dos Negros.

Resta-me penitenciar-me a meus companheiros de partido Aldo Santos, Maykon, Paulo Búfalo negro por opção, e tantos outros negros que sei que batalham, mas não sei seus nomes, pela minha omissão. Tenho como desculpa o Grupo de Estudos Catálise, mas que não justifica minha ausência na 7ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo.

Após minha participação no grupo, e a decepção de não optarem pelo filme, deveria ter ido para a Marcha e não ver negras gostosonas e boasudas na Praia.

Com relação ao P SOL, falharei não comparecendo às reuniões programadas para o final de ano, pois estudaremos aos sábados e domingos. Não posso deixar esse grupo de alunos que necessitam de reforço, nesse período crítico de provas, exames, 2ª época e Conselhos de Professores.

Estou vergonhosamente agindo como se minha incumbência estivesse executada, falhando com a convocação do P SOL, dando como justificativa a participação em outro encargo, por não ter a capacidade excelsa de onipresença. Faço uso da onisciência, mas é pouco para quem deseja contribuir para transformação do Brasil, que não tem uma política social justa.

Lembro-me das palavras de meu amigo José Roberto...

“Não nos iludamos, só com uma revolução transformaremos o Brasil”.

Vamos a ela!

Um “Salve” a todos os excluídos do Brasil...





Sidnei Augusto de Carvalho

Um dos brancos mais negros do Brasil...

Praia Grande, 20 de Novembro de 2010.

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